Uma bela flor.
Uma jovem linda, uma adolescente, uma forma de vida tão cheia de graça e de
formosura.
A menina flor
ainda não vive os perigos após as portas abertas da adolescência. A tão bela
mocinha ainda não conhece as estradas tão atraentes adiante, porém cheias de
labirintos e de feras humanas.
A menina ainda
é flor. Muito diferente de grande parte das adolescentes, que mesmo ainda não
tendo saído completamente da infância e já se procuram se mostrar além do que
são e fazer além do que podem.
A menina ainda
brinca com sua casinha de boneca, ainda conversa com seus brinquedos, ainda
dorme choupando o dedo. Bem poderia pensar somente em se arrumar, usar
shortinho ou roupa justa, e abrir a porta pra se danar pelas ruas.
Bem que
poderia, mas ela sequer pensa nisso. As coleguinhas da escola a chamam para
fugir da aula, para andar por aí, para encontrar amiguinhos, mas ela sempre diz
não. Recebe bilhetinhos enamorados, mas sequer responde.
De sua janela,
seu olhar inocente vai afastando o mundo, mas sempre prefere enxergar alguma
borboleta, algum passarinho, alguma coisa interessante que vá passando. Tem
vontade de sair correndo pelos campos para conversar com as flores.
Certo dia, até
ficou sem compreender quando avistou uma ex-colega de escola já de barriga grande,
em estado de gravidez. Sequer imaginava o que poderia ter acontecido para que a
amiga pudesse estar assim.
Ao ser
avistada à janela, aqueles conhecidos da escola sempre se aproximavam para um
convite. Ouvia suas gírias, suas falas quase incompreensíveis, seus chamados
sem pé nem cabeça, mas não se interessava muito em saber em saber o porquê de
aquilo tudo estar acontecendo.
Mas não era
mais criança. Seu corpo já era de mocinha, sua forma física como a de uma bela
e demasiadamente atraente adolescente. Com sua idade e beleza, certamente que
outras mocinhas se encheriam de batons, perfumes, enfeites e passariam longos
tempos perante o espelho.
Depois do
espelho, a rua. O abrir a porta e sair por aí. Mas aquela mocinha era
diferente. Não gostava nem de ouvir muito sobre sua beleza. Não dizia nada, mas
ficava raivosa toda vez que ouvia que logo estaria com namorado.
Numa feita,
perguntou à boneca de pano se ra bom beijar e qual o gosto que teria um beijo.
Perguntou se era bom namorar e se não havia perigo algum de ter deixar de ser o
que ela era e como gostava de ser. Silenciosa, a boneca parecia entristecida.
Um dia,
resolveu se vestir como as outras meninas, pentear os cabelos de uma forma mais
solta, encher os lábios de batom e as orelhas de brincos. Depois se mirou no
espelho e não se reconheceu. Estava feia, aquela não era ela, nada daquilo
queria. Disse a si mesmo.
Ofereceram-lhe
um cigarro, um copo de bebida, um pó pra cheirar. Não, não quero, obrigado. Era
o que sempre dizia. Mas resolveu não dizer mais. Compreendeu que só estavam
oferecendo aquilo porque estava perto de pessoas que não deveria estar. E se
afastou de uma vez.
Mas não era
fácil viver assim, sempre se afastando das pessoas que não lhe pareciam úteis.
Mas tinha de ser assim, sempre repetia. Também sofria por não deixar ser
moldada segundo os outros desejavam. E dizia a si mesma que se fosse pelos
outros, então deixaria de ser como tanto gostava de viver.
Então pendurou
um calendário na parede, mas não que tivesse interessada em datas, meses, anos
ou dias passando, mas tão somente para que o calendário simbolizasse a si
mesma. Simplesmente deixaria o tempo passar, passar, passar.
E o tempo
seria sua lição. Se houvesse que mudar, então mudaria. Se fosse pra namorar, um
dia namoraria. Tudo no seu tempo.
Clerisvaldo B.
Chagas, 13 de maio de 2021 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica: 2.532
O amanhecer em
Santana do Ipanema e em todo Sertão alagoano, ultimamente tem mostrado umidade
de inverno. Dias quentes, nublados, madrugadas frias, quase sempre com amostras
de chuvas de pouca monta. A Natureza anima-se bastante. Entre quatro horas da
madrugada até o amanhecer espanta-boiadas fazem alaridos sobrevoando rio,
riachos e açudes. Formigas de asas chegam à noite pela cidade anunciando a
mudança. Ou pela Covid ou pelo tempo, ruas de bairros ficam completamente
desertas e não se vê nem gatos circulando para suas caçadas costumeiras.
