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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

MEMORIAL LUIZ GONZAGA - RECIFE -PE

Foto: MEMORIAL LUIZ GONZAGA - RECIFE-PE

Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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Joca do Brejão e a Saga dos Terésios

Por: João Macedo
Foto
Bosco André e Manoel Severo ladeando Joca Coelho, pai do autor deste artigo e neto do lendário Joca do Brejão.

No século XVIII, ainda em sua primeira metade, entre os primeiros colonizadores do Cariri, inscreve-se um alagoano de nome José Paes Landim. Foi ele o fundador do Engenho de Santa Teresa, encravado em terras na ribeira do rio Salamanca, entre Missão Velha e Barbalha. De seu casamento com Geralda Rabelo Duarte origina-se a numerosa prole designada de Terésios pelo historiador Joao Brigido. O antigo Engenho de Santa Teresa contempla várias propriedades rurais, todas historicamente orientadas para a cultura de cana de açúcar e fabricacão de rapadura. São lugares ainda hoje facilmente visitados , bastando sair da rodovia que liga Missao Velha à Barbalha, e pegar à direita estrada carrossal que se inicia no sitio Carnaúba em direção à Barbalha. Passando-se pela vila de Santa Teresa, margeando um verde vale, adiante alcançamos o Brejão. Neste território viveu no inicio do século XX o coronel João Raimundo de Macedo, conhecido como Joca do Brejão.

Filho de D. Jacinta Maria de Jesus, a D. Iaiá, com Raimundo Antônio de Macedo (Mundoca). De seu primeiro casamento, D. Iaiá teve como segundo filho o legendário coronel Antônio Joaquim de Santana (coronel Santana), que morava distante dali, ou seja, na Serra do Mato, nas bordas da chapada do Araripe. Com a idade avançada, o coronel Santana voltou ao vale-matriz dos Terésios, onde veio a falecer em casa ainda hoje existente, e que pode ser facilmente avistada transitando-se por aquela mesma rodovia caririense.

Por sua posição geográfica privilegiada, espécie de paraíso entre o Cariri e o sertão, e pelas conhecidas características pessoais do coronel Santana, a Serra do Mato se constituiu em local de visita assídua de Lampião. Aliás, as incursões do bandoleiro no Cariri costumavam ser nas escarpas da chapada e no lado oriental da região, saindo de Porteiras, Brejo Santo, passando por Milagres, Missão Velha, pelos lados da Cachoeira, e as bandas da Aurora. É possível, portanto, que o líder maior do cangaço jamais tivesse passado pelo Brejão do coronel Joca, um vale mais densamente povoado, na vizinhança de Barbalha e da movimentada Juazeiro.

Com a tomada de Missão Velha por seu irmão em 1901, o coronel Joca vislumbrou assumir o comando político de Barbalha e assim o fez em 1906, desbancando o coronel Neco Ribeiro, sobrinho de Pinto Madeira, em uma disputa que durou oito horas. Relatos dos mais antigos apontam o coronel Joca como homem de notável postura moral. Assim, ainda que mais jovem do que o coronel Santana, e possuidor do mesmo espirito tenaz, conta-se que em muitas situações atuou como orientador do irmão, procurando regulá-lo em seus excessos. O coronel Joca foi um dos signatári os do "pacto dos coronéis" em 1911, embora não tenha comparecido pessoalmente, enviando como representante seu filho José Raimundo de Macedo. Ocorrida em Juazeiro, sob os auspícios do Padre Cícero Romão Batista, essa reuniao, como assinalado por Joaryvar Macedo, em seu "Império do Bacamarte", foi utópica na medida em que previa um conjunto de posturas e ações incompatíveis com o espirito político da época. É tanto que logo após sua realização, o coronel Joca veio a se confrontar com o próprio juiz que selou o pacto desta reunião, por este ter assumido posições que se chocavam com a estrutura de poder em Barbalha.

