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Por Archimedes Marques
Dias atrás postei nas redes sociais um artigo intitulado AS BESTIAIS VIOLAÇÕES OFICIALIZADAS SOBRE O CADÁVER DA CANGACEIRA NENÉM, um texto elaborado com base nas escritas oficiais de alguns historiadores/escritores nos seus devidos livros, texto esse que relata a trajetória final da cangaceira conhecida por NENÉM DO OURO, companheira do cangaceiro Luís Pedro, braço direito de Lampião. Traça a trajetória final dessa cangaceira que horas depois da sua morte, segundo moradores antigos do povoado MOCAMBO situado no município de Frei Paulo, que na época se chamava São Paulo, relataram para alguns historiadores que o corpo da cangaceira Neném teria sido usado sexualmente pelos policiais vencedores que até instigaram os cães da redondeza colocando-os para cheirar as partes íntimas da defunta para que tais animais fizessem o mesmo.
Não quero aqui criticar ou mesmo identificar os nomes desses historiadores que agora não vem ao caso e que por certo se basearam nas entrevistas que fizeram com os antigos moradores da região, apenas fazer uma ressalva a um dos textos, vez que o autor generalizou como sendo usual essa pratica dos policiais volantes quando da morte das cangaceiras, senão vejamos:
Luiz Pedro e Neném do Ouro colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio
“Em setembro morreu Neném, mulher de Luís Pedro, atingida por uma bala disparada pelas Volantes durante um cerco a uma casa na Vila de Pinhão, em Sergipe, causando profunda tristeza a seu companheiro, choroso com a morte da sua companheira, abandonada no local da morte, servindo de pasto às bestiais vontades dos que a derrubaram. Essa prática das Volantes era usual ao desequilíbrio da moral dos cangaceiros.”
Não era e jamais foi uma prática usual das policias volantes vilipendiarem os corpos das cangaceiras mortas, pois se assim fosse a história não seria complacente com eles. Esse é o único caso existente nesse sentido.
Pensava eu a que referida história era conhecida de muitos, pois sendo disposta em livros destinados ao público em geral assim não seria tão criticada até mesmo por pessoas que se dizem estudiosas do tema cangaço. Ledo engano, alguns desses estudiosos/críticos também não são afeitos a leitura de livros, são estudiosos da nova geração da internet e por isso logo imaginaram que o texto tenha sido criado por mim, sem base alguma, inventivo, quando na verdade apenas o adaptei às minhas palavras, sem nada forjar, sem nada aumentar.
Assim, o texto ganhou grandes proporções nas redes sociais e por conta dessa publicação surgiu algo novo, algo sensacional que muda para sempre essa história tenebrosa e vergonhosa, uma grande novidade que para mim, um pesquisador que prima pela história real ou pelo menos a história mais verossímil possível, muda para melhor, muda para normal e a mais plausível, a real morte da cangaceira Neném. Fiquei duplamente alegre em ver que foi por conta do lançamento do meu artigo que essa história é agora resgatada com a sua bem provável verdade, pois se dependesse do alcance dos livros, ela jamais seria resgatada.
Desse modo tomei como grata surpresa um telefonema do amigo historiador ANTÔNIO PORFÍRIO DE MATOS NETO, nascido no povoado Alagadiço, próximo ao povoado Mocambo, nobre membro da Academia Sergipana de Letras, estimado Confrade da Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço, que me passou a seguinte história:
Há alguns anos atrás um antigo soldado conhecido por Zé Pequeno, que serviu em Aracaju junto com o pai do citado pesquisador, mas que era de origem do povoado Mocambo, em uma das suas andanças de pesquisas na área o chamou para mostrar o local exato da morte de uma cangaceira que ele achava ser a Maria mulher de Jurity, mais de perto, na fazenda Salgado. Sabedor que a cangaceira morta na redondeza tinha sido a Neném de Luís Pedro e não a Maria de Jurity que morreu de velhice bem mais adiante, referido pesquisador corrigiu o soldado Zé Pequeno quanto a essa troca de nomes. E foi daí que o seu tino de pesquisador nato, curioso, colheu maiores detalhes, tendo o Zé Pequeno lhe confidenciado que na verdade o soldado JUSTINIANO MOREIRA DE MORAES, então chefe do destacamento policial do povoado Mocambo, tinha sido o autor da morte da cangaceira Neném e não o sargento Deluz como todos afirmam ter sido.
