O artesanato brasileiro firma-se cada vez mais na Europa e nos Estados Unidos, assim como a literatura de cordel. E por falar em artesanato, vamos ao Parque Estadual do Jalapão, região leste de Tocantins. No vilarejo de Mumbuca, município de Mateiros, teve início à arte com um capim do campo chamado capim-dourado. Com ele a comunidade quilombola fabrica bolsas, brincos, cestas e muitos outros objetos que ficam parecidos mesmo com mercadorias de ouro tal o brilho dourado do capim. Lá fora algumas peças podem custar até 500 dólares. A comunidade é pobre, onde tudo falta. O capim colhido na região do parque vem por inteiro e não deixa sementes para a perpetuação da planta. A escassez do produto já teve início e preocupa as próprias artesãs.
CAPIM DOURADO. FOTO: (GUIA TURÍSTICO BRASIL).
Isso faz lembrar o artesanato sertanejo de Santana do Ipanema e Poço das Trincheiras, baseado no barro, no cipó e na palha do coqueiro Ouricuri. A região da antiga Lagoa do Mijo – atual povoado Alto do Tamanduá e Baixa do Tamanduá – fica na fronteira dos dois municípios, servida pela BR-316. Ali se fabricava bem as panelas de barro, jarras, potes, porrões, brinquedos como o boi e éguas com caçuás. Enquanto as mulheres confeccionavam no barro vermelho, os homens trabalhavam com cipós fazendo balaios e caçuás. O barro foi ficando escasso e o desmatamento fez desaparecer os cipós, parasitas de grandes árvores da caatinga. E agora, como ficam as comunidades?
No Bebedouro/Maniçoba, bairro de Santana do Ipanema, as artesãs trabalhavam com palha de coqueiro Ouricuri, fazendo chapéus, abanos e esteira-de-caboclo. Devido aos velhos costumes de queimadas nos roçados, os coqueiros também sofreram muito com as queimaduras. Centenas e centenas desapareceram e outros deixaram de produzir a palha e o coco. Vai ficando cada vez mais raro encontrar esses produtos nas feiras da região sertaneja, inclusive, o tão delicioso “rosário-de-coco”, nas feiras de Semana Santa.
A brutalidade e a ignorância contra a Natureza vão acabando com tudo. É o trator humano sobre o paraíso vegetal da Lagoa do Mijo ao Jalapão.
Na manhã desta
segunda-feira, 26, representantes da Reitoria, Associação dos Docentes da UERN
(ADUERN), Sindicato dos Técnicos Administrativos da UERN (Sintauern) e
Diretório Central dos Estudantes (DCE) estiveram mais uma vez reunidos com
representantes do Governo do Estado para negociar uma solução para os impasses
que provocaram a greve dos professores e técnicos da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN).
A reunião
iniciou com fala da secretária chefe de gabinete Tatiana Mendes Cunha fazendo
um apelo pelo fim do movimento paredista. Ela argumentou que os servidores da
UERN não estão sós nessa situação de atrasos salariais. “Estamos preocupados
com os alunos”, argumentou.
A palavra foi
concedida a presidente da Aduern, Rivânia Moura, cobrou uma proposta de um
calendário de pagamento por parte do Governo e lembrou que as últimas
tentativas da atual administração não tiveram êxito. “Estamos abertos a pensar
possibilidades”, avisou.
O presidente
do Sintauern, Elineudo Melo, avaliou que a ausência de uma proposta concreta
dificulta o fim da greve. “Fica muito difícil retornar as nossas bases com essa
conversa porque a nossa categoria não vai aceitar”, declarou.
A coordenadora
do DCE Glisiany Plúvia lembrou que preferia estar em sala de aula, mas lamentou
que a falta de alternativas impede o fim da greve. “Eu queria estar estudando e
não estar aqui numa reunião sem qualquer proposta”, afirmou.
O reitor Pedro
Fernandes Ribeiro Neto criticou a ausência de propostas para se chegar a um
entendimento. “Estamos em uma situação que não existe uma proposta que seja
clara. A gente vem aqui hoje sentar para buscar uma alternativa”, frisou.
Em seguida,
Pedro Fernandes reforçou a necessidade do governador se fazer presente nas
reuniões e apresentou ofícios solicitando a presença de Robinson Faria nas
negociações. “Nós precisamos encontrar uma alternativa para que a gente retome
as atividades porque quem forma professores no interior do Estado somos nós”,
acrescentou.
