Seguidores

segunda-feira, 15 de julho de 2019

A VAQUEIRA CANGACEIRA


Anésia Cauaçu

Ela não fazia jus ao nome Anésia, que, em grego significa repouso.  Pelo contrário. Mulher  valentona como poucas, nasceu em Jequié, Bahia no início do século 20 e foi a primeira cangaceira, 13 anos antes de Maria Bonita. 


A diferença entre elas, não está só no tempo, mas nas atitudes. A mulher de Lampião foi a primeira a entrar no bando e Anésia criou um bando.

Lutava capoeira com punhal, bebia cachaça temperada nas bodegas, fumava cachimbo de barro, atirava para decepar os dedos dos inimigos numa distância de 100 metros, galopava feito vento, dançava nos terreiros de candomblé recebendo Iansã, um orixá guerreiro. Foi ainda a primeira mulher da região a usar calças compridas e a montar cavalo escanchada igual a homem.

Tem mais: conseguia se “invultar” (sumir) durante os combates se transformando em uma pedra ou tronco de árvore. Assim, reza a lenda.
Anésia Adelaide de Araújo entrou na vida cangaceira para vingar a morte de um parente em 1917. Ela pertencia a uma família de agricultores e tinha vários irmãos. Todos conhecidos pela valentia. Mas Anésia criou um grupo para combater a morte injusta, como dizia. E essa destemida ficou conhecida como Anésia Cauaçu.

Sua fama cresceu rápida em todo Sertão da Bahia e até a polícia temia o confronto com ela. Nessas ocasiões, ela atirava de todo jeito até mesmo para trás acertando em quem queria. Dava surras e tapas na cara dos homens deixando todos assombrados.

Sua fama e atitudes cresceram ao ponto de o então governador da Bahia mandar 240 soldados para prender Anésia. E não adiantou. Ela passou seis anos no Cangaço com irmãos e primos fazendo justiça ao seu modo. Bonita, branca, alta e de olhos azuis, casou com o mascate Isaias e tiveram uma filha. Moradores de Jequié garantem que ela existiu. Fica difícil separar o real do imaginário, atesta o professor Domingos Ailton, que escreveu livro sobre essa vaqueira-cangaceira, mais  valente que Dadá.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com


100 ANOS DA ENTREVISTA DA CANGACEIRA ANÉSIA CAUAÇU AO JORNAL A TARDE

Por Domingos Ailton

Há exatos 100 anos, dia 25 de outubro de 1916, coincidentemente data do aniversário de Emancipação Política de Jequié, o Jornal A TARDE trazia como manchete JEQUIÉ, Cauassus, Marcionilio e Zezinho dos Laços. A empreitada dos crimes. Narrativa de uma Cauassu ao nosso repórter, com uma foto da cangaceira Anésia Cauaçu ao lado de uma criança. 

Na primeira página e nas páginas internas do jornal, Anésia narra a trajetória da família Cauaçu cuja grafia da época se escrevia Cauassu, dando conta de que seus familiares eram simples agricultores e comerciantes e que se tornaram cangaceiros por conta de uma vingança.

Em Ituaçu, antigo Brejo Grande, na Chapada Diamantina, duas famílias disputavam o poder local: os Silvas, chamados de "rabudos", e os Gondins, denominados de "mocós”. 

O major Zezinho dos Laços (um dos líderes dos “rabudos”) exige que Augusto Cauaçu acompanhe seu grupo de jagunços em uma emboscada contra a família Gondim. Por conta da recusa de Augusto, este é assassinado a mando de Zezinho dos Laços. Então, a família Cauaçu se reúne e resolve vingar a morte, assassinando Zezinho dos Laços seis anos depois em uma tocaia na Fazenda Rochedo. 

Chefes dos “rabudos”, a exemplo do coronel Marcionílio de Souza e de Casseano do Areão passam a perseguir e matar membros da família Cauaçu e de seus aliados, comandados por Anésia e seu irmão José Cauaçu. 

