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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

DONA-DE-CASA: VALORIZE O TAMBORETE

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.231

Em Santana do Ipanema, funcionavam o Banco do Brasil e o Banco do Estado de Alagoas – PRODUBAN. O funcionário do primeiro, chamado João Farias, fumava muito. Vez em quando pegava o cigarro entre os dedos e dizia para clientes em dúvida: “Banco é o do Brasil... O resto é tamborete”. Tamborete ou banco no Sertão todo mundo conhece; pequena peça de madeira entre três ou quatro pés, quadrado ou redondo é fundamental para o tirador de leite. Foi assim que o cangaceiro Corisco e seus cabras encontraram a minha tia Dorotéia sentada no banquinho, saia rodada, ordenhando no curral da fazenda. A pose mereceu um elogio do subchefe do cangaço: “Olhem aquela como está! Parece uma princesa”. E nem sequer parou na sua caminhada.

(FOTO/DIVULGAÇÃO)

Voltando para o início, o PRODUBAN terminou cerrando suas portas. O tamborete faliu e todos comentaram o motivo, mas aí é outra história, camarada. Atualmente até médicos especialistas recomendam à dona-de-casa, o banquinho da ordenha. Esse tamborete está mais ativo de que nunca. Para quem tem problema de coluna, principalmente, o banquinho é seu grande assistente em várias situações do lar. Serve para sentar quando for mexer na parte baixa da geladeira; serve para subir e pegar coisas mais altas no armário; para sentar, colocar e tirar roupas da máquina moderna com tampa na frente. Apoiar um pé ao passar ferro ou nas tarefas da pia. Até aí o Banco do Brasil “não serve para nada”, a não ser para financiar a compra do tamborete.
Para adquiri-lo, basta encomendar ao marceneiro ou então comprar o produto em mercado de atacarejo. Existem os bons e os péssimos assim como preço justo de uns 15,00 ao absurdo de mais de 200,00. E o pior, mais frágeis do que cabo de vassoura. Os de plástico rígido não valem nada, mas têm o poder de lhes fazer raiva. Assim fica resgatado o quase esquecido tamborete de madeira.  Numa reforma feita em apartamento, entre quatro pessoas, o banquinho foi solicitado muito mais de cem vezes.
Ah! Ia esquecendo outra função importante do tamborte. Se o seu marido gosta de fumar o fumo de rolo ou mamar no cachimbo de coco catolé, compre outro para ele também. Deixe-o no seu cantinho da casa que terá a réplica viva de Preto Velho, com todo respeito. Amém, amém.

CRIADA A ACADEMIA PRINCESENSE DE LETRAS E ARTES


Pouquíssimos princesenses têm a dimensão da importância do que aconteceu, ontem, em nossa cidade. 13 de dezembro de 2019 – “Dia de Santa Luzia”, a protetora da visão -, ficará para sempre marcado, como o dia em que Princesa abriu os olhos para sua importância no contexto histórico e cultural da Paraíba e do Brasil. Neste dia foi criada a APLA – Academia Princesense de Letras e Artes.

Aconteceu ontem, 13 de dezembro de 2019; às 20:00 horas, nas dependências do “Palacete dos Pereira” – que será a sede da APLA -, por aclamação, a fundação da referida Academia. Com a presença de cerca de trinta cidadãos ligados às letras e às artes princesenses, foi batido o martelo: habemus academia! Com a presença dos acadêmicos, professor Francelino Soares e Antônio Quirino, da ACAL - Academia Cajazeirense de Artes e Letras foi aprovada, também por aclamação, a adoção do nome, como Patrono da APLA, do ilustre tribuno princesense, Alcides Vieira Carneiro. Como primeiro presidente da Academia, foi proclamado, por unanimidade o senhor Emmanuel Conserva de Arruda. Na ocasião, foi criada uma Comissão Especial para a elaboração da lista dos 40 Patronos que nominarão as Cadeiras da APLA.