O deputado
estadual Souza Neto reforçou as cobranças por uma proposta. “O que não pode é a
gente sair de uma reunião como essa sem nada de concreto. A gente precisa sair
dessa reunião com alguma coisa”, declarou.
A deputada
estadual Larissa Rosado disse não entender como o Governo do Estado não
consegue apresentar uma proposta. “Venho aqui reforçar o apelo dos professores,
técnicos e alunos. Converso tanto com vocês quanto com doutora Tatiana. Os
trabalhadores querem voltar, mas é desmoralizante esse retorno sem proposta. É
importante que a gente saia com uma proposta daqui”, destacou.
O secretário
estadual de planejamento Gustavo Nogueira explicou que a arrecadação é para
arcar com despesas e ela está menor do que 2014, mas disse viver a expectativa
de que a situação melhore. “Mas são necessárias receitas extraordinárias para
que o Estado ponha a folha em dia”, declarou.
Os
representantes do Governo do Estado não apresentaram propostas alegando a
situação financeira que ainda é difícil.
Estiveram na
reunião o chefe de gabinete Zezineto Mendes, a pró-reitora adjunta de recursos
humanos Jessica Figueredo, o assessor jurídico Humberto Fernandes, o subchefe
de gabinete Esdras Marchezan e o diretor do campus de Natal Francisco Dantas.
Ainda esteve presente do dirigente nacional do Sindicato Nacional dos Docentes
dos da Entidades de Ensino Superior (Andes) Josevaldo Cunha além de outros
dirigentes de entidades sindicais.
Autonomia
Ao final o reitor
Pedro Fernandes reforçou a necessidade de se aprovar a autonomia financeira da
UERN. “Nós temos um projeto pronto e discutido com toda comunidade acadêmica”,
frisou.
ADUERN,
Sintauern, DCE, Reitoria e representantes dos comandos de greve técnico e
docente, participaram, na manhã de hoje (26) de audiência com o Governo do
Estado, que novamente afirmou não ter nenhuma proposta para os servidores e
servidoras, que amargam o atraso no pagamento dos salários de Janeiro,
Fevereiro e do 13º de 2017.
Para a chefa
de Gabinete do RN, Tatiana Mendes Cunha, não há nenhum motivo para que os
servidores da UERN estejam em greve, uma vez que a situação caótica do estado
tem atingido todas as outras categorias e que o tratamento relegado à
universidade não é diferente do que outros trabalhadores e trabalhadoras do
funcionalismo público estadual vêm recebendo.
“Não há nenhum
tratamento diferenciado com a UERN, ela está recebendo nos mesmos moldes que
outras categorias à exceção da segurança, que teve tratamento diferenciado. A
saúde está sendo paga graças a um recurso federal, que tem garantido os
salários dos ativos em dia. A educação básica tem recebido graças aos recursos
do FUNDEB. Faço esta reunião como um apelo para que a UERN acabe com esta
greve. Não concordamos que haja motivos para continuar um movimento deste por
tanto tempo. Ninguém deve ficar tanto tempo sem trabalhar” afirmou a
Secretária.
A presidenta
da ADUERN, Rivânia Moura rebateu a fala de Tatiana lembrando que nenhum
trabalhador, de qualquer categoria, pode ser obrigado a trabalhar sem receber
salários. Rivânia destacou o documento conjunto elaborado pela Reitoria ADUERN,
SINTAUERN e DCE que demonstra a preocupação e a responsabilidade com a
Universidade bem como a disposição para o diálogo com o governo.
Ressaltou que
o apelo deve ser feito para o governo e que não há possibilidade de encerrar o
movimento grevista sem que haja uma proposta coerente para os servidores da
universidade.
O Presidente
do SINTAUERN, Elineudo Melo, rebateu o apelo feito pela chefa de gabinete
mostrando que diariamente recebe apelo dos técnicos da universidade, que, em
função dos atrasos salariais tem tido dificuldades para garantir necessidades
básicas como transporte e alimentação.
“Não
pensávamos que estaríamos hoje lutando para receber nossos salários. Nossa
expectativa era que receberíamos janeiro e fevereiro em dia. Não vamos sair
daqui e pedir para a categoria voltar a trabalhar sem seus salários, temos servidores
que estão pagando para trabalhar” destacou o Presidente do Sintauern,
Elineudo Mello.
