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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Lampião - Um homem de sorte


Na entrevista que cedeu em 1926 ao médico de Crato, Dr. Octacílio Macedo, Lampião respondeu todas.

Perguntado sobre ferimentos em combate, contou que:

- Já recebi quatro ferimentos graves. Dentre este, um na cabeça, do qual só por um milagre escapei. Os meus companheiros também, vários têm sido feridos. Possuímos, porém, no grupo, pessoas habilitadas para tratar dos ferimentos, de modo que sempre somos convenientemente tratados. Por isso, como o senhor vê, estou forte e perfeitamente sadio.

http://forums.tibiabr.com/archive/index.php/t-103926.html

BIOGRAFIA GONZAGUIANA


"Gonzaga é a metáfora do Nordeste rural", diz biógrafa do Rei do Baião

Francesa Dominique Dreyfus está no Recife para debater vida do artista. Projeto 'Jornadas Gonzagueanas' faz parte da agenda junina do Recife.
Luna Markman - Do G1 PE

Dominique Dreyfus - biógrafa de Luiz Gonzaga (Foto: Luna Markman / G1)
Dominique Dreyfus lançou biografia de Gonzaga em 1997, pela Editora 34 (Foto:
Luna Markman / G1)

No São João em que o Recife celebra o centenário de Luiz Gonzaga, o arrasta pé abre espaço para debates com parceiros e estudiosos da história e obra do Rei do Baião. O projeto Jornadas Gonzagueanas acontece nesta sexta-feira (08) e sábado (09), na Livraria Cultura, no Paço Alfândega, com entrada gratuita. Entre os convidados, a francesa Dominique Dreyfus, considerada “autoridade” no assunto por escrever a mais completa biografia do sanfoneiro, onde há várias curiosidades sobre o artista.

A pesquisadora, jornalista e cineasta lançou, em 1997, pela editora paulista 34, o livro “A Vida do Viajante: A saga de Luiz Gonzaga”. Antes que você se pergunte: “o que essa francesa tem a ver com Luiz Gonzaga?”, respeite Dominique! Ela é livre-docente em Letras e Literatura pela Universidade Paris I (Sorbonne), trabalhou como repórter, editora e diretora de revistas e programas especializados em música, colabora para conceituadas publicações de arte sul-americanas e acabou de virar doutora em música popular brasileira.

Á-bê-cê no interior
Além desse gabarito acadêmico e profissional, ela passou a infância e parte da adolescência entre Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, Olinda e Recife. Mudou-se com a família da França para o Brasil para ficar longe da 2° Guerra que assolava a Europa. “A primeira música que eu aprendi a cantar, aos dois anos de idade, foi 'A todo mundo eu dou psiu' [Sabiá], de Luiz Gonzaga. Isso não me sai da memória”, relembra.

Seguindo novamente a família, retornou ao país natal e só colocou de novo os pés no Brasil passada a ditadura militar. Aproveitou e comprou vários discos de Luiz Gonzaga. “Em 1985, ele foi convidado a participar de um festival em Paris, que eu fui cobrir. Na terceira música, pediu para sentar, porque a sanfona pesava. Foi quando eu me dei conta que ele estava ficando velho e não havia nada aprofundado e com impacto nacional escrito sobre ele”, conta.

Óia eu aqui de novo
Dreyfus chamou a responsabilidade para si, arrumou as malas e começou uma série de entrevistas, que renderam mais de 100 horas de gravação. Conversou pessoalmente com Gonzagão, a quem destaca o charme, generosidade e bom humor, além de ter ouvido também outros parentes e amigos. Só lamenta o fato de não ter falado com Gonzaguinha e Sivuca, além de Zé Dantas e Humberto Teixeira, parceiros musicais, e Aluízio, irmão mais velho do sanfoneiro.

Porém, o rico material ficou “mofando” por seis anos na casa da jornalista. “Nenhuma editora francesa comprou a ideia alegando que ninguém na França conhecia Luiz Gonzaga, então me desanimei. Foi quando o [jornalista e crítico musical] Tárik de Souza me convidou para escrever a biografia dentro de uma coleção musical que a [editora] 34 ia lançar”, diz.

