Seguidores

sábado, 9 de maio de 2020

TÁ AQUI QUE DONA FIDERALINA MANDOU

Por Antonio Morais

Ildefonso Lacerda Leite, médico que logo depois de formado pela Faculdade do Rio de Janeiro, começou a exercer a profissão em Princesa, terra de seu pai, Luiz Leônidas Lacerda Leite, marido de Joana Augusto Leite, filha de Fideralina. Lá, Ildefonso casou-se com Dulce Campos, filha de um chefe político do município, Cel. Erasmo Alves Campos.

Com esse casamento o doutor arranjou um inimigo, Manoel Florentino que desejava ter Dulce por esposa e enraivado ao vê-la se casar com um forasteiro juntou-se a José Policarpo, ex-aluno do Seminário da Paraíba e ligado ao vigário de Princesa, Pe. Manoel Raimundo Donato Pita e resolveu se vingar de Ildefonso.

Em 6 de janeiro, feriado de Dia de Reis, Florentino e Policarpo mataram com uma punhalada no peito e um tiro no coração, o neto de Fideralina. O moço ia à farmácia providenciar remédios para aliviar aos antojos da mulher. Após o crime tentaram os criminosos enterrar o cadáver. Mas, por imperícia deixaram o corpo com os pés de fora. Vingança pior aguardava a dupla de assassinos!

Dona Fideralina reuniu no Sítio Tatu os cem cabras que havia conseguido juntar com a ajuda de outros coronéis da região. Tudo isso, para vingar a morte do seu neto. Ildefonso Lacerda Leite, assassinado em Princesa - PB. A Velha Fideralina despachara seu estranho exército com a incumbência de lhe trazer as orelhas de cada um dos assassinos do neto.

Não era à toa que se dizia nas Lavras que a velha do Tatu rezava toda noite num rosário feito das orelhas dos seus inimigos mortos. Depois dos seus cabras entrarem em Princesa e fazer o serviço, arrancaram as orelhas dos assassinos do neto da matriarca e disseram a célebre frase: "Tá aqui que Dona Fideralina mandou!".

Esse crime de princesa, ocorrido em 1903, marca o início da projeção de Dona Fideralina para além dos sertões do Cariri, e a extensão da sua influência junto ao governo do Estado do Ceará.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

"O PATRIARCA"

Por Sálvio Siqueira

No dia 3 de setembro de 2016 será lançado, em Serra Talhada - Pe, mais uma obra prima da literatura sertaneja, intitulado 'O PATRIARCA', o livro nos traz a notória história do cidadão "Crispim Pereira de Araújo", que na história ficou conhecido como "Ioiô Maroto", contada pela 'pena' do ilustre amigo venicio feitosa neves

Crispim Pereira de Araújo (Ioiô Maroto) 

Sendo parente de Sinhô Pereira, chefe de grupo cangaceiro e comandante dos irmãos Ferreira, conta-nos o livro, a história que "Ioiô Maroto" foi vítima de invejas e fuxico. Após sua casa ter sido invadida por uma volante comandada pelo tenente Peregrino Montenegro, da força cearense.

Sinhô Pereira

Sinhô Pereira deixa o cangaço, não sem antes fazer um pedido para o novo chefe do bando, Virgolino Ferreira da Silva o Lampião e o mesmo cumpre o prometido.


Além da excelente narração escrita pelo autor, teremos o prazer e satisfação de vislumbrar rica e inédita iconografia.

Não deixem de ter em sua coleção particular, mais essa obra prima literária.

https://www.facebook.com/groups/545584095605711/675945445902908/?notif_t=group_activity&notif_id=1471274094349578

ADQUIRA- COM FRANCISCO PEREIRA LIMA ATRAVÉS DESTE EMAIL: 

franpelima@bol.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.

Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.

O autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.

Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.

Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.

O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:
 josebezerra@terra.com.br
(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799

 Pedidos via internet:

franpelima@bol.com.br

Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345
E-mail:   lampiaoaraposadascaatingas@gmail.com

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.
http://araposadascaatingas.blogspot.com.br/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A MORTE DE FLORO NOVAIS O CANGAÇO NA LITERATURA | #308



Começamos hoje nossa saga em busca da história do vingador do Sertão. O mito Floro Gomes Novais chega ao nosso programa em 5 programas, que vai de sua morte até seu nascimento. Acompanhe nosso canal.

O CANGAÇO EM BREJO DOS SANTOS NO REGIME MONÁRQUICO - PARTE I


Vista da região do Poço, em Brejo Santo - CE.
 Cenário de atuação de João Calangro e seu séquito.


"A arma preferida dos facínoras era o bacamarte, sendo muito usado o boca de sino, de cano de bronze, reforçado e curto."