Começou ainda em Novembro..."Dia 21 de novembro de 2019, o agrupamento de doze cidadãos comprometidos com a cultura princesense, protagonizou um grande salto nessa área quando, reunidos em torno de uma mesa, no palacete dos “Pereira”, sito à Praça “Epitácio Pessoa”, nesta cidade de Princesa Isabel/PB, fundaram a APLA – Academia Princesense de Letras e Artes. A iniciativa, que partiu do professor Emmanuel Conserva de Arruda, recebeu a adesão de muitos intelectuais e artistas princesenses, inclusive de alguns dos que moram fora de Princesa – a exemplo de Serioja Mariano, Aldo Lopes, Tião Lucena, dentre outros – e que não puderam comparecer para a reunião de fundação. Presentes se fizeram: Emmanuel Conserva de Arruda; Chyara Charlotte Bezerra Advíncula; Antônio Maximiano Roberto; Erenilson Bezerra Siqueira; Laurindo Antônio de Medeiros Neto; Domingos Sávio Maximiano Roberto; Manoel Arnóbio de Sousa; José Irismar Mangueira de Sousa; Leonardo Bezerra; Valdenyr Antas Diniz; José Arley de Sousa Moura e Thiago Pereira de Sousa Soares. São esses, os membros fundadores da Academia que, certamente, promoverá grandes benefícios à cultura de Princesa, principalmente no campo das artes e das letras. Este Blog parabeniza a iniciativa, se colocando à disposição para os serviços de divulgação dessa nova entidade que será, sem dúvida, o templo guardião e promotor da cultura princesense."

Palacete dos Pereiras; Sede da APLA

Realizada a parte burocrática, certamente no próximo ano, será verdadeiramente instalada de forma solene, a Academia Princesense de Letra e Artes. A importância desse evento dá-se pelo fato de que, a partir de agora, Princesa terá um “fórum” especial para tratar e cuidar das letras e da cultura, mais especialmente da magnífica história do nosso município, desta Terra que se constitui, sem dúvida – pela sua importância no contexto da história recente – no “Chão mais histórico da Paraíba”. Será a APLA, o “Santuário da Cultura”, a “Casa das Letras”, enfim, o lugar que Princesa necessitava para rememorar seu passado e trazer para o futuro, o presente de uma cultura renovada. Em 1937, o notável conterrâneo, Alcides Carneiro, por ocasião de solenidade cultural acontecida em Cajazeiras/PB, proferiu discurso em que disse: “Cajazeiras, terra que ensinou a Paraíba a ler”. Certamente, hoje, se vivo fosse, diria: “Princesa, terra que vai ensinar história aos paraibanos”. Exultamos todos com tão importante acontecimento que, com certeza, será um divisor d’água quanto ao que foi e ao que será Princesa, a partir de agora.

Domingos Sávio Maximiano Roberto, 
14 de dezembro de 2019
Princesa Isabel-PB

Manoel Severo e Conselheiro Cariri Cangaço, Emmanuel Arruda; Presidente da APLA

NOTA CARIRI CANGAÇO: A Presidência do Conselho Alcino Alves Costa do Cariri Cangaço, congratula-se com a comunidade acadêmica, literária e artística do querido município paraibano de Princesa Isabel pela criação da APLA - Academia Princesense de Letras e Artes, e com seu primeiro presidente; eleito por aclamação; Emmanuel Conserva de Arruda; também Conselheiro Cariri Cangaço.


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O NATAL E O MENINO*


Por José Cícero Silva

No meio da noite tão triste
há um menino...
Sozinho na maior solidão que existe.
Um ser pequenino.
Relegado ao mais completo abandono.
Há muito não dorme, o tal menino.
Mesmo sofrendo ao relento de frio e de fome
Ele faz prece aos santos.
E a humana gente, indiferente,
finge não saber sequer seu nome.
É Natal.
Tudo está escuro.
Há sons de sinos por todo canto.
Luzes coloridas, presentes
e cheiro de comida quente.
Todos cantam: “noite feliz, noite feliz...”
Há ceia farta
e festa vasta entre os homens.
Enquanto isso, o pobre menino
chora baixinho de frio e fome.
Mas não reclama.
Está sem sono, o pequenino...
Não sabem os indiferentes que se fartam
que o tal menino triste
entregue ao abandono da vida
não é, senão, o próprio Cristo
que na noite de Natal insone,
disfarçado de criança,
veio ao mundo como uma chama.
Para testar de novo
o solidarismo, a tolerância
e a caridade dos homens.
Como igualmente,
a fé, o otimismo e a esperança humana.
E quando finalmente o Natal se esconde
o menino pobre transfigurado em anjo
com medo e pena da maioria dos homens,
cria asas e voa para o céu neste instante.
............................
José Cícero
Aurora - CE.