Segundo o relato de Zé Pequeno que lhe contara o seu amigo soldado Justiniano, a quem ele chamava de “Neguinho bom de tiro” naquela madrugada, ainda escuro, foi chamado na sede do destacamento por um roceiro dizendo ter visto algo de anormal na fazenda Salgado, pessoas com as características de cangaceiros. Sem pensar duas vezes o bravo e destemido soldado, reuniu o seu pessoal que na soma total dava cinco policiais e partiram para o local e ali provocaram o tiroteio sem saber quantos cangaceiros tinha do outro lado do fogo e vice-versa. Uma aventura arriscada, portanto. Assim, os cangaceiros resolveram bater em retirada enquanto uma cangaceira tombou morta próximo a uma cerca de arame farpado ao lado da casa sede da referida fazenda.
Após a fuga dos cangaceiros, os ditos policiais também se retiraram da fazenda, deixando a cangaceira morta no mesmo local, se dirigindo em seguida para a cidade de Frei Paulo onde através do Código Morse comunicaram o ocorrido ao Quartel Central de Aracaju, enquanto a população local temerosa dos cangaceiros regressarem para resgatarem o corpo da colega morta, em polvorosa trataram de se trancarem nas suas casas ou esconderijos diversos da região, pois acima de tudo, temiam pela presença do próprio Lampião com um contingente bem maior, que só pelo nome já arrepiava de medo qualquer cristão.
E demorou mais de seis horas para os policiais de Aracaju chegarem ao local, vez que a guarnição mais próxima, a de Itabaiana também era irrisória para enfrentar o suposto perigo esperado por todos. Somente depois das três horas da tarde foi que chegou uma guarnição policial da capital junto com um perito do IML para fazer a devida autopsia no corpo da morta. Assim, o corpo da cangaceira foi transportado em uma rede para o povoado Mocambo e ali, no Mercado de Talho de Carne, foi colocado em uma das mesas para se fazer a devida autópsia para depois ser enterrado em cova rasa, sem identificação no cemitério local.
Complementando, segundo o que o soldado Zé Pequeno lhe falou que por sinal sabia disso através de familiares, algum tempo depois, ao invés do policial matador de Neném ser promovido conforme acontecia com as volantes de outros estados, ele foi exonerado pelo governador Eronides Ferreira de Carvalho, filho de Antônio Caixeiro, o maior protetor de Lampião em terras sergipanas. Verdade ou não, prefiro omitir a minha opinião quanto a esse fato.
Esses foram os informes que me passou o amigo Porfírio, em seguida, analisando, cheguei a seguinte conclusão por dedução que ao meu ver é a mais viável:
Os curiosos, que sempre bisbilhoteiam mesmo de longe, vez que o mercado estava bem guarnecido pelos policiais em prontidão, viram os soldados despirem a cangaceira e a colocarem totalmente nua em cima de uma mesa, para a devida autopsia, que eles sequer sabiam que existia tal ato, então, pensaram que se tratava de uma violação de cadáver. Os cães que sempre ficam em busca de migalhas em qualquer mercado de carne, completaram a mente fértil dos curiosos ao arrodearem o corpo da defunta quando dos preparativos da sua autopsia. Disso então correu o boato e dessa história souberam também os pesquisadores que mais adiante escreveram os seus livros, firmando como sendo verdadeiros esses fatos.
Essa é, na minha opinião a mais plausível história da morte de Neném do Ouro que assim era chamada por estar sempre toda emperiquitada com ouro e joias por todo o seu corpo, paparicada não somente por Luís Pedro, mas por todos os outros cangaceiros.
A quem interessar possa, também prestei entrevista na manhã de hoje ao amigo cineasta Aderbal Nogueira, conforme os links divididos em duas partes a seguir:
Aracaju, 14 de novembro de 2020
Archimedes Marques
Presidente da ABLAC
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Por Rostand Medeiros
“NOTÍCIA RUIM CHEGA LIGEIRO!”
Vamos ter conhecimento deste fato já na edição de 20 de janeiro de 1922, onde está estampada a publicação do Decreto nº. 160, de 7 de janeiro de 1922, que informa terem as viúvas dos policiais mortos recebido “uma pensão correspondente à metade da etapa que os mesmo ganhavam, considerando que os militares foram assassinados por cangaceiros”.
De qual bando pertenciam estes bandidos? Quantos eram? Quem era o chefe? Infelizmente não sabemos, mas sabemos que o ataque aconteceu. Podemos deduzir que a não vinculação da notícia pelo principal jornal potiguar da época teria mais a ver com um desejo de evitar o pânico entre a população rural potiguar?
E este medo tinha fundamento?
Conforme descreve o então governador potiguar Antônio José de Mello e Souza, na sua Mensagem ao Poder Legislativo de 1921, parece que sim!