Em que pese a conturbada época, de inicio do século XX, quando o mandonismo e a forca imperavam, emanaram dos Teresios personalidades no mundo das letras e da cultura, como o destacado filho do coronel Santana, o desembargador Juvêncio Santana, que veio a ser afilhado e mentor do Padre Cicero, assim como deputado e secretário do Interior e Justica do Ceará. Criterioso e equilibrado, certa vez o jurista foi em Fortaleza instado a explicar a atuação de seu pai como coiteiro de cangaceiros. Argumentou que a um proprietário rural restavam somente duas op ções para evitar receber um bando em sua casa: ou abria fogo contra os cangaceiros, o que não era recomendável, visto ser atividade de risco, gerando grande desassossego para a familia, ou o governo colocaria uma tropa oficial na porteira de cada fazenda, o que seria impraticável. Outro destacada personalidade originária dos Teresios foi o professor Antônio Martins Filho, reitor e fundador da Universidade Federal do Ceará. Apesar de ter sido oficialmente registrado como nascido no Crato, o reitor teve como local de nascimento exatamente a Santa Teresa. Em seu livro "Memórias - menoridade (Imprensa Universitária-1995)", registrou sua infancia no Cariri e a ligacao de seus pais com o coronel Joca: "o mundo em que anteriormente vivíamos, podia ser muito limitado, mas era limpo e, principalmente cordial. De fato, conhecíamos somente o sitio Santa Tereza, o Brejão do seu Joca e a cida de de Barbalha, em que todos eram conhecidos e amigos". O bisavô de Martins Filho chamava-se João Antonio de Jesus, conhecido como o Major Janjoca, dono da maior parte do sítio Santa Teresa.

A extensa distribuição dos Terésios no Cariri e o senso de pertencimento a um mesmo tronco ancestral, conferiram ao clã uma notável articulação afetiva, traduzida tanto na sucessão de casamentos entre parentes, quanto no apoio mútuo e incondicional em situações e conflitos em que algum membro esteve envolvido. Cite-se o caso em que a matriarca Marica Macedo de Aurora, quando de seu conflito em 1908 com o chefe político daquele município, Totonho Leite, retirou-se com a família para Missão Velha em busca de apoio dos coronéis Joca e Santana. O primeiro marido de Dona Marica, Cazuza Ma cedo, era irmão do pai do coronel Joca e padrasto do coronel Santana, Raimundo Antônio de Macedo (Mundoca) e também irmão da sogra do coronel Santana. Ocorre que quando de seu percurso, fazendo pernoite no sitio Taveira, entre Aurora e Milagres, Dona Marica acabou sendo vitima do cerco dessa propriedade pelas forcas governistas, que combatiam os Santos e Paulinos, desafetos de Totonho Leite e que estavam ali abrigados sob proteção do coronel Domingos Furtado. Como resultado do chamado "fogo do Taveira", morreram várias pessoas, incluindo o filho mais novo de Dona Marica. Exaltados com a ocorrência cruel contra sua parente, o coronel Joca e o coronel Santana juntaram-se ao coronel Domingos Furtado de Milagres e o major Zé Inácio do Barro, e neste município reuniram seiscentos homens, prontos para aniquilarem Aurora, caso o presidente Nogueira Acioli nao retirasse de imediato as forças que ali permaneciam. As forças foram retiradas, mas mesmo assim Aurora veio a ser invadida sob o comando do major Zé Inácio, sucedendo-se o domínio da cidade pelo coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido do Pavão) e a liderança feminina de Marica Macedo, que veio a falecer em 1924.

Percebe-se quão movimentado e contraditório foi o contexto histórico em que viveram os Terésios no início do século passado. Os acontecimentos dessa época tiveram influência profunda na geopolítica da região.
João Macêdo " Médico
Professor da UFC - Universidade Federal do Ceará

Web site: cariricangaco.blogspot.com/  Autor:   João Macêdo

http://www.cangacoemfoco.jex.com.br/historias+sertanejas/joca+do+brejao+e+a+saga+dos+teresios

Ambição, Injustiça, Violência, Traição e Morte...


Nascido em 1898, no Sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, Pernambuco, Virgulino Ferreira da Silva viria a transformar-se no mais lendário fora-da-lei do Brasil. O cangaço nasceu no Nordeste em meados do século 18, através de José Gomes, conhecido como Cabeleira, mas só iria se tornar mais conhecido, como movimento marginal e até dando margem a amplos estudos sociais, após o surgimento, em 1920, do cangaceiro Lampião, ou seja, o próprio Virgulino Ferreira da Silva. Ele entrou para o cangaço junto com três irmãos, após o assassinato do pai.

Com 1,79m de altura, cabelos longos, forte e muito inteligente, logo Virgulino começou a sobressair-se no mundo do cangaço, acabou formando seu próprio bando e tornou-se símbolo e lenda das histórias do cangaço. Tem muitas lendas a respeito do apelido Lampião, mas a mais divulgada é que alguns companheiros ao ver o cano do fuzil de Virgulino até vermelho, após tantos tiros trocados com a volante (polícia), disseram que parecia um lampião. E o apelido ficou e o jovem Virgulino transformou-se em Lampião, o Rei do Cangaço. Mas ele gostava mesmo era de ser chamado de Capitão Virgulino.