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SUBMETRALHADORA BERGMANN MP18



“A submetralhadora Bergmann MP18 em calibre 9mm Parabellum”

“No âmbito das submetralhadoras, já durante a I Guerra, em 1915, uma comissão especial alemã destinada a avaliar e testar armas militares decidiu partir para o desenvolvimento de uma arma voltada para o combate a curta distância, como nas batalhas em trincheiras. A tentativa de se fazer modificações em armas curtas já existentes, como certas modificações projetadas para as pistolas Parabellum e a Mauser C96 , falharam. Armas como essas não conseguiriam manter um fogo preciso em modo automático, devido à sua própria concepção, tamanho e peso muito reduzido. Com a exigência de se criar uma arma totalmente nova, Hugo Schmeisser, na época trabalhando com Theoror Bergmann e outros técnicos, desenharam o que seria a Maschinenpistole 18, ou MP-18, que atendia aos requisitos da comissão: velocidade alta de disparo e controlabilidade no tiro automático. Entretanto, a produção serial só foi iniciada em 1918, já no final da Guerra.

Pode-se dizer que a MP18 tenha sido a primeira submetralhadora a ser produzida no mundo. Apesar de que em 1915 o projeto italiano da Villar-Perosa possa até, por alguns autores, ter tido esse privilégio, a bem da verdade a VP estava mais para uma metralhadora leve, bem longe do conceito de real portabilidade da MP-18. Apesar de entrar no cenário final da guerra, ainda assim cerca de 10.000 MP18 foram destinadas a algumas unidades combatentes alemãs. Após a Guerra, com as limitações impostas pelo Tratado de Versailles, a produção da MP18 foi proibida. Entretanto, de forma dissimulada a Bergmann continuou com a produção da arma e ela se provou excelente quando equipou algumas unidades de polícias urbanas na Alemanha, bem como posteriormente utilizada na Guerra do Chaco e na Guerra Civil Espanhola.


A arma sofreu algumas modificações e melhoramentos nos anos seguintes, e versões foram produzidas utilizando carregadores do tipo tambor (drum magazines), com 50 cartuchos, ou o tradicional carregador de montagem horizontal para 20 ou 32 cartuchos. Os calibres mais utilizados foram o 9mm Luger e o 7,63mm Mauser. A cadência de fogo era de 550 tiros por minuto. O cano era encamisado por um tubo perfurado, para a devida refrigeração. Nos anos que precederam a II Guerra, a MP18 sofreu evoluções bem como gerou outros projetos, como a MP28 e MP32, também criadas por Schmeisser.
Basicamente o conceito dessas sub-metralhadoras era o que até hoje é bastante comum, ou seja, trabalhavam com o ferrolho aberto, sem travas de culatra (blowback) e um sistema de mola recuperadora enclausurada em um tubo telescópico, uma solução engenhosa que serve de guia para que a mola, razoavelmente longa, não se deforme com os constantes movimentos de compressão e expansão.

No ano de 1924, o empresário Bertold Geipel fundou a ERMA, Erfurt Machinen, e a partir de 1928, contratou Heinrich Volmmer, que passou a fazer parte da equipe de engenheiros e projetistas da empresa. Na Erma, Vollmer desenvolveu um projeto baseado na MP28, denominado de EMP (Erma Maschinen Pistole), que gerou posteriormente três variações importantes: A primeira, dotada de mira tangencial, em 1935, cano longo com camisa perfurada e encaixe para baioneta, que foi vendida para a Iugoslávia. A segunda variante possuía pequenas alterações, principalmente na coronha e a terceira, que foi a mais vendida e mais usada na Espanha, incorporava pela primeira vez uma trava de segurança.

Todos esses projetos, entretanto, utilizava o mecanismo desenvolvido por Vollmer. A EMP possuía carregadores para 20 ou 32 cartuchos, calibre 9mm Parabellum, posicionado na parte frontal e à esquerda da arma, em posição de 90º em relação à empunhadura. Pesava cerca de 4,200Kg. E tinha uma cadência de tiro de 350 a 450 disparos por minuto. Não possuía opção para tiro único.


Finalmente, em 1938, a menos de um ano da invasão da vizinha Polônia, fato que desencadearia o maior conflito armado da História, uma mudança de conceitos no Alto Comando Alemão fez com que seus chefes entrassem em contato com Geipel solicitando com urgência o desenvolvimento e fabricação de uma arma automática que suprisse as necessidades principalmente de tropas motorizadas e de paraquedistas. Foi realmente providencial a atitude de Vollmer de ter continuado com seu projeto, pois a Erma tinha, agora, condições de, em tempo recorde, suprir essa exigência do Alto Comando. Para esta nova arma, a Erma designou a nomenclatura de MP-38, ou Machinen-Pistole Modell 1938.”


A SUBMETRALHADORA BERGMANN PASSA A FAZER PARTE DO ARSENAL DA FORÇA PÚBLICA DO NORDESTE
Por A. Fábio Carvalho Costa*

“Caros amigos, em homenagem aos 80 anos da morte de Lampião e Maria Bonita, escrevi este texto especialmente para o blog do amigo Kiko, sobre as armas automáticas usadas pela polícia em Angico, espero que apreciem.

