Adrião Pedro de Souza nasceu na cidade de Chã Preta, AL, no dia 1º de março de
1915. Era filho do casal Sr. Sebastião Alves de Oliveira e de D. Rosa Maria de
Souza.
Naquele tempo, Adrião viveu e fazia o que toda criança fez e viveu comumente.
As diversões daquela época eram poucas, pois a criançada não tinha tempo para
isso. A vida de toda criança, assim que se pode com uma lata d’água, ficasse
taludinho, era ajudar seus pais nas lidas diárias da roça.
Seus pais, mesmo necessitando dos seus serviços, o coloca na escola e ele
aprende a ler e escrever. Destaque para época em qualquer pessoa.
Sua história nos faz ver que ele não seria mais um sertanejo a viver
exclusivamente do ‘cabo da enxada’.
Assim aquela criança continua seu aprendizado para a vida, parte ao lado dos
pais e parte com os ensinamentos do professor.
Já adolescente conhece um moça chamada Tereza Brandão de Jesus. Começam a
namorar e aparece uma forte atração entre ele. Terminando por casarem-se
civilmente no dia 04 de março de 1933, em Viçosa, cidade alagoana.
No dia 20 de abril, nasce sua primeira filha Maria Belizia de Souza. No dia 28 de
julho de 1934, vem ao mundo seu segundo filho, Geovane de Souza. Porém, quis o
destino que oito meses depois de nascido, venha a óbito.
No dia 21 de março de 1938, nasce seu terceiro filho, José Adrião de Souza.
A renda retirada dos serviços da agricultura não estava dando para o sustento
da família. Foi então que Adrião Pedro de Souza, no dia 21 de março de 1936,
contando com seus 21 anos de idade incorpora-se na Força Pública de Alagoas.
É designado para fazer parte da volante do Aspirante Francisco Ferreira de
Melo.
“(...) Ferreira de Melo foi o responsável pela hecatombe do Angico naquela fria
manhã do dia 28 de julho de 1938. Ali, o famigerado Lampião, Maria Bonita e sua
horda deixaram este mundo, terminaram seus dias de crimes decapitados pelos
facões afiados dos “macacos” e seus corpos serviram de alimento para os urubus
(...).” (“A OUTRA FACE DO CANGAÇO – Vida e morte de um praça” – SOUZA, Antonio
Vilela. 1ª edição, Recife, 2012)
O cangaço, Fenômeno Social gerado dentro de outro Fenômeno Social, o “Coronelismo”,
é um tema incrivelmente complexo e recheado de ‘mistérios’. Tendo início no
princípio da segunda metade do século XVIII, fora divido pelos pesquisadores
historiadores em duas fases.
A primeira fase encerra-se, dando lugar para o
início da segunda, na fracassada tentativa de Lampião, Virgolino Ferreira da
Silva, e seu bando, o nome maior do cangaço dentre os chefes cangaceiros,
saquear a cidade de Mossoró, RN, em junho de 1927.
Onze anos, um mês e alguns
dias depois, 28 de julho de 1938, da tentativa desse ataque, Lampião e seu
bando são atacados entre as barreiras de um riacho seco em terras sergipanas.
Desse ataque, resulta a morte do “Rei dos cangaceiros”, sua “Rainha”, Maria
Bonita, mais nove cangaceiros e um soldado da Força Pública alagoana, Adrião
Pedro de Souza.
O que realmente aconteceu naquele ataque, jamais se saberá. Várias e várias
hipóteses já foram feitas, mas, a realidade ainda não veio à tona, e acredito
que jamais virá. Pelo simples fato de que, aqueles que sabiam, não disseram a
verdade. Com suas mortes, morreu também o que sabiam.
O pesquisador/historiador Antônio Vilela, citando Alcino Alves Costa, diz: “O
nosso amado decano, caipira de Poço Redondo, É quem melhor fala dos ‘Mistérios
e Mentiras do Angico’.“
“(...) É como se uma névoa escura envolvesse aquele lugar em mistérios
indecifráveis. Ali, os segredos, mentiras e mistérios jamais serão revelados
(...).” (Ob. Ct.)
Tive o privilégio de participar de uma expedição de estudos lá na grota.
