A
filha dos cangaceiros mais famosos do país, dona Expedita Ferreira, veio de
Salvador especialmente para ser homenageada pelo Fitas. Elas se emocionou
durante o espetáculo Xaxado. (Foto: Solon Queiroz)
Grupo Fitas
resgata, através da arte, um dos momentos mais importantes da história do país,
o Cangaço. O amor de Lampião e Maria Bonita é contado através do espetáculo
Xaxado, que também faz uma emocionante homenagem a única filha do casal de cangaceiros
Michelle
Tondinelli
Freelancer
“Se o senhor
estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em
abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este
"negócio", ainda não pensei em abandoná-lo”, capitão Virgolino
Ferreira, mais conhecido como Lampião, em entrevista do médico de Crato, Dr.
Octacílio Macêdo.
O rei do
Cangaço, o famoso capitão Virgolino Ferreira, também conhecido como Lampião,
fez história no Nordeste do país. Ele e sua mulher, Maria Bonita, foram o
inimigo número um da polícia local. Lampião começou com a vida de crimes
em 1920, para vingar a morte do pai. Roubava, cobrava tributos de
latifundiários e assassinava por vingança ou por encomenda. Quando passava por
Santa Brígida, interior da Bahia, conheceu Maria Bonita. Amor à primeira vista!
Nômades, sempre acolhidos pelos donos de fazenda, que zelavam pela segurança do
bando. Em 1938 teve fim a vida de crime de Lampião e Maria Bonita, eles e sua
quadrilha caíram em uma emboscada, ambos foram assassinados juntamente com seu
bando. Maria Bonita e Lampião foram pais de uma menina nascida em 1932, que
recebeu o nome de Expedita Ferreira.
Crescer e
ouvir histórias horríveis sobre quem eram seus pais, como roubavam e matavam,
foi a vida de Expedita Ferreira. Ela reconhece que não foi fácil perder a
vergonha de ser a filha de Lampião e Maria Bonita. “Quando eu era nova, tinha
muita vergonha, não queria que tocassem no assunto de quem eram os meus pais, e
eu não gostava. Ouvir histórias de Lampião ser matador, cangaceiro, ladrão não
era fácil. Lampião e Maria Bonita me visitaram algumas vezes quando eu era
nova, e eu tinha medo, eles tinham armas, e até ai, eu não tocava no assunto,
ele morava no mato”, recordar-se.
Todo filho do
cangaço tinha que ser dado, para não correr o risco de ser morto pelos
inimigos. “Quando mataram lampião, descobriram que eu estava com um casal, foi
quando fui embora para Salvador. Lá morei com o pai da minha mãe, e fui mudando
minha concepção de se ser filha deles. Ai, no ano de 1956, com quatro filhos,
fui dar a minha primeira entrevista como filha de Lampião e Maria Bonita. Logo
depois, uma moça, a Cristina Machado, fez uma tese de doutorado e me convidou,
foi ai que conheci o lado bom de Lampião, parando de ter vergonha de quem eram
os meus pais, quem Lampião foi e quem Lampião era”, destaca.
Convidada pelo
Grupo de Danças e Tradições Folclóricas Fitas, Expedita recebeu uma placa de
homenagem e assistiu ao novo espetáculo do grupo, o Xaxado. “Com isso, vim a
Montes Claros, fiquei muito emocionada e valeu muito a pena ter vindo, mesmo
que eu não tenha convivido muito com meus pais, hoje, eu sei quem eles eram,
sei as coisas ruins e boas”, diz.
O Xaxado
O Xaxado é uma
dança típica nordestina, cuja origem está diretamente ligada diretamente ao
Cangaço especificamente por Lampião e seus companheiros por volta dos anos
vinte. “No inicio denominava-se Xaxado apenas a música que era usada como fundo
para a dança pisada. Há uma diferença entre Xaxado, que é a música, e a pisada
que é a dança. O Xaxado servia para que sobre ele se dançasse um tipo de
coreografia que era chamada de pisada”, afirma o coreografo do Grupo Fitas,
Leonardo Silva Alves.
Com a grande
história do Nordeste, o Grupo Fitas tinha vontade de montar um espetáculo sobre
o Xaxado. “Foi ai, que comecei a realizar pesquisas sobre o cangaço, o xaxado,
lampião e Maria bonita. Assisti a documentários, li sobre a história, li a
pesquisa de pesquisadores, e o que tinha na internet. Descobri uma fundação
chamada Cabra de Lampião que tinha todas as informações que precisava para
completar minha pesquisa, e é considerado o grupo mais antigo sobre o xaxado”,
frisa.
Ao assistir
DVD’s de diversos grupos de dança, analisar as coreografias, Leonardo procurou
não cometer plágios nas danças. Ele explique que queria uma coreografia que
mostrasse o Xaxado, mas com uma concepção do norte de Minas. “O lampião inovou
o cangaço e o xaxado pela necessidade de fugir no meio do mato. Ele era um
justiceiro que gostava das coisas certas, criou em seu grupo o uso das alpargatas
e sandálias de couro. Seus versos eram feitos com gozação do cotidiano de suas
vidas e o movimento dos pés”, finalizou.
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Postado por
Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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