Antonio Muniz Sodré de Aragão - https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Muniz_Sodr%C3%A9_de_Arag%C3%A3o

Pressionado pelos coronéis, o então governador da Bahia, Antônio Muniz, denomina o movimento armado dos Cauaçus de "conflagração sertaneja” e envia para Jequié mais de 240 soldados em três expedições da polícia militar da Bahia, com participação inclusive de oficiais que combateram na Guerra de Canudos, a exemplo do tenente-coronel Paulo Bispo. Ocorre então a Guerra do Sertão de Jequié, conflito envolvendo os cangaceiros Cauaçus, policiais militares e jagunços dos coronéis. 

A força policial pratica uma série de atos violentos não só contra os cangaceiros, mas também contra a população inocente de Jequié e região. O alferes Francisco Gomes – Pisa Macio obriga um homem a comer lama no povoado do Baixão, crucifica outro nas margens do Rio das Contas e lança crianças para o ar,que são amparadas com a ponta das baionetas e levava suspeitos para um pequeno morro no Curral Novo onde eram sangrados com requintes de perversidade. O local ficou conhecido como Morrinho da Matança.

O genocídio é denunciado pelo Jornal A TARDE, que envia um repórter para fazer a cobertura das expedições policiais em Jequié e na ocasião entrevista Anésia Cauçu, dando destaque a sua narrativa a respeito da história do bando e do histórico conflito daquele ano de 1916.

Anésia Cauaçu foi uma mulher que esteve à frente do seu tempo. Foi a primeira mulher nordestina a ingressar no cangaço, uma vez que em 1911, ano do nascimento de Maria Bonita, Anésia já lidera um bando de mais de 100 bandoleiros. 

Maria Bonita de Lampião

Ela também foi a primeira no sertão de Jequié a praticar montaria de frente, já que as mulheres de sua época montavam de lado em uma sela denominada silhão, e a pioneira das terras jequieenses a vestir calças compridas (as mulheres do período em ela viveu apenas usavam vestidos e saias), para facilitar o combate em cima do cavalo. 

Historiador Emerson Pinto de Araújo - https://memoriasdejequie.wordpress.com

O historiador Emerson Pinto de Araújo, que registou a história da cangaceira assim a descreve: 

“era uma mulher branca, de olhos azuis, bons dentes, alta e delgada, que tomava suas pingas, sem que ninguém ousasse faltar-lhe com respeito. Numa época em que não existiam academias de defesa pessoal, ela tinha ginga de corpo, conhecia- ninguém sabe com quem aprendeu - os ´rabos-de-arraia da capoeira, batendo forte nas fuças de muitos valentões que tentavam avançar o sinal. Manejando armas de fogo com uma pontaria invejável, jogava pra escanteio os melhores atiradores. Certa feita, bafejada pelo acaso, numa distância de trezentos metros, cortou o dedo do sargento Etelvino, quando este indicava aos seus comandados a direção em que deveria atacar”. 

Com base na memória coletiva de tradição oral, em documentos escritos e no meu imaginário, escrevi um romance histórico que tem como protagonista Anésia Cauaçu. 

Cordelista José Walter Pires - https://ocordelnaweb.wordpress.com

Inspirado neste texto ficcional, o poeta e cordelista José Walter Pires produziu um livro de cordel e o compositor e cantor Jonas Carvalho compôs uma música sobre a saga de Anésia Cauaçu. 

cantor Jonas Carvalho

Diversos estudos acadêmicos foram e estão sendo desenvolvidos sobre essa guerreira do sertão de Jequié. A entrevista publicada em 25 de outubro de 1916 e as matérias publicadas pelo Jornal A TARDE há 100 anos sobre os conflitos na região de Jequié constituem relevantes documentos da história do coronelismo e do cangaço na Bahia.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

DE VOLTA PARA O PASSADO

Por fmachado

Há 145 anos, nascia em, o cangaceiro Antônio Silvino, que morreu no dia 31 de julho de 1944.

Há 130 anos, nascia em Pernambuco, o historiador João Peretti, que morreu no dia 2 de maio de 1953.


Há 80 anos, se apresentava no Teatro de Santa Isabel, a Companhia de Comédia Moderna, com a peça Minha Mulher … É um Homem, de Celestino Silva. No elenco o ator Palmerim Silva.


