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sábado, 13 de julho de 2013

Cristino Gomes da Silva Cleto - o cangaceiro Corisco

Corisco casou-se com Dadá em 1928 e viveram juntos até 25 de Maio de 1940

Corisco ou Diabo Loiro eram os apelidos do cangaceiro Cristino Gomes da Silva Cleto. Nasceu no dia 10 de Agosto de 1907. em Água Branca, no Estado de Alagoas, Viveu 33 anos, quando foi assassinado no dia  25 de Maio de 1940, em Jeremoabo, no Estado da Bahia). Foi casado com Sérgia Ribeiro da Silva, alcunha de "Dadá". 

BIOGRAFIA

Em 1924, Corisco foi convocado pelo Exército Brasileiro para cumprir o serviço militar. Em uma briga de rua Corisco matou um homem, no ano de 1926, e tomou a decisão de aliar-se ao bando do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, apelidado Lampião. Corisco era conhecido por sua beleza, seu porte físico atlético e cabelos longos deixavam-no com uma aparência agradável, além da força física muito grande, por estes motivos foi apelidado de Diabo Louro quando entrou no bando de Lampião.

Corisco sequestrou Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, quando ela tinha apenas treze anos e mais tarde o ódio passou a ser um grande afeto. Corisco ensinou Dadá a ler, escrever e usar armas. Corisco permaneceu com ela até no dia de sua morte. Os dois tiveram sete filhos, mas apenas três deles sobreviveram.

Desentendimentos com o chefe Lampião levaram Corisco a separar-se do bando e a formar seu próprio grupo de cangaceiros, mas isso não afetou muito o relacionamento amigável entre ambos.

Em meados do ano de 1938 a polícia alagoana matou e degolou onze cangaceiros que se encontravam acampados na fazenda Angico, no Estado de Sergipe; entre eles encontravam-se Lampião e Maria Bonita. Corisco, ao receber essa notícia, vingou-se furiosamente.

MORTE

Em 1940 o governo Vargas promulgou uma lei concedendo anistia aos cangaceiros que se rendessem. Corisco e sua mulher Dadá decidiram se entregar, mas antes que isso acontecesse, foram baleados. O cerco contra o cangaceiro e seu bando foi no Estado da Bahia, na cidade de Miguel Calmon, em um povoado denominado Fazenda Pacheco. 

Corisco e seu bando repousavam em uma casa de farinha no momento do combate após almoçarem. O ataque foi comandado pela volante do tenente Zé Rufino, juntamente com o Tenente José Otávio de Sena.

 
A cangaceira Dadá faltando-lhe uma das pernas

Dadá precisou amputar a perna direita e Corisco veio a falecer naquele mesmo ano. Com as mortes de Lampião e Corisco, o cangaço nordestino enfraqueceu-se e acabou se extinguindo.


Corisco foi enterrado no cemitério da consolação em Miguel Calmon, na Bahia. Depois de alguns dias sua sepultura foi violada, e seu corpo exumado. Seus restos mortais ficaram expostos durante 30 anos no Museu Nina Rodrigues ao lado das cabeças de Lampião e Maria Bonita.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Corisco

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O SERTANEJO ANTES DE SE TORNAR CANGACEIRO - II

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

O SERTANEJO ANTES DE SE TORNAR CANGACEIRO - II

Tem-se conhecimento do carrancudo coronel que costumava submeter jovens filhas de empregados às suas bestialidades devassas; daquele outro que se comprazia em mandar incendiar, como forma de ameaça e expulsão, o casebre de beira de estrada do desvalido e pequeno proprietário; ou ainda do outro que forçava seus empregados a deixar a maior parte do mísero salário na venda da própria fazenda. Além de outras vergonhosas e aviltantes situações que indignavam e enraiveciam o já eternamente sofrido sertanejo.

Desse modo, se observa que a infame ação do poderoso diante do desvalido, isto sim, teve o dom de provocar mágoas profundas e dilacerantes, e que mais tarde se transformaram em revoltas e indignações, mas que, diante da situação de submissão, foram sendo engolidas na secura do sol. Mas prontas para serem vomitadas um dia, e com espasmos de enfrentamento, de luta. Contudo, tendo de suportar a situação de subserviência, por muito tempo foi visto na mesma qualidade de um bicho do mato ou de verdadeiro escravo.