Os governos estaduais nordestinos buscavam a todo custo na década de 1930, a erradicação total dos bandos de cangaceiros. Para isso introduziram o conceito de tropas “volantes”, ou seja, tropas com grande mobilidade e sem circunscrição, que seguiam no encalço dos bandidos pelos sertões afora. Por vezes atravessando divisas estaduais com base em acordos celebrados pelos governos nordestinos.

O conhecimento do terreno, e do território, a adaptação às agruras e dificuldades da caatinga, davam aos bandoleiros óbvias vantagens táticas.

A vantagem do armamento policial composto pelos fuzis e mosquetões militares do tipo Mauser (geralmente os mod. 1908), no calibre 7 mm, inicialmente superior aos dos bandidos, foi suprimida em 1926 no afã de combater a coluna Prestes, com a cessão pelo governo federal de armas idênticas (e até mais modernas e cômodas de se usar, como os mosquetões FN 1922), o que se revelou uma estratégia no mínimo equivocada que talvez tenha dado sobrevida a Lampião por mais dez anos.

A solução encontrada foi prover os grupos com armas automáticas mais leves, complementares aos fuzis-metralhadores Hotchkiss 1922 ou Madsen 1918, para que a mobilidade da tropa não fosse comprometida, mas mantendo alguma superioridade de fogo. Principalmente em frações de tropas muito reduzidas.

As submetralhadoras Bergmann MP 28 II eram algumas destas armas automáticas.

A Força Pública Pernambucana apreendeu em 1931 dos Irmãos Lundgren (além de muitas outras armas) 25 submetralhadoras de fabricação alemã com 71 pentes (SIC) e 23.472 cartuchos; 02 metralhadoras sem coronha. Estas armas pelo período, provavelmente eram estas Bergmann MP 28 II. Consta que foram usadas depois contra os cangaceiros.

A submetralhadora Bergmann MP 28 II foi copiada pelos ingleses durante a segunda guerra com o nome de Lanchester.

As policias Nordestinas ainda usaram submetralhadoras Bergmann MP 35.
O escritor Frederico Pernambucano de Mello cita no livro '”Guerreiros do Sol”, que uma Submetralhadora Bergmann MP34 também estaria presente no ataque a Grota de Angico. Mas uma análise da foto mostra que é uma modelo 1935 (as diferenças eram a longitude do cano, maior na MP34, e outros detalhes secundários).

Esta é uma arma rara por aqui, e praticamente desconhecida do grande público. Aparentemente teve uso policial no Brasil somente no Nordeste.

A Submetralhadora Bergmann MP35 derivou-se de uma arma fabricada sob licença pela empresa dinamarquesa Shulz & Larsen, a BMP32, desenhada por Emil Bergmann (filho do célebre Theodor Bergmann, que desenhou a MP18). Esta arma tinha algumas características interessantes (o carregador é montado no lado direito da arma, com a janela de ejeção à esquerda, sendo o contrário mais usado em submetralhadoras. A alavanca de manejo do ferrolho é localizada na traseira da arma, sendo sua operação semelhante a do ferrolho do Fz. Mauser.

Para mover o ferrolho, gira-se para a posição vertical e puxa-se para trás. O gatilho é duplo, com dois estágios. O regime de fogo – semiautomático ou automático- é feito pela pressão do dedo do atirador). A BMP32 tinha cano com jaqueta de refrigeração perfurada, e usava o cartucho padrão dinamarquês cal. 9 mm Bergmann, usado nas pistolas M1910/21.

Bergmann melhorou o design em 1934, padronizando os carregadores das Schmeisser MP28 em cal. 9 mm Parabellum, cartucho padrão do exército tedesco, para facilitar a logistica e melhorando o sistema de segurança da arma. Surgindo assim a modelo MP34. Sendo logo encomendada em grande número pela Alemanha. A famosa casa Walther foi subcontratada pela Theodor Bergmann Und Co. Gmbh para fabricação desta arma.

Em 1935 a arma sofreu novos ajustes para a produção maciça, surgindo as Bergmann MP35 (a maior parte das MP35 foi usada pela Waffen-SS, embora a Wehrmacht, e a Policia alemã também a tivessem usado).

Aqui no nordeste creio que foram usadas pela polícia baiana, mas faltam documentos que atestem inequivocadamente seu uso (estaria esta MP35 dentre as duas submetralhadoras emprestadas pela Força Volante da Bahia comandada por Odilon Flor a João Bezerra? Seria esta a sua origem?).