O fole roncou
Foram mais três anos para concluir o livro, lançado após a morte de Luiz Gonzaga, em 1989. Soube da notícia por meio de uma ligação do músico João Gilberto. No começo, ela confessa que ficou com medo da reação do público ao fato de uma estrangeira escrever sobre o músico, mas orgulha-se das boas críticas. “Acho que ficaram até com vergonha de nenhum brasileiro ter feito isso antes”, brinca.

"Minha intenção não foi contar a vida dele, mas captar o essencial para fazer o retrato justo daquele homem que era pobre, negro, analfabeto e sertanejo, tudo para não dar certo naquela época, e se tornou, nos anos 1950, a maior figura artística do Brasil, mesmo sem conseguir se despojar dos preconceitos. Ele é a metáfora do Nordeste rural”, complementa.

Dominique Dreyfus - biógrafa de Luiz Gonzaga (Foto: Luna Markman / G1)
Dominique está no Recife para participar de debate sobre a obra de Gonzaga
 (Foto: Luna Markman / G1)

Asa branca
A autora contou algumas curiosidades do artista extraídas de suas leituras e observações. “Ele nunca cuidou muito do Gonzaguinha [filho não biológico de Gonzaga]”; “Helena e Rosinha [mulher e filha adotiva de Gonzaga] eram racistas”; “ele não tinha apego ao luxo, dava dinheiro para todo mundo, sua casa era de uma simplicidade sinistra”; e “ele era muito mulherengo, nunca quis se casar, queria mesmo era sair viajando em turnê, jogando charme para todo mundo”, salpicou, durante a entrevista concedida no Recife.

Ela garante, porém, que Gonzaga não a paquerou, “mas se eu quisesse, acho que rolava”, ironizou. Uma passagem que Dominique ri até hoje é a visita de Luiz Gonzaga ao general João Figueiredo, presidente na época da ditadura militar. “Uma vez, consciente de que a asa branca estava sumindo no Nordeste, ele foi vestido todo a caráter e com duas aves nos ombros falar com Figueiredo sobre o assunto, mas foi expulso de lá”, fala.

Olha pro céu
Dominique Dreyfus garante que o sanfoneiro sabia da sua importância no cenário musical brasileiro, mesmo quando ele foi “atropelado” pela bossa nova. “Ele encarava com tranquilidade e até certo humor. Dizia que 'aquela' bossa nova acabou com todo mundo, que ninguém mais queria saber dele, mas que continuaria a fazer música para o povo dele.”

A autora aponta três tipos de legado do Rei do Baião: os clones, que só o copiam; os que pegam a tradição da sanfona e imprimem sua própria impressão, como Dominguinhos; e os que pegam o espírito de Gonzaga e enriquecem com as coisas que existem em sua época, como Renata Rosa e Lenine, de quem é fã. “Acho legal todos os casos. Gosto muito dessa atual geração de músicos nordestinos, como o Silvério Pessoa. Só não gosto desse forró estilizado, que para mim é de uma grande pobreza, não progrediu em nada”, ataca.

Além de Luiz Gonzaga, a autora também escreveu sobre a vida de um dos maiores violonistas brasileiros em “Violão Vadio de Baden Powell”, de 1999, também pela editora 34. Será que ela já tem em mente outro artista para biografar? “Pensei em fazer sobre [Dorival] Caymmi, mas neta dele, Stella, já estava fazendo. Tem pessoas interessantes por aí, mas que ainda não estão velhas o suficiente”, brinca.

Jornadas
Essas e outras histórias curiosas sobre a vida de Luiz Gonzaga vão entrar no repertório de Dominique Dreyfus na conversa que ela terá com o público no sábado (09), às 17h, ao lado do músico e etnomusicólogo Climério de Oliveira (PE). Antes, a partir das 15h, o historiador especializado em música Ricardo Cravo Albin (RJ) e o pesquisador Renato Phaleante (PE) participam da mesa "Baião na cidade grande", com mediação do radialista Saulo Gomes (PE).

