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sexta-feira, 5 de junho de 2015

NO SUL TAMBÉM EXISTIU CANGACEIRO

Por Antônio Corrêa Sobrinho

A palavra CANGACEIRO, que logo nos remete ao banditismo que imperou nos sertões do nordeste brasileiro, no primeiro terço do século passado, capitaneado, um após outro, por Antônio Silvino e Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, fenômeno de violência este, em meados de 1940, com a morte do cangaceiro Cristino Gomes, Corisco, pela polícia baiana, dado por definitivamente acabado, pois bem, CANGACEIRO, foi também utilizado para designar os jagunços, os bandidos, os bandoleiros, os fanáticos, os rebeldes, ou seja, todos os que sublevaram, lutaram e morreram contra forças militares, na chamada GUERRA DO CONTESTADO, na região sul do Brasil, uma das sangrentas sublevações patrocinada pelo no geral pobre e hipossuficiente e injustiçado povo brasileiro.

Demonstrarei o acima afirmado. Mas, antes, para melhor nos situarmos, trouxe uma breve sinopse do que foi a Guerra do Contestado, texto da Wikipédia, para, aí sim, na última parte, gozarmos com o depoimento, dado ao jornal “O Estado de São Paulo”, de 31/07/1915, pelo general Fernando Setembrino de Carvalho, um dos que comandaram as operações desta guerra, isto em 1914, com ordens de sufocar a rebelião e pacificar a região a qualquer custo.

“A Guerra do Contestado foi um conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira, disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina.1

Originada nos problemas sociais, decorrentes principalmente da falta de regularização da posse de terras e da insatisfação da população hipossuficiente, numa região em que a presença do poder público era pífia, o embate foi agravado ainda pelo fanatismo religioso, expresso pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclos revoltados, de que se tratava de uma “guerra santa”.

A região fronteiriça entre os estados do Paraná e Santa Catarina recebeu o nome de Contestado devido ao fato de que os agricultores contestaram a doação que o governo brasileiro fez aos madeireiros e à Southern Brazil Lumber & Colonization Company. Como foi uma região de muitos conflitos, ficou conhecida como Contestado, por ser uma região de disputas de limites entre os dois estados brasileiros.”

O QUE É O CANGACEIRO

O cangaceiro fanático, observou o nosso ilustre interlocutor, nada tem de característico: é o matuto crendeiro e trivial de todos os sertões, com o distintivo único de uma fita branca no chapéu. O seu cangaço consta, em regra, de uma Winchester, revólver Smith Wesson 38, facão de mato afiadíssimo e um bocó de balas. Nenhuma instrução sistemática, nenhuma arregimentação inteligente a não ser a “forma”, espécie de revista matutina por meio da qual o comandante inspeciona os combatentes, fiscalizando as descrições. A disciplina é ferocíssima, variando a pena, com a gravidade das faltas cometidas, desde as surras aviltantes até aos bárbaros fuzilamentos.

São maus atiradores; são bons esgrimistas de facão; são exímios no aproveitarem, como defesa, os acidentes do solo.

Conhecedores minuciosos do terreno, sua tática resume-se, entretanto, a muito pouco: surpreender, emboscados, a testa ou o flanco da força, sustentando prolongadamente o tiroteio, que interrompem se a tropa, que raro perseguem, retira ou então só os desaloja, mercê de uma arrancada subitânea, a baioneta. Nesse caso são fragilíssimos. Fogem desabridamente pelo mato, com espantosa agilidade, para se emboscarem, de novo, adiante. E só caem prisioneiros, ao passo que dissimulam jeitosamente a verdade, manifestam a mais repulsiva humildade. Outras vezes atacam, sobretudo quando a tropa se mostra inativa, combatendo por detrás das trincheiras. Chegam, à noite, aproximando-se cautelosamente da linha exterior dos destacamentos, estendendo-se em linha de atiradores e rompem o fogo, que não raro dura até ao amanhecer, e para simularem maior número de guerrilheiros levam consigo os adolescentes que dispõem ao modo de uma reserva, cujo destino consiste em gritarem desesperadamente vivas a Sebastião, a S. João Maria e morras aos “peludos”! Se reconhecem, porém, sua esmagadora superioridade, como aconteceu no encontro com o capitão Matos Costa, investem com firmeza, conduzidos por buzinas de caça e bandeirolas brancas, em cujo centro se desenha uma cruz de pano azul, e dando vivas alarmantes e morras ameaçadoras vão –se abeirando dos soldados que ferem desapiedamente a facão.

