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domingo, 4 de dezembro de 2011

A SAGA DO CANGACEIRO RIO PRETO

Por: Rostand Medeiros
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- Este artigo é dedicado ao amigo Antônio Ferreira da Silva Neto, que em breve vai receber no seu lar um presente de Deus.
Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, em Goianinha, Rio Grande do Norte
Em um dia do início do mês de fevereiro de 1906, chegou a cidade potiguar de Goianinha um desconhecido casal. A mulher era uma bonita moça, branca, aparentando ter a jovem uns 18 anos de idade, que se chamava Ana Maria da Conceição e vinha acompanhada de um homem negro.[1]
A comunidade não sabia, mas aquele homem era um conhecido e temível cangaceiro acunhado como Rio Preto.
Surpreendentemente o desconhecido procurou o delegado local, Manoel Ottoni de Araújo Lima, para conseguir trabalho como agricultor ou em alguma outra função. O delegado não lhe deu serviço, mas indicou-lhe o engenho “Bosque” cujo proprietário era o padre João Alípio da Cunha, este igualmente lhe negou trabalho, mas o despachou para o engenho “Jardim”, onde o administrador Manoel Lúcio Peixoto admitiu o aparente e inofensivo trabalhador[2].
A DESCONFIANÇA
Os primeiros dias de Rio Preto como trabalhador do campo seguiam tranquilos. Contudo, entre a comunidade, a desconfiança era geral. Chamava muita a atenção o fato daquele humilde trabalhador rural, acompanhado de uma mulher considerada bonita e além de tudo branca.
Estação telegráfica de Goianinha que avisou as autoridades nem Natal sobre a prisão de Rio Preto
Para a sociedade do Rio Grande do Norte, que até hoje ainda não se livrou de atitudes preconceituosas e racistas com relação aos negros, este casal inter-racial, chegando à provinciana vila de Goianinha de 1906, chamou muito a atenção do lugar.
Na noite de segunda-feira, 19 de fevereiro de 1906, um grupo armado chegou nesta propriedade, distante 12 quilômetros de Goianinha, anunciaram o assalto e em seguida passaram a arrombar a porta da sede da fazenda. O proprietário Carlos de Paiva Rocha consegue fugir com uma irmã para os matos. O grupo de bandidos, senhores da casa, praticam de extrema violência contra o vaqueiro Antonio Gomes, para este dar conta dos objetos de valor ali existentes. Os celerados levam jóias, outros objetos pessoais, roupas e três cavalos para a fuga, deixando um prejuízo superior a um conto de réis. Em meio às ameaças, um dos bandidos afirma ser o “célebre Antônio Silvino, o Rifle de Ouro”. Logo a notícia se espalha e a região fica em estado de alerta.
Antonio Silvino
Aparentemente o trabalhador negro, que todos desconheciam ser Rio Preto não tinha ligação com o assalto ocorrido na propriedade “Martelos”. Mas não é difícil supor que naquele momento, todo forasteiro passasse a ser considerado suspeito[3].
Estas desconfianças fizeram o administrador da fazenda Jardim, buscar “jeitosamente”, como afirma o jornal “A Republica”, junto ao seu novo empregado, maiores informações sobre seu passado, prometendo-lhe proteção em troca da verdade. Rio Preto, sem desconfiar, abriu o jogo sobre suas andanças no cangaço e sua participação no bando de Antônio Silvino. O administrador Manoel Lúcio promete guardar segredo.
A PRISÃO E A CHEGADA EM RECIFE
Em pouco tempo Manoel Lúcio Peixoto, procurou discretamente o delegado e relatou tudo que o disfarçado cangaceiro tinha lhe falado[4].
Em 19 de fevereiro, sem esboçar resistência, o temível cangaceiro Rio Preto foi detido pelo delegado Ottoni. Rapidamente foi providenciado o transporte do cangaceiro para a capital do estado através do trem da Great Western.
Prisão vira notícia
Houve um princípio de alteração quando Rio Preto soube que viria para Natal sem sua companheira Ana Maria. Esta por sua vez foi levada para a delegacia de Goianinha, onde em seu depoimento, declarou ter sido raptada pelo cangaceiro, desvirginada por ele e passou a segui-lo espontaneamente[5].
No dia 20 de fevereiro, Rio Preto foi apresentado ao Chefe de Polícia do Rio Grande do Norte (cargo equivalente hoje ao de Secretário de Segurança), Heliodorio Fernandes de Barros, que telegrafou ao Chefe de Polícia de Pernambuco, Santos Moreira, que exultou com a notícia e organizou a transferência do detento[6].
No dia 23 o prisioneiro seguiu para Recife no vapor “Una”, da Companhia Pernambucana de Navegação, escoltado pelo cabo André Avelino Bezerra e os soldados Artur Florentino e José Fonseca. Não ocorreram alterações durante o trajeto.