O pior é que na maioria das vezes dependia do poderoso para sobreviver, do próprio carrasco para se manter em pé. Este era, a um só tempo, algoz e sustentáculo. Roçando o latifúndio, pegando na enxada e na foice, coivarando para aprontar a terra, juntando cavaco e tronco, amassando bicho brabo, vaqueirando boiadas, acabava garantindo a esmola da sobrevivência. Já outros prestavam serviços ao próprio senhor dono do mundo, pois atuando como serviçais e principalmente como jagunços.

A jagunçada nasceu dessa necessidade de proteção do poderoso senhor perante os tantos males cometidos, da demonstração de poderio diante dos desafetos igualmente portentosos, e como forma de incutir o medo e o temor em todos que estivessem sob o seu mando. E até contra desconhecidos, como forma de precaução. Na feição doentia do jagunço estava refletida a própria feição coronelista; na sua arma, o desejo cego e impiedoso daquele que tudo fazia para manter seu poder.

Verdade é que as rixas e as intrigas entre poderosos faziam com que cada um procurasse manter sua própria horda jaguncista. Sob as ordens do senhor dono do mundo estava o sertanejo rude, empobrecido, sem expectativas, então transformado em jagunço, em capanga, em pistoleiro, em matador de mando. E prestava serviço não só contra os desafetos igualmente poderosos do seu patrão, mas também em situações de menor monta, como matar um vizinho do latifúndio que não queria entregar de mão beijada o pedacinho de terra que possuía.

Tantas vezes o coronel ou um filho seu deflorava a mocinha pobre e depois, como forma de calar a família revoltosa, mandava ameaçar todo mundo de morte. Fazia o mesmo acaso soubesse que o sertanejo prestava favores a um inimigo seu ou estava, de qualquer forma, fugindo às rédeas de suas imposições eleitoreiras, fugindo do seu cabresto. Daí ordenar que o seu jagunço providenciasse a devida maldade. E, por consequência, a violência, a morte, a assombração. E de sertanejo contra sertanejo, de jagunço contra irmão de terra, pois igualmente filhos da mesma situação de extrema penúria.

A jagunçada do coronel possuía estratégia própria de ação, sendo a tocaia a mais conhecida e utilizada naqueles ermos sertanejos. Tocaia ou emboscada, consistia em escolher um ponto de passagem do desafeto do patrão e ali, entocado nas moitas, escondido por trás dos arbustos, esperar a passagem do futuro defunto. Então o “papo-amarelo” soltava estampido e fumaça e o cabra se estrebuchava no chão. E, dependendo do caso, ainda recebia um tiro na testa, de misericórdia. Os urubus rondavam a morte certa.

Foi essa mesma classe jaguncista, somada a outros homens que se fizeram fortes e perigosos sem precisar prestar serviço de matador, que mais tarde se voltou contra o próprio coronel. E não só contra todo aquele patrão sádico e escravocrata, mas também contra toda situação vergonhosa então existente. E vergonhosa pela ação do estado opressor, pelas injustiças praticadas contra os menos favorecidos, pela continuidade das mazelas sociais que tanto afligiam o povo.

Desse modo, os primeiros cangaceiros surgidos foram oriundos do próprio sistema oligarca e de suas afluências. De certa forma, todos foram frutos da mesma nefasta ação coronelista. O jagunço porque aprendeu a ser destemido lhe prestando serviço; o sertanejo comum porque acabou vomitando as indignações engolidas por tanto tempo. Mas em todos a mesma revolta pelo impiedoso mando, pela desenfreada injustiça e pela miséria econômica e social se alastrando cada vez mais.


Assim é que se configurou a rebeldia primitiva, a primeira leva de homens que, sob o comando de um cabra mais experiente ou atrevido, enveredou pelas caatingas e lá fez seu posto de ação perante toda a região sertaneja, e para combater os desmandos coronelistas, as vinganças pessoais e tudo aquilo que lhe parecesse injusto de continuar acontecendo. Contudo, homens ignorantes e despreparados para agir estrategicamente, e por isso mesmo tantas vezes exarcebando nas suas ações e denegrindo a imagem de luta.

Contudo, não tiveram estas mesmas características os cangaceiros surgidos em outros tempos, em outros bandos, em outras vinditas. Continuavam amargando revoltas e indignações; continuavam vivendo na pele, no bolso, no estômago e no saber as mesmas mazelas que sempre caracterizaram a região nordestina mais empobrecida e esquecida pelos governantes, mas já vivendo num contexto menos sombrio do ranço feudalista do coronelismo.

Continua...

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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