A estudante
Glisiany Plúvia, que preside o DCE da UERN, foi enfática em afirmar que os
estudantes querem o fim do movimento grevista, mas que isso não pode
acontecer antes que os salários dos servidores sejam pagos e as bolsas
estudantis sejam garantidas. Ela lembrou que a luta em defesa da universidade é
cotidiana e o descaso do Governo é um verdadeiro inimigo para o funcionamento
da instituição.
“Eu queria
estar estudando. Não queria estar numa reunião com um Governo que não apresenta
nenhuma proposta. Quem estuda na UERN sabe que lutamos cotidianamente por uma
série de coisas: condições de estudo, melhorias na estrutura, bolsas estudantis
em dia, segurança. Como o Governo diz se preocupar com a greve e os impactos
dela no SISU se não apresenta nenhuma alternativa que resolva esta crise?”
questionou a Presidenta do DCE Glisiany Pluvia
O Reitor da
UERN, Pedro Fernandes, também foi taxativo na defesa do movimento grevista.
Ele lembrou que em algum momento tentou dialogar com as categorias para que o
movimento fosse encerrado, mas a crise se tornou tão aguda e agressiva na vida
dos servidores da UERN, que é impossível retornar aos postos de trabalho sem
nenhuma proposta para as categorias.
“ Em algum
momento chegamos a pedir o fim da greve, mas não tem como. É impossível chegar
para os professores e para os técnicos e pedir que voltem a trabalhar sem
nenhuma proposta que coloque os salários em dia. Não tem como pedir que um
servidor trabalhe sem receber. Esperamos a sensibilidade do Governo para que
encontre uma alternativa para esta situação” destacou o Reitor Pedro Fernandes,
lembrando que foi enviado um ofício unificado dos segmentos da universidade ao
Governo cobrando uma proposta que resolva a crise.
Participaram
da audiência também, o dirigente do Sindicato Nacional dos Docentes das
Insituições de Ensino Superior (ANDES), Josevaldo Cunha, os parlamentares
Larissa Rosado (PSB) e Souza Neto (PHS) além de representantes da equipe
administrativa da UERN. Todos fizeram intervenção no sentido de tentar
encontrar junto ao governo uma proposta para que as categorias em greve possam
avaliar.
Repasse
sindical – A presidenta da ADUERN, Rivânia Moura, aproveitou a audiência
para cobrar o repasse das consignações sindicais da ADUERN, atrasados há 4
meses ( novembro, dezembro, janeiro e fevereiro). O Governo vem descontando as
porcentagens dos salários dos sindicalizados e não envia os valores para as
contas do sindicato.
O secretário
de finanças, Gustavo Nogueira, afirmou desconhecer os reais motivos para o
atraso dos repasses. Ele disse que o Governo tem tentado manter em dia este compromisso
e que buscaria maiores informações para solucionar essa questão.
Aposentados –
O secretário de administração Christiano Feitosa, explicou que para o
Governo os aposentados da UERN, bem como os inativos de todas as categorias do
funcionalismo público estadual, devem ser levados para o IPERN, que é o sistema
único de previdência do Estado. Para o secretário, a mudança não vai alterar o
direito dos aposentados, inclusive no que diz respeito ao auxílio saúde. Para a
ADUERN, a justificativa não é convincente e desrespeita uma importante
reivindicação da categoria.
Excelente livro de Genealogia e
História do Seridó do Rio Grande do Norte, fazendo referência ao Sertão Paraibano,
de Olavo de Medeiros Filho. São 475 páginas de conteúdos de primeira linha. O
autor, já falecido, deixou um legado literário invejável.
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Quando o
cangaceiro Manoel Caetano foi preso, em 1928, revelou que o cangaceiro Livino,
vulgo Vassoura, só morreu oito dias após o combate no povoado Tenório,
município de Flores - PE. Livino foi ferido na madrugada de 5 de julho de 1925,
se ele faleceu 8 dias depois, sua morte foi no dia 13 de julho. Em novembro de
1925, completaria 29 anos de idade.
REFERÊNCIA
IRMÃO, José Bezerra Lima. Lampião: a raposa das caatingas. 1ª ed. Salvador: JM
Gráfica, 2014.
MACIEL,
Frederico Bezerra. Lampião, seu tempo e seu reinado: A guerra de guerrilhas
(fase de vinditas) Vol. II. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 173.
P.S.: A
cantora Marinês (Inês Caetano de Oliveira) era filha do ex-cangaceiro do bando
de Lampião, Manoel Caetano de Oliveira. Será que é o mesmo?
Edvaldo
Feitosa, pesquisador, nos fala um pouco da Fazenda Cobra, pertencente ao Cel.