Ao chegar a capital pernambucana, as seis da manhã do dia 25 de março, foi grande à quantidade de pessoas que foram ver o desembarque do cangaceiro no cais da “Linqueta”. Foi o auxiliar de polícia, major Augusto Jungmann, auxiliado por mais quatro policiais pernambucanos, juntamente com a escolta potiguar, que retiraram a fera do vapor. Em meio ao alvoroço, o grupo embarcou em uma lancha que os transportou pelo rio Capibaribe, passando pelas pontes Recife e Santa Isabel.
Cais da Lingueta, Porto de Recife, 1904 - http://www.fotolog.com.br/tc2/25688752
Durante o trajeto, Rio Preto seguia ereto, ostentando uma despreocupação insolente, encarando o populacho que enchia as pontes e as margens do velho rio. Ele vestia paletó e calças brancas, camisa de linho ordinária, chapéu de massa preto e botinas pretas de “bezerro”.
Os jornais pernambucanos assim descreveram o cativo cangaceiro: “É negro fulo de estatura mediana, magro, rosto comprido e ossudo, olhos pequenos e muito inquietos, lábios grossos, e ligeiro buço; sua fisionomia não é simpática, como algumas pessoas pretendiam em comentários feitos a passagem da lancha”.
Desembarcaram na Rua da Aurora, na rampa mais próxima da chefatura de polícia. Para desgosto da multidão, Rio Preto ficou incomunicável.
O INTERROGATÓRIO
Como a chegada do cangaceiro movimentou a cidade e qualquer pessoa que falasse que conhecia Rio Preto, chamaria a atenção do povo e das autoridades.
Foi o que aconteceu com o barbeiro Antônio Barbosa, proprietário de um estabelecimento na vila de Machados, nas proximidades da cidade pernambucana de Bom Jardim, onde afirmava ter muitas vezes feito a barba não apenas neste cangaceiro, mas em Cocada e no próprio Antônio Silvino.
Rapidamente a notícia chegou aos ouvidos do Chefe de Polícia, Dr. Santos Moreira e logo uma guarnição trouxe o barbeiro à chefatura, onde ele ficou frente a frente com o cangaceiro. Guardada as circunstâncias, foi como um encontro de dois velhos amigos, estando assim confirmada a identidade de Rio Preto.
Destaque nos jornais
O interrogatório do detido encerrou às seis da noite, mesmo assim havia uma multidão calculada em 400 pessoas na porta da chefatura. Para evitar distúrbios, o preso foi retirado pela porta dos fundos, na Rua União, sendo levado a pé para o posto policial da Boa Vista, lá foi fotografado por Luís Santiago.
O cangaceiro seria interrogado mais duas vezes, sempre interrogatórios longos. Uma coisa chamou a atenção dos jornalistas pernambucanos; um enorme patuá que era usado pelo cangaceiro[7].
Alguns dias depois foi trazido para uma acareação com Rio Preto, o cangaceiro conhecido pela alcunha de “Relâmpago”, que estava detido em Timbaúba.[8]
A ENTRADA NO BANDO E AS PRIMEIRAS LUTAS
Seu nome era Firmo José de Lima, nasceu em 1882, no lugar São Vicente, pertencente então ao município pernambucano de Timbaúba, a 98 quilômetrosda capital.[9]
São Vicente Ferrer, Pernambuco, na atualidade
Segundo Rio Preto, quando tinha 17 anos e trabalhava na propriedade “Junco”, de Manoel Francisco, em Umbuzeiro, Paraíba, provavelmente entre o segundo semestre de 1901 e o primeiro de 1902, chegou Antônio Silvino acompanhado de nove cangaceiros e assaltou a casa do seu patrão, que foi bastante surrado. Então para não morrer, o jovem Firmo teria, segundo sua versão, teria sido forçado a seguir com o bando e se transformou em Rio Preto, devido a sua cor.
Dois anos depois, em uma estrada nas proximidades do lugar “Mogeiro de Cima”, Rio Preto afirmou que Antônio Silvino lhe ordenara surrar três viajantes, sem razão para isto. Houve uma discussão e os dois só não foram às vias de fato devido à intervenção de Cocada, o mais respeitado componente do bando de Silvino, que mesmo assim ficou ao lado de Rio Preto na contenda.
Este entrevero deu lugar a uma cisão, na qual Cocada seguiu com os “cabras” Rio Preto, Relâmpago, Nevoeiro e Barra Nova. Junto a Antônio Silvino permaneceram Tempestade, Ventania, Baliza e Dois Arroz, sendo o grupo de Cocada ampliado com outros homens aos quais ele não declinou os nomes.[10]
Um fato interessante declarado por Rio Preto foi que, mesmo com a cisão, quando Antônio Silvino tinha um “trabalho” importante para fazer, que exigia gente experiente e decidida, mandava chamar Cocada e seu bando para participarem. Após a realização do trabalho, Antônio Silvino sempre marcava um novo encontro com Cocada em um mês ou dois meses.
Antônio Silvino
Entre as particularidades de Antônio Silvino, Rio Preto comentou que ele dormia muitas vezes nos canaviais, nas matas, em local sabido pelos companheiros, mas fazia questão de dormir separado do grupo. Informou que suas armas eram um rifle com 16 tiros, uma pistola “mause” e um punhal, “medindo dois palmos de lâmina”.[11]