Com relação aos redutos, disse-nos ainda o senhor general o seguinte: numa região privilegiada, onde as condições excepcionais de vida atraem irresistivelmente o homem, é que os fanáticos armaram seus redutos, construindo-os de preferencia nos vales profundos das serras, dominando-os, no critério da escolha, as dificuldades dos caminhos para o exterior. Explica-se: não sendo o reduto um campo entrincheirado, senão vastos aldeamentos de casas de madeira, sua principal defesa consistia na ocupação das entradas, por onde se distribuíam as avançadas dos inimigos. Eram as “guardas”. O efetivo destas variava com a importância do reduto ou a dificuldade da posição. Guardando o caminho de Iracema, por exemplo, Antônio Tavares nunca empregou mais de oito homens; no limite oposto Aleixo Gonçalves jamais baixou de 150 o número de bandoleiros que ocupavam a ponta do Firmino.

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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ENCONTRADA AFILHADA DE LAMPIÃO.

Por João de Sousa Lima
Publicado no dia 19 de fevereiro de 2013 - http://vicentealencar.blogspot.com.br

Durante minhas pesquisas cheguei até Ana Maria dos Santos, dona Nô, que reside em Triunfo, Pernambuco. Ela foi batizada por Lampião, seu pai era coiteiro do cangaceiro. O nome do pai dela era João Zeferino dos Santos e sua mãe chamava-se Maria Joana da Conceição.

Ana Maria dos Santos em sua carteira de trabalho    
Josué, Ana e João Lima; colhendo informações sobre sua história ao lado do Rei do Cangaço

Dona Nô nasceu no dia 14 de abril de 1919 e encontra-se viva, completará  94 anos de idade daqui a dois meses, reside em um dos bairros da cidade pernambucana, vive cercada por filhos, netos e amigos. 

Carteira de Ana que ela me presenteou. O detalhe de sua residência cita Sítio retiro, mesmo lugar onde nasceu Luiz Pedro

Encontra-se lúcida e gosta de contar as histórias da época do cangaço. Dona Nô foi casada com Manoel Pedro, irmão do cangaceiro Luiz Pedro, homem de confiança de Lampião. 

O cangaceiro Luiz Pedro

Ela diz que junto com Luiz Pedro seguiu o irmão Ulisses Pedro para o cangaço, ficando poucos dias na companhia de Lampião. Luiz Pedro ficou até a morte no dia 28 de julho de 1938, na Grota do Angico.

Familiares de Ana e do cangaceiro Luiz Pedro. O senhor de camisa azul chama-se Luiz Pedro e é sobrinho do cangaceiro do qual herdou seu nome.
Irmão de Luiz Pedro chora a morte de um parente ainda na época do cangaço.
    
Na sua certidão de nascimento que se encontra no museu de Triunfo tem a comprovação do batismo e do apadrinhamento, onde lê-se padrinho: Virgolino Ferreira da Silva. 


Documento que marca a história dessa mulher que viveu momentos festivos na presença daquele que foi o mais famoso cangaceiro do Nordeste Brasileiro.

Paulo Afonso, janeiro de 2013

João de Sousa Lima
Historiador e Escritor
Membro da ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará.

http://vicentealencar.blogspot.com.br/2013/02/encontrada-afilhada-de-lampiao.html

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CORONEL DELMIRO GOUVEIA


Delmiro Gouveia, se vivo, hoje estaria com 162, parabéns ao grande empreendedor nordestino, e que sua figura continue admirada e cultuada, e que seja espelho de um Brasil melhor e progressista.

