“A
submetralhadora Bergmann MP18 em calibre 9mm Parabellum”
“No âmbito das
submetralhadoras, já durante a I Guerra, em 1915, uma comissão especial alemã
destinada a avaliar e testar armas militares decidiu partir para o
desenvolvimento de uma arma voltada para o combate a curta distância, como nas
batalhas em trincheiras. A tentativa de se fazer modificações em armas curtas
já existentes, como certas modificações projetadas para as pistolas Parabellum
e a Mauser C96 , falharam. Armas como essas não conseguiriam manter um fogo
preciso em modo automático, devido à sua própria concepção, tamanho e peso
muito reduzido. Com a exigência de se criar uma arma totalmente nova, Hugo
Schmeisser, na época trabalhando com Theoror Bergmann e outros técnicos,
desenharam o que seria a Maschinenpistole 18, ou MP-18, que atendia aos requisitos
da comissão: velocidade alta de disparo e controlabilidade no tiro automático.
Entretanto, a produção serial só foi iniciada em 1918, já no final da Guerra.
Pode-se dizer
que a MP18 tenha sido a primeira submetralhadora a ser produzida no mundo. Apesar
de que em 1915 o projeto italiano da Villar-Perosa possa até, por alguns
autores, ter tido esse privilégio, a bem da verdade a VP estava mais para uma
metralhadora leve, bem longe do conceito de real portabilidade da MP-18. Apesar
de entrar no cenário final da guerra, ainda assim cerca de 10.000 MP18 foram
destinadas a algumas unidades combatentes alemãs. Após a Guerra, com as
limitações impostas pelo Tratado de Versailles, a produção da MP18 foi
proibida. Entretanto, de forma dissimulada a Bergmann continuou com a produção
da arma e ela se provou excelente quando equipou algumas unidades de polícias
urbanas na Alemanha, bem como posteriormente utilizada na Guerra do Chaco e na
Guerra Civil Espanhola.
A arma sofreu
algumas modificações e melhoramentos nos anos seguintes, e versões foram
produzidas utilizando carregadores do tipo tambor (drum magazines), com 50
cartuchos, ou o tradicional carregador de montagem horizontal para 20 ou 32
cartuchos. Os calibres mais utilizados foram o 9mm Luger e o 7,63mm Mauser. A
cadência de fogo era de 550 tiros por minuto. O cano era encamisado por um tubo
perfurado, para a devida refrigeração. Nos anos que precederam a II Guerra, a
MP18 sofreu evoluções bem como gerou outros projetos, como a MP28 e MP32,
também criadas por Schmeisser.
Basicamente o
conceito dessas sub-metralhadoras era o que até hoje é bastante comum, ou seja,
trabalhavam com o ferrolho aberto, sem travas de culatra (blowback) e um
sistema de mola recuperadora enclausurada em um tubo telescópico, uma solução
engenhosa que serve de guia para que a mola, razoavelmente longa, não se
deforme com os constantes movimentos de compressão e expansão.
No ano de
1924, o empresário Bertold Geipel fundou a ERMA, Erfurt Machinen, e a partir de
1928, contratou Heinrich Volmmer, que passou a fazer parte da equipe de
engenheiros e projetistas da empresa. Na Erma, Vollmer desenvolveu um projeto
baseado na MP28, denominado de EMP (Erma Maschinen Pistole), que gerou
posteriormente três variações importantes: A primeira, dotada de mira
tangencial, em 1935, cano longo com camisa perfurada e encaixe para baioneta,
que foi vendida para a Iugoslávia. A segunda variante possuía pequenas
alterações, principalmente na coronha e a terceira, que foi a mais vendida e
mais usada na Espanha, incorporava pela primeira vez uma trava de segurança.
Todos esses
projetos, entretanto, utilizava o mecanismo desenvolvido por Vollmer. A EMP
possuía carregadores para 20 ou 32 cartuchos, calibre 9mm Parabellum,
posicionado na parte frontal e à esquerda da arma, em posição de 90º em relação
à empunhadura. Pesava cerca de 4,200Kg. E tinha uma cadência de tiro de 350 a
450 disparos por minuto. Não possuía opção para tiro único.
Finalmente, em
1938, a menos de um ano da invasão da vizinha Polônia, fato que desencadearia o
maior conflito armado da História, uma mudança de conceitos no Alto Comando
Alemão fez com que seus chefes entrassem em contato com Geipel solicitando com
urgência o desenvolvimento e fabricação de uma arma automática que suprisse as
necessidades principalmente de tropas motorizadas e de paraquedistas. Foi
realmente providencial a atitude de Vollmer de ter continuado com seu projeto,
pois a Erma tinha, agora, condições de, em tempo recorde, suprir essa exigência
do Alto Comando. Para esta nova arma, a Erma designou a nomenclatura de MP-38,
ou Machinen-Pistole Modell 1938.”
A
SUBMETRALHADORA BERGMANN PASSA A FAZER PARTE DO ARSENAL DA FORÇA PÚBLICA DO
NORDESTE
Por A. Fábio
Carvalho Costa*
“Caros amigos,
em homenagem aos 80 anos da morte de Lampião e Maria Bonita, escrevi este texto
especialmente para o blog do amigo Kiko, sobre as armas automáticas usadas pela
polícia em Angico, espero que apreciem.
Os governos
estaduais nordestinos buscavam a todo custo na década de 1930, a erradicação
total dos bandos de cangaceiros. Para isso introduziram o conceito de tropas
“volantes”, ou seja, tropas com grande mobilidade e sem circunscrição, que
seguiam no encalço dos bandidos pelos sertões afora. Por vezes atravessando
divisas estaduais com base em acordos celebrados pelos governos nordestinos.