Sempre foi de notória agitação o clima na região sul cearense. No Cariri, região que de certa forma, lhe corresponde, desde seus primórdios, registraram-se disputas e conflitos, a partir mesmo do período da posse da terra, na época das Sesmarias. Muito mais conturbado, todavia, surgiu o século 19.
A seca de 1877, com seu cortejo de miséria, arruinou a província do Ceará. Milhares de retirantes percorriam as estradas em demanda de vilas e cidades onde imploravam a esmola para matar a fome. No Cariri, a despeito de ser região privilegiada, a fome fazia devastações. Morriam, diariamente, no Crato, de 12 a 16 pessoas. Os famintos não tinham força para mendigar. Às vezes, antes de recolher a esmola, caiam agonizantes, com as feições convulsas, no transe derradeiro.

No meio dessa calamidade, surgiam bandos de cangaceiros que se apoderavam dos bens alheios. Os próprios retirantes invadiam as propriedades em busca de alimento. Furto, roubo, tomada de presos, assassinatos, prostituição e morte por falta de pão, eis as consequências desse flagelo.


Vários grupos de cangaceiros andavam sobre o chão do povoado de Brejo dos Santos. O flagelo começou nos fins de 1874, com o bando de Inocêncio Pereira da Silva, vulgo Inocêncio Vermelho, foragido da vila de Misericórdia (atual Itaporanga), na província da Paraíba, onde assassinara Andrelino Araújo. Perseguidos por Antônio Tomás de Araújo Aquino, irmão da vítima, passavam-se os criminosos para a Comarca confinante de Jardim. Residiam, ora no Salgadinho, do termo de Milagres, ora na povoação de Brejo dos Santos, do termo de Jardim.  


Gozando da proteção do Juiz Municipal de Jardim, Dr. Antônio Augusto de Araújo Lima, Inocêncio chegou a exercer funções policiais contra criminosos desvalidos, em toda zona banhada pelo riacho dos Porcos. Logo depois, fugido da cadeia de Crato, juntou-se ao grupo de Inocêncio Vermelho, o criminoso João Calangro, natural de Milagres, onde era conhecido por João Senhorinha. Seu verdadeiro nome, porém, era João de Sousa Calangro. Ele era de estatura baixa, sardento e de cabelos cor de fogo, e não deve ser confundido com o negro João Calangro, perverso cangaceiro de Antônio Quelé, abatido no dia 27 de novembro de 1910 por companheiros seus, nas proximidades de Jati, entre a ladeira do Pacífico e a fazenda Oitis.


Com isso, os salteadores, transformados em agentes policiais, mantinham a ordem nos povoados e prendiam os criminosos desvalidos. O banditismo político chegava ao ponto de uma autoridade regeneradora encarecer ante o Governo Provincial, os serviços que Inocêncio Vermelho tinha prestado, e pedir, ao mesmo tempo, para o bandido, remuneração por iguais serviços, ou promover a sua livrança. A Comarca de Jardim tornava-se um viveiro de criminosos, no qual José Ataíde Siqueira (Zuza Ataíde), Inocêncio Vermelho, João Calangro, Barbosas, Brilhantes, Viriatos, Agostinho Pereira, Pedro Simplício, Carneiro, Manuel Tomás e outros representam o papel de peixe-rei, cuja força estava na razão das façanhas.


 Em junho de 1876, Inocêncio foi morto na região do Poço, por Sebastião Pelado, que agia a mandado de Antônio Tomás de Araújo Aquino, irmão de Andrelino de Araújo. Morto Inocêncio, João Calangro assumiu a chefia do grupo, ao qual se incorporou Antônio Vermelho, irmão de Inocêncio, a fim de liquidar Sebastião Pelado, que, por sua vez, formava outro grupo. A luta entre esses bandos rivais, cuja zona de operações se estendia ao território paraibano, atingiu seu clímax quando Dinamarico e José Pombo Roxo, do grupo de Pelado, eram mortos por João Calangro e Gato Brabo, e Manuel de Barros, do séquito de Calangro, foi morto por Pelado.


Naqueles velhos tempos, o Brejo era o lugar preferido pelos bandoleiros que infestavam o Cariri, por motivo de suas condições naturais. No meado de 1876, procedente da vila de Várzea Alegre, ali se encostou o facínora Luís de Góis, acompanhado de Zuza Ataíde. Dentro da povoação de Porteiras, os dois grupos se defrontavam e travavam forte tiroteio, morrendo na luta José Roberto, que ali se reunira com Pelado. O morto, famoso sicário, vivia sob a proteção do capitão José Mateus Pereira da Silva, morador na comarca de Vila Bela, da província de Pernambuco. O capitão José Mateus e sua esposa, Dona Joaquina Pereira da Silva (Chiquinha Maroto), exigiam de Sebastião Pelado a orelha de João Calangro, ameaçando-o de morte caso não se desincumbisse logo a tarefa. Para agravar ainda mais a situação dos habitantes da região, forças irregulares do capitão José Mateus chegaram ao Brejo, em perseguição ao grupo de Calangro.