Várias
prefeituras sertanejas vão ajudando o homem do campo com tratores para aração
de terras. Agricultor pobre não pode comprar máquina possante e decisiva. Ara
sua terra à base de arado puxado por junta de bois, de cavalos, jumentos, numa
dificuldade grande abrindo mão da velocidade que o tempo exige.
O primeiro
arado do sertão alagoano, foi o arado de aiveca, introduzido na lavoura pelo,
então Dr. Otávio Cabral, agrônomo do governo estadual na década de 20 que ainda
trouxe várias outras novidades para o campo, inclusive a cerca de arame farpado
e a criação da sementeira, estação experimental no sítio Curral do Meio II, em
Santana do Ipanema. Mais de cem cavaleiros de Pernambuco vieram observar de
perto as novidades rurais trazidas pelo homem que modernizou a agricultura
regional. No caso, o arado de aiveca, foi a grande surpresa daquele momento.
Quanto a denominação, vejamos o “Pai Véi”: Cada uma das duas peças do
arado que alargam o sulco, afastando e acamando a terra dos lados.
Não vemos em
nossa região aquelas grandes máquinas agrícolas mais modernas do mundo, mas
para a agricultura de roça, o trator básico é sempre bem-vindo e, ofertado
gratuitamente pelas prefeituras, melhor ainda. Dizia Padre Cícero ao sertanejo
que perguntava quando deveria plantar: “Choveu, plantou”. É assim que estão
fazendo os sertanejos alagoanos. O tempo estar parecendo inverno e a nossa mesa
precisa de feijão-de corda e de arranca, milho, macaxeira, abóbora, melancia,
fava e muitas outras culturas cujos produtos vão ser encontrados na feira
camponesa, ao contrário da Agricultura de Plantation que exporta seus produtos.
Com fé em Deus vamos aguardar para breve a fartura no campo.
E que o arado
de aiveca seja um grande inspirador na produção dos campos nordestinos.
Punhal que
pertenceu a Inacia Maria das Dores, a (Inacinha). Foi durante 60 anos acervo
da família da mesma, pois foi deixado esse matérial em 1957, pela própria Inacinha na casa da sua irmã Maria São Pedro.
No povoado salgadinho em PAULO
AFONSO -BA. Quando a Inacinha ficou hospedada durante um, dois dias, pois a mesma
teria vindo de um tratamento de saúde, do hospital Nair Alves de Souza. De
Paulo Afonso. É na volta deixou as peças com a sua irmã, no ano de 2017.
Sandro Lee.
Em pesquisas pelo povoado salgadinho recebe essas peças de honroso
presente do sobrinho da inacinha o nobre Osly Oliveira, e hoje compõe o acervo
do pesquisador Sandro Lee,
Em uma
perseguição ao bando de Lampião no ano de 1926, chegaram à cidade de Flores PE,
o Tenente José Guedes e o Sargento Clementino Quelé da polícia paraibana. Em
Flores, os paraibanos receberam reforço do Anspeçada Manoel Teotônio de Souza,
com nove praças. De Flores, os paraibanos seguiram para o distrito de São João
dos Leites, onde prendeu um homem por nome de Adriano que, depois de um longo
interrogatório, confessou vir do povoado de Roças Velhas, localizado na aba sul
da Serra Grande, no município de Calumbi, para ali fazer compras para Lampião e
seu grupo. Também foi preso em São João dos Leites, José Paulo Bezerra, primo
de Lampião. No dia seguinte, a Força levantou acampamento, conduzindo presos
Adriano e José Paulo. Em Roças Velhas, a Força não encontrou o bando, Lampião
desconfiado com a demora do portador Adriano, concluiu que fora preso.
Retirou-se rumo a Serra Grande, para onde avançou a Força. No pé da Serra,
viram que os cangaceiros haviam subido a mesma, a Força seguiu na pista. A
certa altura, os soldados caíram em uma emboscada, ficou feridos, nos primeiros
tiros, o bravo Anspeçada Manoel Teotônio, que foi atingido na clavícula
esquerda, saindo o projétil em cima "da pá". Devido à má posição, a
Força recuou, ficou no alto da Serra apenas o Anspeçada Teotônio que, só a
muito custo, arrastando-se conseguiu distanciar-se do local. Quando já
distante, julgando-se fora de perigo, levantou-se. Foi novamente alvejado e
atingido em uma perna, caindo fortemente ferido. Sua salvação foi o soldado pernambucano
Pedro Miguel do Nascimento, que vendo o superior com a vida em perigo,
enfrentou os inimigos com bravura no sentido de salvar a vida do companheiro.