VIDA DE CANGACEIRO

Uma das façanhas narradas por Rio Preto foi o assalto a Manoel Belo, no lugar “Macapá, onde os grupos de Cocada e Antonio Silvino se uniram. [12]
Cocada estava no lugar “Gitó”, quando foi chamado por Silvino para roubar e matar Manoel Belo, mas Cocada afirmou que iria para o roubo e não para matar o fazendeiro, tendo Antônio Silvino aceitado com muita relutância. Chegando ao pequeno arruado, Cocada, Rio Preto, Relâmpago, Baliza e Tempestade, invadiram a pequena casa que servia de delegacia, um deles desarmou o único militar presente, um cabo, e o obrigaram a servir de guia até a casa de Manoel. Na casa, Silvino anunciou que era o sargento de Timbaúba, Lopes de Macedo e que queriam café. O iludido fazendeiro abriu a porta e teve um rifle apontado diante do seu rosto. Os cangaceiros passaram ao saque e conduziram o produto do roubo em um cavalo. Saindo de “Macapá”, seguiram para o lugar “Pirauá” e lá dividiram o saque e os grupos partiram por caminhos distintos.

O bando de Cocada passou a sofrer forte perseguição, sendo necessário dissolvê-lo por um período. Cocada homiziou-se no engenho “Pagi”, em Nazareth, já Rio Preto seguiu para o engenho “Barrocas”, com recomendações do major Philomeno Nestor e José Rezende, tendo deixado com este último um fuzil Comblain, que lhe foi fornecido pelo major Philomeno. [13]

Fuzil Comblain
Esta parte do interrogatório mostra a relação promiscua que havia entre os grupos de cangaceiros e alguns proprietários de engenhos da Zona da Mata de Pernambuco. Esta relação muitas vezes era uma forma de defesa dos proprietários de terra e tática de sobrevivência dos cangaceiros.
Em outro caso narrado pelo capturado cangaceiro, ele conta que dois anos antes, Antônio Silvino e Cocada foram à casa do Sr. João Guilherme, proprietário do engenho “Jundiaí”, em Bom Jardim, Pernambuco, onde Silvino entrou e Cocada ficou fora aguardando por duas horas a saída do grande cangaceiro. Foram dormir no canavial, saindo do local por volta das quatro da manhã, seguindo para o lugar Olho D’água. Não sabe Rio Preto o que Antônio Silvino tratou com este fazendeiro, mas nunca sua propriedade foi atacada.
Sobre a procedência de armamentos, Rio Preto comentou que não sabe quem forneceria este material a Antônio Silvino, mas narrou que um comerciante de Campina Grande, conhecido apenas como “Frederico”, havia entregue doze ou treze caixas de cartuchos de rifles. Os fornecedores de armas e munições para cangaceiros, tanto no período de atuação de Antônio Silvino, como na época de Lampião, continua sendo um mistério até hoje, mas mostra como era dúbio e tênue o papel das autoridades e homens de poder, junto a estes bandoleiros.[14]
 
Coronel José Belém de Figueiredo - http://afamiliamarcos.blogspot.com/
Outro caso desta relação é exemplificado quando Rio Preto conta que soube ter Antônio Silvino conseguido colocar três dos seus cangaceiros, Dois Arroz, Pau Reverso e Manoel Ventura, nas fileiras da própria polícia do Ceará, através do intermédio do coronel Belém, da cidade do Crato[15].

COMBATES

Algum tempo depois, ainda homiziado no engenho “Barrocas”, Rio Preto soube que sua identidade era conhecida de muitos e seguiu para a Paraíba, no lugar “Aroeira”, onde reencontrou Cocada e Antônio Silvino.
Unidos os grupos, tomaram destino para “Fagundes”, ainda na Paraíba, para matar um empregado do fazendeiro José Alves, por ser atribuída a este morador a delação que levou a morte do cangaceiro “Papa-mel”, do grupo de Silvino. Após este ato, seguiram para o lugar “Surrão”, onde Antônio Silvino tomou do negociante Manoel de Mello um rifle e presenteou a Cocada.

Foi no “Surrão”, que anos antes Antônio Silvino e Cocada travaram um cerrado tiroteio com as forças do Alferes Paulino Pinto, da polícia da Paraíba e o capitão Angelin, da polícia de Pernambuco. Rio Preto conta que neste combate, os cangaceiros ali entrincheirados estavam em número de 50 e o mesmo não participou desta luta por estar doente[16].