Há 55 anos, nascia em Pernambuco, o jogador Edivaldo Martins da Fonseca, que morreu no dia 14 de janeiro de 1993.


Há 15 anos, morria no Rio de Janeiro, o sambista Oswaldo Sargentelli, que nasceu no dia 8 de dezembro de 1925.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

FOTOS DA PRISÃO DE ANTÔNIO SILVINO

Por Rostand Medeiros
???????????????????????????????
A prisão de Antônio Silvio em 1914
O aprisionamento de Lampião não se me afigura impossível. Nada importa diga ele que prefere a morte. Antônio Silvino também o dizia, mas, apenas se viu baleado, foi o primeiro em fazer questão de mansamente se entregar à justiça. Restabelecido ulteriormente, voltaram-lhe no presídio os ímpetos brutais, como na manhã em que, entre descomposturas do calão mais vil, sacudiu um pão na cara de um desembargador.
Antonio Silvino preso.
Antônio Silvino preso.
Quando a captura de Lampião parece a tanta gente sonho irrealizável, vem a propósito recordar como se deu a de seu terrível predecessor.
O que desgraçou Antônio Silvino foi a perseguição sem tréguas que lhe moveu uma de suas vítimas mais humildes. Bem diz o povo que “não há inimigo pequeno” e que “mutuca é que tira boi do mato”…
Sargento Alvino, promovido a alferes após a captura de Antonio Silvino
Sargento Alvino, promovido a alferes após a captura de Antonio Silvino
José Alvino Correia de Queiroz era obscuro comerciante no sertão de Pernambuco, quando Antônio Silvino lhe saqueou o pequeno estabelecimento. Reduzido à miséria, jurou vingar-se e entrou a polícia daquele Estado. Acreditaram nos seus propósitos e fizeram-no sargento.
Inteirado de que Silvino transitaria por certa faixa do município de Taquaritinga, o Sargento Alvino buscou informações de João Vicente e Joaquim Pedro, moradores naquelas paragens. Ambos negaram a pés juntos ter qualquer conhecimento a respeito. Mas, tão jeitosamente o miliciano conduziu as investigações, que a esposa de João Vicente o orientou:
– Quando o Sr. chegar à casa de nosso vizinho, o Joaquim Pedro, e encontrar as mulheres torrando galinhas ou fazendo comedoria de sobra, pode apertar o pessoal que o “capitão” Antônio Silvino está escondido perto, no mato…
O oficial Theophanes Ferraz Torres, comandante da volante que capturou Silvino. Valente e destemido, seria um grande perseguidor de Lampião.
O oficial Theophanes Ferraz Torres, comandante da volante que capturou Silvino. Valente e destemido, seria um grande perseguidor de Lampião.
No dia esperado, 27 de novembro de 1914, os policiais, sob o comando do Alferes Teófanes Torres e do Sargento José Alvino, estavam no local referido, de nome Lagoa Laje.
Assim que penetrou na residência de Joaquim Pedro, o Sargento Alvino se encaminhou diretamente para a cozinha, atrás de cuja porta se lhe deparou pendurada uma banda de ovelha. E viu chegar desconfiado, pelo quintal, um rapazola com um tabuleiro à cabeça, cheio de tigelas, colheres e pratos. Interrogado, o recém-vindo explicou, titubeante, que havia ido deixar comida a uns “trabalhadores”, num roçado.
00425
Concomitantemente, o Alferes Teófanes submetia Joaquim Pedro a interrogatório, e este negava que soubesse do paradeiro de Silvino.
Aparece o sargento e, depois de falar na ovelha morta e de mostrar o tabuleiro com os restos de comida, pede permissão para forçar o velho sertanejo a não continuar mentindo. Ato contínuo, tranca-lhe, numa alcova, a mulher e os filhos e ordena que os soldados desembainhem os sabres.
Nos antigos jornais e revista por mim pesquisados, esta foto consta como sendo a força policial que lutou e capturou Antonio Silvino, mas muitos pesquisadores apontam como sendo o próprio bando de Antonio Silvino.