Ulisses Luna. Esse casarão apareceu na mini serie sobre cangaço ENTRE IRMÃS
O sertão
nordestino andava em frangalhos pelas ações dos bandos de cangaceiros e pela
violenta maneira de agir dos componentes das volantes perseguidoras.
Aquelas
pessoas que se encontravam no meio da ‘coisa’, os vaqueiros, lavradores,
meeiros, posseiros e etc., em fim, os camponeses, e mesmo alguns que moravam
nas vilas, povoados e pequenas cidades, sofriam a peste quando se encontravam
com um bande de cangaceiros e, às vezes, pior ainda, quando se encontravam com
uma volante perseguidora de bandoleiros. Poderíamos dizer com total segurança
que o velho ditado: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, para elas
cairia como uma luva.
O pesquisador
Aderbal Nogueira, em mais um belíssimo trabalho jornalístico vem nos mostrar a
parte, ou parte, da violência pratica pelos volantes na época do cangaço.
Os cangaceiros praticaram violência com suas vítimas, isso é sabido por todos,
porém, a violência aplicada nos sertanejos por integrantes da Força Policial
não é do conhecimento de todos.
Aqueles que
sabem como foi, ou mesmo aqueles que padeceram debaixo do chicote dos volantes,
não disseram por medo de represália. Em contrapartida a maioria dos depoimentos
contidos nesse documentário são de ex-volantes que integraram a Força Pública
de vários, e em vários, Estados da Região.
“Depoimentos
sobre a violência policial no tempo do cangaço. Poderia ter feito inúmeros
vídeos mostrando a violência dos Cangaceiros, mas isso... todos já sabem. Esse
vídeo foi feito para reflexão e também para fazer um paralelo com a violência
dos dias de hoje.”
O povo falava que Lampião tinha passado por aqui e tinha umas armas guardadas…”. Foi assim que dona Ilma de Oliveira começou a contar a história que sempre ouviu dos mais velhos. A senhora de cinquenta e poucos anos mora na casa que serviu de apoio aos cangaceiros em 10 de junho de 1927. Naquele dia de madrugada Lampião e seu bando entravam em terras potiguares. Eles chegaram pela Paraíba, cruzaram a divisa dos estados e apearam-se bem na casa onde dona Ilma criou os três filhos. A estrutura é quase a mesma: paredes largas, teto alto, tornos de madeira e caritós para guardar objetos. “Até um tempo desse os familiares do antigo dono ainda vinha aqui olhar e recordar”, conta.
A casa que fica no sítio baixio, no pé da Serra de Luís Gomes, pertencia a familiares dos cangaceiros Massilon Leite e Pinga-fogo. Massilon era ‘os olhos e ouvidos’ do líder pelas bandas do sertão potiguar. Era ele o responsável por guiar os homens do cangaço no plano de atacar a cidade próspera de Mossoró.
A recepção durou pouco. Quando amanheceu os cangaceiros se embrenharam na caatinga. Galoparam por veredas, saquearam fazendas e fizeram prisioneiros. Na Fazenda Nova, onde hoje é o município de Major Sales, até o padrinho de Massilon, coronel Joaquim Moreira, foi sequestrado. Na fazenda vizinha de Aroeira, onde hoje é a cidade de Paraná, eles fizeram mais uma refém: a senhora Maria José foi levada pelo bando que seguia despistando a polícia e invadindo propriedades.
“A passagem do bando de Lampião pelo RN está qualificada como banditismo, pois tem casos de assalto, assassinato e uma novidade que até então não tinha aqui que era o sequestro”, explicou o pesquisador Rostand Medeiros que já fez o mesmo trajeto de Lampião no RN algumas vezes. “Depois desses ataques na manhã do dia 10, o bando continuou subindo e praticando todo tipo de desordem”, lembrou.
Para seguirem sem alardes os cangaceiros evitavam a passagem por centros urbanos mais desenvolvidos e desviavam de estradas reais, aquelas por onde passava o gado e o movimento era maior. O objetivo era evitar confrontos para não desperdiçar munição e nem perder homens, já que ainda tinha muito caminho até Mossoró.
Mais ataques
Na tardinha do dia 10 de junho de 1927 o grupo chegava na Vila Vitória, território que hoje pertence ao município de Marcelino Vieira. No povoado ainda é possível encontrar casas remanescentes da época, e algumas até com sinais da violência praticada pelo bando. Na casa de dona Maria Emília da Silva, por exemplo, eles deixaram marcas de boca de fuzil. Era comum bater com as armas na madeira para assustar os donos da casa. “Eles só foram embora quando viram o retrato de Padre Cícero. Onde tinha retrato de Padre Cícero ele não fazia nada”, contou.