Num encontro entre os dois grupos, Sebastião Pelado recebia mortal ferimento, enquanto João Calangro, sabendo do estado do capitão José Mateus em Porteiras, ia até a povoação, no dia 02 de agosto de 1877, e lá diria-lhe toda sorte de impropérios e ameaças por espaço de dez horas. O capitão José Mateus seguia com destino ao Pajeú, região baluarte dos Pereiras, e de lá trazia mais de cem homens, encontrando-se entre eles grande número de delinquentes. O 2° suplente de Juiz Municipal de Jardim, capitão Juvenal Simplício Pereira da Silva, sobrinho legítimo de José Mateus, assumia o exercício e autorizava a Força de Mateus a capturar João Calangro. A Força era divida em três grupos. Seguia um para Brejo dos Santos, outro para Missão Velha, e outro, comandado por Mateus e seus genros Galdino Alves de Araújo Maroto e Manuel Pereira da Silva, para Milagres.


Em 15 de agosto de 1877, o grupo comandado por Mateus assassinava a Manuel Valentim e espancava barbaramente a Trajano de tal, pelo simples fato de agasalharem o grupo de Calangro. A Força pernambucana, a pretexto de perseguir Calangro, praticava uma série de delitos. O tenente Alfredo da Costa Weyne, que se achava em Milagres, deliberava por cobrança a tais atrocidades. Aceitava, porém, a sugestão do Dr. Antônio Augusto de Araújo Lima, que julgava mais acertado enviar Balduíno Leão, amigo de Galdino Maroto, a fim de encontrar uma solução honrosa. Balduíno, amigavelmente, conseguia que dez homens de Mateus se incorporassem à Força de Weyne, o que ocorria no sítio Bela Vista, distante meia légua de Milagres.


De volta de sua excursão, os Mateus chegavam a Milagres no dia 23 de agosto, em número de 40, depois de terem cometido as maiores violências contra sertanejos indefesos. A permissão dada ao capitão Mateus, para, com Força irregular, perseguir os Calangros, criava péssimo precedente e aumentava a insegurança individual na região. Os grupos de Mateus preocupavam sobremaneira as autoridades cearenses. Um dos grupos tinha por comandante a José Rodrigues e o outro a Vila Nova, ambos conhecidos assassinos. No dia 29 de agosto, o tenente Weyne recebia requisição dos Juízes de Direito de Barbalha e Crato, cujas cidades estavam ameaçadas de ser assaltadas por mencionados grupos.


A exemplo dos bandos de Mateus formavam-se outros grupos que se diziam gente do aludido Capitão, mas que visavam ao roubo e ao furto. O sul cearense vivia dias incertos. Além dos Calangros, operavam os Viriatos na Boa Esperança (atual Iara, distrito de Barro - CE) e os Barbosas no Salgadinho. À parte, mas sob os comandos de João Calangro, havia surgido, em Milagres, o grupo dos Quirinos, chefiados por três irmãos, o mais velho dos quais se chamava Quirino. Agiam também, sob a proteção de Calangro, Jesuíno Brilhante (Jesuíno Brilhante de Melo Calado) e Gato Brabo, os dois últimos também no comando de grupos. Por conveniência, esses bandos agiam separadamente. Havia, entre eles, porém, um “tratado de aliança defensiva e ofensiva de sorte que, quando receavam alguma conspiração, reuniam-se imediatamente, tomando João Calangro o comando geral”.


João Calangro acabara por expulsar os Mateus do Ceará. As populações caririenses responsabilizaram o capitão Mateus pela quase extinção de gados. E com isso, passavam a confiar em João Calangro. Essa confiança “subiu ao ponto de desejar-se pelos povoados, sobretudo em dias de feira, a presença de João Calangro para garantia daquilo que cada um trazia ao mercado publico. Ultimamente povoados, senhores de engenhos e fazendeiros disputavam, como ainda disputam, à porfia, a sua presença sempre que sabem que se aproxima algum grupo de malfazejos, ou temem qualquer assalto. Por isso ele foi obrigado a aumentar o número de seus policiais... E desse modo nulificou-se entre nós completamente a autoridade publica que foi substituída por João Calangro, que entende que a ele e tão somente a ele, o Cariri deve não ter sofrido maiores desgraças” (em “Cearense”, edição de 11 de outubro de 1877).


Correspondências de Barbalha publicadas em Cearense diziam que a cidade estava "sendo garantida pelo grupo do célebre João Calangro, protegido pelas autoridades". Compunha-se o grupo de 22 homens "que trajava a casimira, notando que quase todos os outros são subordinados, pelo fará 100 homens a qualquer hora". Um dos correspondentes concluía: "Hoje é perigoso ser rico, pois o povo pobre (os bandidos) lhes hão declarado guerra de extermínio" (em Cearense, 24.02 e 17.03.1878).