As ações de Antônio Silvino eram sempre estampadas nos jornais nordestinos

Rio Preto contou que Antônio Silvino assassinou, na madrugada de 15 de fevereiro de 1903, o subdelegado Francisco Antônio Sobral, crime praticado na casa da vitima, pela razão deste militar ter travado um tiroteio com o quadrilheiro no lugar “Torres”, próximo a “Aroeira”. Pela mesma razão, Marcos dos Pinhões e Severino de tal, tiveram igual sorte. Após estes crimes, os cangaceiros foram almoçar na casa de Antônio Poggy, nas “Guaribas”[17]
Comentou Rio Preto que no lugar “Mogeiro”, do fazendeiro conhecido por major Nô, Antônio Silvino e seu bando assassinaram o ex-sargento da Força Pública da Paraíba Manoel Paes, que quando a serviço do governo, perseguia os cangaceiros[18].
Outro fato narrado foi o assalto a Pilar, na Paraíba, onde os dois grupos, tendo Antônio Silvino à frente, trajando um uniforme de capitão e todos os cangaceiros se dizendo policiais, atacaram a cadeia do lugar. Em seguida prenderam o carcereiro, tomaram as armas de dois soldados e soltaram os presos. Passaram a fazer uma arrecadação no lugar, tendo o comerciante Joaquim Pio Napoleão, chefe político local, fornecido a maior quantia[19].
AS MULHERES E O “RIFLE DE OURO”
Entre uma série de façanhas narradas pelo prisioneiro, cometidas pelo bando de Antônio Silvino e o subgrupo de Cocada, Rio Preto narra dois casos singulares, envolvendo a figura do grande chefe bandoleiro e as mulheres.
O primeiro caso é comentado em uma reportagem publicada no mesmo periódico “A Província”, no dia 4 de abril, onde o detido afirmou que a cerca de dois anos, o chefe havia, em duas ocasiões distintas, encontrado refúgio por mais de quinze dias no engenho pernambucano de “Palmas”, ou “Palmas de Orobó” nas proximidades do lugar Bizarra, as margens do rio Orobó e a poucos quilômetros da cidade homônima.
Sabia Rio Preto que a propriedade pertencia a uma mulher conhecida como “Dona Zezé”, mas não informava se Silvino utilizava o engenho como “refúgio”, ou havia alguma relação mais íntima com a proprietária. Finalizava o detido informando que ao deixar o grupo de Cocada, soubera que Silvino e a “Dona Zezé” estavam intrigados e tratavam-se como inimigos.
Já o outro caso envolvia um fato que adquiriu certa repercussão em Pernambuco. Alguns meses antes da prisão de Rio Preto, no dia 21 de fevereiro de 1906, o jornal pernambucano “A Província”, publica matéria onde traz a tona o suposto caso entre o chefe cangaceiro e a jovem Antônia Francisca de Paula. Esta bonita mulher, com 19 anos, juntamente com dois irmãos, foram detidos para serem interrogados na cidade de Cortês, Pernambuco. A polícia buscava esclarecer a existência de uma possível ligação entre Antônia e sua família, com Silvino. Ela afirmou conhecer Antônio Silvino há apenas dois meses, declarando não ter nenhum tipo de relação com chefe quadrilheiro e sabia apenas que o mesmo tinha uma amásia de nome “Sebastiana”.
A cidade de Côrtes, Pernambuco, na atualidade. http://www.promata.pe.gov.br/
Já Rio Preto contou situação bem distinta. Afirmou o prisioneiro que conhecia Antônia, tendo tido oportunidade de encontrá-la, em agosto de 1905, na casa de um velho conhecido como “Cabeça Branca”. Neste lugar, a jovem Antônia teria participado de uma festa com os cangaceiros, tendo dançado e tocado um instrumento musical por toda à noite. Comentou Rio Preto que pela noite de alegria, Cocada lhe teria dado 10R$000 (dez mil réis). Já  sobre Antônio Silvino, o opinião era que o chefe “não gosta de dançar, é inimigo de sambas”.
A reportagem finaliza comentando, sem maiores detalhes, que foi apresentado a Rio Preto uma foto de Antônia e que o mesmo reconheceu a mulher.
O COMPANHEIRO COCADA E A SAÍDA DO BANDO
Sobre Cocada, o seu companheiro de lutas, Rio Preto afirmou que seu nome verdadeiro era Manoel Marinho, sendo natural de Guarita, vila localizada a menos de dez quilômetros da cidade paraibana de Itabaiana e teria cerca de 40 anos em 1906.
Foto meramente ilustrativa da ponte ferroviária no próximo a vila da Guarita, Itabaiana, Paraíba. Foi nesta vila que nasceu o cangaceiro Cocada - http://estacoesferroviariaspb.blogspot.com/
Mário Souto Maior comenta, sem informa datas, que Cocada morreu em combate no lugar chamado Serrinha, na Paraíba. No seu local de morte, o povo ergueu um cruzeiro. O folclorista Evandro Rabelo, ao passar pelo local, viu depositado na base da cruz, alguns ex-votos de pessoas que obtiveram graças por intermédio deste cangaceiro.
Durante o interrogatório, transcrito pelos jornais, percebe-se uma tendência de Rio Preto em demonizar a figura de Antônio Silvino e ele pouco relata os crimes praticados por Cocada.
Um único caso é comentado sobre este cangaceiro e seu bando; Cocada, Rio Preto, Relâmpago e Nevoeiro atacaram a propriedade de Francisco Paes, morador do lugar “Massapê”, que teria respondido com uma ameaça ao pedido de dinheiro de Cocada. Em meio ao saque, Relâmpago, a mando de Cocada, assassinou friamente o filho do fazendeiro. Depois deste ato, Rio Preto deixa o bando em dezembro de 1905, buscando sua companheira e seguindo em direção norte.
Em Mamanguape esteve trabalhando para uma senhora conhecida como Dona Aninha, mas se retirou desta área quando soube que o delegado local estava a sua procura para esclarecer se sua mulher estava com ele por livre vontade ou fora raptada.
Com esta desconfiança, decidiu Rio Preto seguir mais para norte, para o Rio Grande do Norte, mais precisamente em Goianinha, onde foi preso.
Casa de Detenção do Recife, início do século XX - http://www.ibamendes.com/
Rio Preto depois seria recambiado para a Casa de Detenção de Recife, onde em agosto de 1907 foi condenado a nove anos de prisão.
Segundo o pesquisador Sérgio Dantas, dois anos depois da prisão de Rio Preto, o mesmo morreu de uma ferida na penitenciária de Recife.
Este caso, apesar de se já ter sido comentado em livros sobre a vida de Antônio Silvino, possui outros detalhes que são pouco conhecidos dos que se debruçam sobre o tema cangaço[20].
NOTAS
[1] A descrição da mulher que acompanhava Rio Preto, se encontra respectivamente  em Ver Dantas, S. A. de S., op. cit., 2006, p.p. 96. e nos jornais “A Republica”, Natal, de 30 de março de 1906, p. 2. e “A Provincia”, Recife, 4 de abril de 1906
[2] Segundo Jornal “A Provincia”, Recife, 27 de março de 1906, p. 1.
