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sexta-feira, 29 de julho de 2022

LIVRO DO ESCRITOR GUILHERME MACHADO

    Por José Mendes Pereira


Recentemente o escritor e pesquisador do cangaço Guilherme Machado lançou o seu trabalho sobre o mundo dos cangaceiros com o título "LAMPIÃO E SEUS PRINCIPAIS ALIADOS". 

O livro está recheado com mais de 50 biografias de cangaceiros que atuaram juntamente com o capitão Lampião. 

Eu já recebi o meu e não só recebi, como já o li. Além das biografias, tem fotos de cangaceiros que eu nem imaginava que existiam. São 150 páginas. Excelente narração. Conheça a boa narração que fez o autor. 

Pesquisador Geraldo Júnior

Prefaciado pelo pesquisador do cangaço Geraldo Antônio de Souza Júnior. Tem também a participação do pesquisador Robério Santos escritor e jornalista. Duas feras no que diz respeito aos estudos cangaceiros.

Jornalista Robério Santos

Não deixa de adquiri-lo. Faça o seu pedido com urgência, porque, você sabe muito bem, livros escritos sobre cangaços, são arrebatados pelos leitores e pelos colecionadores. Então cuida logo de adquirir o seu! 

Pesquisador Guilherme Machado

Adquira-o através deste e-mail: 

guilhermemachado60@hotmail.com
Ou dê um pulinho lá em Cajazeiras:

franpelima@bol.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LIVRO

   Por José Mendes Pereira

Você leitor, e eu, vamos participar do casamento de José Ferreira da Silva (Santos) com a dona Maria Sulena da Purificação (Maria Lopes) pais dos irmãos Virgolino Ferreira da Silva, Antonio Ferreira da Silva, Levino Ferreira da Silva e Ezequiel Ferreira Silva.

Vamos chegar devagarinho! Pés às alturas, como se nós estivéssemos flutuando em um picadeiro de circo, silêncio total, sem pigarrearmos em momento algum, para vermos o que irá acontecer durante esta união familiar. Não se preocupe, os irmãos Ferreiras não estão aqui entre nós, eles ainda irão nascer, primeiro Antonio Ferreira, depois Levino Ferreira, depois Virgolino Ferreira e por último (dos homens) Ezequiel Ferreira da Silva.

O casamento destes famosos e futuros pais de 4 cangaceiros você irá adquirir toda história no livro: "Lampião a Raposa das Caatingas", do escritor e pesquisador do cangaço José Bezerra Lima Irmão - a partir da página 70.

Esta maravilhosa obra você irá encontrá-la através deste e-mail: franpelima@bol.com.br, com Francisco Pereira Lima, o professor Pereira, lá de Cajazeiras no Estado da Paraíba.

A maior obra já escrita até hoje sobre cangaço, e sobre a família Ferreira, do afamado Lampião.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/.../lampiao...

Fotos:

1 - Livro: "Lampião a Raposa das Caatingas";

2 - José Ferreira da Silva e Maria Sulena da Purificação os pais de Lampião;

3 - O autor do livro José Bezerra Lima Irmão.

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A CULTURA TEM QUE SER PROPAGADA, E NÃO FICAR ADORMECIDA EM BLOGS.

 Por José Mendes Pereira


Têm pessoas que levam além do seu imaginário textos culturais, enquanto que outras que dizem que amam a cultura, mas não é bem assim, e prendem. Vejo uma porção de blogs que não libera os seus trabalhos para outras pessoas, as quais, gostariam muito de publicarem também nos seus sites.

Não tem sentido, a cultura ficar engavetada em livros ou nas redes sociais, apenas com direito de ser lida, porque os sites proíbem a sua reprodução. A cultura não pode ficar adormecida. Ela precisa ser levada ao conhecimento de todos aqueles que a amam.

Deixem de tanto egoísmos! Liberem os seus trabalhos, para que outros blogs possam publicá-los. E têm alguns que ainda acionam a justiça para ganharem valores, caso vejam os seus trabalho em outros sites.. Que maldade e interesse de ganhar em cima disso!

Não me refiro a cangaço, e sim, de modo geral. O egoísmo não reina por muito tempo. Um dia, será vencido.

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PERSONAGENS DO CANGAÇO

Por Antônio Corrêa Sobrinho.

Do Jornal O ESTADO DE S. PAULO, de 11/04/1987 (pág. 53 e 54), extraio a palavra de Gilberto de Mello Kujawski sobre o best-seller

"GUERREIROS DO SOL", de Frederico Pernambucano de Mello.

Sempre me impressionaram fundo as fotografias de cangaceiros. Emana daquelas figuras torvas, armadas até os dentes, certa dignidade sombria de demônios das caatingas, capazes de realizar o inconcebível em maldades, e também em bravura. Aquele silêncio que nos colhe ao contemplar fotografias assombra-se em fascinação; a fascinação do mal, ou melhor, dos arquétipos visíveis do mal. De onde provém a autoridade ferina daqueles homens de tantas ruindades, senão de saberem encarar a morte a toda hora, sem estremecerem uma só fibra do rosto crestado pela energia do Sol e pela dureza das armas? Homens dos avessos, egressos das profundas do sertão, que nos amedrontam por não terem medo de nada, e que, ao destemerem até Deus, se sentem integrados nas hostes de Satanás. Aquele clássico punhal nordestino, atravessado na cintura de todos eles, não serve só para “matar”, e sim para sangrar ritualmente o inimigo, até a última gota, como o sacerdote sangrava no altar a vítima sacrificial. Não são homens sem Deus, são homens que cultuam Deus com os ritos do Diabo. Bandoleiros, mas não crápulas. Escravizados a um conceito arcaico de honra, sentem-se no direito de saquear e matar como quem faz justiça pelas próprias mãos. Cavalaria andante às avessas. Fotografados em bando, com seus chapéus de couro e rifles em punho, parecem sobreviventes desgarrados de Canudos, a serviço de um Antonio Conselheiro eternizado na alma popular do sertão.

