É sabido por
todo pesquisador que os cangaceiros levavam consigo a maioria dos seus
‘pertences’. Também se sabe que em casos, ou em alguns casos, eles emprestavam,
a juros altíssimos, algum dinheiro para as pessoas.
Citam alguns
autores que o coronel Zé Pereira, de Princesa Isabel, PB, devia uma grande soma
ao “Rei dos Cangaceiros”, e, para não saldar tal dívida, aproveitou o ataque de
seu bando, ele não participa, a cidade de Souza, em solo paraibano, convidado
pelo jovem cangaceiro Chico Pereira, para colocar seus capangas, e o coronel
mantinha um contingente de jagunços maior do que o contingente da Polícia da
Paraíba, em seus calcanhares.
Outra citação
é que, ao transpor as água do Velho Chico, Lampião diz “levar muito dinheiro,
balas e coragem...” para terras baianas. Na Bahia, há referências de que o
chefe de subgrupo, o cangaceiro Zé Baiano, o “Pantera Negra”, vivia a emprestar
dinheiro a juros para o pessoal.
Logicamente
não se pode negar que, principalmente na ‘fase baiana’, foi a ‘maneira de
ganhar’ dinheiro que fascinou tantos jovens, principalmente sergipanos, a
adentrarem nos bandos. Sabe-se, através das entrelinhas dos escritores, que o
pernambucano José Osório de Farias, o comandante Zé Rufino da Força Pública baiana,
comprou algumas fazendas, isso dito por ele, após deixar a Polícia, e foi com
os espólios retirados dos corpos dos cangaceiros mortos por sua volante. Além
das promoções na hierarquia militar, das recompensas pelas ‘cabeças’ de alguns
cangaceiros, que quem matasse um teria direito ao seu espólio.
O caso mais
intrigante, até hoje, não poderia deixar de ser, exatamente, sobre os espólios
de Lampião, Maria Bonita, sua companheira, e os outros nove cangaceiros
abatidos na grota do riacho Angico em julho de 1938.
A pergunta que não cala é onde foram, ou com quem ficou os espólios dos
maiores, mais antigos e mais ‘ricos’ cangaceiros da época?
Seguindo a
rota que as cabeças seguiram, conseguimos seguir parte desses ‘tesouro’ até a
sede do comando da Força Pública, II Batalhão, na cidade de Santana do Ipanema,
AL. Ali, o restante daquilo que fora um dia os espólios dos cangaceiros mortos
em Angico, fora divido entre os comandantes. “Restante” por, antes ter sido
‘repartida’ várias coisas entre a tropa, coisa que causou até brigas entre os
soldados. Além das cabeças, foram decepadas mãos, dedos e a parte do corpo dos
abatidos que estivesse alguma joia ou coisa de valor, dentre outras
profanações.
“(...) Além
das cabeças dos cangaceiros, alguns dedos e mãos também foram decepados para a
retirada de anéis, bornais foram revirados e até brigas aconteceram pela
disputa (...).” (“LAMPIÃO – Sua morte passada a limpo” – BASSETTI, José Sabino. e MEGALE, Carlos Cesar de
Miranda. 1ª edição. 2011)
Após a morte
dos cangaceiros no riacho Angico, foi designado um Delegado Federal, Dr° Joel
Macieira de Aguiar, para apurar o caso do “tesouro” dos cangaceiros. Em sua
investigação descobre que havia pessoas de várias esferas sociais a colaborar
com Lampião, na sociedade sergipana, porém, como foram saqueados os pertences
dos cangaceiros, até documentos que ajudariam a provar, ou comprovar, a
participação dessas pessoas, foi retirada. O interventor do Estado de Sergipe,
Dr° Manoel de Carvalho Barroso, é orientado pelo delegado a pedir a seu colega das
Alagoas uma verificação por parte da Secretaria de Segurança Pública sobre essa
documentação. Porém, nada fora catalogado daquilo que se encontrava em poder do
“Rei dos Cangaceiros” e seus asseclas naquele coito.