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu em 1863, fruto de um relacionamento arrebatador entre Delmiro Porfírio de Farias, mais conhecido como Belo, de 34 anos, tropeiro e uma adolescente chamada Leonila Flora da Cruz Gouveia, que mal havia completado os 14 anos. A paixão levou Belo a raptar Leonila. Foram meses em fuga pelo sertão, pois a polícia e os jagunços enviados pelo pai da moça estavam no encalço dos dois amantes. Em meio a essa fuga nasceram Maria Augusta e o futuro coronel Delmiro. Logo depois, Belo foi convocado para a Guerra do Paraguai e não retornou mais. A viúva Leonila decidiu morar em Recife e ficou em dificuldades para criar os filhos, pois a sua antiga família a renegara depois da união com Belo. Contudo, pouco tempo depois, Leonila casou-se com o advogado Meira Vasconcelos, para quem trabalhava como governanta.


Quando Delmiro Gouveia completou 15 anos, sua mãe faleceu decorrente de problemas no coração. A partir daí, o jovem Delmiro resolveu ganhar a vida e começou a trabalhar. Tinha recebido as primeiras instruções em casa com a própria mãe e o padrasto. Exerceu os mais variados tipos de serviço, como bilheteiro em uma empresa de transporte urbano, condutor e depois, em 1881, tornou-se caixeiro no comércio de Recife. Fez amizade com o comerciante de algodão Francisco Xavier dos Santos, que o apresentou a um amigo, o tabelião Antonio Severiano de Melo Falcão. Este último tinha uma filha de apenas 13 anos, Anunciada Cândida ou Iaiá, por quem Delmiro se apaixonou. O casamento ocorreu em 1883. 

A situação do Nordeste nessa época não era das melhores e conseguir sobreviver não era fácil para aqueles menos privilegiados. As secas começavam a dispersar uma parte da população do sertão em direção à Amazônia, onde começava o ciclo da borracha. A riqueza da economia açucareira era uma lembrança do passado e as atenções do país estavam voltadas para o café, produzido no Sul. Contudo, a região apresentava a possibilidade da produção e comercialização do couro obtido do boi, cavalo, bode, carneiro, burro e até do jegue. A atividade atraia estrangeiros, entre eles o sueco Hermann Lundgren, cuja família fundaria o império das Casas Pernambucanas. Foi nessa atividade que Delmiro Gouveia começou a prosperar e como representante da casa norte-americana Keen Sutterly & Co. Ltd. . Logo depois de uma viagem aos Estados Unidos, Delmiro tornou-se o gerente de todos os negócios da firma em Pernambuco.

Em 1894 voltou aos Estados Unidos (na foto acima, Delmiro Gouvea diante das cataratas de Niagara) para comprar as instalações da firma norte-americana que havia encerrado as suas operações no Brasil. Delmiro também realizara outros negócios paralelos no ramo dos couros, que incluíam a poderosa empresa de peles norte-americana J. H. Rossbach Brothers.

Em 1897, era um comerciante próspero e construiu uma bela casa em Apipucos, nas proximidades de Recife. Delmiro tornava-se uma figura atraente na sociedade local e envolvia-se frequentemente com outras mulheres. Embora na sociedade patriarcal da época isso fosse algo comum, no caso de Delmiro ganhava muita notoriedade, principalmente o seu gosto por cantoras de ópera, as quais homenageava com presentes caros em sua própria casa. Sem condições emocionais de suportar esses escândalos, dona Iaiá resolveu deixá-lo em definitivo.

Delmiro Gouveia, ao contrário dos outros membros da elite dos coronéis, pensava em diversificar os seus negócios e em 1898 firmou um contrato com a prefeitura de Recife para instalar um Mercado Modelo, no antigo Derby Club da cidade. No ano seguinte, o mesmo já estava sendo inaugurado. A novidade para a população recifense: os preços inferiores aos dos outros lugares da cidade. O Mercado funcionava durante a noite com luz elétrica e tendo atrativos como carrosséis, teatro, hotel de luxo, velódromo e um sistema de transporte de bondes puxados a burro para levar o público ao mesmo. Era quase uma antevisão do moderno "shopping". Delmiro resolveu construir um palacete para residir próximo ao seu empreendimento.