[3] Ver “A Republica”, edição de 6 de março de 1906, na seção “Secretaria de Polícia”, onde esta notícia vem publicada em um ofício desta repartição, datado de 23 de fevereiro de 1906, p. 1. Já a edição de “A Republica”, de 9 de fevereiro, informa que fora remetido para a cadeia de Goianinha, João Antonio de Oliveira, preso em Santo Antonio, onde confessou seu envolvimento neste assalto. Os jornais pesquisados que comentam a prisão de Rio Preto sejam do Rio Grande do Norte ou de Pernambuco, não apresentam nenhum comentário, ou transcrição de documentos oficiais que indiquem a participação deste cangaceiro neste assalto. Em outros documentos oficiais, igualmente não encontrei menção a este fato.
[4] A Republica, 30/06/1906, p. 2.
[5] “A Província”, de 27/03/1906, p. 1, indica que a prisão ocorreu na segunda-feira, 19 de fevereiro e aponta detalhes sobre o relacionamento do cangaceiro e Ana Maria.
[6] Em ofício da Secretaria de Polícia, de 20 de fevereiro e publicado na edição de “A Republica”, de 25/03/1906, constam maiores detalhes da prisão em Goianinha.
[7] “A Província”, de 27/03/1906, p. 1.
[8] “Relâmpago” se chamava José do Carmo Felipe dos Santos, já era um cangaceiro velho, com mais de 50 anos quando foi preso, junto com seu filho Francisco do Carmo Santos. Foi descrito como “pardo escuro, de olhos pequenos e turvos, baixo, velho, de 55 anos presumíveis (…) Não é inteiramente antipático. Mostra-se humilde e fala compassada e brandamente”. Quando da sua prisão, Relâmpago fez comprometedoras declarações sobre as relações entre Antônio Silvino com policiais, a sua rede de protetores e até seus hábitos pessoais. Ver Dantas, S. A. de S., op. cit., 2006, p.p. 91 e 92.
[9] Atual município pernambucano de São Vicente Férrer.
[10] Ver Dantas, S. A. de S., op. cit., 2006, p.p. 76 e 77. Já Fernandes, R. op. Cit. p. 57, informa que cisão no grupo ocorreu pelo fato de Cocada ter torturado e violentado uma mulher, caindo no desagrado do chefe Silvino.
[11] Em relação às armas de fogo mencionadas, o rifle de 16 tiros provavelmente deveria ser da marca Norte-americana Winchester, em calibre 44, modelo mais conhecido no Nordeste como “talo de mamão” devido às dimensões do cano. Já a pistola deveria ser de procedência belga, marca FN, em calibre7,65 m.m. Estas armas eram muito difundidas no Brasil nesta época, bem como os tipos de munições utilizadas.
[12] Atual município pernambucano de Macaparana.
[13] Atual município pernambucano de Nazaré da Mata.
[14] Provavelmente o Frederico indicado deveria ser o coronel Frederico Lundgren, de origem dinamarquesa, comerciante e industrial em Campina Grande, figura de grande destaque nesta importante cidade paraibana.
[15] Este coronel Belém não é outro senão o coronel José Belém de Figueiredo, que no começo de 1904, rompeu no Crato a aliança política entre ele e o coronel Antonio Luís Alves Pequeno, com declaração de uma guerra entre as duas facções. Deste conflito ocorrido no sul do Ceará, participou ativamente membros da família Carvalho de Serra Talhada, onde um grupo de “cabras” comandado por Antônio Clementino de Carvalho (conhecido como Antônio Quelé, ou Quelé do Pajeú), contribuiu decisivamente para a vitória do coronel Antônio Luís. Segundo Rio Preto, aparentemente Antônio Silvino teria contribuído com a facção do coronel Belém, cedendo seus “cabras”, conseguido vantagens para seu bando, mesmo não participando diretamente deste conflito. Sobre os contatos de Antônio Silvino e de membros do seu bando no Ceará, ver Fernandes, R. op. Cit. P. 55, e Dantas, S. A. de S., op. cit. 2006, p. 99.
[16] O combate do Surrão ocorreu no dia 23 de junho de 1900, em território paraibano, entre Itabaiana, a Vila de Ingá e a fronteira com Pernambuco. A força policial conjunta teria em torno de 110 homens. O grupo de Silvino abre fogo e o grupo de policiais paraibanos avança corajosamente, o Alferes Paulino recebe três disparos, mas continua a combater. Provavelmente incentivados pela demonstração de coragem do oficial paraibano, o restante dos policiais aumentam a força do ataque, matando e capturando vários bandoleiros. Só uma pequena do bando escapou. Para Silvino, o combate do Surrão lhe deixou um saldo negativo de 15 cangaceiros mortos. Destes seis morreram em combate e nove foram cruelmente executados, um de cada vez, a golpes de punhais, o conhecido “sangramento”. O Alferes Paulino, mesmo ferido, participou do ato bárbaro e covarde “até cansar o braço”. No outro dia, devido à gravidade dos seus ferimentos, o oficial faleceu. O número de 50 homens, ao qual Rio Preto comente ter o bando de Antônio Silvino, aparenta ser exagerado. Sobre este combate, ver Dantas, S. A. de S., op. cit., 2006, p.p.43 a 45 e José Joffily, in “Revolta e Revolução”, p.p. 60 e 61 (Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro / RJ, 1979, 454 pgs.).
[17] Em Dantas, S. A. de S., op. cit., 2006, p.p. 62 e 63, encontra-se a narrativa deste acontecimento, que foi assim romanceado pelo poeta João Martins de Athayde;
“A quinze de fevereiro,
De novecentos e três.
No povoado Filgueiras.
Encontrei um mal freguês.
Francisco Antônio Cabral,
E matei-o dessa vez.” 
No livro “A literatura de cordel no Nordeste do Brasil – Da história escrita ao relato oral”, de autoria da professora da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Julie Cavignac (Editora EDURFN, Natal / RN, 2006. 363 pgs.), na página 297, informa que o poeta paraibano João Martins de Atahyde (1878 a1959), foi um poeta popular que chegou a tornar-se proprietário de uma empresa de impressão gráfica em Recife. Conheceu pessoalmente Antônio Silvino, utilizou fartamente sua saga como tema para suas poesias, sempre defendendo as atuações deste cangaceiro.
[18] Mário Souto Maior, no livro “Antônio Silvino – Capitão de trabuco”, na página 37 (Edições Bagaço, Recife / PE, 2001, 125 pgs.), comenta sobre esta morte.
[19] Ver Maior, M. S., op. Cit., 2001, p.p. 37 e 38.
[20] Praticamente são apenas dois livros que trazem informações sobre este caso. O pioneiro “Antônio Silvino no RN”, do falecido médico Raul Fernandes (Editora Clima, Natal / RN,1990. 185 pgs.)  e “Antônio Silvino: o cangaceiro, o homem, o mito”, do juiz de direito Sergio Augusto de Souza Dantas (Editora Cartgraf, Natal / RN, 2006. 313 pgs.) são as principais fontes.
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 Extraído do blog: "Toque de História", do historiógrafo e pesquisador do cangaço, Rostand medeiros