Devido a forte de seca dos anos de 1918 a 1920, aliado a uma acentuada baixa de produção do algodão e dos baixos valores alcançados por esta matéria-prima no mercado internacional, o Rio Grande do Norte se encontrava em uma precária situação financeira. Esta situação gerava reflexos principalmente nas ações de segurança e ordem pública, onde o governo mantinha a força pública com um efetivo bem abaixo de suas necessidades e material obsoleto para o combate ao banditismo.
A ERA DE 22 COMEÇA COM MUITA CHUVA E CANGACEIRO
Neste ínterim, a vida passou a sorrir de uma forma mais alegre para o sertanejo potiguar, pois tinha início uma promissora estação chuvosa, sendo noticiadas fortes chuvas em todo Estado (A Republica ed. 29/02/1922).
Por outro lado, o meio político estava agitado, pois a dia 1 de março ocorria em todo país a eleição para Presidência da República, onde Arthur Bernardes disputava com Nilo Peçanha, em um sufrágio muito pouco democrático, quem governaria o país pelos próximos quatro anos. É informado que o futuro presidente já assumiria a partir do dia 15 do mesmo mês de março (Mensagem, RN 1922, pág. 4).
Em meio a todo positivo noticiário sobre as chuvas e as eleições presidenciais, um dia é publicado uma pequena nota que mostrava que nem tudo corria as mil maravilhas no sertão paraibano, próximo a fronteira potiguar e a fonte da pequena nota era uma importante liderança política e empresarial potiguar.
O coronel Francisco Cascudo, pai do folclorista Câmara Cascudo, apresentou a redação de A República um telegrama remetido no dia 3 de março, emitido pelo seu parente Simplício Cascudo, então residente na cidade paraibana de Sousa, dando conta que um grande grupo de cangaceiros estava percorrendo as zonas rurais das cidades de Pombal, Brejo do Cruz, Catolé do Rocha e São Bento, na Paraíba e propriedades na área próxima a Vila de Alexandria, já no Rio Grande do Norte (mas sem trazer maiores detalhes). Informava Simplício Cascudo que as propriedades São Braz, Santa Umbellina e Brejo das Freiras foram “visitadas” pelos cangaceiros, sendo assaltados as pessoas de “José Olympio, filho de Antonio Fernandes, Adolpho Maia, Valdevino Lobo, proprietário da estância Dois Riachos, e Mestre Ignácio”. Informa o missivista que a cidade de São Bento estava “arrasada” com os acontecimentos, tendo os saques nas propriedades próximas sidos superiores a 200 contos de réis. Comentava que no dia 2 os cangaceiros se encontravam no lugar “Catolé”, próximo a Cajazeiras, estando a cidade receosa de ser atacada. Simplício Cascudo finalizava a nota informando que até o momento as garantias solicitadas ao governador da Paraíba, Sólon de Lucena, ainda não estavam presentes (A Republica ed. 07/03/1922).
Ora, diante de notícia fornecida por pessoa tão grada da sociedade potiguar, os grandes produtores rurais do Rio Grande do Norte, principalmente aqueles que tinham seus bens mais próximos à fronteira paraibana, ficam extremamente apreensivos com o que poderia ocorrer.
Logo seus piores pesadelos pareciam se concretizar…
Telegramas vindos da vila paraibana de Jericó, retransmitidos por postos telegráficos potiguares, fazem chegar a Natal a informação que em 5 de março de 1922, o celebre chefe cangaceiro Sinhô Pereira, com a ajuda do cangaceiro Liberato Alencar, acompanhados de um bando com um número estimado (pelos jornais da época) de 35 a 60 cangaceiros, ataca com sucesso toda aquela região. Desde a zona oeste do Rio Grande do Norte, até o Seridó, a notícia correu célere. Uma das notas de um dos jornais potiguares que noticiaram o fato assim apresentou a questão informando que “Notícia ruim chega ligeiro!”. Na antiga Jericó eles cometeram atrocidades e causaram inúmeros prejuízos aos moradores da localidade. Os cangaceiros foram finalmente rechaçados por um grupo de corajosos habitantes do lugar, destacando-se o nome de Antônio Felipe, João Bento, soldado João Ferreira e João Belarmino.
PÂNICO ENTRE A ELITE RURAL POTIGUAR
Os acontecimentos são publicados em grandes manchetes na edição de 8 de março de A República. A partir de então o pânico se generaliza de uma forma contundente entre os políticos e os fazendeiros que tinham interesses na fronteira do rio Grande do Norte com a Paraíba.