Dizia Manoel Teotônio que devia sua vida ao soldado florestano Pedro Miguel do
Nascimento. No referido fogo, foi morto pela polícia paraibana, o primo de
Lampião, o prisioneiro José Paulo Bezerra. Depois do recuo da Força, Lampião
seguiu em direção das Ribeiras de Caiçarinha, Cipó e de São João do Barro
Vermelho. Na Ribeira do Cipó, Lampião chegou à residência de Artur Leão, pediu
água e perguntou se Artur já sabia quem tinha morrido, Artur respondeu que não,
Lampião disse que foi seu primo José Paulo. Havia sido morto pela polícia
paraibana em um fogo travado na Serra Grande. Quando Lampião deu a notícia da
morte de seu primo, às lágrimas lhe rolaram nas faces. As mesmas enxugavam com
um grande lenço preto, que conduzia no pescoço. Exclamou Lampião que, na
realidade, era um bandido, mas que o primo não era, e sim um homem muito calmo
e muito trabalhador, que nada tinha a ver com a vida infeliz dele.
Findo o fogo,
o Tenente José Guedes, com o seu auxiliar, o Sargento Clementino Quelé e o
famoso rastejador paraibano, soldado Belo Apolinário, regressaram a Flores e
dali a Princesa Isabel PB.
Lampião chega
com sua cabroeira em Sergipe pela primeira vez e chegou pra ficar. Entre 1929 e
1938 centenas de histórias seriam contadas e recontadas sobre o rei vesgo em
nosso estado.
ISABELA BARREIROS/ATUALIZADO POR PAMELA MALVA PUBLICADO EM 26/02/2021
Imagem dos restos encontrados em Pompeia - Divulgação/Parque Arqueológico de Pompeia.
Em novembro de 2020,
arqueólogos identificaram os ossos bem preservados de dois homens que tentaram
escapar da impiedosa erupção do Monte Vesúvio.
Aquela parecia
ser apenas uma manhã comum na próspera cidade romana de Pompeia. Nas primeiras horas do dia, as ruas vazias
sugeriam que a maioria dos habitantes ainda estava dormindo, após uma noite
agitada nos ginásios, assistindo à luta dos gladiadores.
Com suas
portas abertas, comerciantes acompanhavam o lento caminhar dos senhores, que,
na madrugada anterior, beberam mais vinho do que conseguiam se lembrar. O
problema é que aquele dia 24 de agosto do ano 79 d.C. não seria como outro qualquer.
De reprente,
sem que as pessoas soubessem o que estava acontecendo, o ar de Pompeia
tonrou-se impossível de inalar. A temperatura cresceu e a terra pareceu tremer.
Do alto do Monte Vesúvio, a lava, as cinzas e inúmeras pedras-pomes compunham
um cenário letal, impossível de evitar, que, em pouco tempo, iria destruir a
cidade.
Todas as
construções foram cercadas pelo material vulcânico, que deixou milhares de
vítimas para trás. Como recordação daquele trágico dia, os destroços da antiga
Pompeia foram eternizados nas ruas da cidade, criando um melancólico sítio arqueológico.
Representação
do último dia em Pompeia / Crédito: Wikimedia Commons
Um homem e seu
escravo
Durante anos,
pesquisadores e arqueólogos investigaram os vestígios de Pompeia e descobriram
histórias das pessoas que viveram na cidade antes de eupção do Vesúvio. Muitas
dessas pesquisas revelaram informações curiosas sobre os habitantes da região.
Esse foi o
caso de uma expedição realizada em novembro de 2020. Na ocasião, o diretor do
parque arqueológico de Pompeia, Massimo Osanna, divulgou a descoberta
de dois restos mortais muito bem conservados, que
surpreenderam os pesquisadores.
Eternizados da
mesma forma que grande parte dos moradores de Pompeia naquele fatídico dia,
tratam-se de um homem rico e seu escravo, conforme divulgado por inúmeros
portais, incluindo a BBC News e o The Guardian.
Uma descoberta
impressionante
A hipótese
proposta pelos pesquisadores é de que os dois homens aparentemente conseguiram
escapar da queda inicial de cinzas. Ainda assim, eles provavelmente morreram
atingidos por uma enorme explosão vulcânica que ocorreu no dia seguinte.
Seus restos
foram encontrados em um local cuja estrutura parece com a de um estábulo, onde
ainda foram identificados três cavalos, em 2017. Para Osanna, os dois
homens "talvez estivessem procurando refúgio" da lava da erupção
"quando foram arrastados".