“(...) Não
existe, pelo menos de conhecimento público, um inventário oficial e verdadeiro,
onde esteja catalogado todo o espólio dos cangaceiros mortos em Angico (...).”
(Ob. Ct.)
A coisa, na
época, não era de brincadeira. Não poderia, de maneira alguma, vir a público
nome de pessoas influentes dos Estados em que Lampião estendeu sua malha e
concretizou seu reinado.
“(...) dizem até que, foram encontrados em um dos bornais de Lampião, “um
arquivo”, com correspondências de coronéis, políticos e fazendeiros, além de
uma fotografia de um oficial comandante de volante, com dedicatória e tudo ao
Rei do Cangaço. E tudo foi devidamente “abafado inclusive na imprensa” (...).”
(Ob. Ct.)
Devemos
lembrar que na época, o País estava sob um Regime ditatorial. A Ditadura Vargas
estava em pleno exercício. Um, ou mais um, escândalo desses, o primeiro sobre o
caso fora o filme de Benjamin Abrahão, não seria visto de bom grado...
Existe, dentre
os pesquisadores/escritores, aqueles que acham difícil haver prova escrita de
alguns ‘poderosos’ nos espólios do “Rei dos Cangaceiros”. No entanto, poderia
ter sim, alguns nomes dos fornecedores e colaboradores escritos em algum
papel... Que Lampião recebia colaboração de pessoas influentes é fato, porém,
saber quem realmente eram, é mais uma incógnita do incógnito tema, o qual, seus
nomes, parece jamais saberemos.
Na famosa
foto, onde ficou registrada parte dos espólios junto às cabeças dos cangaceiros
na escadaria da Prefeitura da cidade alagoana de Piranhas, de cara notamos uma
‘arrumação’ quando vemos máquinas de costuras e até um cilhão, sela exclusiva e
apropriada para mulheres... Sabe-se que foi encomendada uma máquina para que,
com ela, fosse ‘produzida’ a indumentária de Zé Ferreira, sobrinho do
‘Capitão’, que estava há poucos dias junto à cabroeira e o tio o faria mais um
cangaceiro, o mais novo “Ferreira” no cangaço, mas, não deu tempo. E o que
danado fazia uma sela de montaria naquele coito?
Relatos de ex
volantes deixam registros de que o comandante da Força Pública alagoana que pôs
fim a vida do “Rei Vesgo”, sua ‘Rainha” e parte dos seus cabras, apossou-se da
maior parte dos espólios.
“(...) Os
soldados são unânimes em afirmar que João Bezerra (tenente comandante da tropa)
levou para casa quase tudo de valor que foi encontrado, inclusive dinheiro,
prometendo dividir com todos no dia seguinte. Os ex-militares José Panta de
Godoy, Elias Marques de Alencar e Antônio Vieira, estão entre os que afirmaram
em entrevista que havia muita coisa, mas que nada receberam e, acusaram João
Bezerra e Ferreira de Melo de terem ficado com quase tudo. João Bezerra e
Ferreira de Melo pegaram ainda em Piranhas o que quiseram, pois tiveram tempo
suficiente para escolher e separar tudo de valor material e “sentimental” que
acharam interessante guardar (...)”. (Ob. Ct.)
Com o passar
do tempo, obras literárias trazem em suas entrelinhas a notícia de que partes
desses objetos foram adquiridos pelos escritores, comprados mesmo e, pasmem, é
através de uma dessas obras que começa-se a descobrir-se que parte daqueles
objetos que estão a mostra em museu, não são verdadeiros...
CONTINUA...
Foto A Noite
Benjamin Abrahão
Joãozinho Retratista
PS// FOTOS DO
CANGACEIRO CHICO PEREIRA E DO BANDO EM JARAMATAIA FORAM COLORIZADAS,
DIGITALMENTE, PELO AMIGO Rubens Antonio
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