Não nos esqueçamos que a Força Pública de Pernambuco usou também as pistolas automáticas Royal, um clone espanhol da Mauser C-96, que inovou adotando um seletor de fogo e carregador destacável. Estas pistolas metralhadoras também participaram de Angicos.

*Aurelino Fábio Carvalho Costa é baiano de Itapetinga, 49 anos, oplólogo autodidata e historiador amador, especializado em armamento leve sendo estudioso de armas de fogo e balística há mais de 29 anos. Já exerceu as funções de consultor técnico voluntário do Museu da Polícia Militar de São Paulo, e sempre batalha pela conservação da memória e da oplologia na história do Brasil.

Fonte
lampiaoaceso.blogspot.com
Foto
lampiaoaceso.blogspot.com

Transcrição Sálvio Siqueira

PS// DETALHE 1: A SUBMETRALHADORA PORTADA PELO COMANDANTE MANOEL NETO POSSUI O CARREGADOR DO LADO ESQUERDO DA MESMA. JÁ A PORTADA PELO COMANDANTE ODILON FLOR, TEM O CARREGADOR DO LADO DIREITO DA ARMA. ACREDITAMOS QUE ESSA DIFERENÇA DÁ-SE PELO SEU ANO DE FABRICAÇÃO.

DETALHE 2: NA ÚLTIMA FOTOGRAFIA O TENENTE JOÃO BEZERRA PORTA UMA PISTOLA ROYAL. O ASPIRANTE FERREIRA DE MELO PORTA UMA SUBMETRALHADORA BERGMANN

CINTURA FINA


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DADÁ A AMAZONA DO CANGAÇO QUE LUTOU AO LADO DE CORISCO NO BANDO DE LAMPIÃO

Por Dimalice Nunes
Fotografia colorizada de Dadá e Corisco - Rubens Antonio

Quem é do Nordeste possivelmente conhece a história de Dadá, a cangaceira. Nascida em 25 de abril de 1915, em Belém do São Francisco, Pernambuco, Dadá foi heroína, guerreira, e única mulher a portar um fuzil no bando de Lampião – que chegou a liderar. E, com Corisco, seu parceiro, resistiu por mais dois anos até o brutal fim da gangue, nas mãos da polícia. Um ícone da rebeldia do cangaço.
Mas não façamos coro à mera mitologia. Dadá era, sim, uma personagem excepcional.  Mas, em sua história, há alguns detalhes pouco contados e bem desconfortáveis aos ouvidos modernos, que não vamos nos omitir em abordar.
Um Cangaço feminino
O que aconteceu nos 12 anos em que Dadá viveu embrenhada na caatinga, de acampamento em acampamento, ao lado de Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco, pode ser revisitado nas falas da própria Dadá, que viveu até 1994 e concedeu entrevistas para programas de TV e documentários, e pelo trabalho de diversos historiadores que ligaram essas falas às de outros cangaceiros e cangaceiras que sobreviveram ao fim do grupo, num amplo trabalho de reconstrução histórica do período.
Corisco era o braço direito de Lampião, chefe do bando que espalhou terror entre os poderosos (e todo o resto) pelo sertão de sete estados, entre os anos 20 e 40 do século passado. Sérgia vivia com a família em Belém de São Francisco (PE), onde nasceu em abril de 1915, e de onde foi levada por Corisco. Segundo ela, foi uma vingança contra seu pai, acusado de delatar um parente de Corisco à polícia. “Então ele veio e me carregou, me botou na garupa do burro.”
Sobre o que veio a seguir, Dadá nunca falou abertamente, mas a pesquisadora Rosa Bezerra, autora do livro A Representação Social do Cangaço, afirma que há relatos privados da própria Dadá de que ela teria ficado muito doente depois do rapto, após sofrer violência sexual, com febre por semanas.
A cangaceira Dadá / Reprodução