Na sexta (08), a partir das 15h, quem abre as Jornadas Gonzagueanas são os músicos pernambucanos João Silva, Marcelo Melo, Onildo Almeida e Jurandy da Feira. Eles compõem a mesa de debate “Memorial dos parceiros”, relembrando os momentos vividos junto ao Rei do Baião.

O matador de Lampião´- João Bezerra da Silva

João Bezerra da Silva - matador de Lampião

Dizermos que João Bezerra da Silva foi o único homem do Nordeste que teve a "honra" de assassinar o facínora mais poderoso do Brasil, é bastante errado e contra os princípios de Deus.

Quem mata o seu semelhante poderá se livrar da justiça do homem, mas da de Deus, jamais. Ou mais cedo ou mais tarde estará passando pelas suas mãos vingativas, ou  de um jeito ou de outro.

Mas dizermos que João Bezerra da Silva teve a honra de eliminá-lo do solo Nordestino, é apenas para reforçarmos, que foram mais de vinte anos, que Lampião conseguiu fazer seu malabarismo dentro das caatingas, enfrentando dezenas e mais  dezenas de policiais, e não conseguiram exterminá-lo. Só o tenente João Bezerra teve força para capturá-lo morto.

Mas não podemos dizer que Lampião foi vencido. O grande objetivo das volantes era capturar o rei do cangaço vivo e não comseguiram. Lampião continuou vencendo, Capturado morto, não vale como vencedores.

Mas vale elogiarmos a coragem que teve o tenente João Bezerra, planejou e enfrentou o grande bandido do Nordeste Brasileiro.

Informação:
O que escrevi aqui, nada contraria o que os  escritores e pesquisadores do cangaço já registraram em seus livros.

XIV FÓRUM DO CANGAÇO E LANÇAMENTO DE LIVRO

"A OUTRA FACE DO CANGAÇO"
Autor: Vilela





Enviado pela professora e pesquisadora do cangaço:
Ana Lúcia Granja de Souza ( Aninha)

Comentários Gerais sobre o Cangaço

Por: Melquíades Pinto Paiva
Melquíades Pinto Paiva

Desde a infância sertaneja em Lavras da Mangabeira (sul do Ceará), tive a atenção despertada pela saga do cangaço no nordeste do Brasil. Com o passar do tempo, comecei a juntar a bibliografia pertinente ao fenômeno, apresentada nas formas as mais diversas, publicada em localidades espalhadas na imensidão do nosso país. É tão grande a quantidade dos títulos aparecidos, que deixa confusa qualquer pessoa tida como organizada, tornando difícil o encontro deles nos acervos das bibliotecas. Em consequência, adotei duas atitudes: tentei classificar as publicações disponíveis, do que resultou pequeno trabalho sobre o assunto (PAIVA, 1997); iniciei a redação de fichas com os comentários sobre cada texto  em exame, para facilitar a separação dos que têm real valor, assinalando mediocridades e compilações, além de condenar as baboseiras escritas. A primeira coleção de tais fichas foi mostrada ao meu sempre lembrado amigo Jerônimo Vingt-Un Rosado Maia (1920 – 2005), que recomendou a sua  publicação e a continuidade do esforço empreendido. Disso resultou a série Bibliografia comentada do cangaço, encontrada na Coleção Mossoroense, agora no volume V (PAIVA, 2001 – 2008). Consolidando os cinco volumes já aparecidos, e acrescentando novas fichas posteriormente escritas, está indo para o mercado livreiro nova publicação ilustrada (PAIVA, 2012).

