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domingo, 26 de maio de 2013

Lançamento de livro!


O professor, escritor, pesquisador e fundador da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, lançará em Junho deste ano de 2013, o seu mais novo trabalho, com o título: 

Sítio dos Nunes de Flores, vive saga do cangaço

Para você que ainda não o leu

ANGICO

Por: Paulo Medeiros Gastão

Angico se constitui no calcanhar de Aquiles do cangaço lampiônico. A construção do mito e seus asseclas desmoronam de forma vertiginosa Se Desejam o término do cangaço com o episódio de Angico, considero uma aberração, final trágico e desabonador da saga de homens assassinos, porém, valentes e destemidos.

A história dos cangaceiros deve ser vista de vários ângulos. 

A descrição concebida pelos escritores, jornalistas, pesquisadores deixam Gengis Kan, Napoleão, Júlio César (O imperador), Al Capone, Billys the Kid, Kelly (e seu bando), Hitler e muitos outros, fichinha frente aos cangaceiros. 

O cangaceiro Candeeiro me fez o seguinte relato, em sua residência na vila de Guanumbi, no município de Buíque, estado de Pernambuco: 
             
“Na noite anterior ao ocorrido, ou seja, 27 de julho de 1938, Lampião reuniu seus homens e assim falou:  “-Amanhã cedinho vou viajar. Vou embora para Minas ou Goiás. “Quem quiser ficar, fica, quem quiser ir comigo se prepare.” Continua o chefe cangaceiro: “-Não posso mais ficar por aqui, pois, vou começar a matar até meus amigos; voltar para Pernambuco, não volto, pois, lá só tenho inimigos e a matança vai continuar. Assim o melhor é terra nova, onde ninguém me conhece”. A conversa foi encerrada e todos foram dormir pensando na decisão e na hora de ficar ou seguir o comandante. Tenho este depoimento gravado, com testemunhas na hora da gravação.  
                 
De última hora é colocado um parente que dizem, ser parente de Lampião e de nome José. Foi arranjada máquina de costura para confeccionar roupa para o rapaz. Não é descrito como o mesmo lá chegou, e muito menos após o tiroteio do dia seguinte, qual teria sido seu destino. Até parece com história de Dom Sebastião, Rei de Portugal. O belo e valente monarca foi lutar no norte da África e após a renhida luta, ninguém encontra o Rei. Caracteriza-se que Dom Sebastião havia se “encantado”.  Não se fala em morte em ambos os momentos. 
               
Os cachorros pela primeira vez estavam sonolentos e teriam perdido o faro. Dormiam nas pernas dos seus donos. Junto aos cachorros deveriam estar às sentinelas que devem ter esquecido as suas responsabilidades junto ao grupo. Falha lamentosa. 
              
Naquela manhã chovia na área. Comprove esta afirmação no livro de João Bezerra, onde solicita aos seus comandados que: “-Tenham cuidado em pisar no chão para não fazer barulho com as folhas secas”. Parece-nos que a chuva não atingia as folhas, enquanto o restante do chão corria água. 
               
A coragem da volante (grupo de militares) era tamanha que o comandante permitiu o uso de cachaça para quem desejasse criar coragem. Esta declaração me foi prestada por um membro da volante que ainda está vivo.  
              
Aos registros feitos por todos que escreveram sobre o tema, mostram que as relações entre o chefe cangaceiro e o militar aconteciam para um jogo de 31, compra e venda de armas e munição, além de um bom trago de bebida especial. 
             
Sendo o coito a margem de um caminho, que liga a casa da fazenda ao Rio São Francisco, logo mais abaixo, verificamos que as descrições, todas, todas são falhas, pois na realidade não existia nenhuma segurança para com a permanência do grupo.
             
As águas que correm no riacho do Tamanduá descem com muita velocidade até o rio, desde que a serra forma um plano inclinado muito acentuado. Tempo de inverno, água no riacho, onde fixar a tolda e dormir? 
            
Cangaceiros acordados, inclusive o chefe, que manda o companheiro de nome Amoroso ir buscar água logo abaixo do coito, no poço (formado na época das chuvas) que fica a 200 metros para fazer o café. Amoroso é baleado com um tiro de fuzil. Este momento não foi o suficiente para deixar os cangaceiros em condição de luta?
             
O matador dos onze cangaceiros diz que feito o cerco tiveram que recuar. Ora, difícil era chegar perto daquelas feras, quanto mais, ter a chance de ir e voltar. Momento único desde o início do cangaço no século anterior. 
              