No Cariri, os particulares garantiam o direito de propriedade com armas nas mãos. Em Barbalha, as casas Sampaio, Santiago e outras estavam convertidas em quartéis. Em Constituição, de 17 de fevereiro de 1878, publicava carta de Missão Velha, na qual o correspondente afirmava que os ladrões de gado aumentavam dia a dia, e que a cadeia estava cheia deles. Carta de Barbalha, publicada na mesma edição, comunicava que o gado, a cana e a mandioca não podiam mais produzir, "porque o furto é por demais". E finalizava: "A seca é a causa de tudo". Aliás, por toda a Província flagelada pela seca, o direito de propriedade recebia tremendos impactos. O gado, retirado para o Piauí, ao voltar para o Ceará, na Serra Grande, não conseguia atravessar a linha de salteadores. No centro da Província, outros bandos de salteadores "acometem a propriedade com a maior ostentação, dir-se-á que se proclamou entre nós o comunismo". Na vila de União, o célebre José Rodrigues, à frente de um bando, assaltava os carros nas estradas, tomava os víveres e os distribuía "como se fosse coisa sua" (em Cearense, de 22 e 27.02 e 01.03.1878). Continua...


http://blogdomendesemendesa.blogspot.com

DIA 13 ÀS 20 HORAS.


No instagran dia 13/5 às 20 horas


httP://blogdomendesemendes.blogspot.com

PRIMEIRAS EDIÇÕES LAMPIÃO E A CONSTRUÇÃO DO MITO


Edição 177 por lgarcia 19 de junho de 2002 IMPRENSA & CANGAÇO

Leneide Duarte, de Paris

Lampião, vies et morts d?un bandit brésilien, de Élise Grunspan-Jasmin, Le Monde/PUF, 292 pp, 22 euros.

A francesa Élise Grunspan-Jasmin chegou ao Recife em 1991 e, até então, nunca ouvira falar de Lampião. Mas logo tomou conhecimento desse personagem quase onipresente na vida do Nordeste brasileiro, tão construído e mitificado com o passar do tempo que a legenda se mistura com a realidade no imaginário popular. Livros de cordel, filmes, músicas, bonecos de barro, todo o universo do cangaço e dos cangaceiros começou a invadir o cotidiano da jovem historiadora francesa, formada em história da arte, com especialização em fotografia.

Impressionada com a força do mito, logo Élise decidiu iniciar uma pesquisa sobre Lampião. Anos depois, em 1999, apresentava sua tese de doutorado em História, na Universidade de Paris IV, com o título "Lampião, seigneur du sertão: vers 1897-1938".

O trabalho foi premiado com o "Prix Le Monde de la recherche universitaire" e publicado no fim do ano passado pelo jornal Le Monde, em edição conjunta com as Presses Universitaires de France, transformando-se no livro Lampião, vies et morts d?un bandit brésilien. Um título que explica ao público francês quem é o tal "senhor do sertão" da tese.

Lampião não é uma referência para o público francês e a palavra "sertão" também não funcionaria no título de um livro. Por isso, Élise cedeu à proposta de chamar Lampião de bandido brasileiro, o que parece à primeira vista redutor para quem conhece de perto as contradições de um personagem complexo, que se tornou um "fora da lei" para cobrar justiça para seu pai injustiçado.

Espetáculo da vida

Em um dos capítulos do primoroso texto sobre o "senhor do sertão", Élise dedicou-se a explicar como a imagem de Lampião foi construída pela imprensa que, ao mesmo tempo que atacava o banditismo e seus horrores, ajudava a criar o mito do herói invencível, de corpo fechado, que se evaporava quando chegavam as forças da lei. De bandido a herói popular foi um pulo, como lembra o jornalista Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, autor da apresentação do livro. Escreve ele:

"O itinerário de Lampião ?bandido brasileiro? é o de um revoltado social que se torna herói popular. Um revoltado incapaz, por falta de cultura, de teorizar sua própria prática de delinqüente e de propor uma leitura política para ela. Mas um rebelde que se insurge concretamente, de armas na mão, contra a hierarquia do poder no sertão, contra a justiça de classe, contra a ordem dos ?coronéis?, contra uma sociedade colonial, e que, na sua escala, opta por uma contra-sociedade, a do cangaço".

Em suma: com um pouco de teoria Lampião poderia ser o que não foi porque não tinha condições para elaborar um conteúdo político para seu percurso. Mas tinha um agudo senso de marketing e foi, com alguns jornalistas que o entrevistaram, também responsável pela construção do mito. "Havia um prazer em Lampião em posar para fotografias. Existe uma aparente contradição entre sua clandestinidade e a enorme quantidade de fotos que foram feitas dele e de seu grupo, entre 1926 e 1938. Essa contradição é apenas aparente pois havia uma vaidade em Lampião, um enorme prazer em se preparar para fotos. Há aí uma dimensão do desafio e a literatura de cordel mostra bem isso", assinala Élise. Segundo ela, deixar-se fotografar é uma forma de conjurar a morte; há uma conservação simbólica do grupo, que tem relação com o mito do corpo fechado que acompanhava Lampião, cangaceiro desde 1922.

A exposição de Lampião e de seu grupo na imprensa começou, na realidade, em 1926 e durou até sua morte, em 1938. A pesquisa incluiu jornais do Rio, de Pernambuco e do Ceará para entender como um personagem é construído através da imprensa e como a imagem e o texto estabelecem uma dinâmica poderosa. Antes de 1926, os artigos na imprensa eram factuais, davam contas das cidades atacadas, das pilhagens levadas a cabo pelo grupo de cangaceiros. A partir de 1926 começa uma narrativa do espetáculo de sua vida, para o qual os jornalistas contribuem; os folhetos de cordel descobrem o personagem e começa a legenda.