Em Natal começam a chover na mesa do governador Mello e Souza telegramas solicitando urgentemente o envio de efetivos da força pública potiguar para a defesa das cidades e vilas localizadas em praticamente toda a fronteira com a Paraíba. Os aflitos telegramas vinham desde a cidade de Luís Gomes, quase na divisa com o Ceará, à Nova Cruz, próximo ao litoral, todos informando existirem boatos de ataques eminentes e simultâneos de cangaceiros.
Nas amareladas folhas do velho jornal A Republica, existente na hemeroteca do Instituto Histórico do Estado do Rio Grande do Norte e no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Norte, é tal a quantidade de telegramas enviados ao governo, que aqueles que não possuem um maior conhecimento da história do cangaço nesta época, ao ler as alarmantes missivas reproduzidas, parece que a ação dos cangaceiros havia crescido numa proporção assustadora e o número de bandos havia aumentado por dez.
No geral as mensagens seguem quase um mesmo padrão. Comentam sobre a existência de “informações”, ou “boatos”, transmitidos por pessoas “vindas da Paraíba” da “existência de grupos de cangaceiros nas proximidades” e a possível “eminência de um ataque”.
OS JORNAIS REPERCUTEM A SITUAÇÃO
A imprensa dos dois Estados tratava a situação de modo alarmante e exagerado.
Na edição de 12 de março do jornal paraibano “A União”, existe a informação que havia ocorrido um violento combate nas proximidades da cidade potiguar de Santa Cruz, no qual teriam morrido 6 cangaceiros. Já o natalense A República chega a comentar na sua edição de 21 de março que, “se abstivera de divulgar as movimentações da tropa, por um princípio das táticas militares; Não fornecer indicações ao inimigo”. Como fosse o caso dos cangaceiros terem condição de ler jornais continuamente no meio da caatinga!
Esta mesma edição de A República informa que em Caicó houve pânico com a notícia da aproximação de cangaceiros na fronteira desta cidade com a Paraíba, ficando a situação mais calma por haver deslocamento de forte contingente policial em direção à localidade de Jardim de Piranhas. Outro jornal natalense denominado A Notícia, informa que até mesmo ocorreu “fuzilamento de oficiais de nossa Força Pública e rapto de crianças”.
Até as repartições dos Correios e Telégrafos entraram na ideia de pânico generalizado. Houve o caso de um telegrafista enviar pedidos de ajuda ao Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro.
Até jornais do Rio de Janeiro noticiaram aqueles acontecimentos aparentemente através de notícias recebidas de informes telegráficos e um destes informes mostra uma interessante situação; no primeiro semestre de 1922 estava acontecendo em todo o Brasil os preparativos para as grandes festas do centenário da nossa independência e no Rio Grande do Norte estes preparativos estavam a toda. Cabia a cada estado brasileiro organizar e enviar para a Capital Federal, na época o Rio de Janeiro, uma coleção de produtos naturais típicos. No Rio Grande do Norte o responsável por tal trabalho era o Dr. João Vicente, que a época destes alarmes estava no município serrano de Martins. Na edição do periódico carioca A Noite, pág. 4, de 6 de março de 1922, foi noticiado que o Dr. João “não podia trabalhar devido a ação dos cangaceiros e que o pessoal da serra estava pronto a reagir”.
MAS HOUVE ATAQUE?
Mesmo com todo exagero, o governador Antônio José de Mello e Souza, juntamente com o então chefe de polícia Sebastião Fernandes não perdem tempo na reação e tratam o assunto como uma verdadeira “situação de guerra”.
Convocam por decreto emergencial 100 praças para a força pública, promovem 2 sargentos a oficiais, despacham um grupo de policiais para seguir de navio até a cidade de Areia Branca, para depois seguirem a cavalo para fronteira. Com a ajuda do então IFOCS – Instituto Federal de Obras Contra as Secas (futuro DNOCS) mais de 100 militares serão enviados de caminhão ao interior. São feitas solicitações aos serviços de correios e telégrafos para a isenção de taxas para que os oficiais pudessem emitir telegramas da “frente de batalha”.
Na sua Mensagem ao Poder Legislativo de 1922, o governador Mello e Souza informa que recebeu que durante esta “crise”, mais de 100 despachos telegráficos vindos do interior. O próprio governador, tido como homem calmo e comedido, chegou ao ponto de reclamar que “até a cortesia sertaneja havia sido deixada de lado” naquelas solicitações de ajuda.
Foram enviados policiais em tal quantidade que em Natal o efetivo policial foi classificado como “mínimo”, apenas para o essencial para a proteção do quartel da força pública e do presídio (Mensagem, RN, 1922, páginas 31 a 35).