O suicídio de Luiz Pedro é fantástico. É advertido ao cangaceiro que Lampião estava morto e que ele fosse à luta. Ao chegar junto ao amigo, assim falou: “-Compadre, eu lhe disse que lutaria com você até a morte”. No trajeto, o Pedro perdeu a coragem que foi possuidora desde os tempos em que esteve no Rio Grande do Norte, em 1927. 
              
O conceito de cerco efetuado pela volante não determina a figura geométrica do círculo. Acredito que definir como lua crescente é razoável. Teria que se deixar uma válvula de escape e ela existiu. Os cangaceiros se evadiram em busca da parte da alta da fazenda e, por incrível que pareça, não foram perseguidos. A saída esteve sob comando do Ten. Bezerra. Que você acha disto? 
              
Houve traição? Existe divergência. Um grupo diz que não. Outro diz que sim. Quem traiu? Afirmam que o grande traidor foi o homem que se caracteriza como seu matador, ou seja, João Bezerra. E o envenenamento? No coito o cangaceiro Zé Sereno avisou:          
            
“- Capitão, a tampa da garrafa tem um pequeno furo”. O chamamento da atenção não foi levado em consideração. Por quê?  
             
Se salva Sila. Personagem único que ficou para contar a história. Foi a predestinada para fazer o relato em nome de todos os sobreviventes. Por quê? O que na realidade aconteceu o que não podia existir divergências nos relatos?  Impossível. Se vamos a uma festa, ou a qualquer lugar, cada um tem uma visão própria do ocorrido. Os primeiros escritores deixaram-se levar na conversa. O resultado é o que aí está. 
              
A polícia queria os cangaceiros ou o ouro e dinheiro que eles transportavam? Por que a retirada dos anéis, cortando-se os pulsos e levando-se o conjunto, mãos e anéis? 
              
O governo da Bahia oferecia 50:000$000 (cinquenta contos de réis), a quem entregasse Lampião vivo ou morto. Não se tem notícia do ganhador do prêmio milionário. Por quê? 
               
Quem nominou as cabeças errou gravemente. Muitos escritores colocam nos seus relatos que metade das cabeças tem o mesmo nome. A partir do meio (fotos das cabeças) para cima seja como Deus quiser. Encontraram um cangaceiro que só aparece naquele momento chamado de Desconhecido? Até então não existe nenhuma informação sobre este personagem? Por outro lado Amoroso foi baleado ou morto, em primeiro lugar, e seu nome é totalmente esquecido. Como explicar? 
               
Se a volante possuía duas metralhadoras não ficava um pé de macambira para contar a história. Por que conseguiram se salvar muitos cangaceiros? O cerco não foi cerco. É piada. 
               
Durval Rosa, irmão de Pedro de Cândido, em depoimento a mim prestado e registrado em fita de vídeo, declara que na noite anterior ele desceu a serra e foi levar um saco de balas, dividido em duas porções, em cima de um jumento. “Era muito peso”, dizia o entrevistado. Para que tantas balas? Que desejaria o capitão fazer com o material? 
                
Existia a compra de armas e balas, porém, se quem servia de intermediário para que farto material chegasse às mãos dos bandidos? Um militar que atuou na volante que chegou a Angico foi curto e grosso. “-A polícia!”    
                
Minha intenção é fazer um artigo, porém, se nas páginas de um jornal coubesse as informações, conclusões a que cheguei escreveria um livro. E mais, o livro já estaria em fase de acabamento. Existindo alguma dúvida do leitor, lhe faço um convite – vamos ao estado de Sergipe e lá você encontrará os elementos que lhe darão o norte de toda a história. Não sou o dono da verdade, porém, não quero lhe deixar enganado, nem tão pouco morrer na ignorância, na mentira. A história do povo nordestino e dos cangaceiros é outra, não se iluda. Caso o leitor não fique satisfeito, farei um outro artigo ainda mais contundente sobre o episódio. Chega de tanto embuste.

Mossoró,21 de julho de 2008.   
                       