Apesar do êxito popular de seu novo negócio, Delmiro Gouveia não estava sintonizado com a elite política dominante em Pernambuco e que era liderada pelo então vice-presidente da República, o Conselheiro Francisco de Assis Rosa e Silva. Um de seus aliados era o novo prefeito de Recife, o qual colocou uma série enorme de empecilhos ao funcionamento do Mercado-Modelo, como por exemplo, a proibição para a venda de carne. A fim de resolver a desavença com o prefeito, Delmiro viajou ao Rio de Janeiro para avistar-se pessoalmente com o vice-presidente Rosa e Silva e recebeu deste a promessa de que a perseguição acabaria caso ele e seus amigos apoiassem o governo de Pernambuco. Ao mesmo tempo, Delmiro tomava conhecimento, ainda no Rio, de que um pistoleiro conhecido como João Sabe-Tudo já se encontrava na capital para assassiná-lo. Logo depois, quando caminhava no centro da capital, na Rua do Ouvidor, Delmiro encontrou o vice-presidente Rosa e Silva na porta de uma loja e dirigindo-se ao mesmo, esbravejou contra a ameaça de morte que estava sofrendo. Em seguida, em um ataque de fúria, Delmiro agrediu o vice-presidente com a sua bengala, obrigando Rosa e Silva a se esconder dentro da loja, diante de uma multidão que se aglomerava e testemunhava o episódio.

A represália veio logo depois, no dia 02.01.1900, quando o Mercado-Modelo do Derby amanheceu em chamas. As autoridades locais acusaram o próprio Delmiro de ter mandado atear fogo ao mercado para receber o dinheiro de um seguro e a polícia recebeu ordens para prendê-lo. Delmiro teria dito depois que os policiais o insultaram moralmente para justificar a sua reação e assassiná-lo. Contudo, diante da pressão de seus amigos junto ao então governador, Segismundo Gonçalves, Delmiro foi libertado, mas teve de abandonar a capital pernambucana. O coronel ainda tocava os seus negócios, entre eles a venda de couros e uma usina de açúcar.


Delmiro retornou dois anos depois a Pernambuco e conheceu uma moça de 16 anos chamada Carmela Eulina do Amaral Gusmão (imagem acima), que muitos apontavam como filha do governador em um caso extra-conjugal. Delmiro repetiu o ato do pai, raptou a menor e levou-a para o interior de Alagoas, onde comprou uma fazenda e se estabeleceu em um local chamado Pedra, às margens de uma estrada de ferro pouco utilizada e distante 20 quilômetros da cachoeira de Paulo Afonso. Sim, ele foi processado por rapto e estava sendo procurado pela polícia. Posteriormente, o processo foi anulado por interferência dos aliados de Delmiro Gouveia. Eulina deu a Delmiro três filhos e permaneceu na fazenda, em Pedra, por cinco anos.

Foi nesse lugar, aparentemente inóspito, que Delmiro realizou o seu grande empreendimento, o de explorar os recursos hidrelétricos da cachoeira de Paulo Afonso e estabelecer um centro industrial naquele local. A fazenda que adquiriu prosperou com a introdução do gado zebu e das vacas holandesas, além de cultivar uma planta cactácea que teria vindo do Texas, conhecida como palma. A partir dessa fazenda, Delmiro continuava a exportar couro para os Estados Unidos.


Sem acordo com o governo local para a instalação da usina de eletricidade, Delmiro resolveu explorar de forma particular a energia hidrelétrica no São Francisco. Trouxe geradores até as margens do rio e os fez atravessar por meio de uma ponte improvisada. Para colocar a primeira turbina, foi necessário descer a mesma de uma altura de 84 metros. Alguns autores afirmam que o próprio Delmiro orientou a descida pendurado em uma corda. Em 1913, a usina foi inaugurada. Em seguida, veio a fábrica (na foto acima, a entrada da Cia. Agro-Fabril Mercantil).