Seja por conta das ações policiais praticadas pelos governos da Paraíba e da ação preventiva da polícia potiguar, ou por terem conseguido o que desejavam, o bando de Sinhô Pereira toma novamente o rumo do Ceará. Com a saída dos cangaceiros, pouco a pouco a situação volta a se normalizar. No dia 29 de março chega a Natal o Chefe de Polícia da Paraíba, Demócrito de Almeida, que vinha agradecer a ação da polícia potiguar e, juntamente com Mello e Souza e Sebastião Fernandes, acertarem as bases para ações de patrulhamento da fronteira (A Republica, pág. 1, Ed. 01/04/1922).
Nas edições do jornal “A Republica” e na própria Mensagem ao Legislativo de 1922, podem-se ler as respostas às críticas feitas a ação do governador Mello e Souza na proteção das fronteiras. Estas críticas comentavam principalmente sobre os gastos excessivos realizados pelo executivo estadual no deslocamento de tropas, em meio a grave crise financeira vivida pelo Tesouro do Estado.
Existem insinuações que a mobilização serviu para uma grande intimidação da classe política que se encontrava na oposição, devido a proximidade da eleição federal, além de mostrar quem estava no poder e quem mandava na Força Pública.
Mas enfim, os cangaceiros de Sinhô Pereira estiveram, ou não estiveram no Rio Grande do Norte em 1922?
Consta na sua Mensagem ao Poder Legislativo de 1922, que o governador Mello e Souza informou que estes cangaceiros ao seguirem em direção ao vizinho Ceará, teriam então realizado a única e verdadeiramente comprovada penetração em território potiguar. Foi quando realizaram um pequeno saque em Luís Gomes e passando nas imediações da Vila de Alexandria, sem, contudo esta localidade ser efetivamente atacada (Mensagem, RN, 1922, pág. 34).
Conforme podemos ver na reprodução da nota publicada na edição do periódico carioca A Noite, pág. 4, de 6 de março de 1922, parece que estes cangaceiros estiveram no Rio Grande do Norte, mas não existem registros de saques em Patu, Alexandria e que a nossa polícia perseguiu a horda de meliantes até o Ceará.
UMA QUASE CONCLUSÃO…
Ao observamos estes episódios, é de se perguntar de onde vinha tamanho receio, ou medo, que as classes produtoras rurais potiguares tinham em relação aos cangaceiros? Até mesmo porque a marcante invasão do bando de Lampião ao Rio Grande do Norte só iria ocorrer cinco anos depois de todo a aquele pânico de 1922.
É certo que os produtores rurais estavam saindo de uma seca pesada e uma ação de cangaceiros em nada ajudaria a nossa já combalida economia rural. Mas não havia registro de grandes ações destes bandidos no Rio Grande do Norte desde a prisão do celebre Antônio Silvino em 1914.
No meu entendimento toda aquela movimentação foi na verdade uma combinação de receio das elites rurais com a chegada dos cangaceiros, acompanhado de exagerados equívocos de informações, tudo isso transmitido para a capital potiguar através de uma bem organizada linha de comunicação telegráfica, que encheu a mesa do governador de pedidos de ajuda contra bandidos que simplesmente não apareceram.
Tudo isso associado a uma tradicional posição destas mesmas elites rurais potiguares; a de não terem uma associação muito estreita com cangaceiros, fossem eles potiguares, ou principalmente de outros estados.
Os donos do poder do sertão potiguar, como até hoje acontece, jamais deixaram de ter uma parceria estreita com hordas de sanguinários pistoleiros, de gente execrável que mata exclusivamente por dinheiro. Que a soldo dos poderosos resolviam (e ainda resolvem) certos tipos de problemas. Mas a figura do cangaceiro, talvez pelo seu aspecto único de possuir determinado nível de autonomia em meio a estas elites, jamais teve dos coronéis do sertão potiguar muita guarida.
E ONDE ENTRA LAMPIÃO NESTA HISTÓRIA?
Ao realizar esta simples pesquisa, me veio o seguinte questionamento; e então o grande cangaceiro Lampião esteve no Rio Grande do Norte antes do ataque de Mossoró? Teria o Rei do Cangaço pisado solo potiguar antes de 1927? Teria ele atacado uma fazenda nos limites do nosso estado com a Paraíba e passado perto da Vila de Alexandria?
Sei que Lampião entrou no bando de Sinhô Pereira em 1921, mas daí a afirmar que ele e seus irmãos Antônio e Levino participaram destas ações, é complicado. Tem gente por aí que conhece muito mais desta história do que eu e pode responder.