Estudando, em outras duas viagens feitas ao local, maio de 2014 e julho de
2015, o lugar do desembarque da tropa e a trilha seguida por a mesma. Além das
citações de várias pessoas de lá, do local, tanto do lado alagoano como
sergipano, mostram-nos que a tropa subiu a trilha até o Alto das Perdidas pelo
lado esquerdo do riacho. Isso é confirmado para nós pelo ilustre Alcino Alves
em suas obras literárias e oralmente por um dos maiores conhecedores do fato
Angico do tema estudado, José Sabino Bassetti.
Onde hoje se encontra o
Restaurante Eco-Parque, não foi aonde a tropa desembarcou, e sim mais acima,
contrário a correnteza do Rio São Francisco, onde ainda está à casa de Durval
Rosa, irmão de Pedro de Cândido que morava em Entremontes, AL, bem abaixo do
local em que a tropa ancorou.
Durval Rodrigues Rosa
Após chegarem ao Alto das Perdidas, o comandante da tropa, tenente João
Bezerra, divide a mesma em colunas e passa para seus oficiais as coordenadas a
serem seguidas.
Tenente João Bezerra
Historiadores/pesquisadores como Alcino Alves Costa, Jairo Luiz e Antônio
Vilela e outros, nos mostram as brechas que ficaram quando do movimento,
deslocamento, de aproximação para onde se encontrava Lampião.
O cabo Bertoldo e o Aspirante Ferreira de Melo com seus homens, descem em
sentido leste, por uns 200 metros, pois a margem esquerda do riacho fica a essa
distância e, depois de transporem essa distância, dentro da mata, Bertoldo
segue subindo na margem esquerda do riacho, o aspirante transpõe a grota
naquela altura, e começa a subir com seus homens, inclusive o soldado Adrião,
no sentido contrário a correnteza das águas do riacho em direção ao acampamento
do “Rei Vesgo”. O sargento Juvêncio, com sua coluna, sobe direto do lado
esquerdo do riacho, a partir do Alto das Perdidas até certa altura e atravessam
o riacho para o lado direito, seguindo a partir dai a correnteza das águas em
direção ao acampamento de Lampião.
As outras últimas colunas restantes, a do sargento Aniceto e a do comandante
João Bezerra, estavam muito próximos. Do Alto das Perdidas para o local onde
estava a tolda de Lampião distam uns 200 metros. Seguindo direto, a coluna do
tenente Bezerra, segundo Alcino Alves e Jairo Luiz, era a que deveria ter
chegado primeiro, pois não tinham que descer nem subir, apenas seguir em
frente. Não chegando junto, ficou a primeira “brecha”. A coluna comandada pelo
sargento Aniceto, atrasa-se, também, e depois surge a conversa que se perdeu,
deixando a outra “brecha”. E é justamente por essas duas “brechas” que fogem a
maioria dos cangaceiros.
Esta foto pertence ao acervo do escritor Antonio Vilela
Quem primeiro atira, segundo relatos, são os soldados da coluna do Aspirante
Chico Ferreira, a qual também é tida como a que mais matou inimigos naquele
ataque. Abaixo, mostramos parte de um diálogo entre os pesquisadores, lá, nos
arredores da Grota.
“- Espere aí! Nós vamos descer... Nessa descida não tinha volante. Uma estava
na ponta do riacho e a outra volante na extremidade do riacho.” – disse Alcino.
“- Alcino, eu estou mostrando a você que o correto era uma volante descer por
aí, eles estavam bem próximo.” – disse Jairo.
“- E quem atacou primeiro?”. - Pergunta Jairo.
“- Chico Ferreira”. - Respondeu Alcino
“- E quem matou mais cangaceiros?” - Pergunta de novo, Jairo Luiz a Alcino.
“- Chico Ferreira.” – Respondeu o caipira de Poço Redondo.
“– Jairo, você está me ajudando. Na realidade a volante do Aspirante Francisco
Ferreira de Melo foi quem tomou a iniciativa do ataque ao bando de Lampião”. –
Conclui Alcino. (Ob. Ct.)
Quando se inicia “o pego – pra – capá”, os homens da coluna do Aspirante
Ferreira de Melo, se ‘avexam’ tanto que, segundo historiadores, alguns têm que
recuar para poderem atirar nos cangaceiros, e isso tudo no miolo da grota, no
leito seco do riacho.