Cangaço, escarninha palavra, varada de maldição. Tem o peso da canga e o relâmpago do aço.

II

“Eu fui aquele que disse

E, como disse, não nego,

Levo faca, levo chumbo,

Morro solto e não me entrego.”

A quadra popular sertaneja, da metade do século XIX, serve de epígrafe ao primeiro capítulo do livro “Guerreiros do Sol”, da autoria de Frederico Pernambucano de Mello, Editora Massangana, Fundação Joaquim Nabuco (1986). Prefácio interessantíssimo de Gilberto Freire. Frederico Pernambucano de Mello, jovem sociólogo formado na larga visão da escola gilbertiana, retoma o tema do banditismo no nordeste do Brasil. Seu primeiro cuidado foi expurgá-lo de certas interpretações ligeiras não por acaso inspiradas na retórica marxista. Como a de Cristina Mata Machado, ao considerar o cangaço como “resposta à violência do coronel”. Ou da de José Honório Rodrigues, quando o define como “resposta contra o monopólio da terra e exploração do trabalhador rural pelo latifundiário. Marx não merecia que sua dialética da luta de classes fosse assim banalizada e mecanizada por discípulos tão simplistas.

O autor, liberado de fórmulas já prontas e definitivas, retoma o tema do cangaço a partir de seus pressupostos históricos. Vai examinar “como se fez o fato”. Concluindo que o cangaço não foi nenhuma “resposta” a qualquer tipo localizado de dominação, e sim um fenômeno alicerçado numa sociedade toda ela varrida pela violência como forma de vida. A violência do cangaço não apareceu como resultado da violência dos senhores rurais, sim que uma e outra faziam coro a um sistema de vida coletiva indissociável da violência. Como diz muito bem Vamireh Chacon, o autor “viu que o banditismo agrário se insere naturalmente no quadro maior da violência rural, esquecida ou ignorada por antecessores de pesquisa, mais especificamente na violência do ciclo nordestino do gado”. Nesse mundo, a violência não era contra a lei, a violência era a lei universal. O senhor rural podia ser também um cangaceiro, e vice-versa.

Frederico Pernambucano lembra a migração do homem do Nordeste, que saiu das terras agricultáveis do massapé para “o universo cinzento da caatinga”, em fins do século XVIII e começos do século XIX, fazendo surgir um novo tipo de cultura no Interior, marcado pela predominância do individual sobre o coletivo, com o reforço vigoroso do sentimento de independência e autonomia na luta contra o contorno vasto e agressivo do sertão. O sedentarismo do ciclo do açúcar dá lugar ao nomadismo do ciclo do gado. Desenvolve-se um tipo humano agreste, combativo, prepotente, ao mesmo tempo que o cenário cultural se imobiliza no tempo, naquilo que Costa Pinto chamou de um “quadro arqueológico. O sertanejo – escreve o autor, lembrando Euclides da Cunha – não é nenhum degenerado, e sim um retrógrado, arcaizante no convívio social, na economia, na moral e na religião. Não fala português errado (como parece ao homem da cidade), e sim o mais puro vernáculo do século XVI, contemporâneo de Gil Vicente e Camões. O sertanejo nascia, crescia e vivia limitado pelo mais severo isolamento, organizando o poder por sua conta e risco, longe dos centros oficiais de administração, polícia e justiça.

O tipo do cangaceiro, neste ambiente, erige-se como o representante mais completo do conjunto dos atributos de valentia que marca o sertanejo. Explica o autor que entre o sertanejo e o cangaceiro, de início, não houve nenhum antagonismo, e sim um acordo tácito, no qual o homem do cangaço aparecia como verdadeiro arquétipo de bravura, pela liberdade selvagem que encarnava. Assim nos versos populares sobre a saga de Antônio Silvino, o “Rifle de Ouro”, ou “Governador do Sertão”, ao despontar deste século:

“Como ninguém ignora

Na minha pátria natal

Ser cangaceiro é a coisa

Mais comum e natural;

Por isso herdei de meu pai

Este costume brutal...”

Esta primeira fase foi a do cangaço “endêmico” (na terminologia do livro), bem tolerado pela sociedade local. O cangaço só passou a ser repelido por essa mesma sociedade, quando da segunda fase, a do cangaço “epidêmico”. Palavras do autor: “Esses surtos de cangaço epidêmico, em cuja etiologia se acham sempre presentes fatores de desorganização social e de consequente inibição das atividades repressoras, tais como revoluções, disputas locais, agitações de fundo místico ou político ou social, lutas de família e prolongadas estiagens, provocam o rompimento do equilíbrio que permitia à sociedade sertaneja viver, produzir e continuar crescendo lado a lado com cangaceiro, com base num compromisso tácito de coexistência (p. 45).

Com a sucessão de surtos epidêmicos é que o cangaço se criminaliza socialmente, não hesitando o autor em pintar o cangaceiro como verdadeiro bandido ou malfeitor, embora frequentemente sublimado como vingador de alguma afronta ou cruel injustiça. Esta sublimação é analisada em termos sociológicos por Frederico Pernambucano, como a teoria do “escudo ético’, assim desmistificada no livro: “Este instrumento capaz de convencer a quem o utilizava e à sociedade da nobreza da vida putativamente vingadora dos bandidos, mas que não passava de um bovarismo épico facilmente aceito como real por uma cultura carente de símbolos desse gênero” (p. 71).

