Por Rangel Alves da Costa
Mês de setembro. Mata fechada nos idos de 38. Catingueiras, umburanas, facheiros, mandacarus, bonomes, tufos de mato e pontas de espinhos por todo lugar. Refúgio de preás em meio a macambiras, moradia e caminho de cobras entre as locas de pedras. Ouvia-se o cantar da fogo-pagô e do sabiá, ouvia-se o rastejar de bichos furtivos nas entranhas da mata. Numa baixada onde a água se juntava depois das chuvaradas, eis o local ideal para descanso e repouso. Lajedos esbranquiçados formavam como uma mureta separando o leito e as entranhas da mata. Local ideal também para esconderijo e para defesa contra inimigos que acaso chegassem. E por isso mesmo que cangaceiros estavam por ali no dia 6 de setembro, e fugindo das caçadas e das entregas depois da Chacina de Angico, onde Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, haviam tombado recentemente. Coisa de pouco mais de um mês. Depois de Angico, os bandoleiros sobreviventes se bandearam pelas matas não só em fuga, mas procurando deixar a poeira baixar para atinar o que fazerem dali em diante. Uma opção era se entregar, mas alguns não pensavam assim. Talvez imaginassem que um novo líder pudesse aglutinar os debandados e dar prosseguimento ao cangaço, à já injustificável luta. Mas impossível. Lampião, o líder maior, não existia mais. Neste ínterim de dúvidas e aflições, cangaceiros haviam chegado até a Fazenda Cupira, nos arredores da povoação de Poço Redondo.
Dentre estes estavam Canário (Bernardino Rocha) e Penedinho (Teodomiro). O primeiro, companheiro de Adília (que havia sido enviada para a ribeirinha Propriá), e o segundo um primo desta. O que se imaginava em relação de amizade - e até de parentesco, pois também conterrâneos de Poço Redondo -, logo se transformou em traição. Certamente premeditando facilitar sua entrega (vez que cangaceiro que matasse cangaceiro recebia melhor tratamento do comando policial), então Penedinho aproveitou que Canário estava de costas, defronte ao lajedo, e fez um disparo certeiro. O companheiro de Adília sequer esboçou reação. Caiu sem vida por cima das pedras brancas e ali permaneceu. Ato contínuo, o matador atravessou o sertões de Poço Redondo e seguiu até a baiana Serra Negra, após a divisa, para contar ao comandante Zé Rufino de seu feito. Interrogado, disse ainda sobre a possível existência de dinheiro e ouro escondidos por Canário nos arredores. E coisa muita! Ávido por relíquias do cangaço, famoso salteador de despojos cangaceiros, então o famoso comandante foi quase voando até o Cururipe. Não se sabe ao certo o que encontrou das riquezas do cangaço, mas se sabe que passou o facão no defunto e retornou levando a cabeça. O restante do corpo acabou sendo enterrado por terceiros debaixo de um umbuzeiro logo adiante. Na foto abaixo, o lajedo onde Canário tombou para a morte.
FOTO 01-- Rangel Alves Costa..
FOTO 02--Cortesia Dr. Sérgio Dantas/Blog doMendes
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