Dadá não foi a única vítima da brutalidade na família. Ela mesma contou, em entrevista reproduzida no documentário Feminino Cangaço, que os irmãos menores tiveram as pontas dos dedos cortadas à faca, que o pai foi espancado e teve uma orelha cortada e a mãe e as irmãs ficaram cinco dias presas sem comida.
Mulheres passaram a ser permitidas no cangaço apenas depois que o chefe, Lampião, conheceu Maria Bonita, em 1930. Essa entrou para o bando voluntariamente. Casada, mas infeliz, apaixonou-se por Lampião e pela ideia de aventura que a vida bandida traria, uma forma de viver que era a antítese da domesticidade reservada a uma mulher de seu tempo.
Frederico Pernambucano de Mello, que estuda o cangaço há mais de 30 anos e se tornou referência no assunto, explica que, “uma vez no bando, a mulher costurava, se quisesse; bordava, se quisesse; cozinhava, se quisesse. Seu status na subcultura do cangaço era superior ao da mulher da cultura pastoril. A cangaceira vivia para se ornamentar e alegrar o cotidiano de dureza do seu homem. Exigia do marido joias, perfumes, brilhantinas, maquiagens”, diz. “A despeito desse luxo, a cangaceira não deixava de ser uma propriedade do marido.”
Dadá era uma exceção não só na forma como entrou mas também por não parecer ter caído nas tentações da riqueza vinda das pilhagens. “Eu aconselhava as outras meninas a não ir. Vê a festa e não sabe o que sofre: dormir no molhado, andar no espinho, fugir tomando tiro, a ruína da sua família... Os períodos de glória e fartura se revezavam com os de miséria”, afirmou.
O bando chegou a ter entre 50 e 60 mulheres, todas companheiras de algum cangaceiro. Embora a violência fosse uma constante – mulheres adúlteras eram assassinadas ou tinham o rosto marcado com ferro em brasa –, histórias de rapto como o de Dadá eram exceção. A maioria fugia da família para acompanhar um cangaceiro. Um caminho sem volta tanto pelas leis do próprio bando quanto para as leis não escritas da moral sexual do Brasil da primeira metade do século 20.
Últimos dias
A maioria das cangaceiras não tinha papel de combatentes. Portavam facas e pistolinhas apenas para defesa, sem participarem ativamente de combates, saques e ocupações de vilarejos. A presença feminina, segundo os pesquisadores, havia trazido um ar mais familiar aos bandos, elevando o apoio popular nas vilas por onde passavam e reduzindo os episódios de violência sexual. Essa mudança aconteceu mais de um século após o início do banditismo do sertão, na década de 1830, com figuras como Jesuíno da Feira. Um século depois, porém, podia não parecer, mas o cangaço já estava em seus estertores.
Após o ataque, a tétrica exposição das cabeças /Wikimedia Commons
A partir da ascensão de Getúlio Vargas, o cangaço passou a ser fragilizado pela atuação mais ativa das volantes, as forças especiais criadas pela polícia especificamente para combater os cangaceiros. No fim da década de 1930, essas forças traziam uma letal novidade: metralhadoras. O armamento cangaceiro não era páreo para elas.
Numa madrugada de julho de 1938, o bando de Lampião é atacado no sertão de Sergipe. Das 34 pessoas presentes, 11 foram degoladas ali mesmo, entre elas Lampião e Maria Bonita. Os sobreviventes fugiram ou se entregaram às forças do governo.
Justamente para fugir da perseguição policial, o grupo havia se dividido. Corisco estava longe, em Alagoas. Com a morte do chefe, ele assume o cargo, e sua primeira ação é de vingaça. Havia recebido a informação de que quem tinha entregado Lampião fora certo José Ventura Domingos. Com a convicção de estar vingando o bando, matou o dono da casa, a esposa e os filhos, degolou os cadáveres, colocou as cabeças dentro de um saco de estopa e enviou-as ao tenente João Bezerra, responsável pela destruição do grupo principal. 
A informação estava errada. Corisco matou uma família inocente.
Com esse crime hediondo sobre seus ombros, a vida passa a ser de fuga constante. Enfraquecido, o grupo nem sequer tem munição suficiente. É então que Dadá começa a ganhar relevância na defesa e nos ataques. “As moças carregavam pistolinhas, mas eu tinha um revólver 38 e cartucheira de duas camadas. As caixas de bala eu levava numa panelinha, porque eu gastava muito. E um punhalzinho. Mas para enfeite, porque eu não ia furar ninguém”, contou Dadá.
Em agosto de 1939, nova ascensão de Dadá na hierarquia do cangaço: Corisco é baleado e se torna incapaz de liderar. É por isso que muitos pesquisadores enquadram apenas Dadá como cangaceira, pois foi a única que, além de atirar em combate, comandou o grupo. “O papel padrão da mulher no cangaço não era de uma amazona, uma guerreira. Mas Dadá era uma mulher extremamente enérgica, dura”, afirma Frederico Pernambucano de Mello.
Corisco e um outro parceiro: cães eram comuns no cangaço / Wikimedia Commons
A liderança de Dadá durou pouco menos de um ano. Em meados de 1940 Corisco já havia cortado os cabelos longos e claros que o deram também o apelido de Diabo Loiro e vivia escondido com a mulher em uma fazenda em Barra do Mendes (BA), tentando uma vida normal. São supreendidos por uma volante e Corisco é atingido por vários tiros de metralhadora no abdômen, morrendo após agonizar por dez horas. Dadá é baleada na perna, que precisa ser amputada depois. Mas vive para contar a história.
Em maio de 1968 a revista Realidade colocou frente a frente Dadá e o coronel Zé Rufino, que comandou o ataque ao casal. Ele chorou ao vê-la. Ela, altiva, perdoou, mas o desmentiu: não foi combate, foi emboscada.
Vida comum
Capturada, Dadá ficou presa por dois anos. Sua condição de inválida fez com que um advogado prático (rábula) pleiteasse com sucesso sua liberdade. Durante os anos de cangaço, havia tido sete filhos, mas apenas três sobreviveram e foram entregues a outras famílias. Casada com o pintor de paredes Alcides Chagas, ganhou
a vida como costureira e viveu na periferia de Salvador até sua morte, em 1994, aos 78 anos.