À figura legendária de Lampião, titular máximo do cangaço, o jovem sociólogo dedica todo um capítulo inspiradamente titulado “As muitas mortes de um rei vesgo”. Mesmo se recusando a vestir de herói Virgulino, trata-o como rei, pela soberania de sua autoridade e até mesmo pelos seus repentes de perdão e liberalidade.

III

“Guerreiros do Sol” é livro que se lê com interesse, não só pelo que, efetivamente apresenta de sedutor, como pelo que poderia apresentar. Por exemplo, o enfoque mais vigoroso do cangaceiro em perspectiva antropológica. Acima das colocações de ordem estritamente social ou sociológica, e de qualquer juízo de valor, mesmo sem querer em nada romantizar o cangaço, a verdade é que o cangaceiro constitui uma certa variedade antropológica particular, com traços culturais e biotipo singulares e bem marcados.

Desafiando o bitolado pedantismo acadêmico que despreza qualquer observação pessoal como simples “impressionismo”, sem valor hermenêutico, e animados pelo conselho de Ortega, segundo o qual é vendo com os olhos da cara que se faz as duas terças partes de uma filosofia que não seja uma escolástica, voltemos a observar as fotografias de cangaceiros, que sempre nos impressionam tanto, como foi dito. Nota-se em todos eles uma tensão peculiar, aliada à concentração de energia que parece inesgotável, e aquele dose superior de “magnetismo animal”, esse conceito arcaico de Mesmer, por isso mesmo coerente com a tipologia arcaica do homem do sertão. Nada daquela displicência desengonçada do sertanejo em repouso, tal como fixada na página sempre lembrada de Euclides da Cunha. Pelo contrário, o homem do cangaço tem tudo do sertanejo subitamente desperto e aceso para a luta, na descrição do mesmo autor: “O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se lhe alta, sobre os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias” (Os Sertões).

O cangaceiro desdobra-se deste sertanejo pintado por Euclides, em permanente pé de guerra com o contorno. Aquele sorriso é puro negaceio. Seus sentidos adquirem hiperestreita inusitada, semelhante à dos índios, ou das feras, capaz de pressentir o inimigo à distância de muitas léguas. Sua musculatura, nada ostensiva, ganha a têmpera do aço, e seus nervos, a agilidade inesperada dos felinos.

Compare-se com as fotos dos caçadores de cangaceiros, policiais, ou “volantes”, também homens duros e valentes. Só que todos eles de forma arredondada e de cara lavada, com o ar ingênuo de verdadeiros homens da lei, sem aquela tensão psicofísica anormal, sem nada daquele éclat de pactários, ostensivo na postura dos cangaceiros. Quase a diferença entre o animal bravio e a planta.

É a vida nômade, ao ar livre, e sobretudo ao sol e aos perigos do sertão, que confere ao cangaceiro a peculiaridade do seu biótipo, e sua singularidade antropológica e cultural. O sertão nordestino e o sol são elementos inseparáveis da mesma realidade. Esta é um ambiente adusto, calcinado, suplicante, no qual o homem, para sobreviver, tem de ser em tudo o contrário de um vegetal, a saber, sensorialidade e nervosidade puras. Tais atributos, assumidos desde logo pelo sertanejo, são ainda mais aguçados na vida absolutamente sem segurança do cangaço.

O cangaceiro a cavalo em seu nomadismo selvagem está polarizado com o sol, atrelado ao sol. Por isso o título “Guerreiros do Sol”, escolhido para esse livro dedicado ao banditismo no Nordeste do Brasil, além da beleza literária, irradia certeira intuição antropológica. A deixa não escapou à habitual perspicácia de Gilberto Freire, que assim se pronuncia sobre esse ponto no prefácio que dedicou ao livro:

“Sugestão a que pode ser associada esta outra: a de, ao sertanejo do nordeste brasileiro – região de muito sol, como que masculinizante -, ter faltado maior convívio com a água: uma água como que feminilizante, feminilizante da própria culinária, nos sertões tão masculinamente ascética. E feminilizante também, através de uma frequência de banho de rio, de ação, além de higiênica, recreativa, esportiva, refrescante e capaz, como há quem suponha ser o caso entre gentes árabes, de atuar psicologicamente sobre impulsos bravios, atenuando-os e até adoçando-os.

“... Em certa página, apresenta um desses tipos de bandido, em dias de ortodoxo, indiferente tanto a prazeres de alimentação como à constância de convívio com mulher, enquanto em atividade absorvente e monossexualmente belicosa, repele o contato habitual com o feminino. Naquela página referida por Gilberto Freyre, o autor recolhe o depoimento de Sinhô Pereira, cangaceiro da velha guarda: “No meu tempo não havia mulheres no bando. Ninguém andava com mulher. Eu acho até esquisito que depois Lampião e o pessoal dele começasse a carregar mulher” (p. 82). Frederico Pernambucano ainda reproduz outro testemunho eloquente do ex-cangaceiro Balão: “Homem de batalha não pode andar com mulher. Se ele tem uma relação, perde a oração e seu corpo fica como uma melancia: qualquer bala atravessa” (p. 82).

A hipótese de homossexualismo seria precipitada e impertinente. A restrição aqui inclui qualquer tipo de contato sexual, fale-se, portanto, em “monossexualismo”, conforme a terminologia de Gilberto Freyre. A dedicação integral às armas, quando levada ao fanatismo, exige a misoginia, como garantia da invulnerabilidade do guerreiro. Na medida em que esse se abandona à tentação da mulher, ou do sexo, ele "abre seu corpo” e se expõe à virulência implacável do inimigo. Também Guimarães Rosa sabia muito bem dessas coisas, e o drama de Diadorim, em “Grande Sertão”, tem os mesmos pressupostos.