Cenas preciosas

Para a autora, Lampião passou de indivíduo a personagem graças à mídia impressa dos anos 30. O cangaceiro fez uso de um senso inato de marketing para se comunicar com o mundo exterior, manipulando jornais e jornalistas na construção de seu mito. Para os jornalistas, descrever um personagem temível, aparentemente indescritível, pode ter a função de exorcismo: descrever serve para se tranqüilizar, apropriar-se do objeto temido para dominar o medo.

E o próprio Lampião gostava de se ver nos jornais. Várias pessoas servem de intermediários para entrevistas com o cangaceiro, que se preocupava com os comentários de jornalistas sobre ele e se deixou fotografar por Benjamin Abrahão, em 1936, lendo matérias que falavam dele.

Os jornalistas não deixam de ressaltar a imagem de um grupo de arrivistas amantes do luxo e vestidos ricamente. Numa matéria de 14 de julho de 1936, o jornalista Antônio Napoleão, editor do jornal sertanejo O amigo do matuto, descreve uma horda de bandidos fascinados pelo luxo e pela riqueza.

Um dos artigos publicado no jornal Diário de Pernambuco, de 30 de maio de 1935, assinala que até os cachorros de Lampião não escapavam ao gosto do luxo que reinava no grupo: "Dourado", o cachorro do cangaceiro, que será morto depois por uma "força volante", usava um "precioso colar de ouro e prata".

A "moda cangaço" ou "cangaceiro" também foi divulgada e sedimentada pelas fotos. Num artigo do Diário de Pernambuco (6 de dezembro de 1935), o jornalista ressalta que "as ?forças da ordem? que vinham de Recife utilizavam sandálias, calças e um chapéu do tipo Lampião". Em outra matéria do mesmo jornal (12 de novembro de 1936), o jornalista descreve a "força volante" de "Mimosa vestida à moda de Lampião".

Numerosos artigos de jornal insistem em descrever os óculos que o cangaceiro usava: alguns falam de coqueteria, para esconder seu olho doente (ele era cego e tinha um olho de vidro). Outros atribuem os óculos a uma necessidade de melhorar a visão e atenuar sua fotofobia. O Povo, de Fortaleza, descreve na edição de 5 de agosto de 1928 os óculos "de lentes escuras, em armação de ouro e tartaruga, usados para esconder uma doença que atingiu a córnea do olho direito".
Pensando em controlar sua imagem mais de perto, Lampião permitiu, em 1936, ao cinegrafista e fotógrafo Benjamin Abrahão fazer fotos e um filme que foi intitulado Lampião, o rei do cangaço. O Diário de Pernambuco publicou em primeira mão um depoimento de Abrahão sobre o filme e as condições em que foi rodado. A revista O Cruzeiro, de 27 de março de 1937, deu a notícia do filme como um furo de Benjamin Abrahão. Toda a imprensa falou do filme rodado no sertão, mostrando a vida cotidiana dos cangaceiros.

Abandonado em um depósito úmido até 1957, o filme foi quase totalmente perdido. Dele restam 10 minutos com cenas de Lampião dando ordens a seus homens, falando a um público virtual, costurando numa máquina de costura e dirigindo uma missa, rodeado de seus cangaceiros. Perderam-se cenas preciosas em que o cangaceiro era penteado por Maria Bonita, lia um livro de Edgar Wallace, acariciava seus dois cachorros, entre outras do grupo rindo ou dançando. Mas para as autoridades da época, o bandido midiático e seu cineasta eram igualmente perigosos. Benjamin Abrahão foi assassinado em maio de 1938 e Lampião foi morto em julho do mesmo ano.

A autora observa que o poder do Estado tinha todo interesse em que o filme desaparecesse num momento em que operações de propaganda do governo Getúlio Vargas apresentavam os cangaceiros como bandidos abjetos, sistematicamente violentos, cruéis, inimigos da sociedade e da civilização.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

CONHEÇA A HISTÓRIA E AS INCRÍVEIS INVENÇÕES DE SANTOS DUMONT



Conhecido como o Pai da Aviação por ter sido o primeiro a realizar um vôo a bordo de um avião a motor, sem a necessidade de rampas de lançamento. Alberto Santos Dumont é um dos principais nomes da história brasileira e suas proezas são consideradas orgulho nacional.
Mas apesar de seu foco principal ter sido a aviação, a mente inquieta do inventor ainda criou outros utensílios muito importantes para a humanidade.

As invenções são, sobretudo, o resultado de um trabalho teimoso.