Análises
importantes foram realizadas nos dois corpos, com o intuito de entender quem
eram aquelas pessoas. A partir do exame dos ossos do crânio, os pesquisadores
chegaram à conclusão de que uma das vítimas era um jovem entre 18 e 25 anos,
enquanto o outro tinha entre 30 a 40 anos.
Crédito:
Divulgação/Parque Arqueológico de Pompeia
Origens e
classes sociais
Análises mais
profundas também trouxeram pistas sobre quem eram os dois homens. Os osso do
habitante mais novo, por exemplo, revelaram uma coluna vertebral com discos
comprimidos, provavelmente danificada por fortes trabalhos manuais, o que
poderia sugerir que ele vivia seus dias como um servo.
Outras pistas
no corpo do jovem também são indícios de sua suposta classe social, como as
vestimentas que ele usava naquele dia. Segundo os pesquisadores, cuja teoria
foi reverberada pelo The Guardian, ele trajava uma túnica plissada, feita de
lã.
Enquanto
isso, o outro indivíduo possuía uma estrutura óssea robusta,
principalmente na região do peito. E, diferente de seu servo, além da túnica, o
senhor parecia usar um manto sobre seu ombro esquerdo, sugerindo uma classe
social mais elevada.
Moldes para
pesquisa
Para que os
restos mortais pudessem ser propriamente analisados, os pesquisadores os
submeteram a uma técnica específica de preservação. Eles removeram os ossos das
vítimas e digitalizaram os vazios por dentro das cinzas, que endureceram com o
tempo.
Depois disso,
os espaços ocos foram preenchidos por gesso. A partir daí, os cientistas
puderam criar um molde dos corpos dos dois homens. Foi por meio desses modelos,
inclusive, que os pesquisadores conseguiram identificar os tecidos dos trajes
da época.
Pouco depois
do achado, Osanna explicou que os dois homens morreram “por choque
térmico, como também demonstrado por seus pés e mãos cerrados". Para o
diretor, a descoberta foi “verdadeiramente excepcional”, além de "um
testemunho incrível e extraordinário" do momento em que a erupção
atingiu Pompeia.
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Sabemos que durante a Segunda Guerra Mundial inúmeros navios brasileiros foram afundados por submarinos e essas ações bélicas levaram o Brasil a declarar formalmente o Estado de Guerra contra a Alemanha Nazista e a Itália Fascista no dia 22 de agosto de 1942.
Com isso o Brasil tornou-se um dos países que lutaram ao lado dos Aliados e em nosso território forças militares norte-americanas construíram estratégicas bases aéreas e navais que ajudaram na defesa do nosso território, na ação contra os submarinos nazifascistas, bem como no transporte aéreo para as áreas de combate na África, Ásia e Europa.
Igualmente sabemos que antes mesmo dessa declaração de guerra o Brasil foi alvo de espiões dos países do Eixo, que atuaram com o apoio de colaboradores brasileiros, a maioria deles antigos participantes da Ação Integralista Brasileira (AIB). Esse foi um movimento político de extrema-direita surgido em nosso país em 1932, cujos integrantes eram jocosamente chamados de “Galinhas Verdes”, por utilizarem uniformes nesse padrão de cor.
Ao longo do conflito mundial as autoridades brasileiras, apoiados por americanos, prenderam vários espiões estrangeiros e seus colaboradores tupiniquins. Muitos deles foram julgados e condenados, alguns até mesmo a pena de morte, mas nunca foram executados.
A história sobre a espionagem nazifascista no Brasil durante a Segunda Guerra é bem conhecida e propalada. Mas são poucas as informações sobre a atuação de espiões dos países Aliados agindo em território brasileiro.
Mas ela existiu!
Um dos casos mais conhecidos é uma ação orquestrada pelos britânicos, que criaram uma carta idêntica à de uma empresa aérea italiana, em cujo conteúdo o presidente Getúlio Vargas era chamado de “Gordinho” e os brasileiros de “macacos”. A carta foi tão séria que acabou com uma importante brecha no esquema de segurança dos Aliados na América do Sul. Isso tudo logo após uma séria crise diplomática entre brasileiros e britânicos.
Comecemos por essa crise!
O Caso do Navio Siqueira Campos
Logo após o início das hostilidades, a Grã-Bretanha e sua marinha, a maior e mais poderosa do mundo naquela época, iniciou um bloqueio naval à Alemanha e a Itália, buscando cortar os suprimentos militares e civis vitais a essas nações.