Paulo Medeiros Gastão 
http://www.blogdomendesemendes.blogspot.com

O REI E O MÉDICO


No fim dos anos 40, apesar da gravadora ter toda prensagem só para Luiz Gonzaga, o cearense Humberto Teixeira, o ''Doutor do baião'', candidata-se a deputado federal pelo estado do Ceará, onde fora bem votado. Após um banquete dos deputados eleitos, Luiz se apresentou, com a presença de Eva Perón. Com o velho parceiro debutante na política e cheio de novas tarefas, Gonzaga certificou-se que a separação era inevitável, porém a amizade continuou intacta e forte. Mas essa separação deu um ganho sagrado para a música brasileira como um todo. Aí que entra um certo José de Sousa Dantas Filho, o Zé Dantas.

Nasceu em Carnaíba de Flores, alto sertão do Pajeú pernambucano, no dia 27 de fevereiro de 1921. Ainda pequeno, muda-se para o Recife para estudar e tornar-se médico, como queriam seus pais. Estudou nos colégios Nóbrega, Americano Batista e Marista. Em 1938, aos 17 anos, já compunha xotes, baiões e toadas, chegando a publicar alguns na Revista Formação, editada pelo Colégio Americano Batista.

Durante a época em que era estudante de Medicina, para desespero do seu pai, tornou-se um boêmio. Passava noites em bares dos subúrbios da cidade, fazendo versos, cantando e desenvolvendo sua criatividade musical.

Em 1947, já estudante de Medicina e com certa fama de artista, "improvisador" e compositor no meio universitário recifense, descobriu que o cantor e compositor Luiz Gonzaga, de quem era grande admirador, estava no Recife, hospedado num Hotel, em Boa Viagem. Conseguiu entregar-lhe algumas composições suas, entre as quais era provável que estivessem ‘’Vem morena’’ e ‘’Forró do Mané Vito’’, que foram gravadas por ele em 1949, ‘’A volta da asa branca’’ e ‘’Acauã’’, gravadas respectivamente em 1950 e 1952.

Em dezembro de 1949, formou-se em Medicina, pela Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte, mudou-se para o Rio de Janeiro, então a capital da República, para fazer residência médica em obstetrícia. Trabalhou no Hospital do IPASE-Rio, onde chegou a ser Vice-Diretor da Maternidade, além de atender em seu consultório, como ginecologista. mas continuou investindo na sua carreira de compositor até o fim da vida.

Faleceu no dia 11 de março de 1962, após anos de luta contra uma doença na coluna, que o deixou hospitalizado no último ano de vida. Aos 41 anos, Zé Dantas deixava a música nordestina órfã de seu zelo, genialidade, folclore e poesia. Luiz Gonzaga não foi ao enterro do grande amigo e parceiro, pois estava se recuperando do grave acidente de carro que sofrera recentemente. Mesmo com o carro cheio de problemas na porta, sai do Rio para sua chácara em Miguel Pereira, na região serrana do Rio. a porta abre sozinha e ele cai, batendo a cabeça no chão. Isso lhe rendeu vários hematomas e um grave ferimento no olho direito, cicatriz que ele carregou desde então.

Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga

Nesse mesmo ano, Gonzaga conhece João Silva. Depois de Humberto Teixeira e Zé Dantas, foi o parceiro mais importante.

Sua parceria com o Luiz Gonzaga era fundamental para a divulgação dos costumes, arte e vida social do homem do Nordeste brasileiro. Se existiu Lennon para um McCartney, Jobim para um Vinícius, Roberto para um Erasmo, existiu um Luiz Gonzaga para um certo Zé Dantas...

Extraído do facebook na página do pesquisador Guilherme Machado

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Curta - A morte de Lampião


Dramatização gravada exclusivamente para o espetáculo "O Julgamento de Lampião" encenada pela Cia. Brincante de Teatro em maio de 2009 na Candangolândia - Distrito Federal. 

O filme mostra de forma representacional como foi a morte do rei do cangaço, Virgulino Ferreira, vulgo: Lampião. Interpretado pelo ator Denis Pinho com Direção de Eliésio Alves.

Fonte: Site da Cia Brincante

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A pergunta que não quer calar - Por quê Lampião não entrou em Lagarto?

Por Joel Silveira

Era fim de tarde, eu conversava com Rubem Braga na cobertura (que era também granja) do seu apartamento em Ipanema e, enquanto me servia do sempre generoso uísque do anfitrião, ia matraqueando sem parar sobre os mais diversos assuntos. Braga limitava-se a ouvir, quietamente mergulhado na espaçosa rede baiana que o pintor Carybé lhe mandara de presente. Eu falava, falava, ele balouçava.