Nos antigos jornais e revista por mim pesquisados, esta foto consta como sendo a força policial que lutou e capturou Antonio Silvino, mas muitos pesquisadores apontam como sendo o próprio bando de Antonio Silvino.
Nesse momento, mais nervosa, uma filha do ameaçado pede, da alcova:
– Meu pai, por caridade, descubra logo!
Joaquim Pedro roga que não lhe batam e justifica-se, alegando que logo não disse a verdade por temer a vingança de Silvino, no caso de a polícia o não prender ou matar. E confessa que o celerado está escondido não longe dali.
Eram cinco horas da tarde e urgia assaltar os cangaceiros, antes que a noite sobreviesse.
Também nos jornais de época esta mulher foi apresentada como Antônia de Arruda, amante de Silvino.
Também nos jornais de época esta mulher foi apresentada como Antônia de Arruda, amante de Silvino.
Sob as ameaças de ser liquidado, se desse o menor sinal aos bandidos, Joaquim Pedro vai mostrar o esconderijo deles. Com todas as precauções imagináveis, a tropa se aproxima da malta criminosa.
Antônio Silvino estava deitado numa pedra, sobre a qual se debruçava copada oiticica. Perto, divertiam-se alguns de seus cabras, a jogar um sete-e-meio. Ao ouvir a primeira descarga, Silvino gritou, motejante:
Ferimentos de Antonio Silvino após a sua captura.
Ferimentos de Antônio Silvino após a sua captura.
– Espera aí, rapaziada! Deixem, ao menos, os menino acabar esta mão!
Mas o fogo irrompeu violento e sem intermitências, dos dois lados.
Com o cair da noite, o tiroteio deixou de ser correspondido. O Alferes Teófanes e o Sargento Alvino acreditaram que Silvino tivesse fugido. Suspeitando, todavia, que ele se quisesse vingar de Joaquim Pedro, foram entrincheirar-se na casa deste.
Antonio Silvino já com o uniforme da prisão.
Antônio Silvino já com o uniforme da prisão.
Coisa bem diversa se passava. Silvino fora atingido por uma bala nas espáduas e o seu companheiro Joaquim Moura tivera quebrada uma perna. Os demais cangaceiros se embrenharam, desorientados, na caatinga, favorecidos pelo negrume da noite.
Estando a perder muito sangue, Silvino convidou Joaquim Moura a se entregarem, mas este repelira o convite e, depois de dizer que macaco do Governo não tinha o gosto de botar-lhe as mãos em riba, ele vivo, suicidou-se com um tiro na cabeça.
Outra foto do oficial Ferraz.
Outra foto do oficial Ferraz.
Impressionado ainda mais com o trágico fim do último assecla que lhe restava, Silvino despojou-se das armas e arrastou-se para a casa da mulher que ele ignorava tivesse sido quem o denunciara. O marido dela, João Vicente, a estava censurando por sua leviandade, persuadido de que Silvino, sabedor da denúncia, lhes não perdoaria.
De repente, batem à porta. Quando, de fora, uma voz anuncia que quem bate é Antônio Silvino, João Vicente encomenda a alma a Deus, convicto de que vai morrer. É sua mulher quem se afoita a atender ao chamamento.
Aqui outra imagem do sargento Alvino.
Aqui outra imagem do sargento Alvino.
Ao se abrir a porta, aparece, à luz da lamparina, o vulto do grande salteador. Quase desfalecido e com as vestes rubras de sangue, Silvino está escorado no portal.
– Capitão, que horror é este?
– Mataram-me… arqueja aquele que, acovardado, começava a expiar crimes sem conta.
Conduzido a uma rede, ele pede que chamem a polícia. Vai alguém a Taquaritinga, mas não encontra lá os soldados. Na confusão em que todos se viam, ninguém a princípio se apercebeu de que os policiais poderiam estar pernoitando na fazenda de Joaquim Pedro. À mulher de João Vicente ocorre agora essa possibilidade. Despacham para ali o portador. Quando este bate à porta de Joaquim Pedro, os soldados aperram as armas, crentes de que é Silvino quem chega. Aberta a muito custo uma janela, o mensageiro dá contas de sua incumbência: vem avisar que Antônio Silvino, sozinho, desarmado e gravemente ferido, está em casa de João Vicente e quer entregar-se à prisão.