Ocorre que em 1938 o Governo do Brasil assinou um acordo de oito milhões de libras esterlinas com a fábrica de armamentos alemã Friedrich Krupp AG, cuja finalização dos artefatos só ocorreu no segundo semestre de 1940, após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1 de setembro de 1939.
Quando o material bélico ficou pronto, os alemães despacharam tudo até Lisboa em trens, onde os caixotes seriam embarcados no navio de cargas e passageiros Siqueira Campos, da empresa de navegação Lloyd Brasileiro. Em 19 de novembro daquele ano esse navio estava pronto para partir rumo ao Rio de Janeiro, com o lote de armas acondicionadas no seu porão.
Após o Siqueira Campos içar âncora, deixar Lisboa para trás e alcançar águas internacionais, navios de guerra da Marinha Britânica surgiram no horizonte e ordenaram a parada do navio brasileiro. Este foi abordado por oficiais e marinheiros impecavelmente uniformizados com bermudas e meiões brancos.
Na sequência a tripulação do Siqueira Campos foi obrigada a seguir com seu navio para a colônia britânica de Gibraltar, aonde chegou em 22 de novembro de 1940, ancorando próximo ao porto e tendo a bordo 145 tripulantes e 250 passageiros. Esse pessoal não pode desembarcar e só partiram quando a crise se encerrou, quando a situação a bordo era alarmante.
No Brasil, o gaúcho Oswaldo Euclides de Souza Aranha, então Ministro das Relações Exteriores, recebeu a notícia e comunicou o fato ao presidente Vargas. Na sequência Aranha manteve contato com Geoffrey George Knox, Embaixador Britânico no Brasil, que estava de mãos atadas esperando instruções do seu governo. Depois Oswaldo Aranha correu em busca do auxílio da diplomacia dos Estados Unidos para ajudar a resolver o imbróglio. Os americanos logo se deram conta que a atitude britânica em relação ao Siqueira Campos poderia comprometer toda sua “Política de Boa Vizinhança” com o Brasil e os países latino-americanos.
Enquanto a diplomacia buscava uma solução, a notícia da apreensão do Siqueira Campos em Gibraltar deixou os brasileiros furiosos com o Governo Britânico. Em relação a esse caso muitos brasileiros tinham a percepção que a Grã-Bretanha agia com uma clara atitude imperialista. Nas ruas do Rio comentavam que os britânicos tomariam as armas do navio, compradas e pagas aos alemães ainda em 1938, para utilizá-las contra seus fabricantes e não receberíamos nada em troca.
Em meio a todo esse rolo do Siqueira Campos, quem ria abertamente da truculenta bobagem britânica eram os alemães e seus colaboradores. Enquanto a influência da Alemanha crescia positivamente em nosso belo país tropical, os alemães mostravam aos brasileiros o tipo de “Aliado” complicado que os britânicos podiam ser.
Finalmente os dois países chegaram a um acordo para liberar o Siqueira Campos, que partiu para o Rio de Janeiro em 21 de dezembro de 1940. Mas essa crise diplomática, uma das mais sérias entre brasileiros e britânicos no Século XX, marcou negativamente a visão do governo Vargas e do povo brasileiro em relação aquele país.
Perigo Real
Em 1941 os britânicos mantinham em Nova Iorque uma agência de informações, cuja finalidade era proporcionar estreita ligação com os serviços de informações norte-americanos em seu próprio país, facilitando as manobras dos dois grandes aliados na guerra contra o Eixo. O Chefe dessa Agência era o cidadão inglês William Samuel Stephenson, cujo codinome era “Intrépido”.
Nessa época aeronaves da companhia aérea italiana LATI (Linee Aeree Transcontinentali Italiane) realizavam voos regulares entre o Brasil e a Europa, onde transportavam importantes figuras nacionais e estrangeiras, além de correios especiais dos diplomatas alemães e italianos, que não podiam ser violados. Vale ressaltar que muitos desses diplomatas eram na verdade espiões nazifascistas disfarçados. Nesses voos seguiram para a Europa diamantes, platina, mica, substâncias químicas, livros e filmes de propaganda dos Aliados. Um verdadeiro “buraco” no bloqueio militar e econômico efetuado pelos ingleses contra a Alemanha e a Itália.
Stanley E. Hilton, em seu livro Hitler’s Secret WarInSouth America, 1939-1945: German Military Espionage and Allied Counterespionage in Brazil informou que membros da embaixada americana no Brasil transmitiram aos britânicos que durante as travessias no Oceano Atlântico, os pilotos da LATI estavam visualizando navios britânicos, marcando suas posições em mapas e informando os alemães para enviar seus submarinos e afundá-los (pág. 205).