Afinal: Lampião tinha um sósia perfeito?

Por: Sérgio Dantas

“Um debate sobre Antropometria, à sombra dos Buritis”
A História tem seus caprichos. Como se trata de um ramo no compartimento das ‘Ciências Humanas’, não se pode querer dela a precisão de um cálculo matemático. Em História, pode-se nunca atingir a verdade desejada em torno de um evento, mas, tão somente, a verossimilhança dos fatos vários que o geraram. Por tal, a presença de um mínimo de metodologia é necessária para narrar os fatos humanos da forma mais próxima ao real. Este seria o objetivo principal a perseguir.

No caso da reconstituição dos episódios ligados ao cangaço, claro, aplicam-se as mesmas regras utilizadas em História, já que aquele é um compartimento desta.
Mas, voltando aos caprichos desta Ciência, vamos recuar um pouco no tempo. Na manha de 28 de julho de 1938, quando as cabeças de Lampião, ‘Maria Bonita’ e mais nove cangaceiros chegaram a Piranhas, em Alagoas, foi um alvoroço. Após esteticamente arrumadas na escadaria da Prefeitura daquela cidade, e expostas à curiosidade pública, todos queriam ver de perto aqueles estranhos ‘troféus’ – principalmente, a cabeça de Lampião. O homem que parecia invencível, que possuía – na crença e no imaginário popular – o ‘corpo fechado’ para balas, que tinha poderes divinatórios e que reinava absoluto no sertão havia quase vinte anos, teve decepada a sua cabeça. Era difícil acreditar que tal um dia acontecesse.

Assim, naquela manhã de julho, os incrédulos – e não eram poucos – tiveram a oportunidade de ver perto a cabeça do cangaceiro famoso. Alguns até foram mais ousados, e levantaram a pálpebra do olho direito daquele resto humano, para constatar a existência do leucoma, a ‘pinta branca do olho’, que era um dos sinais marcantes do rei-do-cangaço: -“a prova está aí!” – muitos teriam dito.

A maioria reconheceu, naquele momento, a cabeça de Lampião. Houve, claro, um ou outro recalcitrante.

Afinal, discordar é próprio da natureza humana. Assim foi na cidade de Piranhas, na atual Delmiro Gouveia, em Santana do Ipanema, e em todos os outros lugares por onde passou a procissão macabra.
Naquele dia, porém, ninguém teve acesso a película cinematográfica feita pelo sírio-libanês Jamil Ibrahim Botto (o Benjamim Abraão). Ninguém, pois, pode fazer uma comparação direta entre alguns ‘takes’ do filme feito em 1936, com a cabeça que ali estava à mostra. A película, de efeito, havia sido confiscada pela polícia política de Getúlio Vargas e não fora divulgada como pretendia o aventureiro.