Na comunidade vizinha os cangaceiros saquearam a casa onde mora dona Terezinha de Jesus. A casa é antiga, do ano de 1904, mas ainda mantém a estrutura da época. A aposentada conta que o pai avistou de longe quando o bando chegava, mas não teve tempo de fugir. Na casa, eles procuraram joias, armas e dinheiro. “Eles iam a cavalo e armados. Papai dizia que para montar era um serviço grande porque estavam pesados com armas”, disse Dona Terezinha ao mostrar o quarto dos fundos onde ficam guardados os baús alvos dos cangaceiros. “Deixavam as roupas tudo no chão. Jogavam tudo atrás de dinheiro. Aí dinheiro não tinha. Naquela época era difícil, né? Mas se achassem podiam levar. Era o que diziam”, contou dona Terezinha enquanto acendia a lamparina para mostrar os objetos preservados.
Depoimentos de testemunhas e vítimas da vila Vitória compõem o processo contra Lampião que tramitou na Comarca de Pau dos Ferros.
Fogo da Caiçara: O primeiro combate militar contra Lampião no RN
A notícia de que o bando estava invadindo propriedades na Vila Vitória mobilizou a força militar. A polícia juntou homens para enfrentar os cangaceiros. O combate aconteceu no local onde hoje é o açude de Marcelino Vieira. “Por conta da seca é possível ver exatamente onde ocorreu o primeiro combate militar contra a invasão do bando no estado. Essas plantas que estavam cobertas de água ainda podem testemunhar esse fato”, disse o historiador Romualdo Carneiro ao mostrar as marcas de tiros que ficaram nos pés de canafístulas.
Quando o combate começou a caatinga se acinzentou com a queima da pólvora dos rifles e espingardas dos dois grupos em guerra. O agricultor Pedro Felix ouviu o pai contar como foi: “Muito tiro. Muito tiro. Chega assombrava o povo que só pensava em fugir”.
O escritor Sergio Dantas, conta em seu livro “Lampião e o Rio Grande do Norte: a história da grande jornada”, que o tiroteio durou trinta minutos. Os cangaceiros, em maior número e treinados na guerrilha da caatinga, puseram a frota militar ao recuo.
No confronto morreram o soldado José Monteiro de Matos e um cangaceiro conhecido como Azulão.
Os moradores da região até hoje se referem ao soldado como sendo um herói.
“Quando acabou a munição os outros foram embora, mas ele disse ‘eu morro, mas não corro!’ e morreu lutando.” contou seu Pedro ao apontar para os restos de tijolos do antigo monumento construído em homenagem ao soldado. “Era bem aqui que tinha uma cruz pra ele, mas quando fizeram o açude levaram lá pro outro lado”, explicou.
Ainda hoje o local onde está o monumento recebe visitações. Todo dia 10 de junho a figura do soldado é homenageada pelos moradores que fazem celebrações. A missa do soldado virou um evento no povoado.
Fim da festa, não do medo
Não demorou para o bando chegar ao povoado de Boa Esperança, local onde hoje é o município de Antônio Martins. O ataque aconteceu em frente a igrejinha da comunidade onde acontecia a festa de Santo Antônio. “Em vez de recepcionar a banda de música para a novena do padroeiro os devotos foram surpreendidos com a chegada dos cangaceiros que bagunçaram as casas, saquearam o comércio, quebraram melancia na cabeça do dono e acabaram com a festa”, contou o historiador Chagas Cristovão.
O principal comércio da época ficava ao lado da Igrejinha. O prédio ainda guarda as características de antigamente. Relatos dão conta de que na tarde do ataque o bando só foi embora depois que uma senhora implorou. “Atendendo ao pedido de Rosina Maria, que era da mesma terra de Lampião, o bando deixou o vilarejo e seguiu rumo a Mossoró.”, concluiu o historiador.
Mesmo depois que os cangaceiros se debandaram o medo permaneceu entre os moradores. Houve até quem fizesse promessa para não sofrer as maldades do bando. Hoje dá pra avistar no alto da serra, uma capelinha construída para agradecer a proteção.
