Maria Gomes de
Oliveira, a Maria de Déa, a filha do Sr. José Gomes de Oliveira e de dona Maria
Joaquina Conceição de Oliveira, conhecidos como Zé Felipe e dona Déa, como
muitas sertanejas da época, tinha lá suas poucas e simples fantasias. E uma
delas, era, sem dúvida, sair das ‘amarras’ paternas.
José Gomes de Oliveira pai de aria Bonita
A mulher sertaneja, naquele tempo, era ‘programada’ pelos pais para ser só, e
somente só, dona de casa. Sempre servir, seja como for, o seu companheiro, seu
amado, seu esposo. A vida dessas mulheres não era fácil desde o momento em que
eram paridas, quando o sexo, do feto vivo, era conhecido. Para o sertanejo, a
sua cria, sendo do sexo masculino, eram mais dois braços para ajudar na lida
pesada, sofrida e bruta da roça. Já a mulher não. Recebia de imediato a tutela
quase que exclusiva materna.
Maria Joaquina Conceição Oliveira mãe de Maria Bonita
Maria casa-se muito jovem, relatam alguns pesquisadores que ela beirava uns
quinze anos de idade, mais ou menos, com um de seus primos, o Sr. José Miguel
da Silva, conhecido na região por Zé de Neném. Zé de Neném era natural, e
morava na Malhada da Caiçara, tendo seu ponto de trabalho, trabalhava com
couro, na fazenda Boa Fé, município de santa Brígida onde exercia sua função de
sapateiro. Era filho do casal Pedro Miguel da Silva, que tinha a alcunha de
“Pedro Brabo”, e dona Maria Conceição Oliveira, chamada de “Neném”.
Zé de Neném primeiro esposo de Maria Bonita e irmão do esposo de Amália Gomes de Oliveira que era irmã de Maria Bonita
Maria de Déa bastante jovem e Zé de Neném já de meia idade. Zé muito boêmio
gostava de estar sempre nos sambas e forrós que aconteciam, além da bebedeira
em demasia. Maria não engravidava. O ciúme atingiu os dois e o casamento começa
a desmoronar. Maria, certa feita encontra um objeto em um dos bolsos de Zé, com
um nome de uma mocinha da região, conhecida inclusive por Maria, que tinha
apenas quinze anos de idade. Esse ‘achado’ deu o maior ‘arranca rabo’ e, mais
uma vez, deu-se uma separação. Assim, aquela convivência, como era de se
esperar, acaba-se.
Foto colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio
Após a separação, Maria, segundos alguns escritores, volta a dar umas namoradas
findando conhecendo, namorando e indo morar com Virgolino Ferreira da Silva, o
já famoso “Capitão Lampião”, “Rei do Cangaço”, que nos serões baianos era
conhecido por todos como “O Homem”. Esse namoro, fuga e união em busca de uma
‘liberdade’ imaginária, contaremos em outra oportunidade.
Foto colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio
Lampião faz do Raso da Catarina, e a região em sua volta, seu maior e mais
seguro refúgio. Tendo que ir conversar com o coiteiro Pedro Gomes de Sá, Pedro
Gomes que era pai da cangaceira Durvalina, na fazenda Arrastapé, Lampião segue
para fazenda Canoas, onde o administrador era o Sr. Odilon Café, e deixa sua
amada, Maria de Déa, aos cuidados de um dos filhos do mesmo conhecido como
‘Mané de Chiquinho, Manuel Martins de Sá. Deixando sua companheira, coloca o pé
na estrada e segue viagem.
Ruínas da casa de dona Generosa coiteira de Lampião - http://www.bahiatursa.ba.gov.br/noticias/paulo-afonso-revela-joia-da-arquitetura-popular-encravada-nos-caminhos-de-lampiao/
Atravessando o Povoado Riacho, o “Rei dos
Cangaceiros” resolve fazer uma parada na casa de dona Generosa, Generosa Gomes
de Sá, grande coiteira do bando, para retirarem a poeira da goela e se
divertirem um pouco na casa da hospedeira.
Estando de prosa, secreta, com Pedro Gomes, Lampião ver se aproximar um
cavaleiro em grande disparada. O galope arrochado da montaria desperta a
sensibilidade defensiva do “Rei Vesgo”, principalmente por reconhecer que o
cavaleiro era mais um de seus ‘colaboradores’.