A indústria dedicou-se à produção de linhas de costura. Máquinas foram importadas da Inglaterra, técnicos vieram da Europa, mil operários foram contratados, além dos trabalhadores utilizados nos campos para a produção de algodão. Em meados de 1914, a fábrica já estava produzindo fios, linhas para crochê, bordado e ainda cordões brancos e coloridos (na imagem acima, os escritórios da empresa). Os produtos tinham a marca "Estrela" e dois gigantes puxando um fio como símbolo ou logotipo. Em pouco tempo, a produção aumentou e a fábrica exportava para alguns países da América do Sul. 

Os anos correspondentes à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foram favoráveis aos negócios fabris no Brasil, diante das dificuldades de importação decorrente da guerra travada na Europa e Delmiro Gouveia soube tirar proveito dessa situação.


Outro aspecto a destacar desse novo empreendimento de Delmiro Gouveia foi a vila operária para abrigar os trabalhadores. As condições de vida dentro da mesma estavam acima das que eram encontradas na maior parte do sertão nordestino. Eram 250 casas com luz elétrica, água e um sistema de esgotos (na foto acima, a antiga vila com as casas). Mas as normas para viver lá eram rigorosas. Não era admitida a presença da Igreja Católica e nem as datas religiosas eram celebradas. Nem mesmo o carnaval era comemorado. O controle sobre os trabalhadores era exercido até dentro das próprias casas, onde os mesmos deviam seguir normas, como não usar chapéus e nem andar sem camisa. O próprio Delmiro inspecionava as casas que deviam ficar com as portas abertas. Aqueles que cometiam alguma falta grave eram duramente castigados. O estilo autoritário de Delmiro feria muitos costumes arraigados na vida dos trabalhadores, como a religiosidade. Por outro lado, médicos e remédios eram disponibilizados e havia diversão, apesar do controle com relação ao consumo de bebida alcoólica. 

A alfabetização era obrigatória para as crianças e foram implantados cursos noturnos para os trabalhadores. O regime de trabalho era de oito horas diárias com descanso semanal aos domingos. Uma Caixa de Previdência foi implantada mediante uma contribuição semanal dos próprios trabalhadores.


Não se têm notícia de morte violenta na fábrica localizada em Pedra, exceto uma, a do próprio Coronel Delmiro. Em 10.10.1917, às 9 horas da noite, quando estava na sua varanda lendo jornal, Delmiro foi alvejado com três tiros, um dos quais lhe acertou o coração. Três pistoleiros foram detidos e, sob tortura, incriminaram dois mandantes, que nunca foram presos, um dos quais por ter imunidade parlamentar. Dois outros suspeitos de encomendar o crime incluíam o pai de uma jovem que Delmiro seduzira e um amigo de Rosa e Silva, o vice-presidente que foi agredido pelo coronel.

Contudo, ficou sempre no ar uma suspeita, a de que Delmiro Gouveia tivesse sido assassinado a mando de seus concorrentes ingleses, mais precisamente da multinacional têxtil Machine Cottons. Não havia dúvida de que o crescimento do negócio de Delmiro incomodava esta empresa estrangeira. Os ingleses chegaram a boicotar os comerciantes que comprassem as linhas Estrela. A Machine Cottons tinha feito várias propostas de compra da fábrica de Pedra e sempre tendo resposta negativa da parte do Coronel Delmiro. Contudo, nenhuma prova do envolvimento da multinacional foi encontrada nos tiros que vitimaram o empresário. A fábrica continuou prosperando até 1924, quando passou para os três filhos de Delmiro Gouveia.

No governo do presidente Washington Luís, a política liberal então adotada reduziu a taxa de importação sobre linhas de costura. Diante da nova situação, em 1927, a fábrica foi vendida pelos herdeiros para a firma Menezes Irmãos & Cia., a qual, em 1929, a revendeu para a...Machine Cottons, que substituiu a marca Estrela pelas linhas da marca Corrente. Em 1930, a fábrica de Pedra foi desmantelada e as máquinas jogadas no fundo do rio São Francisco.
Para saber mais:

Teixeira, Gilmar. Quem matou Delmiro Gouveia?: Bahia: Grafitech, 2011
Marcovitch, Jacques. Pioneiros & Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil. São Paulo: Edusp e Editora Saraiva, 2007

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Padre Cícero de Lira Neto

 Por Honório de Medeiros

Concluída a leitura de “Padre Cícero”, do escritor cearense Lira Neto, cujo subtítulo é “Poder, Fé e Guerra no Sertão”, Companhia das Letras - “um tijolo” - como diz Aluísio Lacerda, passo a recomendá-lo vivamente aos amigos leitores do blog.