Hilton também comentou sobre uma carta de Jefferson Caffery, Embaixador dos Estados Unidos no Brasil, de 29 de novembro de 1941, endereçada ao Ministro Oswaldo Aranha e atualmente guardada no Arquivo Histórico do Itamaraty. Nela Caffery informou que provavelmente foram os tripulantes da companhia aérea italiana, os responsáveis por transmitirem informações que levaram ao afundamento de navios britânicos perto das Ilhas de Cabo Verde, nessa época uma colônia portuguesa. (pág. 207).
Cruzando essa informação com dados sobre a movimentação e ação de submarinos alemães e de aviões da LATI nesse período, descobri na página 5, da edição de 10/10/1941 do Diário de Pernambuco, que no dia 9 de outubro havia partido de Roma o aparelho da LATI modelo Savoia-Marchetti SM.82, número de fabricação MM.60326 e matrícula I-BENI. Essa aeronave trimotor fez escalas em Sevilha (Espanha), Villa Cisneiros (atual Dakhla, na região do Saara Ocidental) e Ilha do Sal (Cabo Verde), onde pernoitou. No outro dia, 10 de outubro, decolou para atravessar o Atlântico Sul, tendo pousado por volta das 15h20min da tarde em Recife, no Campo do Ibura. Estranhamente essa aeronave trouxe um único passageiro que vinha de Berlim – o jornalista chileno Ernesto Samhaber.
Ocorre que nesse mesmo dia pela manhã, na posição 18° 45’ N e 21° 18” W, a cerca de 180 milhas náuticas a nordeste das Ilhas de Cabo Verde, o cargueiro britânico SS Nailsea Manor foi torpedeado pelo submarino alemão U-126, comandado pelo capitão-tenente (Kapitänleutnant) Ernest Bauer. Esse navio transportava uma preciosa carga de 6.000 toneladas de armas, munições e no seu convés estava até um LCT, ou Landing Craft Tank, um barco de desembarque de veículos blindados. Devido uma tempestade o Nailsea Manor estava desgarrado de um comboio e seguia acompanhado de dois outros navios de carga. Esse pequeno grupo estava sendo escoltado pela corveta HMS Violet (K-35), comandada pelo Tenente Frank Clarin Reynolds, que não pode fazer nada em relação ao torpedeamento. O capitão John Herbert Hewitt, comandante do Nailsea Manor, conseguiu retirar do barco toda a sua tripulação de 41 pessoas, que foram recolhidos pelo pessoal do Violet (Ver http://www.sixtant.net/2011/index.php).
Apesar da carta do Embaixador Caffery comentar com o Ministro Oswaldo Aranha sobre o torpedeamento de “navios britânicos” perto das Ilhas de Cabo Verde, não encontrei outra informação sobre ataques de submarinos nazistas nessa área entre outubro e novembro de 1941. Acredito que o torpedeamento do cargueiro britânico SS Nailsea Manor, é o caso comentado por Caffery a Aranha.
O Savoia-Marchetti SM.82, I-BENI, realizou durante sua operação no Brasil um total de 25 travessias transatlânticas e foi o avião da LATI que mais percorreu o trajeto entre a Itália e o Brasil.
Espiões Britânicos em Ação no Brasil, Antes de 007
Mas é que os britânicos, depois do verdadeiro banzé que foi o caso do Siqueira Campos, poderiam convencer o governo brasileiro a barrar essa brecha no seu bloqueio aos países do Eixo?
Para piorar o meio de campo, consta que o governo brasileiro não desejava obstruir esse fluxo aéreo. Um dos genros do presidente Getúlio Vargas era um dos diretores técnicos dessa linha aérea e havia muitos brasileiros influentes interessados em preservar os direitos da LATI em nosso território. Além disso, era a Standard Oil, companhia de petróleo norte-americana, que abastecia os aviões da LATI com o combustível necessário para os voos intercontinentais. Detalhe – Uma das bases da LATI no Brasil era em Natal, no antigo Campo dos Franceses, que nessa época já começava a se transformar em uma grande base aérea construída pelos norte-americanos e seria conhecida como Parnamirim Field.
O Chefe das Operações Especiais em Londres estava ansioso para que algo drástico fosse realizado no sentido de eliminar esse grave inconveniente para os interesses britânicos, mas sem criar problemas com o Brasil e, por tabela, com os norte-americanos. Instruções foram remetidas a William Stephenson em Nova Iorque, informando sobre o fato, das consequências para o bloqueio inglês e ordenando que algo deveria ser feito para tapar a brecha inconveniente.