 Renato Casimiro, Manoel Severo, Melquíades Pinto Paiva e Luitgarde Oliveira Barros

1 – Herói ou bandido. Lampião praticou boas ações, pequenas e raras, tratando os sertanejos pobres. Em contrapartida, foi um facínora sanguinário, assolando populações e propriedades no espaço das secas nordestinas. Contribuiu para o atraso da economia regional, pela sistemática destruição de patrimônios dos que não aceitavam as suas extorsões. Um bandido, flagelo das caatingas!

2 – Iniciação no cangaço. Muitos dos cangaceiros entraram para a vida bandoleira em busca de vingança pessoal, por causa das violências sofridas nas mãos dos “coronéis de barranco” e policiais. Poucos praticaram suas vinganças e deixaram os caminhos do crime. Em sua maioria, eles se tornaram bandidos, perdendo o chamado “escudo ético”.

3 – Ação revolucionária. Não vejo qualquer ação revolucionária dos cangaceiros. Eles serviram aos “coronéis de barranco”, grandes coiteiros e sócios em negócios escusos. Venderam serviços e contribuíram para a permanência do coronelismo sertanejo e do latifúndio explorador dos pobres. A maior vontade de Lampião era se tornar declarado fazendeiro, comprando terras com dinheiro roubado, entregues a gente graúda, pois não podia registrá-las em seu próprio nome.

4 – Fim do cangaço. A modernidade chegou ao domínio das caatingas com as estradas e as comunicações, diminuindo o isolamento das populações sertanejas e abrindo novas perspectivas de vida, inclusive por meio da emigração para o sudeste do Brasil. O cangaço, na forma tradicional, encontrou seu fim com o advento do Estado Novo, unitário e ditatorial, que causou abalo no coronelismo sertanejo, suporte maior dos bandidos das caatingas.




5 – Vida dos cangaceiros. Em primeiro lugar, os cangaceiros foram sertanejos, conhecedores da ambiência em que viveram, e por isto muito adaptados ao bioma das caatingas. A inovação que houve foi o constante andar, carregando a própria mudança, sem rumo certo, sem destino de costumeira morada. Intercalados, os refrigérios dos coitos.

6 – Estratégias de sobrevivência. Os cangaceiros tinham conhecimentos dos ambientes que usavam no caminhar e nos combates, o que lhes deu condições fundamentais de sobrevivência. Além das técnicas de luta adaptadas às caatingas, eles se mostraram bons despistadores, com diferentes práticas de esconder os rastros, desaparecendo nos espaços semiáridos, em verdadeira prática do mimetismo. Tudo isto, sem falar na bem montada rede de coiteiros, informantes e vendedores de armas e munições. Por fim, é necessário ressaltar o poder de corromper os comandantes das volantes.

7 – Conservadorismo cangaceiro. Os cangaceiros foram extremamente conservadores, combatendo todas as coisas que trouxessem modernidade aos sertões nordestinos, contrários à construção de estradas de rodagem e montagem de redes telegráficas, que lhes reduziam o poder de mando. Apesar disto, gostavam de muitas práticas do viver urbano e litorâneo, expressas no comer e beber, no vestir e divulgação de imagens do seu viver.

8 – Escritores cangaceiros. É imensa a literatura cangaceira. Não sei como destacar o que considero de maior valor. Vou apenas indicar três livros, de épocas diversas: Gustavo Barroso (1930) – Almas de lama e aço: Lampeão e outros cangaceiros; Frederico Pernambucano de Mello (1985) – Guerreiros do Sol: o banditismo no nordeste do Brasil; Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros (2000) – A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão. Há um curioso título, pequeno livro de minha autoria – Melquíades Pinto Paiva (2004b) – Ecologia do Cangaço, que destaco por causa da originalidade do enfoque. 

9 – Cangaceiros e traficantes – São bem evidentes as correlações entre os cangaceiros e os traficantes, os primeiros nos espaços rurais nordestinos e os segundos nos arredores dos grandes centros urbanos. Na verdade, velhos professores e modernos discípulos!