Foi quando a conversa passou a ser Lagarto, a cidade da minha infância, lá em Sergipe. Inflado de incontrolável orgulho, lá para as tantas informei ao sabiá da crônica que Lampião, apesar de toda a sua proclamada valentia, jamais tivera coragem de entrar em Lagarto.


Mansamente, num demorado esforço, Braga emergiu da rede e falou:

- Quer dizer que Lampião nunca entrou em Lagarto?

- Nunca!

Braga silenciou por alguns segundos, disse em seguida:
- Pois eis aí o que se chama de um homem sensato. Afinal, que diabo Lampião ia fazer em Lagarto?

E conclusivo, antes de mergulhar na rede:

- Lagarto não é lugar para entrar, mas para sair.

FONTE: Revista Continente - Diário de uma víbora - Edição Nº 08 - Agosto/2001.

Procurando ocorrências para diversos temas relacionados no site revista Continente encontrei esta pergunta que me chamou a atenção de cara evidente que eu também queria saber, Mas no fim só há mesmo a genial irreverencia do nosso Joel. Lagarto é uma das maiores e mais antigas cidades de Sergipe. Só de emancipação política lá se vão 129 anos. Vejamos um pequeno resumo histórico e nosso comentário posteriormente.

"A ocupação do território lagartense ocorre por volta da segunda metade do século XVII, enquadrando-se no movimento de expansão para oeste da Capitania de Sergipe D’El Rei (território pertencente à Capitania da Bahia de Todos os Santos), promovido pela doação de sesmarias pelos Capitães Donatários de então. A nova zona da terra sergipana seria utilizada para a criação de gado, daí nossa vocação para a pecuária. Esta penetração deu-se via rio Vaza-Barris, que corta o nosso município.

Em 1658, o novo território passou a ter a presença de um distrito militar, a fim de salvaguardá-lo de possíveis invasores, especialmente holandeses. Anos mais tarde, a 11 de novembro de 1679, torna-se Freguesia, sob a invocação de Nossa Senhora da Piedade, com um pároco para fazer às vezes espirituais à população circunvizinha.

 Com uma economia, inicialmente sustentada na criação de gado, a nova Freguesia já se destacava como uma das maiores produtoras de fumo da região. Atendendo exigência de Vossa Majestade, o Rei de Portugal, diante da necessidade de povoar o interior sergipano, o Governador Geral do Brasil, Dom João de Lancastro determinou, por Portaria ao Ouvidor Geral da Capitania de Sergipe D’El Rei, Diogo Pacheco Pereira, no dia 20 de Outubro de 1697, a criação das Vilas de Itabaiana e Nossa Senhora da Piedade do Lagarto."

* O Texto aqui ligeiramente editado foi publicado originalmente em 2001, por ocasião do Sesquicentenário de Nascimento de Sílvio Romero (folheto) e no mesmo ano, no Jornal Folha de Lagarto, Por Claudefranklin Monteiro Santos e Patrícia dos Santos Silva Monteiro.


ADENDO:

Claro que aquela guarnição militar foi desativada ao longo dos anos em que não mais se fez necessária a proteção contra os invasores estrangeiros. Mas em outro texto impresso que não localizei para compartilhar, tomamos conhecimento que desde a década de 20, a cidade além de um razoável contingente policial, já possuía um batalhão de TG (Tiro de guerra). Enfim a cidade tinha armas suficiente pra intimidar qualquer grande grupo. Alguns leitores devem lembrar de um relato em um livro da saudosa Sila, de Zé Sereno: aquele em que a ex cangaceira no ano de 1984 vem à Lagarto ao encontro de um famoso pecuarista José Almeida ou "Martins Almeida" (já falecido). Na época em que o cangaço atormentava os sergipanos ele era amigo pessoal do Tenente João Maria e do Cel Liberato. E mais um dos fãs assumidos do rei do cangaço. Este lhe confessa a tristeza de não ter conhecido nem ao menos Zé Sereno. Quando Zé Sereno e seu subgrupo se encontravam na fazenda do Sr Dorinha, outro Cel. lagartense, mas que possuía uma grande propriedade em Simão Dias - SE, o velho desejava presentear o cabra de Lampião com uma pistola, dinheiro etc. Enfim, Lampião tinha conhecimento de uma provável resistência ou de possuir estes tietes na região, deve ter tirado algum proveito por meio de recados, quem sabe? capítulos desconhecidos por nós.

Sei que o velho Joel tem toda razão quando afirma "Lagarto é lugar pra sair"principalmente no campo da cultura, não há valorização necessária, aliás ai está um mal que afeta todo o estado.