“Depois da prisão ela deixa de ser Dadá e volta a ser Sérgia. Quando Alcides morre, ela se sente Dadá de novo”, afirma o pesquisador Tadeu Botelho, da UESB.
No documentário Feminino Cangaço, Botelho relata ainda o encontro, já no fim da década de 1980, entre Dadá e um soldado que ficou com sequelas por um tiro dado por ela. O soldado a teria confrontado, dizendo que a culpa era dela por ele ter ficado naquela situação, ao que ela teria respondido: “Sorte sua, porque eu atirei foi para matar”. Como diz Botelho, Dadá “morreu cangaceira”.
Síndrome de Estocolmo?
Corisco e o bando: Dadá está logo atrás dele / Wikimedia Commons
Sejamos brutalmente honestos: Sérgia Ribeiro da Silva entrou para a História contra sua vontade. A Dadá de Corisco virou cangaceira após ser raptada e estuprada por ele aos 13 anos. E, por chocante que seja hoje, o que começou de forma trágica e violenta se transformou numa parceria que os historiadores reconhecem como cheia de cumplicidade e, sim, afeto.
É o que ela, que sobreviveu ao cangaço por cinco décadas, sempre disse: “Corisco me levava de um canto para outro e nessa continuação fui tomando amor por ele. Era um pai para mim, um marido e um professor”.
“Se avaliarmos todas as entrevistas cedidas por Dadá teremos falas sentidas e sofridas sobre sua entrada no cangaço, outras dela afirmando que Corisco foi o grande amor de sua vida”, lembra Caroline de Araújo Lima, que pesquisa o papel das mulheres no cangaço em seu doutorado na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Ela explica que uma vez dentro do movimento não havia volta. “Se ela foi forçada? Considerando a memória dessas mulheres podemos dizer que foram convencidas a tal ponto que defenderam aquele modo de vida como uma alternativa ao que estava posto no Brasil da época.”
Aos olhos contemporâneos, seria possível falar em síndrome de Estocolmo, quando uma pessoa submetida a um tempo prolongado de intimidação passa a ter simpatia e até mesmo sentimentos por seu opressor.
Mas os historiadores ouvidos refutam essa análise. Para Caroline, é fundamental manter o olhar naquele momento, naquela sociedade. “Ela tinha escolha? Considerando a sociedade sertaneja no início do século 20 e a cultura e os códigos de honra pautados na violência, até onde essas mulheres tinham opção? O amor aqui seria o quê? Possivelmente se submeter para sobreviver”, resume.

Saiba mais sobre Lampião:
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2. Lampião. Herói ou Bandido?, de Antônio Amaury Corrêa de Araujo e Carlo Elydio Corrêa de Araujo (2010) - https://amzn.to/32u468L
3. Lampião e Maria Bonita: Uma história de amor entre balas, de Wagner Barreira (2018) - https://amzn.to/32rnMKg
4. Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço, de Adriana Negreiros (2018) - https://amzn.to/33Fys8r
5. Assim Morreu Lampiao, de  Antonio Amaury Correa De Araujo (2013) - https://amzn.to/32sJ8qR
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ARTIMANHAS DO CANGAÇO: CONHEÇA ESTRATÉGIAS QUE O BANDO DE LAMPIÃO USAVA PARA DESPISTAR INIMIGOS

Por Lira Neto
Zé Sereno e outros três cangaceiros de seu bando, 1936 - Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm

Técnicas de ataque e fuga faziam parte das manobras cangaceiras, para despistar a polícia e melhorar a dinâmica grupal. Entenda!

Embora seja inadequado referir-se aos cangaceiros como guerrilheiros — eles não tinham nenhum propósito político —, é inegável que lançaram mão de táticas típicas da guerrilha. Habituados a viver na caatinga, eles não eram presa fácil para a polícia, especialmente para as unidades deslocadas das cidades com a missão de combatê-los no sertão.