Santos Dumont O mineiro teimoso

Nasceu em 20 de julho de 1873, na cidade de Palmira, em Minas Gerais. Santos Dumont desde cedo demonstrou interesse pelo funcionamento de máquinas e sua construção. Filho de Henrique Dumont e Francisca de Paula Santos Dumont, viveu sua infância na fazenda de plantio e beneficiamento de café da família em Ribeirão Preto. Lá divertia-se construindo pipas e pequenos aeroplanos movidos a hélice. Desde os 7 anos aprendeu a dirigir as locomotivas da propriedade e, aos 12 anos, era considerado um maquinista hábil.

Eu sempre brincava de imaginar e construir pequenos engenhos mecânicos, que me distraíam e me valiam grande consideração na família. Minha maior alegria era me ocupar das instalações mecânicas de meu pai. Esse era o meu departamento, o que me deixava muito orgulhoso.

Santos Dumont

Ao ler as obras de Julio Verne, nas quais são descritas viagens em submarinos e relatadas longas aventuras em balões, o seu fascínio pela aeronáutica cresceu. Passou a estudar a história da navegação aérea e ao descobrir que grande parte dos avanços nesta área haviam acontecido na França, ficou cada vez mais interessado em conhecer o país.

Estimulado pelo pai, começou a estudar mecânica. Com 18 anos, realizou uma viagem à Inglaterra, para aprimorar o inglês. Depois seguiu para a França, onde escalou o Monte Branco e reforçou sua paixão pelas alturas. Um ano mais tarde foi emancipado pelo pai e voltou à França para se dedicar ao automobilismo e aos estudos de ciências, engenharia, mecânica, eletricidade e aeronáutica.

Após a morte do pai, Santos Dumont volta mais uma vez à França em 1897, aos 24 anos, desta vez de forma definitiva e passa a se dedicar ao balonismo.

As máquinas de voar - O balão "Brésil" e o dirigível N-4

A primeira criação de Santos Dumont foi o balão chamado “Brésil” (“Brasil”, em francês) . Este foi o menor balão criado até então e, se diferenciava dos demais balões por ser inflado com hidrogênio, ao invés de ar quente.

O dirigível N-1 foi o primeiro balão motorizado da história, mas o primeiro dirigível criado por Dumont não foi bem-sucedido. Em 1898, o vôo de estreia só ocorreu dias depois do planejado, pois no dia marcado o balão rasgou-se devido a uma manobra mal-feita ainda em terra. Dois dias depois, o dirigível subiu e apresentou as manobras idealizadas, porém um imprevisto fez com que caísse de uma distância de 400 metros do chão.

A descida efetuava-se com a velocidade de 4 a 5 m/s. Ter-me-ia sido fatal, se eu não tivesse tido a presença de espírito de dizer aos passantes espontaneamente suspensos ao cabo pendente como um verdadeiro cacho humano, que puxassem o cabo na direção oposta à do vento. Graças a essa manobra, diminuiu a velocidade da queda, evitando assim a maior violência do choque. Variei desse modo o meu divertimento: subi num balão e desci numa pipa.


Santos Dumont
Dumont busca aprimorar a sua invenção e cria o dirigível N-2, que também cai em sua fase de testes. Cria então o N-3, com o qual contornou a Torre Eiffel pela primeira vez. Aterrissou no mesmo local onde o N-1 havia caído, mas desta vez em total segurança.

Em 1900, foi criado o prêmio Deutsch. Para vencê-lo, uma aeronave deveria contornar a Torre Eiffel e retornar ao seu local de origem em até 30 minutos. Ato que nenhuma das invenções criadas até então eram capazes de realizar.

Instigado pelo desafio, Dumont passa a trabalhar para aumentar a velocidade dos seus dirigíveis. Cria assim os N-4, N-5 e N-6, levando o cobiçado prêmio de 129 mil francos com este último modelo.

Santos Dumont foi então reconhecido internacionalmente como o inventor do dirigível e o maior aeronauta do mundo. O que resultou em condecorações enviadas pelo então presidente do Brasil, Campos Salles, convites de viagens aos Estados Unidos e outros países e, também, a oferta do príncipe de Mônaco, Alberto I, de construir um hangar para que passasse a realizar as suas experimentações no principado.

A partir de então, Dumont passa a criar dirigíveis com objetivos específicos. O N-7 é projetado para corridas, enquanto o N-8 é uma cópia do N-6 criada por encomenda para um colecionador dos Estados Unidos. O N-9 é um dirigível para passeio, já o N-10 foi criado para servir de ônibus coletivo, mas nunca foi finalizado. O N-11 era uma versão reduzida do N-10. O N-12 foi outra réplica, desta vez do N-9 e, por fim, o N-13 era um balão duplo de ar quente e hidrogênio capaz de ficar semanas suspenso no ar, mas infelizmente foi destruído por uma tempestade antes mesmo de ser testado.

14-bis, a ave de rapina

O primeiro vôo a bordo do 14-bis

Em 1904 haviam três prêmios de aviação em andamento na França (o Prêmio Archdeacon, o Prêmio do Aeroclube da França e o Prêmio Deutsch-Archdeacon). O mais cobiçado por Dumont era o Prêmio Deutsch-Archdeacon que pedia que a aeronave voasse 1.000 metros em circuito fechado, sem o auxílio de balões ou catapultas para a decolagem e oferecia 50.000 francos ao vencedor.