No entanto, a analogia surpreendente e inesperada do homem do cangaço, modelado pela disciplina do sol, das armas, e do ascetismo sexual, na tensão crispada e solitária do princípio masculino, essa analogia se revela é com a figura do guerreiro, tal como descrita pelo poeta-soldado japonês Yukio Mishima, no livro traduzido sob o título “Sol e Aço”. “Sol e Aço” fazem o contexto do homem do cangaço e do samurai de Mishima. Indagado, de certa feita, como conseguia ativar tanto o brilho do seu fuzil, respondeu Lampião: “Só o aço com o aço dá esse brilho...”

IV

Em “Sol e Aço” a autoafirmação da virilidade na vida militar chega até o delírio, o delírio catastrófico que conduzirá à morte fulgurante do herói, sem que a mais leve sombra do feminino perpasse pelo texto do poema em prosa. A ascese do sol e do aço educa o corpo e o espírito de Mishima na sublimação do épico, que liga a terra e o céu, a vida e a morte, o tempo e a eternidade. “Mais tarde, muito mais tarde, graças ao sol e ao aço, eu viria a aprender a linguagem da carne, mais ou menos como quem aprendesse uma língua estrangeira. ” Só que essa “linguagem da carne”, apreendida pelo guerreiro nipônico, não tem a menor afinidade com o feminino nem com os abandonos do erotismo. A carne de Mishima, revigorada pelo sol e pelo aço, não se consuma nem no amor heterossexual nem no amor homossexual (ao menos neste livro), e sim na tensão sobre humana dos exercícios militares. Mishima assimila plasticamente o vigor do sol na exuberância de sua musculatura, a qual ia adquirindo cada vez mais as qualidades do aço: dureza flexibilidade e brilho. A ação, fielmente, me ensinou a correspondência entre o espírito e o corpo. ” Mishima não resiste ao narcisismo romântico, traído nestas linhas: “Em especial, me era caro um impulso romântico em direção à morte, mas, ao mesmo tempo, eu exigia um corpo estritamente clássico como veículo desse impulso”.

A chave da analogia entre os “guerreiros do sol” e o samurai de Mishima está na radicalização unilateral do princípio masculino hermetizado em si mesmo como fonte invulnerável de energia épica, temperada pelo sol e pelo aço.

A diferença é que os cavaleiros do sol, bons centauros do sertão, jamais perderam a pertinência com a Terra, ao passa que o herói japonês, embriagado de romantismo, escorregou voluntariamente rumo ao infinito, por aquela tênue linha de fuga que liga a Terra ao Céu, ao azul vertiginoso do Céu, que o fulminava com apelos irresistíveis.

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REALIDADE!

 Por Guilherme Velame Wenzinger

A verdadeira realidade, sem romantização, da entrada dos jovens sertanejos para o cangaço. Passagem transcrita do livro "LAMPIÃO - O CANGAÇO E SEUS SEGREDOS" do saudoso escritor, José Sabino Bassetti, págs. 29, 30 e 31.

"O RECRUTAMENTO

É corriqueiro se ouvir, que os cabras geralmente entravam para as fileiras do cangaço, devido a atitudes arbitrárias contra ele ou membros de suas famílias cometidas pelos coronéis. Impossível negar que tal fato tenha acontecido em algumas poucas ocasiões. Mas não seria correto confirmar que tal coisa tenha acontecido com a frequência que muitos acham que tenha ocorrido. Houve casos de membros de famílias terem entrado para os mais diversos bandos de cangaceiros para terem a possibilidade de se vingar de alguma ofensa cometida contra algum elemento de sua família ou a si próprio. Às vezes uma agressão por parte da polícia, ou a mando de qualquer pessoa de melhor posição, outra vez por ter uma irmã, uma prima e até uma namorada "ofendida" por alguma autoridade ou alguém pertencente a alguma família de maior importância, ou até por haver tido qualquer divergência com esta ou aquela pessoa, eram motivos para que alguém aderisse ao cangaço.

Mas na maioria das vezes, o jovem sertanejo entrava para as hostes do cangaço, influenciado por um amigo, um parente ou até por um simples conhecido que já estivesse tomando parte de qualquer um dos diversos bandos de cangaceiros que infestavam os sertões nordestinos. São inúmeros, muitos mesmos, os elementos que estavam engajados nos mesmos grupos ou em grupos diferentes e que eram parentes entre si. Outras vezes, os jovens sertanejos deixavam se iludir pela aparência dos componentes dos grupos que entravam nos povoados com ostentação, frequentavam bares sem fazer economias, usavam roupas vistosas, andavam bem armados, sendo respeitados e admirados por todos. Isso sem considerar a grande dificuldade que o jovem sertanejo tinha para conseguir qualquer ocupação que lhe proporcionasse um ganho mínimo para seu sustento e da própria família. Daí, para que esses pobres moços entrassem para um desses grupos de criminosos era só uma questão de tempo e oportunidade. Existiram aqueles que entraram para o cangaço quando ainda eram verdadeiros meninos, quando ainda estavam na faixa dos 13 ou 14 anos. Caso dos cabras Volta Seca, Chumbinho, Oliveira e outros.

É necessário mencionar aqui, que existiram muitos desses infelizes sertanejos que aderiram ao cangaço, única e exclusivamente com a intenção de amealhar dinheiro, de fazer fortuna, assim como alguns poucos realmente conseguiram, embora não tenham usufruído daquilo que conseguiram.