Lira Neto foi, para mim, uma grande e agradável surpresa. Nascido em Fortaleza, Ceará, 1963, já abocanhou o Jabuti em 2007, na categoria “melhor biografia” por “O Inimigo do Rei: Uma Biografia de José de Alencar”. Também escreveu “Maysa: Só Numa Multidão de Amores”, e “Castello: A Marcha para a Ditadura”. Não os li, mas que prometem, prometem. E, claro, escreveu a excepcional biografia de Getúlio Vargas, mas essa é outra história. Duvido que os outros sejam tão bons quanto “Padre Cícero”. Tão bons quanto, assinalo.

 Lira Neto

Primeiro por que é muito bem escrito: a leitura é muito agradável, flui fácil, o texto é envolvente; segundo por que a reconstituição histórica, inclusive em termos fotográficos, é primorosa; e terceiro, mas, não, por fim, é impressionante a dimensão do personagem principal e daqueles “secundários”, como é o caso do Dr. Floro Bartolomeu, baiano, médico, garimpeiro, político, ferrabrás, a “alma negra” do Padre Cícero, ou mesmo da Beata Maria de Araújo, negra, analfabeta, protagonista do “milagre do Juazeiro”, que consistiu em cuspir hóstias transformadas em sangue, quando da Comunhão.

A Beata, que até palmatoradas tomou do Vigário do Crato, e foi exilada durante anos de sua Juazeiro natal por ordem da Igreja, também entrava em êxtase e apresentava os estigmas de Cristo, ao mesmo tempo em que se banhava de sangue para logo depois “acordar” limpa e sem qualquer marca no corpo – fenômenos constatados por padres e médicos.

Mas há outros personagens menores sumamente interessantes: o que dizer do Conde Adolphe Achille van den Brule, ex-camareiro do Papa Leão XIII, companheiro e sócio de Floro Bartolomeu, que se apaixonou por uma Juazeirense e, mesmo sendo casado na Europa e lá tendo deixado dois filhos, casou-se novamente no Cariri, nele fincou raízes e nunca mais voltou?

 Paulo Gastão, Honório de Medeiros, Luitgard Barros, Carlos Santos e Franklin  Jorge em Juazeiro do Norte, Cariri Cangaço 2013

Além dos personagens, alguns fatos históricos relatados na obra chamam a atenção, como a tomada do poder central, em Fortaleza, pelos coronéis do Cariri tendo, à frente, Floro Bartolomeu e um exército de cangaceiros, jagunços, romeiros e devotos de Padre Cícero, todos pelo “padim” abençoados? Revolta que derrubou, na ponta do fuzil, o Governador Franco Rabelo, amado pelos fortalezenses, e, de permeio, matou o nosso Capitão José da Penha, que com ele se solidarizara?

O livro deixa algumas interrogações no ar: qual o passado de Floro Bartolomeu e o fim do Conde van den Brule? Por outro lado demonstra, à exaustão, como a incompetência da Igreja Oficial, externada, principalmente, dentre outros, por intermédio do Segundo Bispo do Ceará Dom Joaquim José Vieira. Preconceito, racismo, intransigência, autoritarismo, alheamento, burrice, tudo isso serviu como combustível de primeira grandeza para alimentar o incêndio fanático no qual se transformou Padre Cícero.