Mas sei que nos primeiros dias de junho de 1922, no sítio Feijão, zona rural do município pernambucano de Belmonte, próximo a fronteira do Ceará, Sinhô Pereira informou aos membros do seu bando, que em breve iria entregar o comando a Lampião, então o seu melhor cangaceiro. Apesar de ter menos de 27 anos de idade, Sinhô alegou problemas de saúde para a sua decisão e que seguia um apelo do mítico Padre Cícero Romão Batista, da cidade de Juazeiro, Ceará, que havia lhe pedido para deixar esta vida bandida e ir embora para fora do Nordeste. A incursão de Sinhô Pereira e outros cangaceiros pelo interior da Paraíba teria tão somente o ensejo de arrecadar numerário para este chefe bandoleiro sair do sertão e só voltar em 1971, já idoso.
Vinte e dois dias depois de receber a notícia que a passagem de comando está próxima, Lampião efetivamente já é chefe de grupo. Neste momento começa a imprimir sua horrenda marca pelo Nordeste e vai se tornar o maior cangaceiro do Brasil.
Mas esta é outra história…
https://tokdehistoria.com.br/2013/03/15/noticia-ruim-chega-ligeiro/
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Por Adauto Silva
A cangaceira Quitéria considerada uma das mulheres mais bonita do cangaço, também sentiu na pele, a amargura de entregar seu rebento, em mãos alheia para criar.
Quem foram seus pais?
Onde e quando nasceu?
Com quem gerou esse filho?
Onde e para quem foi entregue?
Sua biografia está sendo construída.
https://www.facebook.com/groups/GrupoCangacologia/?multi_permalinks=3596823907041223%2C3593638737359740%2C3593017960755151¬if_id=1605352488171172¬if_t=group_activity&ref=notif
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Por Valdir José Nogueira de Moura
“Os olhos de Padre Kehrle se avivam, brilham por detrás das lentes grossas dos seus óculos. Agora conta como contribuiu para que Lampião assumisse a chefia de todo o bando.
“Em Vila Bela, onde já era vigário, fui procurado por Agnelo Carvalho, que me pediu para convencer o chefão dos Pereiras a deixar o grupo, terminando assim a luta.
Um dia, indo para Belmonte e passando na várzea da Carnaúba, perto de Bom Nome, ouvi o tocar de uma sanfona. Aproximei-me e encontrei uns cangaceiros que, largando as armas, me tomaram a bênção.
Durante horas conversei com Sebastião Pereira, o chefe de todos. Prometi-lhe uma carta de recomendação de Padre Cícero e até uma determinada quantia de dinheiro. Finalmente convenci-o a abandonar a luta. Dias depois ele rumou para Goiás. Foi então que Lampião assumiu a chefia de todo o bando”.
Assim relatou o Padre José Kehrle numa reportagem publicada na revista “Manchete” no ano de 1972.
Homem extraordinário, culto e carismático, proveniente de família Judia, nascido na Alemanha em 19/05/1891, José Kehrle chegou ao Brasil no dia 1/11/1909, ordenando-se em 14/03/1914 como religioso no Mosteiro de São Bento, Olinda.
https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=rXqUzJZveEM
Veterinário, o mesmo veio para estas terras a fim de fazer estudos para seu doutorado em doenças tropicais, resolvendo aqui optar pela vida religiosa. Quando vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, em Vila Bela, conheceu Virgulino Ferreira, o Lampião ainda no começo de sua vida como cangaceiro, sendo inclusive seu conselheiro e confessor.
Padre José Kehrle Assumiu a Paróquia de São José do Belmonte no dia 21 de fevereiro de 1922. Durante o seu paroquiato aconteceu a “Hecatombe de outubro de 1922”.
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Do acervo de Josimar Lima Alves
Dê um pulinho até Cajazeiras no Estado da Paraíba através deste e-mail:
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e veja se o professor Pereira o tem em sua livraria.
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Por Geraldo Antônio De Souza Júnior
Obs: Eles foram os maiores inimigos de Lampião. Na luta morreram 15 Nazarenos (8 civis e 7 militares).
Onde: Nazaré do Pico/ PE
Visitas: Aberto ao público
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Por Rostand Medeiros – IHGRN
Na noite de 4 de fevereiro de 1939, sete meses antes do início da Segunda Guerra Mundial, o ex-governador potiguar Juvenal Lamartine de Faria proferiu uma interessante palestra no Rotary Club de Natal. Ali Juvenal comentou com os presentes sobre sua antiga ligação com a aviação, anteviu o início da Guerra, apontou como em sua opinião seria o envolvimento da capital potiguar no grave conflito, clamava a atenção das autoridades para o que poderia acontecer e apontou as ações que os militares dos Estados Unidos executariam para a sua defesa.