Jamais poderemos negar que existiram muitos que procuraram entrar nos mais diversos bandos de cangaceiros, simplesmente por possuírem "sangue ruim". Mas existe um fator importante curiosos. Todos daqueles que um dia entraram para as fileiras do cangaço, seja por qualquer um dos mais diversos motivos, quando perguntados ou não, sempre, sem exceção, todos possuíam uma história "dolorosa" para contar, tentando sempre justificar sua entrada no cangaço..."

Imagem da publicação é ilustrativa, nelas estão, em Fevereiro de 1939, os já ex-cangaceiros: Barra de Aço, Pedra Roxa, Pancada, Santa Cruz e Velocidade.

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O FATÍDICO 28 DE JULHO DE 1938.

 Por Getúlio Moura


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VESTIDO USADO POR MARIA BONITA

 Por Wesley Ferreira da Silva

No dia do assassinato de Maria Bonita, ela estava com esse vestido de domingueira (festas organizadas pelo Cangaço) em seu bornal, mas dele foi retirado pelo Aspirante Francisco Ferreira de Mello, que comandou a vanguarda da volante que matou Maria Bonita, e entregue à Melchiades da Rocha.

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TEMPOS MARCANTES – O ESPERADO LIVRO DE MANOEL DE BRITTO VAI SER LANÇADO

 

Tempos Marcantes

Após uma longa espera dos amigos que insistiram com a elaboração do livro, finalmente será lançada a primeira obra do norte-rio-grandense Manoel de Medeiros Britto.

Com o título TEMPOS MARCANTES, Manoel relata os mais de 60 anos de atividade pública e privada, sob a perspectiva histórica de um seridoense pobre de Jardim do Seridó, que, após muito trabalho, foi deputado estadual, auxiliar e secretário de Estado em vários governos, Ministro do Tribunal de Contas do Estado (hoje o cargo é de Conselheiro), bem assim atua na presidência de duas renomadas instituições na Capital do Estado: a Liga de Ensino do RN (mantenedora do Complexo Noilde Ramalho – ED / HC e do Centro Universitário do RN – UNIRN) e o Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio Grande do Norte – IPAI (mantenedor do Hospital Varela Santiago).

Prefaciada pelo imortal Cassiano Arruda Câmara, o exemplar é permeado de minuciosas descrições dos inúmeros eventos da política estadual e nacional dos últimos anos. Sem dúvidas servirá de documento histórico às novas gerações, eis que foi preparado por quem viveu os episódios ou testemunhou os acontecimentos, sempre com discrição e eficiência no trato com a coisa pública.

O Livro foi impresso pela Gráfica Diplomata (Denise Lins Convites), e será lançado no dia 2 de agosto de 2022, às 18h, no Complexo Noilde Ramalho – Unidade Escola Doméstica.

https://tokdehistoria.com.br/2022/07/26/tempos-marcantes-o-esperado-livro-de-manoel-de-britto-vai-ser-lancado/

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BANDIDO OU PATRIMÔNIO CULTURAL E TURÍSTICO? - A REPERCUSSÃO DO PLEBISCITO DA ESTÁTUA DE LAMPIÃO EM SERRA TALHADA EM 1991

 Rostand Medeiros – IHGRN


Sou de uma família que foi vítima da ação de cangaceiros, através de um assalto ocorrido no dia 1 de fevereiro de 1927, na zona rural do município de Acari, na região do Seridó do Rio Grande do Norte. Sou bisneto de Joaquim Paulino de Medeiros, o conhecido “Coronel Quincó da Ramada”, proprietário da gleba Rajada, atacada nesse dia pelo bando do paraibano Chico Pereira e seus homens.
Desde tenra idade esse tema foi algo muito presente em diálogos familiares e em momentos de recordações sobre a nossa história familiar. Mas em 1991 o meu conhecimento sobre o Cangaço, esse tema tão específico da história do Nordeste, se limitava a alguns filmes, matérias televisivas e alguns poucos livros, que até hoje se encontram na estante da minha casa.

Nessa época, como até hoje, eu buscava aprender mais sobre o Cangaço e tentava compreender porque meus antepassados foram atacados. Mas era então tudo muito limitado.
Foi quando em 1991 aconteceu algo que chamou muito a minha atenção – A notícia da ocorrência de um plebiscito na cidade pernambucana de Serra Talhada, onde a sua população deveria decidir sobre a colocação, ou não, de uma estátua para o cangaceiro Lampião, em uma área pública do município.
A Serra Vermelha, no caminho para a Passagem das Pedras , na zona rural de Serra Talhada, área onde nasceu Lampião– Foto – Rostand Medeiros
A ideia partiu de uma fundação local, que desejava com isso prestar uma homenagem ao maior bandoleiro nordestino, nascido na antiga Vila Bela, atual Serra Talhada. Mas as famílias das vítimas de Lampião, algumas delas das mais tradicionais da cidade, rejeitaram a proposta.
Com toda a polêmica que se seguiu, a prefeitura local buscou promover uma consulta pública para que a população decidisse sobre o caso.
Cangaço – História e cultura nordestina
Morando em Natal em uma época onde a internet ainda era limitada, tentei acompanhar da melhor maneira todo o desenrolar do processo, inclusive através dos jornais, TV e rádios. Mas as informações eram difíceis. Logo surgiu outra surpresa – O alcance da repercussão e de todas as polêmicas do caso junto à imprensa nacional!