Expectativa para a chegada do famoso bandoleiro nordestino na Casa de Detenção de Recife.
Expectativa para a chegada do famoso bandoleiro nordestino na Casa de Detenção de Recife.
O Alferes Teófanes suspeita que se trate duma cilada e opina que se aguarde o raiar do dia. Tanto insiste, porém, o Sargento Alvino que, afinal, o seu comandante se dispõe a ir ver Silvino. Ainda assim, o recadista vai seguro pelos cós e advertido de que receberá uma punhalada, ao primeiro tiro com que a tropa seja surpreendida.
Cercada com cautelas a morada de João Vicente, houve grande alegria, quando se patenteou aos olhos de seus perseguidores a mísera situação daquele que se gabava de que, embora sem saber ler, governava todo o sertão! O Sargento Alvino parecia o mais contente. Exigiu que se não fizesse o menor mal a Antônio Silvino e saiu, pelos matos, a cortar umas folhas de quixabeira para lhe lavar as feridas.
Fora destronado o Átila bronco que, durante dois decênios, apavorara a gente matuta do meio-norte e assoalhava não ser passarinho que morasse entre grades… Por trinta anos ia se fechar atrás dele o portão da Penitenciária de Recife!
Multidão a frente da Estação Central do Recife na chegada do famoso cangaceiro.
Multidão a frente da Estação Central do Recife na chegada do famoso cangaceiro.
Foi à tenacidade do Sargento Alvino, à sua argúcia e vontade firme de vingança que se deveu a prisão de Antônio Silvino. Forçoso é, porém, reconhecer que colaborou inestimavelmente nisso a indiscrição duma mulher.
Acontecerá o mesmo, algum dia, a Lampião? Até na ruína dos cangaceiros terá aplicabilidade o cherchez la femme.
Texto acima é do Cearense Leonardo Mota, inserido no seu livro “No tempo de Lampião” e publicado pela Of. Industrial Gráfica, do Rio de Janeiro, em 1931. Esta reprodução é da segunda edição, de 1967. Leonado Mota era cearense da cidade de Pedra Branca, nasceu em 1891 e faleceu em 1948. Estudou a fundo o sertão nordestino, onde descreveu vários aspectos da região em obras memoráveis. 
Antes de Lampião, Antônio Silvino era o cangaceiro mais famoso e seu apelido mais conhecido foi “Rifle de Ouro”. Nascido no dia 2 de dezembro de 1875, em Afogados da Ingazeira, Manoel Batista de Morais entrou para a história como Antonio Silvino. Durante 16 anos, driblou a polícia, praticou saques e assassinou inimigos, mas era tratado pelos poetas populares como um “herói” por respeitar as famílias. A invencibilidade de Silvino terminou no dia 27 de novembro de 1914, quando ocorreu o seu último tiroteio com a polícia. Atingido no pulmão direito, conseguiu se refugiar na casa de um amigo e disse que ia se entregar. Da cadeia de Taquaritinga seguiu, dentro de uma rede, até a estação ferroviária de Caruaru, onde um trem especial da Great Western o levou para o Recife. Uma multidão o aguardava na Casa de Detenção, atual Casa da Cultura. Antonio Silvino tornou-se o detento número 1.122, condenado a 239 anos e oito meses de prisão. Em 4 de fevereiro de 1937, depois de vinte e três anos, dois meses e 18 dias de reclusão, foi indultado pelo presidente Getúlio Vargas. O ex-rei do cangaço morreu em 30 de julho de 1944, em Campina Grande, na casa de uma prima.
NOTA  – Todos os direitos reservados
É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A SBEC "PAULO GASTÃO" E JOÃO GOMES DE LIRA.