O inventor começou assim a trabalhar na sua criação mais famosa, o 14-Bis, também chamado de “Oiseau de Proie” (“Ave de Rapina”, em francês).

Inspirado em um protótipo criado pelo cientista inglês George Cayley 100 anos antes, Santos Dumont construiu uma espécie de aeroplano híbrido, um avião juntamente com um balão de hidrogênio. Esta primeira versão foi descartada por ser considerada impura pelo aviador e seus amigos. A partir daí, focou-se em construir uma máquina que pudesse se sustentar no ar sem o auxílio de balões.

O 14-Bis tinha 10 metros de comprimento, 4 metros de altura e 12 metros de envergadura, atingindo 30 km/h. Pesava 205 quilos. As asas eram fixas a uma viga, logo a frente ficava o leme e, na outra extremidade eram posicionados a hélice e o motor de 24 cavalos. O piloto conduzia a aeronave em pé.

Após realizar uma série de testes e ajustes, no dia 23 de outubro de 1906 no campo de Bagatelle, em Paris, Santos Dumont realizou o primeiro vôo a bordo do 14-bis para uma plateia de cerca de 1.000 pessoas e na presença da Comissão Oficial do Aeroclube da França. A aeronave percorreu 60 metros em 7 segundos, a uma altura de 3 metros. O entusiasmo dos presentes foi imenso e até os juízes ficaram emocionados. Por este feito, Santos Dumont se tornou conhecido como o Pai da Aviação.

Outras invenções de Santos Dumont

Dumont no hangar de Neuilly (Paris, França).

Além das máquinas voadoras, o inventor brasileiro criou o primeiro hangar em 1900 justamente para guardar os seus equipamentos e invenções. Ele criou portões com rolamentos para facilitar o deslocamento das aeronaves.

Com a intenção de controlar o tempo dos seus vôos, ele também pediu ao amigo Louis Cartier que desenvolvesse o primeiro relógio de pulso.
Mais tarde, criou o primeiro chuveiro de água quente quando vivia em seu chalé “A Encantada” em Petrópolis. A invenção funcionava através do uso de um balde perfurado e dividido ao meio, que levava água quente de um lado e fria do outro.
Criou ainda um motor portátil para ser utilizado por esquiadores.


Wilbur e Orville Wright

No início do século XX, Dumont não era o único a se aventurar na criação de máquinas voadoras. Os Irmãos Wright desenvolviam as suas criações e experimentações nos Estados Unidos. Em 17 de Dezembro de 1903, realizaram o primeiro vôo com o seu Flyer I com o auxílio de trilhos para a decolagem, na cidade de Kill Devil Hills.

Porém, os irmãos não realizavam demonstrações públicas com receio de ter as suas técnicas copiadas e o vôo teve poucas testemunhas. Somente em 1908 foram à França para realizar uma demonstração dos seus inventos e deixaram todos abismados com os resultados avançados de sua aeronave.

Diferente do 14-bis que voava em círculos como um balão, com o Flyer era possível realizar manobras muito mais controladas devido ao sistema do controle em 3 eixos. A partir de então, o vôo realizado em 1903 pelos irmãos passou a ser considerado como o primeiro vôo de uma máquina voadora mais pesada que o ar.

A guerra e a destruição do sonho


Em 1914 teve início a I Guerra Mundial e Dumont viu os aeroplanos passarem a ser utilizados em combates cada vez mais violentos. O aviador havia se aposentado em 1910, pois sofria de esclerose múltipla. Já não sentindo que podia competir com os novos inventores, agora dedicava-se à astronomia.

Ao longo dos anos desenvolveu uma depressão profunda e buscou que os aviões não fossem utilizados como armas de guerra. Em 1926 fez um pedido à Liga das Nações com este objetivo e chegou a oferecer 10 mil francos para a pessoa que escrevesse a melhor obra contra o uso das aeronaves em guerras.

Vendo-se cada vez mais debilitado, o inventor passa por diferentes centros de saúde na Europa e acaba por retornar ao Brasil na companhia do sobrinho. Em 1932, aos 59 anos, Santos Dumond suicidou-se no quarto do Grand Hôtel La Plage, no Guarujá, onde vivia.

Algumas homenagens

Museu Casa de Santos Dumont

Por ser um pioneiro da aviação e um dos seus principais entusiastas, a obra de Santos Dumont foi amplamente reconhecida e o inventor recebeu diversas homenagens.

Há uma estátua em sua honra no campo de Bagatelle, onde realizou o primeiro vôo com o 14-bis. A cidade de Palmira, onde nasceu, hoje é chamada Santos Dumont. Em 2006, o governo brasileiro declarou-o herói nacional. Em 1976, a União Astronômica Internacional deu o seu nome a uma das crateras lunares.