Abraçando
Kiko Monteiro
Lagartense teimoso

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Exumação de cangaceiro

Por: Ivanildo Alves Silveira

Analise a foto da cabeça exumada do cangaceiro,  logo abaixo, e responda a indagação. A cabeça exumada (identifique) é de qual  cangaceiro?

Dica: ele é citado em toda bibliografia  cangaceirística. Se não souber....tente acertar, chutando a questão.


Abraço a todos

Ivanildo Alves  Silveira Colecionador  do cangaço Membro da SBEC e Cariri-cangaço Natal/Rn


http://www.orkut.com/Main#CommMsgs?tid=5709825962545828028&cmm=624939&hl=pt-BR

Soldado Adrião - o herói esquecido

Por: Ivanildo Alves Silveira

Por muitos anos, em que pese a vasta produção literária sobre a morte de Lampião e seu cangaço, pouco se falou sobre o soldado Adrião, o único a morrer no combate de angicos, ocorrido em 28 de julho de 1938. Ainda hoje, há polêmica sobre esse assunto...

Foto: Cortesia pesquisador ANTONIO VILELA 

E, as perguntas não querem calar: vejamo-las:

1º) teria o soldado Adrião sido morto  por balas disparadas pelos cangaceiros?

2º) teria ele sido vítima do chamado "fogo amigo'?

3º) ou, teria sido eliminado, de propósito, por algum colega no calor da refrega?

O novo livro, recentemente lançado, “A OUTRA FACE DO CANGAÇO” -  Vida e morte de um Praça", de autoria  do professor pernambucano, Antonio Vilela de Sousa, procura jogar mais lenha na fogueira, e tenta, na ótica do autor, esclarecer as indagações, acima citadas...

Vamos aguardar, o que os estudiosos do tema nos trarão de  conclusão, sobre essa obra, e, sobre esse mistério que, ainda, paira sobre o combate de angicos - Sergipe.

Foto: Cortesia pesquisador ANTONIO VILELA .

ABRAÇO A TODOS
IVANILDO ALVES  SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC e CARIRI-CANGAÇO
Natal/RN

(OUVINDO O CEGO OLIVEIRA E SUA RABECA COM O ROMANCE DE JOÃO DE CALÁIS)

Extraído facebook - página do pesquisador Guilherme Machado

Bem, meus senhores, não vou contar pra vosmecês, bem toda a minha vida e nem todo o meu sofrimento. Dou uma explicação... Meus pais eram José Cazuza e Maria Ana da Conceição, eram alagoanos e vieram para o Juazeiros em 1904. Chegando aqui foram morar no Sítio Baixio Verde, mas o meu batizado foi em Juazeiro e quem me batizou foi o meu Padrinho Cícero. Quer dizer que eu sou de Juazeiro, que no lugar onde a gente se batiza é que é o natural da gente.

Nasci cego e fui me criando no sofrimento, na obrigação de pedir esmolas, o que eu achava muito ruim... Pedi à deus que me desse uma luz, um seguimento, para eu deixar esta vida de “porta em porta . Quando foi no ano de 1929 um tio meu comprou e me deu uma rabequinha. Bem, eu fui tentando, tentando, comecei a aprender...Ai nosso Senhor me deu este dote de eu pegar em cantoria. Meu irmão sabia assinar o nome e lia pra mim os versos dos “rumances”...Lia uma quadra e eu decorava, lia outra quadra e ei decorava... Eu já cheguei a cantar mais de 75 “rumances”...Primeiro aprendi os versos do “Preguiçoso”, depois desenbestou: “Princesa Rosa”, “Pavão misterioso”, “Negrão André Cascadura”, “João de Calais”, “Zezinho e Mariquinha”, “Juvenal e o dragão”, “O papagaio misterioso”, “O valente Vilela”, “O Capitão do navio”, “Coco verde e melancia”, “A peleja de Zé Pretim com Cego Aderaldo”... Era um mundo de poesia...Aprendi também muitas cantigas bonitas. Eu aprendia com o povo, nesse tempo não tinha rádio e essas coisas modernas que tem hoje. O povo cantava e eu aprendia. Tinha muita música bonita, de amor, de gracejo, de causos de valentia, de reinos encantados... Essas músicas navegavam no mundo. Eu toquei muito nos reisados, depois perdi o gosto... Um menino que eu tinha brincava nos reisados, quando foi um dia ele morreu e eu perdi o gosto pelos reisados.