10 – Persistência do mito. As literaturas de cordel e de ficção tentam cristalizar o mito de bondade de Lampião, o mesmo acontecendo com o cinema. Em verdade, procuram um paradigma da coragem do povo nordestino e de sua afirmação no contexto nacional. O esquerdismo do cangaceiro é sonho de desavisados, inocentes ou safados!
Referências Bibliográficas


BARROS, L. O. C. – 2000 – A Derradeira Gesta : Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão. MAUAD Editora Ltda., 360 pp., Rio de Janeiro.
BARROSO, G. – 1930 – Almas de lama e aço : Lampeão e outros cangaceiros. Comp. Melhoramentos de S. Paulo, 125 pp., [4] ests., São Paulo.
MELLO, F. P. – 1985 – Guerreiros do Sol : o banditismo no nordeste do Brasil. Fundação Joaquim Nabuco / Editora Massangana, XIII + 310 pp., [30] ests., Recife.
PAIVA, M. P. – 1997 – Comentários sôbre a bibliografia do cangaço no nordeste do Brasil. Coleção Mossoroense , série B / número 1.384, 14 pp., Mossoró.
PAIVA, M. P. – 2001 – Bibliografia comentada do cangaço – I. Coleção Mossoroense, série C / volume 1.253, 118 pp., Mossoró.
PAIVA, M. P. – 2002 – Bibliografia comentada do cangaço – II. Coleção Mossoroense, série C / volume 1.302, 84 pp., Mossoró.
PAIVA, M. P. – 2003 – Bibliografia comentada do cangaço – III. Coleção Mossoroense, série C / volume 1.396, 105 pp., Mossoró.
PAIVA, M. P. – 2004a – Bibliografia comentada do cangaço – IV. Coleção Mossoroense, série C / volume 1.434, 105 pp., Mossoró.
PAIVA, M. P. – 2004b – Ecologia do Cangaço. Editora Inteciência Ltda., XII + 74 pp., 3 figs., 45 fotos, Rio de Janeiro.
PAIVA, M. P. – 2008 – Bibliografia comentada do cangaço – V. Coleção Mossoroense, série C / volume 1.532, 89 pp., Mossoró.
PAIVA, M. P. – 2012 – Cangaço : uma ampla bibliografia comentada. Editora IMEPH, 392 pp., ilus., Fortaleza.
 

Melquíades Pinto Paiva

O autor é professor emérito da Universidade Federal do Ceará.

http://cariricangaco.blogspot.com

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13 de junho de 1927 O dia em que Lampião atacou Mossoró - 17 de Maio de 2012