Por Aderbal Nogueira

Publicado a 14/10/2010

Nessa ocasião Paulo Gastão passou em nome da SBEC o livro de memorias feito pelo próprio João Gomes, um Nazareno de fibra.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

RAÍ E O TUBARÃO DE CURRALINHO


Essa foto foi antes de RAÍ me proibir de chegar ao menos perto da ladeira de Curralinho. Avisou que se eu chegar por lá, imediatamente manda me deportar pro outro lado do rio, pras bandas do Pontaleão. 

Mas a culpa é de Belarmino, que inventou ter encontrado um documento onde Raí é reconhecido como Régio Senhor do Rio e seus Arredores, El-Rey das Beiradas e das Serras, Imperador das Águas e Guardião das Carrancas Perdidas. Quer dizer, dono de tudo, de Curralinho e seus arredores. É por isso que RAÍ faz da calçada da Igreja do Conselheiro um trono e vai repetindo: “Tudo isso é meu, meu, meu...”. 

E quem quiser ir até lá tem de pedir autorização com antecedência. Menos eu, que estou perpetuamente proibido. E tudo isso porque certa feita eu postei uma fotografia com ele correndo por medo de uma piaba. E gritando: “Socorro, socorro, o tubarão quer me pegar!”.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

EUCLIDES DA CUNHA HOMENAGEM NA FLIP 2019

Do acervo do escritor Luiz Serra, mas foi escrito pelo  jornalista e compositor potiguar Nélson Freire.
Arraial de Canudos não se rendeu Registro: Flávio Borges (fotógrafo correspondente do Exército Brasileiro)

Na Feira Internacional Literária de Parati, haverá neste mês merecido tributo ao escritor maior da nacionalidade brasileira. Autor da monumental obra Os Sertões, equivalente nacional d’Os Lusíadas em termos de recriação dos valores humanos nacionais, abstraindo-se de teses antropológicas e atendo-se ao enfoque na realidade indomada.

“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo”. (Os Sertões).

O autor de Pedra do Reino, Ariano Suassuna, referiu-se a Euclides quando mencionou ter o magno ensaio dos sertões entrado na cena do Brasil real, em contraste com o Brasil oficial, da autoridade imperiosa, distante, e não equidistante.

Suassuna externou que o “poeta maior da nacionalidade” foi Euclides da Cunha no livro "Os Sertões". Deixou este registro:

“Eu vivo dizendo, quem não entender Canudos, não entende o Brasil. Porque ali pela primeira vez o Brasil real tentou se organizar, não da maneira que diziam a ele como ele era. Tentou se organizar de maneira política, econômica, social... aí o país oficial foi lá e cortou a cabeça na pessoa de Antonio Conselheiro. Ele já tinha morrido de um estilhaço de granada... Eram cinco mil homens contra quatro, no fim. Um velho, um adulto e duas crianças, que tinham escapado. Diante de quem, como dizia Euclides da Cunha, rugiam as baionetas de cinco mil soldados... Foi um exemplo único na história, não sobrou ninguém. Fizeram isso. Nós fizemos isso”.

Antônio Conselheiro no Arraial do Belo Monte de Canudos .No quadro a reparar aranhas e cobras em modo metafórico ao discurso do beato de Canudos. Almiro Borges, artista plástico, oriundo de Santa Luz, sertão da Bahia.

O prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, no prólogo de seu Guerra do fim do mundo, com base n’Os Sertões, assim enfeixou a tese:
.. “De um lado um catolicismo popular, de forte ênfase escatológica, algo heterodoxo, liderado por um santo carismático, repudiado pela própria autoridade eclesiástica. Do outro, a religião da República, do secularismo, do progresso, do positivismo. Eram dois tipos de fanatismo incompatíveis e mutuamente incompreensíveis. Nenhum dos lados dispunha de meios ou motivos para sequer começar a compreender o outro”.

Feriu-se a guerra de incompreensões naquele fim de mundo barbarizado. A meu ver a sorte das tropas acuadas e trôpegas de Artur Oscar na Favela... foi em derradeiro lanço trazida pelo general Savaget que chegou com cargueiros de víveres e munições!

Estava salva a República!

FLIP 2019 - 10 de julho a 14 de julho de 2019

Local: Bourbon Music Festival Paraty, Paraty, Rio de Janeiro

Durante a FLIP haverá debates temáticos em torno da obra maior, dos ensaios de Euclides e da sua vida e a sua polêmica morte. Serão exibidos materiais e relíquias de suas pesquisas, como o resgate de uma das cadernetas usadas pelo escritor para anotar os apontamentos e fatos que consubstanciaram o grande enredo cívico-histórico-social.