Todavia, décadas mais tarde, quando da edição do Cariri Cangaço 2011, eis que são apresentados novos fragmentos inéditos – e devidamente restaurados - da importante película histórica. Em certo momento, pois, vemos Lampião se dirigir contra a lente da câmera e, lentamente, tirar o seu chapéu de couro. Ali, naquele instante, tem-se uma visão plena do rosto do cangaceiro em 1936. Eis o fotograma:
Este quadro, em particular, nos chama a atenção para alguns detalhes. Em primeiro lugar, a calvície já acentuada do cangaceiro, bem marcada por falha na margem centro-direita da testa (do ponto de vista do observador). Apesar da má qualidade da imagem, observa-se também, por trás da lente dos óculos, o leucoma do olho direito. Vê-se o direcionamento dos cabelos, além da formação craniana, esta nitidamente dolicocéfala (largura frontal medindo mais ou menos 4/5 da altura do rosto).
A fim de instigarmos o debate, resolvemos lançar mão de ferramentas digitais de imagem para chegarmos a algumas comparações. Na imagem abaixo, através da aplicação da ferramenta de ‘contraste’, do programa ‘Corel Photo Paint’, conseguimos deixar mais evidente o leucoma, além de suprimir a parte inferior dos óculos, deixando o rosto mais livre para análise:
Em um passo além, elidimos praticamente toda a estrutura dos óculos, e demos realce à sobrancelha direita do cangaceiro. Com o número 01, marcamos o avivamento da referida sobrancelha:
Seguindo, marcamos no fotograma o número 03, para indicar a ausência de rugas de expressão neste ponto. Não há compressão da pele neste pedaço do rosto. Não a mínima evidência de sobrecenho carregado. E esta marcação servirá como comparativo em uma imagem mais abaixo. Vejamos:
A partir deste ponto, comecemos a fazer as comparações. Além do fotograma já aludido, vamos utilizar um detalhe da famosa foto das cabeças dispostas na escadaria da Prefeitura de Piranhas. O objetivo é comparar características contidas na cabeça do rosto do cangaceiro quando vivo, com outras existentes na cabeça exposta naquela manhã de julho de 1938.
As duas imagens estão postas lado a lado. De início, observem-se as numerações (a) e (b). Em comum entre as duas imagens, temos uma marca de calvície acentuada no terço médio esquerdo da cabeça, com marca incisiva em direção à parte posterior do crânio. Neste ponto, há um compasso simétrico entre as duas imagens, ao que nos parece.
 Com o sinal “\/”, marcamos a saliência do osso esfenóide direito, característica que também nos parece igual em ambas as imagens. A largura do rosto também não foi desconsiderada, de modo que a marcamos em uma escala 01_______02, a qual é rigorosamente igual nas duas fotos, como se vê na ‘régua’ colocada abaixo de ambas. Também se nota a INEXISTÊNCIA das rugas de expressão – ou enrugamento da pele -entre as sobrancelhas. O fato se verifica em ambas as imagens.
Agora, em mais uma etapa, ‘importamos’ a imagem do rosto sem vida, e o aplicamos no fotograma de 1936, usando o sentido de A para B, como indicado pela seta. O encaixe da imagem, sem sombra de dúvida, parece perfeito. Não há sobras ou excessos pela inserção.
O único ponto que não mostrou simetria seria a parte inferior do rosto; o ‘queixo’. Veja-se que as marcações 03 e 03A mostram esse descompasso. No entanto, neste particular havemos de nos valer da história. De efeito, ainda na Grota do Angico, um soldado (possivelmente José Panta Godoy) disparou um tiro de fuzil na cabeça do cangaceiro, quando este já se encontrava morto. A prova de tal fato está na imagem de número 05, lado direito, onde se percebe - ao lado esquerdo de quem olha -, grande quantidade de massa encefálica no orifício de saída do projétil.
Com o tiro disparado contra a cabeça, indubitavelmente, foram lesionados os ossos ‘temporal’, ‘esfenóide’ e ‘zigomático’, cedendo os ‘malares’, no sentido ‘de baixo para cima’, horas mais tarde, quando a cabeça foi colocada no batente da escadaria, em Piranhas. O rosto cedeu, sendo comprimido em função da quebra da estrutura óssea. Assim, o queixo um tanto proeminente outrora, deixa de existir e, em seu lugar, encontramos uma espécie de ‘dobra epitelial’, logo abaixo da boca.
E em relação a esta (a boca), note-se que, em ambas as imagens, apesar de apresentar sentidos diferentes (côncavo em uma; convexo em outra), a medida da boca é rigorosamente a mesma. Na imagem abaixo, destacamos em um retângulo a boca na imagem do cangaceiro vivo (c), e, em seguida, a recortamos e a aplicamos embaixo da fotografia da cabeça já decapitada (d). A simetria é rigorosa; as medidas são literalmente iguais.
Repetindo a imagem - agora sem a marcação na imagem da esquerda - para que a comparação possa ser feita de forma livre.
Desta forma, como deixei claro no início deste modesto artigo, fica aberto o debate em torno da certeza – ou não – se a cabeça exposta na escadaria da Prefeitura de Piranhas seria realmente a de Lampião. Sabendo de histórias que recrudescem aqui e ali, dando conta de uma sobrevida do rei-do-cangaço – após 1938 - em Goiás, em Mato Grosso, em Minas e até na Paraíba, cabe, então, a pergunta:
“Teria Lampião sido substituído por um sósia rigorosamente igual? Um sósia perfeito? Fica lançada a questão!!"
Saudações!
Sérgio Augusto de Souza Dantas
Natal, RN
Bacharel em Direito, pesquisador independente e autor dos livros “Lampião e o Rio Grande do Norte” (2005), “Antônio Silvino: O Cangaceiro, O Homem, O Mito” (2006) e “Lampião: Entre a Espada e a Lei” (2008). Clique aqui e confira uma entrevista com SD
Extraído  do blog: "Lampião Aceso", do amigo Kiko Monteiro

A MISTERIOSA VIDA DE LAMPIÃO

Foto principal de A Misteriosa Vida de Lampião   Autor: Cicinato Ferreira Neto

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Algumas considerações sobre os Heróis da Resistência - Parte II - 27 de Junho de 2010