Stephenson e seus assessores conceberam então um plano que consistia em fazer chegar ao governo brasileiro uma carta comprometedora, cujo teor teria sido supostamente escrito por alguém importante, da alta administração da LATI na Itália, e endereçada a um diretor da companhia no Brasil. O texto da missiva deveria conter elementos tão graves, que pudessem resultar no cancelamento da concessão da companhia italiana para operar a rota transatlântica.
Os agentes de Stephenson no Brasil imediatamente puseram mãos à obra e, depois de algumas semanas, conseguiram obter uma carta genuína escrita pelo presidente da LATI, o General Aurélio Liotta, e remetida da sede central da companhia em Roma. Encaminharam-na para Nova Iorque sugerindo que a carta falsa deveria ser endereçada ao diretor geral da LATI no Brasil, o Comandante Vicenzo Coppola, que morava no Rio de Janeiro.
Os técnicos em Nova Iorque teriam que simular exatamente o tipo de papel empregado, o timbre existente e aforma dos caracteres da máquina de escrever usada pelo General Liotta.
Por sorte, foi conseguida uma pequena quantidade papel de polpa da palha do tipo necessário e que constituía um detalhe essencial na operação proposta. O relevo do timbre foi copiado com detalhes microscópicos, uma máquina de escrever foi especialmente reconstruída a fim de reproduzir as imperfeições mecânicas daquela usada pela secretária do General para datilografar a carta original e um falsificador copiou a assinatura de Liotta.
Uma verdadeira obra-prima da falsificação.
A Carta do “Gordinho”
A carta falsa foi então preparada em italiano, microfotografada e o microfilme remetido para o principal agente de Stephenson no Rio de Janeiro.
Traduzida, continha o seguinte teor:
“Linne Aeree Transcontinentale Italiano S.A.
Roma, 30 de outubro de 1941.
Prezado Camarada:
Recebi seu relatório que chegou cinco dias depois de ter sido despachado.
Este relatório foi levado ao conhecimento dos interessados que o consideraram de suma importância. O comparamos com um outro recebido de Praça Del Prete. Os dois relatórios apresentaram o mesmo quadro da situação que ali existe, mas o seu é mais detalhado. Quero lhe dar os meus parabéns, O fato de que, obtivemos desta vez informações mais completas com o Sr. e seus homens, me proporciona grande satisfação.
Não resta dúvida que o “gordinho” está cedendo ante os lisonjeios dos Americanos, e que somente uma intervenção violenta por parte de nossos amigos verdes poderá salvar o país. Os nossos colaboradores de Berlim, depois de entendimentos que tiveram com o representante em Lisboa, decidiram que tal intervenção deverá se realizar o mais breve possível. Porém você está a par da situação. No dia em que se der a mudança, os nossos colaboradores não se interessarão de maneira alguma pelos nossos interesses e a Lufthansa colherá todas as vantagens.
Para evitar que isto aconteça, precisamos procurar amigos de influência dentre os “verdes” o mais cedo possível. Faça-o sem demora.
Deixarei a seu critério a escolha das pessoas mais apropriadas: talvez Padilha ou E. P. de Andrade seriam de mais utilidade do que o Q.B. o qual, apesar de ativo, não vale muito.
A importância que você necessitar será posta a sua disposição, não importa o fato dos camisas verdes precisarem de somas consideráveis. Eles as terão. O ponto importante é que nosso serviço deverá tirar proveito de uma mudança de regime. Procure saber quem é que deseja nomear para Ministro da Aeronáutica e tente captar a sua simpatia. O Senhor precisará ficar a par do que suceder, porém já concordamos em que as negociações ficarão em mãos da LATI, que atuará na sua capacidade de empresa brasileira procurando a extensão a melhoramento de seus próprios serviços.
Espero a máxima discrição de sua parte. Como disse no seu relatório a respeito da Standard Oil, os ingleses e americanos se interessam em tudo e em todos. E se for também verdade – como você afirma com justiça que o Brasil é um país de macacos, não nos devemos esquecer que são macacos dispostos a servir a quem tem as rédeas na mão.
Saudações Fascistas
(a) General P. Liotta
Comandante
Vicenzo COPPOLA
Linee Aeree Transcontinentale Italiana S.A.