Essa palestra foi integralmente apresentada na edição do jornal A República, de 11 de fevereiro de 1939, página 10, mas não causou nenhuma repercussão e nem foi posteriormente comentada naqueles dias incertos.
NATAL: A MAIS IMPORTANTE BASE DE DEFESA AÉREA DO BRASIL
Palestra do Dr. Juvenal Lamartine, na reunião de 4 do corrente no Rotary Clube de Natal.
Em 1927, quando tive a honra de ocupar uma cadeira no Senado Federal, como representante do Rio Grande do Norte, apresentei à consideração aquela casa do Parlamento, tão rica de brilhantes tradições, um projeto de lei autorizando o governo da República a construir um aeroporto em Natal com base para os aviões em Fernando de Noronha e, nos rochedos de São Pedro e São Paulo, um farol aéreo, cuja coluna fosse uma alegoria, que lembrasse e perpetuasse a memória de Santos Dumont.
Decorridos hoje mais de dois lustros, e tendo o mundo passado por profundas e graves transformações políticas, penso que cada dia mais se impõe e se faz urgente a realização da ideia que tive em 1927, diante não só do desenvolvimento da aviação comercial, como principalmente dos perigos que ameaçam as nações militarmente fracas, mas ricas em matérias primas, como é o caso do Brasil.
Embora afastado da atividade pública, continuo, entretanto, a me interessar vivamente por tudo que se relaciona com o desenvolvimento do nosso potencial econômico, segurança e integridade do Brasil.
Desde que vi o primeiro avião, fiquei empolgado pela aviação aérea, na qual antevi um futuro formidável e o meio de transporte ideal para o Brasil, cujo vasto território não é possível cortar de estradas de ferro, se não em um futuro muito remoto e às custas de somas fora de nossas possibilidades econômicas.
Quando os pilotos franceses foram contratados como instrutores do nosso Exército e vieram fundar nossa primeira escola de aviação, fui dos primeiros civis a subir em avião. Nesse tempo era uma temeridade andar pelos ares. A sensação que experimentei nesse voo inicial foi formidável: mas tive desde logo a visão nítida que os céus seriam, em pouco tempo, cortados em todas as direções pelas hélices por aparelhos de todas as nações do mundo, numa competição cada vez maior, e que era preciso estender as linhas aéreas, não só às capitais dos Estados, como ao nosso hinterland[1].
Eleito Presidente do Rio Grande do Norte, dediquei-me com entusiasmo no desenvolvimento do novo meio de transporte, fundando, com parcos recursos do Tesouro do Estado, o Aeroclube de Natal, criando uma escola de pilotos civis, construindo e pessoalmente inaugurando trinta campos de pouso nos municípios no interior, facilitando a instalação nesta Capital de companhias estrangeiras que aqui fundaram bases para seus aviões comerciais, animando, finalmente, por todos os modos esse admirável meio de transporte e já hoje a mais terrível arma de guerra e destruição[2].
A posição geográfica do Rio Grande do Norte e as condições privilegiadas de Natal devem merecer a atenção dos responsáveis pela defesa do Brasil, cujo ponto mais vulnerável a quaisquer ataque aéreo é a costa do Nordeste. Os Estados Unidos da América do Norte, possuindo uma das forças aéreas das mais fortes do mundo e aviões de bombardeiro que não encontram paridade, já pelo se poder ofensivo, já pelo seu raio de alcance, vão gastar somas formidáveis na construção de bases em toda a costa do Atlântico e nas ilhas da América Central, a fim de garantir-se contra um possível ataque de uma potência europeia.
Muito, muito maior é o perigo que corre o Brasil, econômica e militarmente fraco e detentor de imensas riquezas ainda inexploradas e cobiçadas pelos povos imperialistas. O seu ponto mais vulnerável, como já disse, é o Nordeste e a base de defesa mais importante é Natal, donde os aviões poderão exercer um patrulhamento eficiente contra quaisquer tentativas de ataque não só ao Brasil, como mesmo a toda a América do Sul.
Na ausência de autoridade para só por mim agitar o problema, venho lembrar que o Rotary tem a iniciativa de sugerir as altas autoridades da República, a começar pelo comandante da Região Militar, a necessidade de ser incluída no plano quinquenal a construção do porto aéreo de Natal.
Embora não seja técnico, penso, entretanto, que o melhor local para esse porto é o que se encontra entre o Radiofarol e o forte dos Reis Magos, feita a terraplanagem das dunas e a elevação do recife desde o mesmo forte até a praia do Meio.