E o que dizer de Padre Cícero? Nada. É preciso ler o livro. Entretanto é possível ter uma noção de sua sabedoria tomando conhecimento de seu catecismo ecológico, vazado lá pelos idos da virada do século XIX para o XX, e distribuído com os agricultores:

“Não toquem fogo no roçado nem na caatinga; não cacem mais e deixem os bichos viverem; não criem o boi nem o bode soltos; façam cercados e deixem o pasto descansar para se refazer; não plantem em serra acima, nem façam roçado em ladeira muito em pé: deixem o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza; façam uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água da chuva; represem os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta; plantem cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o Sertão todo seja uma mata só; aprendam a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar vocês a conviverem com a seca. Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer; mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o Sertão vai virar um deserto só.” Enfim, uma grande obra. Para ser lida ou para ser estudada. Ou ambas, nada impede.

Honorio de Medeiros
Mestre em Direito; Professor de Filosofia do Direito da Universidade Potiguar (Unp); Assessor Jurídico do Estado do Rio Grande do Norte; Advogado (Direito Público); Ensaísta. Pesquisador e Escritor; Conselheiro Cariri Cangaço Fonte:http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/

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JUVINO MARTINS GOMES E EMILIANO NOVAES COITEIROS DE CANGACEIROS


Fonte: facebook
Página: Cap Cangaceiro

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O Cruzeiro de 30 de maio de 1964 com saga de Antônio Vicente Mendes Maciel e a guerra total de Canudos.

Por Angélica Bulhões

Compartilho a revista O Cruzeiro de 30 de maio de 1964 com saga de Antônio Vicente Mendes Maciel e a guerra total de Canudos.











Fonte: facebook
Página: Angélica Bulhões ‎Lampião, Cangaço e Nordeste

Para quem não sabe Angélica Bulhões é filha de Sílvio Bulhões, e bisneta dos cangaceiros Corisco e Dadá

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LIVROS (LANÇAMENTO)


Através do e-mail sabinobassetti@hotmail.com vocês poderão estar adquirindo o mais recente trabalho de Sabino Bassetti intitulado LAMPIÃO - CANGAÇO E SEUS SEGREDOS.

O Livro LAMPIÃO - O CANGAÇO E SEUS SEGREDOS, como o próprio título já diz, trará em suas páginas alguns segredos e informações, sobre o cangaço e seu representante maior, até então desconhecidas da grande maioria dos simpatizantes e estudiosos do assunto.

Um trabalho que foi desenvolvido através de pesquisas sérias e comprometidas com a verdadeira história, baseado em depoimentos e declarações de testemunhas oculares dos acontecimentos.

O Livro custa apenas R$ 40,00 e será enviado devidamente autografado pelo autor, para qualquer lugar do país.
Não perca tempo e adquira já o seu!

Geraldo Júnior - pesquisador

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A VIOLÊNCIA OFICIALIZADA NO TEMPO DO CANGAÇO

Por Aderbal Nogueira

As volantes eram cruéis? Sim, algumas, ou melhor, alguns componentes. Muito se diz que jovens entraram para o cangaço para vingar-se de algum policial. O contrário nunca aconteceu? Acho que policiais cruéis com o povo ou eram covardes e se aproveitavam da farda para extrapolar sua violência ou queriam vingar-se de algum cangaceiro também. Outros queriam dinheiro que os cangaceiros carregavam e não mediam esforços para isso. Policiais como Douradinho, que mandava queimar pessoas vivas, em sua sanha assassina de alcançar os cangaceiros faziam tais atos para mostrar força e servir de exemplo para que ninguém o desafiasse, assim como Lampião também fazia. Em uma política correta policiais assim seriam julgados e punidos severamente pelos seus superiores, mas como a corrupção andava solta e o corporativismo também, isso dificilmente acontecia. Quando muito, deixavam de ser promovidos, como foi o caso de Odilon. Justificar essa violência com o povo sofrido do sertão não tem como. Eu fiz esse vídeo para mostrar isso há muito tempo e não defendo esse tipo de atitude. Eu nem nenhum de nós viveu aqueles tempos, mas Luiz de Cazuza me disse algo interessante. "ADERBAL, SÓ SABE O QUE É ESTAR DENTRO DE UM BALCEIRO QUEM ESTÁ DENTRO DELE"

Fonte: facebook
Página: Aderbal Nogueira

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