Vida: Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha Nasceu em Cantagalo, 20 de janeiro de 1866 e morreu no Rio de Janeiro, 15 de agosto de 1909 aos 43 anos.

Antônio Beatinho trouxe à tropa cerca de 400 mulheres, crianças e velhos, que não suportavam vários dias sem água e comida. Sobreviventes de Canudos. Beatinho teria sido levado à "poeira" (caatinga) e sido degolado. Refistro: Flávio de Barros.

A razão da morte ainda envolta em polêmicas, visto que a única testemunha o então cadete Dilermano de Assis, que afirmou “ter reagido em duelo”, tese contestada. Ocorre que “os tiros atingiram Euclides pelas costas”, e, noutra hipótese, que o escritor “sempre andava armado desde o Acre, e teria ido para conversar sobre a situação dos filhos”. 

Os Sertões. Andre Sandoval

Anunciam-se novas pesquisas acadêmicas em vista a sair do prelo; a controvérsia do “Crime da Piedade” continua na lida investigatória de historiadores.

Importa fixar a obra, sob pena de cerceamento de uma das mais importantes descritivas de um povo no maior cenário abrasivo das 

Texto reproduzido no Blog Ponto de Vista, do jornalista e compositor potiguar Nélson Freire.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LAMENTOS DO BOTO-TUCUXI, MUITA ATENÇÃO AO MEIO AMBIENTE AMAZÔNICO!

Por Luiz Serra

Os botos cinzas (boto-tucuxi) estão rareando ao longo do alto Araguaia e em outros rios da Amazônia.

Lembro-me de, nos tempos das missões da FAB na Amazônia, década de 70, ao acamparmos à margem do rio, ouvir incessante à noite o chio lamentoso e alto, com a rotina de respiração dos botos, mamíferos aquáticos, que precisam subir à superfície da água em busca de oxigênio.


Uma realidade: os botos-cinzas estão sumindo em tantos lugares.

Uma advertência preocupante: a população de botos-cinza ou tucuxi (Sotalia fluviatilis) vem caindo pela metade a cada nove anos na Reserva Mamirauá, no Amazonas, afirmam os cientistas.


Há vários motivos: barcaças em travessia de comunidades, com o óleo que se esvai no correr dos rios; o crescimento das cidades ribeirinhas; a pesca sem controle em certas regiões, em que os pequenos peixes, alimentos dos botos, são vítimas da pesca predatória.

Não há descrição pior do que constatar que um divertido boto-cinza foi arpoado e encontrado inerte à beira de um rio.


Mas há a esperança de sempre, esa vindo do Rio Grande do Norte: os chamados golfinhos tem sido tema de estudos há alguns anos pela UFRN, no Departamento de Biociências, com a profa. Renata Sousa-Lima e a pesquisadora Nara Pavan Lopes, examinando a “variação acústica nos botos-cinza”. No estudo em tela houve a coleta e verificação de que no rio Potengi em estuários da Baía Formosa, litoral sul potiguar, em maio de 2015, verificou-se a presença de cerca de 60 a 90 indivíduos da espécie. Ainda a confirmar se a positividade dos dados.
E o boto-tucuxi (além do cor-de-rosa) também é folclore e cultura.

Na arte e na cultura o boto-tucuxi é reverenciado nas festas do Amazon Fest todos os anos, além dos terreiros das celebrações em povoados e aldeias ribeirinhas.


Ainda no capítulo da pesca danosa ao meio ambiente, cabe ao ICMBio a fiscalização. A invasão das comunidades, a pesca que denota haver mais peixes nessas áreas do que noutras. E a salvação é a preservação do ambiente, para permitir a reprodução das espécies. Que assim seja!

Resta-nos a poesia da selva, como a de uma mato-grossense inspirada:

Desde pequena eu ouvia
Tuas estórias contar,
Veja só que ironia
Em banco se transformar.
Reaja, boto, reaja!
No rio volte a nadar.

Hull de La Fuente, Porto do Baé, Barra do Garças.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com