O primeiro aeroporto do Rio de Janeiro leva o nome de Santos Dumont. Diversas ruas e praças das cidades brasileiras também foram nomeadas em homenagem ao inventor. O seu chalé em Petropólis foi transformado em museu, sendo que as invenções desenvolvidas ali foram preservadas e estão expostas ao público.



http://blogdomendesemendes.blogspot.com

SANTOS DUMONT TIRA A SUA PRÓPRIA VIDA



Alberto Santos-Dumont tirou a própria vida em um quarto do Grande Hotel de La Plage, Guarujá, em 1932. O motivo, dizem alguns, teria sido uma profunda depressão causada pela constatação de que o avião, seu invento, estava sendo usado para fins militares. Virara um instrumento de morte e destruição.

Há testemunhas que juram ter visto o inventor presenciar um bombardeio na ilha da Moela, Guarujá, em frente à praia do Grand Hotel, pouco antes de recolher-se a seu quarto para enforcar-se, com a própia gravata segundo alguns, com o cinto do roupão de banho, segundo outros. Há quem diga que o motivo do suicídio foi uma desilusão amorosa. Alguns dizem que seu sobrinho e companheiro, Jorge Dumont Villares, o abandonara. Outros dizem que a cantora lírica Bidu Sayão, casada com Walter Mocchi, visitava Santos-Dumont no Grand Hotel. Há mesmo quem diga que o inventor era apaixonado por Dona Olívia Guedes Penteado.

O fato é que Alberto Santos-Dumont não desceu para almoçar em 23 de julho de 1932. Os funcionários do hotel arrombaram a porta do quarto 152 (onde Dumont se hospedava, reservando o quarto 151 para seu sobrinho, Jorge) encontrando o inventor já sem vida.

Quatro anos antes, em 3 de dezembro de 1928, Santos-Dumont voltava ao Brasil à bordo do navio Cap Arcona e vários intelectuais e amigos do inventor planejaram prestar-lhe uma homenagem. Pretendiam lançar uma mensagem de boas vindas em um paraquedas e estavam todos à bordo de um hidroavião batizado com o nome do Pai da Aviação. Depois de uma manobra desastrada, o avião caiu no mar matando todos os seus ocupantes, entre eles vários amigos de Santos-Dumont, tais como Tobias Moscoso, Amauri de Medeiros, Ferdinando Laboriau, Frederico de Oliveira Coutinho, Amoroso Costa e Paulo de Castro Maia.

Santos-Dumont fez questão de acompanhar por vários dias as buscas pelos corpos, após o que recolheu-se, primeiro a seu quarto no Hotel Copacabana Palace, depois a sua casa em Petrópolis, onde entrou em profunda depressão. Após algum tempo, voltou a Paris, internando-se em um sanatório nos Pirineus.


A insistência em creditar aos irmãos Wright a invenção do avião incomodava Santos-Dumont, que levou seu 14 Bis ao ar em outubro de 1906, sem recorrer a qualquer artifício. Os americanos voaram somente em 1908 e seu aparelho alçava vôo apenas com o auxílio de uma catapulta.

Antonio Prado Júnior, exilado em Paris, foi visitar o amigo Santos-Dumont em Biarritz e constatou seu total abatimento, imediatamente telegrafando à família do inventor para que esta tomasse alguma providência. Jorge Dumont Villares foi buscar o tio na Europa e passou a ser seu inseparável companheiro no Brasil.

Em São Paulo, Alberto Santos-Dumont ia à Sociedade Hípica Paulista e ao Clube Athlético Paulistano. Passava muitas tardes também na redação do jornal O Estado de São Paulo. Recebia também a visita quase diária do médico Sinésio Rangel Pestana, que recomendou ao inventor uma temporada no Guarujá, para tratar de sua delicada saúde.
Lá, Santos-Dumont passou seus últimos dias, passeando pela praia, conversando com crianças, entre elas Marina Villares da Silva e Christian Von Bulow, que moravam no balneário. Christian conta ter presenciado Santos-Dumont chorando na praia após ver o bombardeio do cruzador Bahia, por três aviões “vermelhinhos”, leais ao Governo Federal, na ilha da Moela. Algum tempo depois, naquele mesmo dia, o inventor teria tirado a própria vida em seu quarto no Grande Hotel. Um pouco antes recebera a visita de Edu Chaves, com quem havia conversado sobre o bárbaro destino da aviação.

A certidão de óbito do inventor ficou “sumida” por 23 anos. Quando foi encontrada, dava como “causa mortis” de Santos-Dumont um suposto “colapso cardíaco”. Não ficava bem o herói nacional ter cometido suicídio.

O próprio Governador da época, Dr. Pedro de Toledo, determinou: “Não haverá inquérito. Santos-Dumont não se suicidou.” Cumpridas as ordens do Governador, somente a 3 de dezembro de 1955 seria registrado o óbito.

Santos-Dumont entrou em depressão ao ver seu invento sendo usado para lançar bombas sobre inimigos de guerra.

Imaginem o que ele sentiria se pudesse presenciar as cenas que o mundo todo viu, de aviões civis sendo atirados contra as torres do World Trade Center e contra o Pentágono, em covardes ações terroristas.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com