Eu também tinha muito interesse em tocar “pife”. Quando eu ia para uma festa, a coisa mais bonita que eu achava era uma banda cabaçal. Eu me interessei e aprendia tocar “pife”, eu tocava o tempo todo, chegava a tocar um dia mais uma noite. Mas depois eu peguei mesmo foi na vida de cantoria, com a rabeca... Comecei a cantar nas feiras, em todo lugar onde eu fosse convidado. Eu cantava em casamento, em batizado, em aniversário, em festa de renovação dos Santos e até em sentinela de defunto... O defunto estirado na sala e a gente arrodeado, cantando... Eu achava era bom uma sentinela. O povo tomava muita cachaça, era a noite inteira à custa da cachaça para agüentar a função. As “incelença” era assim:

“Uma incelença
Nossa Senhora das Dores,
Os anjos lá no céu
Estão cantando louvores
Só foi quem mereceu
Esta capela de flores
Duas incelença
Nossa Senhora das Dores”

Cantava até completar as doze “incelença”. A vida de cantador foi a melhor que eu já achei, porque trabalhar no pesado eu não posso, pegar no alheio eu não vou. Assim vou cantando... É como eu digo:

“Essa minha rabequinha
É meus pés, é minha mão
É minha roça de mandioca,
É minha farinha, o meu feijão’
É minha safra de algodão
Dela eu faço a profissão
Por não poder trabalhar,
Mas ao Padre fui perguntar
Se cantar fazia mal
Ele me disse: Oliveira,
Pode cantar bem na praça,
Porém se cantar de graça
Cai em pecado mortal”

Quando eu era novo era bom demais. Eu chegava numa festa e me juntava mais os companheiros, a gente tocava rabeca, “pife”e zabumba...Bebia cachaça e pintava o sete. Eu cantei com muitos cantadores afamados do sertão, fiz muita cantoria e muito desafio. Uma vez o poeta Zé Mergulhão tava me aperriando numa cantoria, com versos malcriados querendo me encourar... Então eu cantei:

“Poeta Zé Mergulhão
Você procure a defesa
Eu lhe dou a explicação
Com toda a delicadeza
Eu com a rabeca na mão
Eu canto por precisão
E você por sem-vergonheza”

Hoje eu estou ficando velho, ficando distraído das coisas. Já esqueci muitos versos...A profissão hoje em dia não dá mais pra quase nada, a gente quase não recebe mais encomenda de cantoria. Ainda canto um pouquinho nas romarias, enquanto houver romaria eu ganho um pouquinho que dá pra viver. Antes de chegar esses programas de rádio, esses violeiros modernos, eu era convidado pra tudo que era canto, pra toda a região. Tinha dia de sábado para eu ser convidado pra cantar em quatro casamentos e não dava vencimento... Essas cantorias do rádio foi quem derrubou eu e muitos outros cantadores como eu.

Na profissão de cantoria eu já viajei pra São Paulo, pro Rio de Janeiro, pra Fortaleza... Eu já cantei na televisão, mas ao invés de melhorar, ficou pior. Quando é no tempo da romaria, eu to tocando a minha rabequinha, aí chega um romeiro e fica olhando e diz:

“-Ah! Esse cego eu já vi, ele passou na televisão. Não dê esmola a ele não que ele é rico, ele vive passando na televisão.

Pois bem, e o pobre do besta aqui passando necessidade. Eu passo é de ano sem ver um pedaço de carne no prato.

A vida, no meu entendimento, é esta luta que a gente leva. Deus é todo poderoso e é quem manda no destino de todos nós. Eu acredito na vida do outro mundo, mas ninguém sabe como é... Agora, o que eu digo é o seguinte: do céu não vem carta, nem telegrama, nem telefone pra seu ninguém.

Uma vez eu fui cantar num casamento, quando foi na hora de eu esbarrar a cantoria, eu cantei uma “despedida” tão bonita que, quando terminei, uma mulher disse:

-Faz pena um “home”desse ter que morrer um dia. Mas eu não tenho medo da morte, não tenho um “tico” de medo da morte. Não tenho medo da morte e nem medo de deixar o mundo. Eu não tenho o que deixar...Se eu morrer é como se diz:

“Eu vou me embora
Vou cantar gulora”

(Cego Oliveira)

Depoimento ordenado a partir de entrevistas concedidas para o filme “Cego Oliveira-Rabeca & Cantoria”do cineasta Rosemberg Cariry.

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