Os principais jornais, revistas e emissoras de televisão no Brasil colocaram o tema na pauta e a cidade de Serra Talhada foi alçada as manchetes dos principais meios de comunicação.
No dia 7 de setembro de 1991 houve o processo de votação. Ao final a Justiça Eleitoral, que se envolveu no plebiscito, declarou que 76% dos eleitores votaram pelo “sim”, contra 22% do “não” e 0,8% de abstenções. Mas a estátua de Lampião, da forma como foi pensada em 1991, nunca foi construída.
Para alguns essa votação buscou criar o uso mercadológico da memória de Lampião e do Cangaço naquela cidade. Entretanto foi inegável que para alguém como eu, que vivo há quase 600 km de Serra Talhada, aquele processo despertou em mim um maior interesse por estudar e conhecer mais sobre esse tema. Desejava sair urgentemente da simplória questão “-Lampião foi herói, ou bandido?” Um amigo sociólogo já tinha me dito que “Para entender o Cangaço eu precisava fugir desse discurso rasteiro e polarizado e sair pelas estradas do sertão”. Tinha razão!
Casa de dona Jocosa. Na trilha do cangaço – o sertão que Lampião pisou. Márcio Vasconcelos. Reprodução
Não foi a toa que um dos primeiros lugares que viajei para fora do Rio Grande do Norte com esse intuito tenha sido a área de Serra Talhada e Triunfo. Lugares para onde voltei muitas vezes, continuo com vontade de retornar e fiz ótimas amizades. E nem me chateei quando descobri que toda essa onda de plebiscito para colocação da tal estátua, foi inicialmente uma ideia da fundação para vender turisticamente a cidade de Serra Talhada. Parece que os resultados positivos extrapolaram muito o que se desejou.
Nessa busca por conhecer mais e mais sobre o Cangaço eu não perdi nada. Acabei descobrindo muito além das polarizadas polêmicas que tratam das sangrentas lutas dos cangaceiros.
Junto ao Sr. Antônio Belo, do Sítio Tigre, no pé da Serra de São José, Luís Gomes-RN. Em agosto de 2009 esse Senhor me deu um fantástico depoimento sobre a passagem da Coluna Prestes na sua região em 1926 e sobre a entrada do bando de Lampião no Rio Grande do Norte em 192
Descobri as belezas e os problemas da minha região. Descobri a força da nossa gente, do colorido do Nordeste, bem como as histórias de Padre Cícero e de Leandro Gomes de Barros. Descobri Canudos, o belo Rio São Francisco, muito mais do Seridó e das minhas raízes. Descobri também Luiz Gonzaga e Exu, o Beato José Lourenço do Caldeirão, o Pajeú, o Piancó, a Missa do Vaqueiro de Serrita. Descobri Clementino Quelé, Jesuíno Brilhante e Patu, o Saco dos Caçulas em São José de Princesa, a rota de Lampião no Rio Grande do Norte para atacar Mossoró e muito mais.
No alto da Serra Grande, onde ocorreu o maior combate da história do Cangaço em 1926.
Independente das polêmicas envolvidas em 1991, do resultado final da votação, da ideia de quem ganhou e de quem perdeu com o pleito, ou se a imprensa manipulou negativamente o plebiscito, ou das consequências para a política local, para o turismo da região e para a identidade da cidade de Serra Talhada, eu acho que aquele evento eleitoral, que logo completará 30 anos, teve como maior mérito colocar toda uma comunidade nordestina debatendo sobre uma determinada figura histórica e sobre um período de sua história.
Foto colorizada de cangaceiros. Realizada a partir de um original em preto e branco, é uma arte do professor Rubens Antônio, que realiza um primoroso trabalho nesta área.
Não sei se esse tipo de situação ocorrida em Serra Talhada foi um episódio inédito no Nordeste e nem sei dizer se houve nessa parte do Brasil outros debates sobre temas históricos que tenham gerado tanta movimentação. Por isso acho que vale a pena comentar e recordar o que ocorreu no sertão de Pernambuco em 1991.
Fino trabalho de Mestre Aprígio, de Ouricuri, Pernambuco, fotografado na Loja do Vaqueiro, em Caruaru – PE – Foto – Sérgio Azol.
Concordo quando dizem que a memória de um lugar não é para se tornar mercadoria barata e nem ser mercantilizada de qualquer jeito. Mas não posso esquecer que não foi só na cidade de Serra Talhada que Lampião se transmutou de bandido para patrimônio cultural e turístico. Um exemplo está no meu Rio Grande do Norte. Mesmo sem plebiscito, a cidade potiguar de Mossoró também buscou uma utilização cultural e turística em relação a memória do ataque que sofreu do bando de Lampião em 13 de junho de 1927. Essa iniciativa até hoje é um sucesso!
Combatentes de Mossoró em junho de 1927.
Por esses dias, mexendo nos meus antigos, amarelados e preciosos papéis sobre história da minha região, encontrei uma página do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, que muito chamou a minha atenção na época. Adianto para os que conhecem mais sobre o tema Cangaço que a jornalista Letícia Lins cometeu deslizes em relação à história de Lampião. Mesmo assim eu decidi transcrever para os leitores do TOK DE HISTÓRIA esse texto, para trazer um pouco da efervescência que envolveu aquele plebiscito em 1991.
ESTÁTUA DE LAMPIÃO DESPERTA AMOR E ÓDIO NO SERTÃO
Texto – Letícia Lins
JORNAL DO BRASIL, domingo. 11 de agosto de 1991, 1º Caderno, página 17.
S E R R A T A L H A D A. PE — “Nem herói, nem bandido, é história. Diga sim a Lampião”. Petista, fã de Karl Marx. Che Guevara e Fidel Castro, o ator Anildomá Williams, autor da inscrição pichada nos principais muros de Serra Talhada, já decidiu: com roupa azul, adornada com lenço vermelho no colarinho, embornal, cartucheira, chapéu de couro e rústicas sandálias, vai fazer boca de urna para ninguém menos que Virgulino Ferreira, o famoso Lampião, em plebiscito no próximo dia 7 de setembro, nesta cidade sertaneja, a 497 quilômetros do Recife.
O plebiscito, coordenado pela Casa de Cultura de Serra Talhada, tem um objetivo simples: consultar a população para saber se Lampião, o filho mais polêmico da terra, tem direito a estátua em Praça Pública, na cidade de onde partiu quase menino para o cangaço e a fama. A iniciativa movimenta gente como Anildomá, divide os 100 mil habitantes de Serra Talhada, desperta controvérsias nas cidades vizinhas, provoca irados editoriais em jornais de Pernambuco, Bahia, Alagoas e fez chegar uma enxurrada de cartas à Casa de Cultura, algumas de estados distantes, como o Pará. Não é Para menos: agitador do início do século, homem destemido que enfrentou a polícia e os coronéis de sete estados nordestinos, entre caminhos trilhados a pé no meio dos espinhos da caatinga, Lampião ainda hoje desperta ódios e paixões. É tido como um justo pelos sertanejos, às vezes, como um demônio. Outras, como um deus.
Cinquenta e três anos após sua morte seus conterrâneos falam dele como uma lenda viva, e não escondem a expetativa diante do plebiscito, do resultado ainda imprevisível, com muita gente a favor, muitos contra e quase ninguém neutro. Pesquisa do jornal mensal Correio do Vale, na qual não foram computados os votos brancos nem nulos, mostrou que 55,06% da população se posicionam a favor da estátua, enquanto 4,94% se colocam contra. Não é preciso apelar para os números. Uma circulada pelo Fórum, igreja, praças e sítios mostra que a divisão está em todos os lugares, até mesmo na prefeitura. “Tenho oito secretários e só dois são contra a estátua, porque suas famílias foram perseguidas por Lampião”, diz o prefeito Ferdinando Feitosa (PFL), sem esconder um elogio rasgado ao cangaceiro: “Mais do que um bandido, ele foi um produto do seu tempo, espezinhado e maltratado por seus ricos vizinhos fazendeiros”. Ardoroso defensor da colocação da estátua em praça pública, o vice-prefeito Giovani Santos de Andrade Oliveira diz que os motivos que empurraram Lampião para o cangaço ainda hoje fomentam inimizades no Nordeste; “Terra e honra no sertão viram questão”, justifica. Os dois receberam sinal verde do principal líder político da cidade, deputado federal Inocêncio Oliveira (PFL-PE), para apoiar o pleito.