Chegando pra perto da montaria, Lampião pergunta o que se passa:
*“- Quais são as nutiça?” – (pergunta)
*“- Capitão, uma volante comandada pelo tenente Mané Neto, passo no Tigre (
fazenda Tigre), espanco algumas pessoa e se dirigiu na direção do Xingozinho!”.
(respondeu o coiteiro)
No trajeto da fazenda Tigre para o Xigozinho, ficava no meio a fazenda Canoas,
onde Lampião tinha deixado Maria, sua amada. Ligeiramente ordena que a
‘cabroeira’ se apronte, e que se prepararem para um combate:
*“- Se aquipa rapaziada, vamo botar uma emboscada nesses macacos!” (grita para
o bando).
Conhecendo de muito antes o comandante Manoel Neto, Lampião sabia do perigo que
sua companheira estava correndo. Segue o mais rápido que pode na tentativa de
‘atalhar’ o avanço da tropa naquela direção. Sua mente, mais ligeira que suas
pernas, já lhe mostra qual o local de armar uma emboscada para a volante. No
trajeto para a fazenda Canoas, tinha outra chamada Baixa Fria, que também lhe
servia de coito, a qual ele conhecia muito bem. E seria naquelas terras que ele
tentaria barrar o avanço da volante.
A volante, depois que saiu do Tigre, segue seu caminho, rumo ao Xigozinho, e o
sertanejo que encontra pelos caminhos os submetem há um ‘interrogatório’ a base
de porradas, espancamentos e humilhações, fossem coiteiros ou inocentes, dava
no mesmo, o pau comia. No povoação Rio do Sal, a volante chega ávida por
notícias já que, apesar dos ‘interrogatórios’, nenhum roseiro nada disse.
A meta naquela ribeira era o Sr. Divino Gomes, que era primo da “Rainha dos
Cangaceiros”, Maria de Déa. Fuçando casebre por casebre, terminam por
encontrarem o que servia de moradia para Divino. De imediato é preso e levado
diante do comandante da volante, que começa a perguntar-lhe:
*“ – Onde é que anda os cangaceiros seu caba ruim?” (pergunta o tenente).
*“ - Eu num sei!” (responde o homem).
*“ – Num adiante negá, eu sei que você é família da mulé do Cego!” (retruca o
comandante).
*“ – Nóis somo primo, mais eu num sei onde eles anda!” (diz Divino).
*“ – sabe sim e vai ter que me contar!” (insiste Mané Neto).
*“ – Pelo amor de Deus, eu num sei!” (choraminga o interrogado).
*“ – Sabe!” (enfatiza o oficial).
A partir desse momento as palavras interrogatórias calam e inicia-se a seção de
espancamentos, perfurações com pontas de armas brancas, chutes, socos e
cipoadas no lombo. Mas, torturar quem sabe de alguma coisa, é ter a esperança
que, em algum momento, a mesma surta efeito, e o torturado abra a boca, porém,
divino nada sabia, então não poderia responder o que lhe era perguntado.
“(...) Depois de bastante espancado, Divino Gomes, caiu desacordado. O Tenente
seguiu a estrada que o levaria até a Baixa Fria, deixando pra trás o corpo
ensanguentado e imóvel de um homem indefeso e inocente que pagou com a vida,
apenas por carregar nas veias, o sangue e o parentesco com a Rainha do Cangaço
(...).” (*A Trajetória Guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço” – LIMA, João De Sousa. 2ª
edição. Editora Fonte Viva. Paulo Afonso, BA. 2011).
Lampião e o bando chegam à fazenda Baixa Fria. Escolhe um local para que parte
de seus homens ficassem de tocaia, seguindo com o restante para a fazenda Canoas.
Já próximo à sede da fazenda escutam o som dos disparos da luta travada entre
seus cangaceiros e a volante de Mané Neto. O fogo e cerrado, aguerrido, mas,
dessa vez não ocorrem baixas de ambos os lados.
Lampião, já com Maria do lado, ver chagar os homens que combatiam a volante, de
imediato segue por uma trilha e prepara outra emboscada para os inimigos.
Manoel Neto, vendo que estavam prestes a caírem em novas emboscadas, seus
homens estavam cansados e com pouca munição, além dos víveres já estarem findando,
resolve voltar para Barra, para reabastecer a tropa, fazer relatórios e receber
novas ordens... Nas quebradas do Sertão baiano.
Fonte *A
Trajetória Guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço” – LIMA, João De Sousa. 2ª
edição. Editora Fonte Viva. Paulo Afonso, BA. 2011
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
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