Por Renato Casimiro
Renato Casimiro, Manoel Severo e Luitgarde Barros
Boa Tarde para Você, Luitgarde Oliveira Cavalcanti
Barros. Como a 43 anos já passados e vividos, será muito prazeroso, logo
mais, abraçá-la neste reencontro durante a abertura do IV Simpósio
Internacional sobre Padre Cícero, aqui no Memorial. Será inevitável, Luitgarde,
que me ocorram velhas lembranças desde aquele dia, numa manhã ensolarada de
domingo, na residência de Mons. Azarias Sobreira, em Fortaleza, quando dele
recebi a incumbência para protegê-la e facilitar-lhe a vida nas pesquisas a
caminho do Juazeiro.
O que foi possível fazer desde então, varou este novo
século, carregando para a atualidade uma maravilhosa vivência de nossas
famílias, de tantas outras famílias deste Cariri, em torno da memória e das
histórias destas nossas terras. Pena que o tempo abateu do nosso convívio um
grupo numeroso de gente maravilhosa que fazia este relacionamento, velhas e
amadas criaturas, guardiãs da tradição e de afetos que marcaram definitivamente
os nossos trajetos curiosos.
Agora você está de volta, aos apelos intransferíveis dos que
partilharam grandes emoções, trabalhos e reflexões acadêmicas, para revisitar
os caminhos antigos. E aí, jagunça? (para lembrar-lhe o apelido posto e
merecido, do seu velho colega docente de faculdade, Darci Ribeiro), que ânimo
ainda lhe traz a esta santa terra do Tabuleiro Grande, em busca dos caminhos de
nosso Patriarca?
Padre Roserlânido, Luitgarde Barros e Aderbal Nogueira
No começo de 1971, Luit, você era uma estudante na UFRJ e
depois na PUC de São Paulo, e chegou aqui para realizar a pesquisa que
redundaria no belíssimo A Terra da Mãe de Deus, sua dissertação de mestrado,
depois tornada livro de leitura e menção obrigatórias a quem desejasse
continuar-lhe a missão. Fazia pouco, mas você havia deixado a
Fisioterapia, graduação anterior pela Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro,
em 1966, para se tornar antropóloga, licenciando-se e bacharelando-se em
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1968.
Daí por diante, foi o que vimos e pelo qual tanto vibramos:
Doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, em 1980; Pós-Doutorado em Antropologia pela UNICAMP, em 1999 e, de novo,
outro Pós Doutorado em Ciência da Literatura pela UFRJ, em 2008. Invejo-a,
Luite, por vê-la sempre com tanto gás, agora, depois da aposentadoria na UFRJ,
novamente professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), tanto
em graduação quanto em pós-graduação, porque não é fácil, e seria temeroso,
dispensar a sua larga experiência na área de Antropologia, com ênfase nos temas
de pensamento social brasileiro, movimentos sociais, catolicismo popular,
antropologia política, antropologia da violência, antropologia da literatura,
memória e história oral.
Tenho num canto especial da biblioteca aqui de casa, com
grande afeição, o ajuntamento magnífico das leituras de quase tudo o que você
produziu nestes anos em livros sobre Padre Cícero, Arthur Ramos, Lampião,
Nelson Werneck Sodré, Octávio Brandão, Nise da Silveira, Guerra-Peixe e a
memória e a história oral dos bairros portuários do Rio de Janeiro, bem como
uma boa parte da mais de uma centena de capítulos de livros e artigos em periódicos
e jornais, no Brasil e no exterior.
Aí eu a encontro, firme, ereta, digna e competente para
transitar leve e solta por conteúdos tão apaixonantes. Aí eu a encontro
irredutível nas suas convicções, a não fazer concessões fáceis e a
interpretações simplórias que nos ajudam a compreender esta realidade que ainda
nos cerca, por exemplo, no contexto da grande nação romeira.
Seja bem vinda a esta sua terra, professora Luitgarde
Barros, você que é cidadã juazeirense de tantos méritos. Méritos estes
lembrados por serviços continuados de permanente atenção a tantos quantos que
se socorreram da sua competência em todos estes anos.
Renato Casimiro, Juazeiro do Norte
(Crônica lida durante o Jornal da Tarde, da FM Padre Cícero,
Juazeiro do Norte, em 17.11.2014)
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