No artigo anterior refletimos sobre dois personagens que foram o Cel. Gurgel e o motorista Ratinho (Francisco Agripino). Vamos refletir agora sobre outra personalidade que é dita “Herói da Resistência” que foi Jaime Guedes. Vejamos primeiro o que diz Raul Fernandes em seu livro “A Marcha de Lampião”: 
“Jaime Fernandes Guedes, participante dos aprestos da defesa da cidade, sentia-se intranqüilo com a responsabilidade de zelar pelo patrimônio da Agência do Banco do Brasil. A força policial não lhe oferecia segurança. O sogro apresado por Lampião. No dia 12, a noite, guardou os documentos do Banco na caixa forte. Era dos poucos que acreditavam na vinda dos cangaceiros. Temia que seus funcionários caíssem prisioneiros. Seria fortíssimo triunfo na jogada do facínora. Enquanto conjeturava, o Bando deslocava-se em direção a Mossoró. 
Horas antes do ataque, o bancário abandonou a cidade. Transportou em sigilo, cerca de novecentos contos de réis à vizinha cidade de Areia Branca. Depositou-o no cofre, pertencente ao Banco da Agência da Cia. Nacional de Navegação Costeira. Voltou vinte e quatro horas depois. Surpreendeu-se ao encontrar o comércio paralisado. Não se falava em outra coisa senão no retorno dos bandidos. Mossoró armava-se febrilmente. Construíram trincheiras. Muitas famílias ainda se encontravam em Areia Branca. De quando em vez, a cidade era sacudida por toques de alarme. 
Ante a obscura situação, Jaime Guedes resolveu transferir o dinheiro para Natal. Preocupado com ladrões de estrada, viajou novamente, às ocultas. Enviou logo relatório à Matriz no Rio de Janeiro, expondo as razões do seu proceder. Findos os dias tumultuados, regressou. Foi criticado. A cidade contava com a defesa do Banco e de sua residência.” 
Bom, eis a história do Sr. Jaime Guedes. É necessário que se diga ainda que ele participou de uma reunião havida na casa do prefeito Rodolfo Fernandes, tendo sugerido, inclusive, “uma subscrição no comércio para adquirir armamento destinado ao mister da defesa, concorrendo as firmas segundo os seus recursos”, no que arrecadaram cerca de vinte e três contos de réis, dos quais o Banco do Brasil contribuiu com dois contos. Sem sombra de dúvida, Jaime Guedes participou do planejamento da defesa, mas não da defesa em si, haja vista que havia se retirado para o visinho município de Areia Branca. E se ele não se encontrava na cidade quando esta estava sendo atacada, como podemos considerá-lo Herói da Resistência? Ao contrário, quando da preparação das trincheiras da cidade, se contava com o pessoal do Banco do Brasil defendendo o prédio onde funcionava a sua sede e também a sua residência. Mas ele preferiu sair da cidade. 
Num relatório enviado posteriormente a Diretoria do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, justificou a sua atitude alegando que o seu dever maior era com o “numerário existente no Banco que era de Rs. 912:064$081. Conclui o seu relatório solicitando a Matriz que usasse a sua influência para solicitar do Governo do Estado uma força fixa aqui em Mossoró de não menos que cem praças e que caso isso não ocorresse, melhor seria fechar a Agência aqui existente. Esse relatório é bastante conhecido pois foi reproduzido em quase todos os livros que falam da defesa de Mossoró contra os cangaceiros. 
 Eu, particularmente, acho que ele agiu com prudência em não expondo nem os seus familiares, nem a ele próprio, nem o numerário do Banco a sanha dos cangaceiros. Afinal, coragem para lutar numa batalha bélica não ficou pra todo mundo e muitos habitantes influentes agiram da mesma forma. Só acho estranho é que o mesmo tenha entrado para a História como Herói da Resistência. Continuo a dizer que dessa forma estamos desrespeitando a memória daqueles verdadeiros Heróis que expulsaram a malta de malfeitores.

Geraldo Maia do Nascimento
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Morreu o Dr. Sócrates - Jogador de futebol


Morreu às 4h30 deste domingo (4), em São Paulo, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Doutor Sócrates, aos 57 anos. O ex-jogador, que teve passagens pelo Corinthians, Flamengo, Santos e seleção brasileira, morreu vítima de um choque séptico de origem instestinal.
Essa havia sido sua terceira internação neste ano. Antes, ele já havia ficado no hospital para tratar problemas no fígado, causados pelo vício em álcool, que causaram uma cirrose hepática. Em 22 de setembro, após a segunda internação, ele recebeu alta após nove dias em coma induzido respirando com a ajuda de aparelhos.
Revelado pelo Botafogo de Ribeirão Preto, Sócrates se destacou como um meia habilidoso e líder de grupo. Estreou na equipe em 1974. Lá, foi artilheiro e ajudou o clube do interior a conquistar o Campeonato Paulista de 1976.
Após quatro anos no time do interior paulista, transferiu-se para o Corinthians, com o qual conquistou três títulos paulistas (1979, 1982 e 1983) e foi um dos idealizadores da chamada Democracia Corintiana, em que jogadores tomavam parte nas decisões que influenciariam o time.
Adorado por uns e incompreendido por outros, deixou o Corinthians em 1984, após seis anos no clube paulista, e foi para a Itália, onde atuou pela Fiorentina. Retornou ao Brasil dois anos depois para vestir a camisa do Flamengo, e logo que chegou conquistou o Campeonato Carioca daquele ano.
Um dos principais nomes da seleção brasileira em sua geração, ele disputou duas Copas do Mundo pela equipe, em 1982, na Espanha, e 1986, no México.
Ainda jogou no Santos, também por dois anos, antes de encerrar definitivamente a carreira.