Por Júnior Almeida
Conselheiros
Cariri Cangaço, João de Sousa Lima e Jorge Remígio
Cimbres é uma
pequena vila que pertence ao município de Pesqueira, no agreste de Pernambuco,
e está dentro das terras da reserva dos índios da etnia Xucuru, e foi nesse
cenário, no Sítio Guarda, que conta a história que Nossa Senhora apareceu para
duas adolescentes. Corria 6 de agosto de 1936 e o agricultor Arthur Teixeira
mandou sua filha Maria da Luz Teixeira de Carvalho de 13 anos com Maria da
Conceição de 16 fossem na mata perto de sua casa apanhar mamona.
Maria da Luz, de 13 anos e Maria da Conceição, de 16 anos, adolescentes que relatam ter visto a Virgem em Cimbres.
As meninas
estavam assustadas com as notícias que davam conta do bando de Lampião na
região, mas, foram mesmo assim, conversando justamente sobre isso. A menina
Maria da Luz perguntou a Maria da Conceição o que ela faria se naquele momento
Lampião chegasse ao local com seu bando. De pronto a garota respondeu que Nossa
Senhora haveria de dar um jeito para o cangaceiro malvado não as ofender.
Ao proferir
tais palavras, Maria da Conceição olhou em direção à serra e ficou algum tempo
sem entender o que via e o que estava acontecendo. Viu no alto da serra uma
bela mulher com uma criança no colo, que acenando com a mão as chamava até ela.
Maria da Conceição apontou para o local mostrando à colega e descrevendo o que
via. Maria da Luz também viu, mas as duas não foram até a mulher que as
chamava. Voltaram pra casa assustadas. A princípio as meninas não disseram o
que aconteceu, mas terminaram por revelar o que tinham visto. Arthur Teixeira pai de Maria da Luz, quis repreender as meninas, argumentando que elas estavam
enganadas, mas desistiu por conselhos da esposa. Junto com o casal, as meninas
voltaram ao local da aparição. No mesmo lugar em que tinham visto a bela
senhora, as meninas tornaram a vê-la, mas Arthur e sua esposa não viam nada.
Como dessa vez as meninas estavam mais perto da gruta da aparição, perguntaram
quem era aquela senhora, e ouviram como resposta: “- Eu sou a Graça”.
Lampião, Padre
Kherle, NS das Graças e Irmã Adélia.
As meninas
perguntaram o que a Senhora queria ali, e Nossa Senhora disse que tinha vindo
avisar que viriam três castigos mandados por Deus, e recomendou que o povo
rezasse e fizesse penitência.
A notícia se
espalhou rapidamente pela região e de toda parte chegaram fiéis e curiosos na
esperança de também verem Nossa Senhora. Com três dias depois da primeira
aparição parte do povo dizia que só acreditava se tivesse um sinal que todos
pudessem ver. Tristes, as meninas então pediram à santa que ela desse um sinal
que provasse que elas não estavam mentindo. A imagem concordou, e no dia
seguinte, 10 de agosto, logo cedo, as meninas foram ao local e viram que saía
água da rocha em frente ao lugar da aparição, além de duas pegadas na pedra, de
uma mulher e de uma criança. As meninas ainda ouviram da Senhora que aquela
água era “para curar doenças”. Felizes, as meninas foram pra casa a fim de
dizer a mãe o que tinha acontecido.
As moças foram
depois submetidas a exames psicológicos e declaradas “normais” pelo médico
Lydio Parayba. A Igreja Católica, através da Diocese de Pesqueira, mandou o
padre alemão José Kehrle, aquele mesmo que em 1923 impediu que Lampião acabasse
o casamento da prima Maria Licor, em Nazaré do Pico, investigar a história. Ele
sabendo que as meninas não eram alfabetizadas e, para ter certeza de que elas
realmente estavam vendo a mãe do filho de Deus, fez perguntas em alemão e
latim, e as meninas respondiam em português o que a aparição lhes mandava.
Depois desses questionamentos, o padre Kehrle e o frei Estevão Rottiger, que também
confiou no relato, acreditaram que as meninas realmente tinham visto Nossa
Senhora das Graças, conforme registros no diário do padre Kherle, que dizia:
-“Elas pediram
um sinal para que as pessoas acreditassem nas aparições. Desde então, começou a
sair água de dentro da pedra, como uma fonte, e sai até hoje”. Padre José
Kherle juntamente com Frei Estevão foram os responsáveis pela entrada de Maria
da Luz na vida religiosa, quando essa demonstrou interesse em servir a Cristo.
Junto com Arthur, pai da menina, tentaram inscrevê-la no Colégio Santa Dorotéia
em Pesqueira, que se recusou receber a vidente do Sítio Guarda, em Cimbres. Com
a negativa da instituição, os padres escreveram às Irmãs Beneditinas de
Caruaru, pedindo a admissão de Maria da Luz, mas antes das respostas os
religiosos receberam convites do Colégio Santa Sofia, de Garanhuns, da
congregação das Damas da Instrução Cristã, se prontificando a recebê-la. Maria
da Luz viajou para Garanhuns onde foi aceita sem dificuldades.
Após alguns
anos nota-se Nossa Senhora tinha escolhido Maria da Luz para servir a Deus e em
dezembro de 1940, já se preparava para a primeira vestição, recebendo o nome de
sóror Adélia, prestando votos no Recife, de onde percorreu várias casas da
congregação em Nazaré da Mata, Campina Grande, Carpina, Vitória de Santo Antão
e Itamaracá. Irmã Adélia faleceu no Hospital Português na capital pernambucana
em 13 de outubro de 2013 aos 91 anos de idade e foi sepultada no Cemitério de
Santo Amaro naquela cidade.
Junior
Almeida, pesquisador e escritor
Conselheiro
Cariri Cangaço
Capoeiras, PE
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