Lampião era praticamente cego do olho direito, que fora atingido por um espinho, num breve descuido de Lampião, quando andava pelas caatingas, e ele também mancava, segundo um dos seus muitos historiadores, por conta de um tiro que levou no pé direito. Destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades. Dinheiro, prataria, animais, joias e quaisquer objetos de valor eram levados pelo bando. "Eles ficavam com o suficiente para manter o grupo por alguns dias e dividiam o restante com as famílias pobres do lugar", diz o historiador Anildomá Souza. Essa atitude, no entanto, não era puramente assistencialismo. Dessa forma, Lampião conquistava a simpatia e o apoio das comunidades e ainda conseguia aliados.

Anildomá Souza
  
Os ataques do rei do cangaço às fazendas de cana-de-açúcar levaram produtores e governos estaduais a investir em grupos militares e paramilitares. A situação chegou a tal ponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse, "de qualquer modo, o famigerado bandido". "Seria algo como 200 mil reais hoje em dia", estima o historiador Frederico Pernambucano de Mello. Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos. Mas as histórias e curiosidades sobre essa fascinante figura continuam vivas.


Uma delas faz referência ao respeito e zelo que Lampião tinha pelos mais velhos e pelos pobres. Conta-se que, certa noite, os cangaceiros nômades pararam para jantar e pernoitar num pequeno sítio - como geralmente faziam. Um dos homens do bando queria comer carne e a dona da casa, uma senhora de mais de 80 anos, tinha preparado um ensopado de galinha. O sujeito saiu e voltou com uma cabra morta nos braços. "Tá aqui. Matei essa cabra. Agora, a senhora pode cozinhar pra mim", disse. A velhinha, chorando, contou que só tinha aquela cabra e que era dela que tirava o leite dos três netos. Sem tirar os olhos do prato, Lampião ordenou ao sujeito: "Pague a cabra da mulher". O outro, contrariado, jogou algumas moedas na mesa: "Isso pra mim é esmola", disse. Ao que Lampião retrucou: "Agora pague a cabra, sujeito". "Mas, Lampião, eu já paguei". "Não. Aquilo, como você disse, era uma esmola. Agora, pague."

Criado com mais sete irmãos - três mulheres e quatro homens -, Lampião sabia ler e escrever, tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume francês, costurava e era habilidoso com o couro. "Era ele quem fazia os próprios chapéus e alpercatas", conta Anildomá Souza. Enfeitar roupas, chapéus e até armas com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas foi invenção de Lampião. O uso de anéis, luvas e perneiras também. Armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço. Daí o nome cangaço, que vem de canga, peça de madeira utilizada para prender o boi ao carro.

Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. O objetivo era usar, a favor do grupo, a legislação da época, que proibia a polícia de um estado de agir além de suas fronteiras. Assim, Lampião circulava pelos quatro estados, de acordo com a aproximação das forças policiais.


Numa dessas fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum se tornou tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita, que em algumas narrativas é chamada de Rainha do Sertão.

 
Benjamim Abraão, Lampião e Maria Bonita

Da união dos dois, nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal. Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos. Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi visitada por Lampião e Maria Bonita três vezes. "Eu tinha muito medo das roupas e das armas", conta. "Mas meu pai era carinhoso e sempre me colocava sentada no colo pra conversar comigo", lembra dona Expedita, hoje com 75 anos e vivendo em Aracaju, capital de Sergipe, Estado onde seus pais foram mortos. 
  
Na madrugada de 28 de julho de 1938, o sol ainda não tinha nascido quando os estampidos ecoaram na Grota do Angico, na margem sergipana do Rio São Francisco. Depois de uma longa noite de tocaia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra um bando de 35 cangaceiros. Apanhados de surpresa - muitos ainda dormiam -, os bandidos não tiveram chance. Combateram por apenas 15 minutos. Entre os onze mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste: Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.  
  
Mesmo após mais de 70 anos depois da sua morte, Virgulino Ferreira da Silva, aquele menino do sertão nordestino que se transformou no temido Lampião, ainda não foi esquecido. E sua extraordinária história leva a crer que nunca o será. 

Matéria baseada na edição 135 da revista Os Caminhos da Terra, por David Santos Jr. e em relatos de Gervásio Aristides da Silva (Pernambuco), Rosalvo Joaquim (Sergipe) E Lampião, Rei do Cangaço, de Eduardo Barbosa (fotos).

http://www.gentedanossaterra.com.br/lampiao.html
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