O massacre
Eram altas horas da noite do dia 11 de junho quando o bando entrava na Vila de Lucrécia. Uma das casas invadidas na Fazenda Serrota continua preservada. Na janela estão as marcas de tiros e nas paredes os retratos daqueles que estiveram frente a frente com Lampião. “Quem morava aqui eram meus avós Egídio Dias e Donatila Dias. Eles amarraram Egídio Dias e levaram ele lá pro Caboré.”, contou o aposentado Raimundo Leite, que mora ao lado da antiga casa dos avós.
Caboré é um sítio que fica a poucos quilômetros da Fazenda. O prisioneiro teria sido levado por uma estrada de terra onde hoje é a RN 072. Os cangaceiros pediram dez contos de reis para poder soltar o fazendeiro. “Um grupo de mais de dez homens foi até lá pra tentar salvar Egídio, mas foi surpreendido por uma emboscada. Três homens acabaram mortos.”, relatou a pedagoga Antônia Costa.
No local do massacre foi construído um monumento em homenagem aos homens. Em Lucrécia eles são reconhecidos como heróis. “Todo dia 11 de junho tem programação na cidade em memória de Francisco Canela, Bartolomeu Paulo e Sebastião Trajano”, enfatizou a pedagoga.
Egídio Dias fugiu. Permaneceu várias horas no mato. Só depois que o bando foi embora ele conseguiu voltar para o convívio da família.
O bando seguiu desafiando a caatinga. Os rastros de destruição ficavam pelas propriedades. Na manhãzinha do dia 12 eles entraram na Fazenda Campos, onde hoje é território de Umarizal. Na casa grande, que estava abandonada pelos donos amedrontados, eles ficaram pouco tempo até pegarem a estrada de novo. Uma marcha que parecia não ter fim.
Horas depois eles chegaram ao povoado de São Sebastião, hoje Governador Dix Sept Rosado. “Meu pai conta que Lampião passou na Estação de Trem e fez muita bagunça. Aí o povo do sítio era tudo no mato com medo. Meu pai mesmo dormiu muitas noites no mato, com medo”, relembra seu Maurilio Virgílio, aposentado de 75 anos que hoje mora pertinho da Estação alvo dos ataques.
Os cangaceiros ainda saquearam o comércio, queimaram os vagões do trem e destruíram o telégrafo. Mas antes disso, um agente da Estação conseguiu mandar uma mensagem para Mossoró informando que o bando estava a caminho.
Foi o tempo de Mossoró se preparar para a luta. E a cidade tava mesmo preparada. Quando receberam o recado que Lampião e seu bando estava por vir, autoridades e outras personalidades da época se uniram, chamaram os moradores e começaram a montar as estratégias de defesa. Essas pessoas que venceram o combate 90 anos atrás são conhecidos como heróis da resistência.
“Foi um feito heroico de um grupo de cidadãos e cidadãs, que se juntou pra defender a cidade. Quando eu olho para a resistência ao bando de lampião, eu não vejo uma individualidade, vejo um ato de cidadania, de coragem que esse grupo frente à sua vida, à sua cidade”, diz o historiador Lemuel Rodrigues.
Noventa anos depois, os resistentes já se foram, mas ficou o legado. Ter um herói na família é motivo de orgulho para muitos mossoroenses. Algumas figuras estavam na linha de frente e lideraram a defesa da cidade contra o bando de Lampião. Tenente Laurentino, por exemplo, organizou as trincheiras e montou o plano de resistência com o apoio dos civis, todos liderados pelo prefeito Rodolfo Fernandes.
De acordo com os registros da época, o confronto entre os moradores e o bando de lampião durou cerca de quarenta minutos. Quase 170 homens participaram da defesa da cidade e ficaram espalhados em 23 trincheiras no centro de Mossoró. Uma delas teve papel fundamental para o sucesso do combate: a torre da capela de São Vicente que era o ponto mais alto de Mossoró. Do local, os resistentes tinham uma visão privilegiada. Três homens ficaram na torre e surpreenderam os cangaceiros.
“Manoel Felix, Tel Teófilo e Manoel Alves eram os três homens que estava no Alto da Torre. A partir daí, eles começaram a informar que os cangaceiros estavam vindo do lado de cá, na lateral da capela. E nesse momento, eles passam a ser revidados e deixam de ser atiradores para se tornarem alvos”, explicou o historiador Kydelmir Dantas.
Os homens que ficaram lá em cima não foram atingidos, mas as marcas dos tiros ainda permanecem no alto da torre. A capela que serviu de trincheira e guarda um dos maiores símbolos do combate de 13 de junho de 1927, dia em que Lampião e seu bando bateram retirada de Mossoró.