FOTO – Sérgio Azol.
De fuzil em punho — Lampião é história, só que fez a história de forma diferente, de fuzil em punho — afirma Tarcísio Rodrigues, presidente da Casa de Cultura e organizador do plebiscito. A consulta popular já despertou o protesto do juiz José Machado de Azevedo, que promete lavar as mãos; — Uma estátua de Lampião é uma apologia do crime. — Diz que sua atuação se limitará a fenecer urnas virgens para o pleito, de consequências imprevisíveis, segundo ele.
É ruim exaltá-lo numa terra onde andar com revólver na cintura ainda é simbolo de status e demonstração de machismo. 0 promotor Euclides Ribeiro de Moura Filho, um cearense que anda com uma cópia da certidão de nascimento de Lampião na bolsa, discorda do juiz: — Não se pode olhar a figura de Lampião apenas à luz do direito. É necessário considerar-se o momento histórico em que ele viveu, quando as volantes da polícia que desbravavam o sertão também despertavam o medo na população — encerra o representante do Ministério Público.
Um sertanejo nordestino, seu filho e seu jumentinho com os caçuás – Fonte -http://portaldoprofessor.mec.gov.br
Lampião – Da briga com os Nogueira ao cangaço
“Cabra macho, que merecia morrer na ponta do fuzil, e não na covardia”, para o ex-volante Luís Flor, que lutou contra o cangaço durante quatro anos; “menino bom. Mas doido”, para o padre Cícero Romão, e um “príncipe”, para Antônio Silvino, cangaceiro que durante quase duas décadas reinou absoluto no sertão, Virgulino Ferreira era o terceiro de uma prole de oito irmãos, cinco homens e três mulheres. Nasceu na localidade de Serra Vermelha, antigo município de Vila Bela, Hoje transformado em Serra Talhada.
Como todos os pequenos proprietários do sertão do Pajeú, o patriarca José Ferreira e sua mulher viviam do plantio de milho, feijão e de algumas cabeças de gado. A produção era alternada; colhia-se nos anos de bom inverno e se perdia tudo durante a seca. Mas isso não chegava a desanimar os Ferreira, principalmente Virgulino. Ao ver o roçado esturricado, ele juntava 14 burros e saia cortando as estradas poeirentas do sertão, vendendo mercadorias de cidade em cidade, voltava com os caçuás (cestos de cipó) vazios, mas de bolsos cheios. A profissão, ainda hoje, é conhecida no Sertão e tem dois nomes: tropeiro ou almocreve.
Por esse motivo, desde menino Lampião começou a chamar a atenção dos pais, dos vizinhos e dos sete irmãos. Pouco a pouco foi mostrando outras habilidades, não só de bom mercador. Confeccionava artesanato em couro, principalmente arreios de montaria, e vendia nas feiras. Foi um pequeno episódio, comum no sertão, onde qualquer besteira se transforma em questão de honra, que fez tudo mudar, segundo lembram, hoje, não só os Ferreira, como os Nogueira, o clã inimigo.