RIO DE JANEIRO (BRASIL)“
Coppola Preso e a LATI Impedida de Voar
O tal “gordinho”, ou “il grassoccio” em italiano, foi imediatamente identificado como sendo o Presidente Getúlio Vargas, e os “amigos verdes”, ou simplesmente “verdes”, eram os integralistas. Como vimos, a carta continha um insulto pessoal ao Presidente da República, abuso de hospitalidade, críticas à sua política externa e sugeria o encorajamento de seus inimigos políticos. Os agentes secretos ingleses esperavam que essa combinação de apreciações negativas fizesse com que o Presidente Vargas reagisse vigorosamente. Imediatamente após ter recebido o microfilme da carta, o agente de Stephenson no Rio de Janeiro providenciou para que fosse executado um “roubo” à casa do Comandante Coppola, situada na Avenida Vieira Souto, 442, Ipanema, no qual um relógio de cabeceira e outros artigos foram roubados. Atualmente nesse endereço se encontra o Condomínio Ker Franer.
Coppola então chamou a polícia e o “caso” teve alguma publicidade – exatamente o que esperava o agente britânico no Rio – pois tornava patente para as autoridades brasileiras e o público em geral, que se tratava de um roubo real.
Em seguida um brasileiro ligado ao agente secreto inglês procurou um repórter da agência noticiosa americana “Associated Press”. Após obter do mesmo a promessa de que guardaria segredo absoluto, confessou ter tomado parte no assalto à casa de Coppola e entre os seus pertences encontrara um documento microfotografado, que parecia ser muito interessante. Quando o repórter leu seu conteúdo percebeu que era uma carta do presidente da LATI e chegou à conclusão que o original havia sido considerado muito perigoso para ser remetido pelo correio aéreo normal. Concluiu também que aquela missiva tinha sido enviada de forma clandestina para evitar uma possível interceptação. Com aquele tesouro nas mãos, o repórter dirigiu-se à Embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, e mostrou-a ao Embaixador Jefferson Caffery. Este diplomata determinou que fossem feitas investigações para ampliação e constatação de sua possível veracidade.
Ao receber o resultado dessas investigações, Caffery concluiu que a carta microfotografada era verdadeira e imediatamente enviou para o Presidente Vargas o microfilme e os resultados obtidos com as investigações em meados de novembro. Para Caffery o Presidente do Brasil pareceu “muito impressionado” com a missiva em italiano e reagiu exatamente como Stephenson esperava. Cancelou imediatamente todos os direitos da LATI no território nacional e ordenou a prisão do seu diretor geral.
Vicenzo Coppola tentou fugir do país, tendo previamente retirado um milhão de dólares de um banco, mas foi preso quando procurou cruzar a fronteira com a Argentina. Mais tarde foi sentenciado a sete anos de prisão e teve seus bens confiscados. Foi posto em liberdade no dia 14 de agosto de 1944, em consequência de um habeas-corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. Faleceu no Rio de Janeiro, em 27 de maio de 1963.
Por infração às leis brasileiras a empresa aérea LATI foi multada em CrS 85.000,00 (oitenta e cinco mil cruzeiros), além de ter seus aviões, campos de pouso e equipamentos de manutenção confiscados pelas autoridades, enquanto suas tripulações e o pessoal de origem italiana foram internados.
Para os integrantes da representação diplomática dos Estados Unidos no Brasil, a opinião dominante na época foi que a carta do General Liotta havia sido o principal fator que levara o Presidente Vargas a se voltar contra o inimigo.
Consta que os norte-americanos generosamente decidiram repartir o segredo com o representante do serviço de inteligência na Embaixada Britânica no Rio. Um membro do corpo diplomático americano reproduziu a carta e o agente de Stephenson fingiu mostrar grande interesse e admiração pelo fato e até cumprimentou efusivamente seu colega por esse trabalho.
Conclusão
Nesse tipo de negócio, o bem mais valioso que existe e que todos buscam avidamente são as informações estratégicas vindas de fontes privilegiadas, com conteúdos valiosos, principalmente ligados a assuntos de defesa de uma nação.
Esse tipo de informação é tão importante quanto o poderio bélico, sendo algo que pode definir conflitos entre países e esse tipo de atividade sempre esteve presente em praticamente todos os períodos da historia.
Henry John Temple, o 3º Visconde de Palmerston, mentor da política externa britânica durante grande parte do século XIX, declarou no Parlamento Britânico “Não temos aliados eternos e não temos inimigos perpétuos. Nossos interesses são eternos e perpétuos, e é nosso dever seguir esses interesses”.
Não é novidade que nações amigas realizam espionagem entre si, o chamado “conhecimento comum”. Muitas vezes essas ações se realizam focados na ideia, bem real, que “um amigo de hoje, pode não ser um amigo amanhã”. Além disso, como bem apontou Palmerston, nações não possuem amigos, apenas interesses.