Uma das maiores dificuldades em enfrentá-los era que preferiam ataques rápidos e ferozes, que surpreendiam o adversário. Também não tinham qualquer cerimônia em fugir quando se viam acuados. Houve quem confundisse isso com covardia. Mas era apenas estratégia.
TRUQUES CANGACEIROS
Os bandos do Cangaço eram sempre pequenos, de no máximo 10 a 15 homens. Isso garantia a mobilidade necessária para a realização de ataques-surpresa e para bater em retirada em situações de perigo. Os homens e mulheres se deslocavam a cavalo, percorrendo longas distâncias a pé em meio à caatinga, de preferência à noite. Para evitar que novas vias de acesso ao sertão fossem abertas, eles assassinavam trabalhadores nas obras de rodovias e ferrovias.
Todos os pertences do cangaceiro eram levados pendurados pelo corpo. Como não se podia carregar muita bagagem, dinheiro e comida eram colocados em potes enterrados no chão, para serem recuperados mais tarde.

Virgínio Fortunato, cunhado de Lampião, e o homens e mulheres de seu bando / Crédito: Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm

Os cangaceiros também eram mestres em esconder rastros — e eles tinham alguns truques, como usar as sandálias ao contrário nos pés para a polícia achar que eles iam na direção contrária; andar em fila indiana, de costas, pisando sobre as mesmas pegadas, apagadas com folhagens e pular sobre um lajedo, dando a impressão de sumir no ar.

Para resolver discórdias internas no bando, Lampião sempre planejava um grande ataque — o que causava a união contra o inimigo, deixando de lado as divergências entre si. E, com exceção de sequestrados, os cangaceiros quase nunca faziam prisioneiros em combate, pois isso dificultaria a dinâmica grupal e a capacidade de se mover com rapidez.

Outra artimanha interessante era que as principais áreas de ação do cangaço eram próximas às fronteiras estaduais. Em caso de perseguição, eles podiam cruzá-las para ficar a salvo do ataque da polícia local. E durante os combates, havia uma regra fundamental: em caso de retirada, nunca deixar armas para o inimigo e, nas vitórias, apoderar-se do arsenal dele.

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O SUMIÇO DO TRAÍDO E O MARTÍRIO DO TRAIDOR.


Por João Filho de Paula Pessoa

Em 1937 em um combate entre Lampião e Zé Rufino em Lajinha/Se, o cangaceiro Barra Nova foi morto e Novo Tempo, irmão de Sila, foi ferido nas costas e no braço e fugiu do combate separado do resto do bando. Caminhou pelas veredas da caatinga por dois dias, arquejando de dores e lutando pela vida até chegar à uma fazenda conhecida, Paus Preto, onde trabalhava Zé Vaqueiro, a quem pediu ajuda. 

Zé Vaqueiro se dispôs a ajudar, no entanto, por medo das volantes ou parar despojar aquele cangaceiro, resolve assassiná-lo covardemente, atirando em seu ouvido, deixando-o “morto” e saindo para cavar sua cova em um local mais distante para enterrá-lo em segredo. Ao retornar para pegar o corpo, este não se encontrava mais lá, tinha sumido para o desespero de Zé Vaqueiro, que não entendeu àquele sumiço, no meio do nada.

Ainda fez uma busca nas redondezas, mas nada encontrou. Alguns dias depois chega à sua casa Zé Sereno, Mergulhão e Marinheiro, cunhado e irmãos de Novo Tempo, Juriti e o resto do bando. Amistosamente convidam Zé Vaqueiro à acompanhá-los até as “pias das panelas” para pegarem água, e este vai, sem desconfiar de nada até que Marinheiro pergunta pelo irmão Novo Tempo, se ele o tinha visto, momento em que Zé Vaqueiro cai na real e é tomado pelo pavor e nega que o tenha visto, mas é desmascarado pelo bando que informa que Novo Tempo está no coito e vivo, e contara tudo que ocorrera com ele. 

Zé Vaqueiro chora e implora por sua vida, em vão. Inicia-se seu martírio, foi amarrado, espancado, chicoteado, obrigado a cortar xique-xique e mandacarus e a caminhar descalço por cima da moita de espinhos até desabar de exaustão e ser queimado ainda vivo na fogueira feita daquela moita de vegetação e farrapo humano. 

Novo Tempo sobreviveu e tempos depois teve a bala tirada à faca por Zé Sereno, vivendo ainda por muitos anos e morrendo velho em Minas Gerais. 

(João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce.). 18/10/2019.


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