As condições são as melhores possíveis, pois, além de oferecer espaço bastante para a construção de pistas para os aviões de terra, fica à margem do Potengi, onde podem amerissar os mais possantes hidroaviões do mundo[3].
Com um apoio ou base em Fernando de Noronha e outro, se possível, nos rochedos de São Pedro e São Paulo, como propus em meu projeto de 1927, estará o Brasil de posse do mais importante porto militar aéreo da América do Sul e a chave da defesa deste Continente.
Para reforçar ainda mais o poder defensivo do porto aéreo de Natal e lhe dar maior eficiência, deve ser utilizada a Lagoa do Bonfim, a cerca de 30 quilômetros desta capital, para nela permanecer uma esquadrilha de hidroaviões de bombardeiro. São excepcionais as condições que oferece a Lagoa do Bonfim. Mermoz, o grande piloto francês há pouco desaparecido, considerava essa Lagoa uma das melhores bases do mundo para hidroaviões[4].
Certamente ninguém pensa em concentrar todos os elementos de defesa aérea do Brasil no sul do país, de vez que, ocupado o norte, dificilmente seria desalojar daí o inimigo.
Qualquer ataque que sofrer o Brasil, por uma das nações fortes e imperialistas da Europa, só pode ser feito por via aérea e marítima visando precisamente o norte desprotegido de qualquer elemento de defesa e muito acessível a toda investida estrangeira.
Estou, aliás, convencido de que os poderes públicos conhecedores da importância estratégica de Natal mandarão construir aqui a base de defesa da nossa costa setentrional.
Daqui é possível não só repelir qualquer tentativa de ataque por aviões que projetem atravessar o Atlântico, como estabelecer linhas de defesa para os Estados do sul e do norte do Brasil.
O ideal de todos os povos do mundo é a paz; mas, como a humanidade ainda não atingiu esse ideal, o dever de todos os povos é organizar sua defesa para a proteção de seus habitantes e de suas fontes de produção e de riqueza[5].
NOTAS
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[1] Palavra de origem alemã que significa “terra de trás”. Em alemão, a palavra também se refere à parte menos desenvolvida de um país, aquela menos dotada de infraestrutura e menos densamente povoada. Era muito utilizada por parte de autores e intelectuais brasileiros do início do século XX como sinônimo de sertão e interior.
[2] O que Juvenal Lamartine denomina como “Presidente eleito do Rio Grande do Norte” nesse texto significa que ele tinha sido eleito Governador do Estado. Durante o regime imperial, os atuais governadores eram denominados “Presidentes de Província”, denominação que foi alterada para “Presidente dos Estados” com a implantação do período republicano em 1889. Essa denominação seguiu até a Revolução de 1930, quando aparece o termo “Governador”, sendo essa maneira como se designam os Governantes dos estados brasileiros até hoje.
[3] O Radiofarol ao qual Juvenal Lamartine se refere era uma instalação pertencente à Marinha do Brasil, inaugurado em 27 de janeiro de 1937, situada nas dunas que atualmente estão na área do quartel do 17° GAC. Servia para a orientação de aeronaves que cruzavam o Oceano Atlântico em direção a Natal através de ondas de rádio e possuía duas torres de transmissão com cerca de 60 metros de altura. Tratamos neste livro sobre esse local. Já a ideia dessa pista de pouso aparentemente seria uma estrutura que teria sua cabeceira na região do Iate Clube de Natal, percorreria a área onde atualmente se encontram os tanques de combustível da Petrobras e parte do bairro das Rocas, finalizando próximo à beira mar. Na época, essa era uma área com poucas habitações e essa pista de pouso poderia ter uma extensão alcançaria entre 800 a 1.200 metros.
[4] Juvenal Lamartine se referiu ao piloto Jean Mermoz (1901 – 1936), verdadeiro mito da aviação francesa, que com seu forte espírito desbravador realizou, em 12 de maio de 1930, a primeira viagem transatlântica de correio aéreo sem escalas. Partiu de Saint-Louis (atual Senegal) a bordo de um hidroavião Laté 28 com mais dois companheiros e chegou a Natal depois de 21 horas de voo, percorrendo uma distância superior a 3.000 km. Seis anos após esse feito, após partirem de Natal, Jean Mermoz e sua tripulação desapareceram no Atlântico, durante a sua 25.ª travessia do Atlântico Sul, a bordo de um hidroavião Laté 300.
[5] Ver o jornal A República, Natal/RN, edições de sábado, 4 de fevereiro de 1939, pág. 4 e 11 de fevereiro de 1939, pág. 3.