O conhecimento
do terreno, e do território, a adaptação às agruras e dificuldades da caatinga,
davam aos bandoleiros óbvias vantagens táticas.
A vantagem do
armamento policial composto pelos fuzis e mosquetões militares do tipo Mauser
(geralmente os mod. 1908), no calibre 7 mm, inicialmente superior aos dos
bandidos, foi suprimida em 1926 no afã de combater a coluna Prestes, com a
cessão pelo governo federal de armas idênticas (e até mais modernas e cômodas
de se usar, como os mosquetões FN 1922), o que se revelou uma estratégia no
mínimo equivocada que talvez tenha dado sobrevida a Lampião por mais dez anos.
A solução
encontrada foi prover os grupos com armas automáticas mais leves,
complementares aos fuzis-metralhadores Hotchkiss 1922 ou Madsen 1918, para que
a mobilidade da tropa não fosse comprometida, mas mantendo alguma superioridade
de fogo. Principalmente em frações de tropas muito reduzidas.
As
submetralhadoras Bergmann MP 28 II eram algumas destas armas automáticas.
A Força
Pública Pernambucana apreendeu em 1931 dos Irmãos Lundgren (além de muitas
outras armas) 25 submetralhadoras de fabricação alemã com 71 pentes (SIC) e
23.472 cartuchos; 02 metralhadoras sem coronha. Estas armas pelo período,
provavelmente eram estas Bergmann MP 28 II. Consta que foram usadas depois
contra os cangaceiros.
A
submetralhadora Bergmann MP 28 II foi copiada pelos ingleses durante a segunda
guerra com o nome de Lanchester.
As policias
Nordestinas ainda usaram submetralhadoras Bergmann MP 35.
O escritor
Frederico Pernambucano de Mello cita no livro '”Guerreiros do Sol”, que uma
Submetralhadora Bergmann MP34 também estaria presente no ataque a Grota de
Angico. Mas uma análise da foto mostra que é uma modelo 1935 (as diferenças
eram a longitude do cano, maior na MP34, e outros detalhes secundários).
Esta é uma arma
rara por aqui, e praticamente desconhecida do grande público. Aparentemente
teve uso policial no Brasil somente no Nordeste.
A
Submetralhadora Bergmann MP35 derivou-se de uma arma fabricada sob licença pela
empresa dinamarquesa Shulz & Larsen, a BMP32, desenhada por Emil Bergmann
(filho do célebre Theodor Bergmann, que desenhou a MP18). Esta arma tinha
algumas características interessantes (o carregador é montado no lado direito
da arma, com a janela de ejeção à esquerda, sendo o contrário mais usado em submetralhadoras.
A alavanca de manejo do ferrolho é localizada na traseira da arma, sendo sua
operação semelhante a do ferrolho do Fz. Mauser.
Para mover o
ferrolho, gira-se para a posição vertical e puxa-se para trás. O gatilho é
duplo, com dois estágios. O regime de fogo – semiautomático ou automático- é
feito pela pressão do dedo do atirador). A BMP32 tinha cano com jaqueta de
refrigeração perfurada, e usava o cartucho padrão dinamarquês cal. 9 mm
Bergmann, usado nas pistolas M1910/21.
Bergmann
melhorou o design em 1934, padronizando os carregadores das Schmeisser MP28 em
cal. 9 mm Parabellum, cartucho padrão do exército tedesco, para facilitar a
logistica e melhorando o sistema de segurança da arma. Surgindo assim a modelo
MP34. Sendo logo encomendada em grande número pela Alemanha. A famosa casa
Walther foi subcontratada pela Theodor Bergmann Und Co. Gmbh para fabricação
desta arma.
Em 1935 a arma
sofreu novos ajustes para a produção maciça, surgindo as Bergmann MP35 (a maior
parte das MP35 foi usada pela Waffen-SS, embora a Wehrmacht, e a Policia alemã
também a tivessem usado).
Aqui no
nordeste creio que foram usadas pela polícia baiana, mas faltam documentos que
atestem inequivocadamente seu uso (estaria esta MP35 dentre as duas
submetralhadoras emprestadas pela Força Volante da Bahia comandada por Odilon
Flor a João Bezerra? Seria esta a sua origem?).
Não nos
esqueçamos que a Força Pública de Pernambuco usou também as pistolas
automáticas Royal, um clone espanhol da Mauser C-96, que inovou adotando um
seletor de fogo e carregador destacável. Estas pistolas metralhadoras também
participaram de Angicos.
*Aurelino
Fábio Carvalho Costa é baiano de Itapetinga, 49 anos, oplólogo autodidata e
historiador amador, especializado em armamento leve sendo estudioso de armas de
fogo e balística há mais de 29 anos. Já exerceu as funções de consultor técnico
voluntário do Museu da Polícia Militar de São Paulo, e sempre batalha pela
conservação da memória e da oplologia na história do Brasil.
Fonte
lampiaoaceso.blogspot.com
Foto
lampiaoaceso.blogspot.com
PS// DETALHE
1: A SUBMETRALHADORA PORTADA PELO COMANDANTE MANOEL NETO POSSUI O CARREGADOR DO
LADO ESQUERDO DA MESMA. JÁ A PORTADA PELO COMANDANTE ODILON FLOR, TEM O
CARREGADOR DO LADO DIREITO DA ARMA. ACREDITAMOS QUE ESSA DIFERENÇA DÁ-SE PELO
SEU ANO DE FABRICAÇÃO.
DETALHE 2: NA
ÚLTIMA FOTOGRAFIA O TENENTE JOÃO BEZERRA PORTA UMA PISTOLA ROYAL. O ASPIRANTE
FERREIRA DE MELO PORTA UMA SUBMETRALHADORA BERGMANN