Zé Saturnino – Arquivo do autor
Chocalhos — Ferreira e Nogueira eram vizinhos. Um parente dos Nogueira, José Saturnino, se mostrou “despeitado” quando viu que o gado dos Ferreira andava na caatinga com uns chocalhos bonitos, dourados, comprados em Juazeiro do Norte, no Ceará. Até então, todos os chocalhos que chegavam à fazenda Serra Vermelha eram negros e sem graça. No sertão — onde o gado é criado sem cercado — o chocalho funciona como um meio de o vaqueiro localizar bois, vacas e cabras. Saturnino amassou o chocalho do gado dos Ferreira, que perderam bois e vacas. Para não ficar por baixo, os Ferreiras deram o troco, amassando chocalhos do seu gado. Saturnino não gostou; capou o cavalo de Virgulino. Virgulino cortou os rabos das vacas de Saturnino. A briga cresceu e o juiz de Vila Bela obrigou os Ferreira a se mudarem. Foram morar no distrito de Nazaré, hoje Carqueja, com uma condição; nem visitavam Serra Vermelha, nem Saturnino entrava em Carqueja. Saturnino quebrou o acordo e os Ferreira não gostaram.
Começaram a fazer arruaças em Carqueja. Foram obrigados a se mudar, desta vez para Alagoas, onde um amigo de Saturnino — a pedido deste — matou o pai de Virgulino e feriu um irmão. Virgulino decidiu vingar-se. Integrou-se ao bando do cangaceiro Sinhô Pereira e depois começou a agir por conta própria, com seu próprio bando. Seu poder cresceu, ele passou a ser temido até pelos governadores. Em 1926, chegou a propor ao governo de Pernambuco dividir o estado em dois: à capital caberia a administração do litoral, enquanto ele reinaria, sozinho, no Sertão. De cangaço em cangaço, Lampião terminou por ter a cabeça colocada a prêmio por 50 contos de réis. Em 1938, seu bando foi desarticulado, ele e seuscompanheiros foram degolados e suas cabeças exibidas em praça pública.
Voto a favor do compadre
Ela tem 92 anos, quase não anda, não gosta de falar muito, mas há um assunto que sempre a empolga e sobre o qual, dependendo da disposição e da saúde, discorre horas seguidas: a vida e morte do compadre Virgulino Ferreira, seu querido Lampião. Ela quer mais é ver a estátua dele na principal praça da cidade, ou no topo da montanha mais alta da serra que dá nome ao município.
— Não botaram a estátua do padre Cícero no Juazeiro? Por que não Lampião aqui? Ele não era tão bom quanto o padre Cícero — diz Especiosa Gomes de Luz, que nunca apareceu em jornal, revista, nem foi ouvida por sociólogos, antropólogos, que costumam derramar ciência e erudição sobre o Cangaço. Para ela, Lampião não passou de um justiceiro: “Ele tirava de quem tinha muito para dar a quem não tinha nem um pouco”. Conta que costumava costurar para o bandido e o bando, e que ele nunca se utilizou da amizade para pedir abatimento no preço das roupas: “Ele pagava muito e bem, e ainda dava os retalhos para fazer calções para os meninos”.
Lampião
Especiosa guarda boas recordações do Cangaço: “Quando Lampião chegava com seu bando, era uma festa, os pais confiavam, davam as moças para os rapazes dançarem com elas, e Lampião nunca descasou nenhuma”. Ela mostra que as volantes – forças policiais do governo que combatiam o cangaço – despertavam mais medo e eram mais violentas que cangaceiros; “Quando eles vinham, faziam incêndios, acabavam com tudo”. Relata que muitas vezes Lampião deu dinheiro a quem não tinha – Para festa de casamento, batizado e até compra de terra – e diz que não chorou quando soube da morte dele: “Já estava degolado, não adiantava chorar. Só fiz rezar por ele”.
Marca de bala depõe contra
Luís Alves Nogueira tem 86 anos, anda com dificuldade, com auxílio de UMA bengala, já não enxerga por um olho e tem alguns lapsos de memória. Mas há um fato que presenciou a 65 anos que ele recorda com a nitidez de um filme em cores; a invasão da Fazenda Serra Vermelha por Lampião e seu bando, quando os Nogueiras reagiram a tiros contra os cangaceiros, em uma luta sangrenta que durou sete horas.
 — Eles bandalharam tudo, queimaram a casa da fazenda, incendiaram o gado ficou tudo uma carniça só — conta, na casa grande da Fazenda Serra Vermelha, que ainda hoje ostenta nas paredes as perfurações de bala daquele tempo, e que guarda como troféus de resistência os torrões de barro que sobraram do ataque a fogo a sua residência. Domingos, filho de Luís, é contra a estátua de Lampião cm Serra Talhada: “Por que não a de padre Cícero? Indaga ele, que costuma visitar com o pai a cova do avô, morto por Lampião dia 26 de fevereiro de 1926.
Aquele foi o resultado da volta do cangaceiro às terras da qual praticamente havia sido expulso por influência do fazendeiro José Saturnino, na década de 10. O patriarca José Ferreira e os oito filhos foram obrigados a se mudar para a localidade de Nazaré hoje distrito de Carqueja, município de Floresta. Depois, mais vez foram tangidos para Alagoas, onde o tenente José Lucena – amigo de Saturnino – matou o pai e feriu um amigo de Lampião. Foi a gota d’água. Virgulino, que já havia se integrado ao bando de Sinhô Pereira, outro histórico cangaceiro, e jurado por ter a pistola como advogado — por não ter encontrado um que o defendesse nas questões de terra de Serra Talhada, resolveu se vingar.

Pescado no Tok de História
Repescado no Lampião Aceso.
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