Por Geraldo Maia do Nascimento

Em 1927 a cidade de Mossoró vivia um período de expansionismo comercial e industrial. Possuía o maior parque salineiro do país, três firmas comprando, descaroçando e prensando algodão, casas compradoras de peles e cera de carnaúba, contando com um porto por onde exportava seus produtos e sendo, por assim dizer, um verdadeiro empório comercial, que atendia não só a região Oeste do Estado, como também algumas cidades da Paraíba e até mesmo do Ceará. 
A população da cidade andava na casa dos 20.000 habitantes, era ligada ao litoral por estrada de ferro que se estendia ao povoado de São Sebastião, atual Dix-sept Rosado, na direção Oeste, seguindo por quarenta e dois quilômetros. Contava ainda com estradas de rodagem, energia elétrica alimentando várias indústrias, dois colégios religiosos, agências bancárias e repartições públicas. Era essa a Mossoró da época. A riqueza que circulava na cidade despertou a cobiça do mais famoso cangaceiro da época, que era Virgulino Ferreira, o Lampião. Para concretizar o audacioso plano de atacar uma cidade do nível de Mossoró, Lampião contava em seu bando com a ajuda de alguns bandidos que conheciam muito bem a região Oeste do Estado, como era o caso de Cecílio Batista, mais conhecido como \"Trovão\", que havia morado em Assu onde já havia sido preso por malandragem e desordem e de José Cesário, o \"Coqueiro\", que havia trabalhado em Mossoró. Contava ainda com Júlio Porto, que havia trabalhado em Mossoró como motorista de Alfredo Fernandes, conhecido no bando pela alcunha de \"Zé Pretinho\", e de Massilon que era tropeiro e conhecedor de todos os caminhos que levavam a Mossoró.
No dia 2 de maio de 1927 Lampião e seu bando partiram de Pernambuco, em direção ao Rio Grande do Norte. Atravessaram a Paraíba próximo à fronteira com o Ceará, com destino a cidade potiguar de Luís Gomes. Antes, porém, atacaram a cidade paraibana de Belém do Rio do Peixe.
Lampião não estava com o bando completo. O cangaceiro Massilon, que era um de seus chefes, estava com uma parte dos bandidos no Ceará e pretendia atacar a cidade de Apodi, já no Rio Grande do Norte, no dia 11 de junho daquele ano. Depois do assalto, deveria se juntar a Lampião em lugar predeterminado, onde deveriam terminar os preparativos para o grande assalto. Essa reunião se deu na fazenda Ipueira, na cidade de Aurora, no Ceará, de onde partiram com destino a Mossoró. E aí começou a devastação por onde o bando passava. Assaltaram sítios, fazendas, lugarejos e cidades, roubando tudo o que encontravam, inclusive joias e animais, queimando o que encontravam pela frente e fazendo refém de todos os que podiam pagar um resgate. Entre os sequestrados estavam o coronel Antônio Gurgel, ex-prefeito de Natal, Joaquim Moreira, proprietário da Fazenda \"Nova\", no sopé da serra de Luís Gomes, dona Maria José, proprietária da Fazenda \"Arueira\" e outros.
Coube ao coronel Antônio Gurgel, um dos sequestrados, escrever uma carta ao prefeito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, fazendo algumas exigências para que a cidade não fosse invadida. Era a técnica usada pelos cangaceiros ao atacar qualquer cidade. Antes, porém, cortavam os serviços telegráficos da cidade, para evitar qualquer tipo de comunicação. Quando a cidade atendia o pedido, exigiam além de
dinheiro e joias, boa estada durante o tempo que quisessem, incluindo músicos para as festas e bebidas para as farras. Quando o pedido não era aceito, a cidade era impiedosamente invadida.
De Mossoró pretendiam cobrar 500 contos de réis para poupar a cidade, mas sendo advertido que se tratava de quantia muito alta, resolveram reduzir o pedido para 400 contos de réis. A carta do coronel Gurgel dizia:
\"Meu caro
Rodolfo Fernandes.
Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró\".
Ao receber a carta, o coronel Rodolfo Fernandes convoca uma reunião para a qual convida todas as pessoas de destaque da cidade, onde informa o conteúdo da mesma e alerta para a necessidade de preparação da defesa contra um possível ataque dos cangaceiros. Os convidados, no entanto, acham inviável que possa acontecer um ataque de cangaceiros a uma cidade do porte de Mossoró. E de nada adiantaram os argumentos do prefeito.
Mesmo decepcionado com a atitude dos cidadãos da cidade, o prefeito responde a carta nos seguintes termos:
\"Mossoró, 13 de junho de 1927. -
Antônio Gurgel.
Não é possível satisfazer-lhe a remessa dos 400.000 contos, pois não tenho, e mesmo no comércio é impossível encontrar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Sr. Jaime Guedes. Estamos dispostos a recebê-los na altura em que eles desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e inteira segurança.
Rodolfo Fernandes\".
Quando o portador chega à casa do prefeito para pegar a resposta, esse, de modo cortês, diz que a proposta do bandido é inaceitável e se diz disposto a enfrentá-lo. Levou o portador ao aposento onde havia vários caixões com latas de querosene e gasolina. Junto a esses caixões, existia um aberto e cheio de balas. O prefeito na tentativa de impressioná-lo, diz que todos aqueles caixões estão cheios de munição e que já existe um grande número de homens armados na cidade aguardando a entrada dos cangaceiros.
Lampião não esperava tal resposta e ao tomar conhecimento que a cidade está pronta para brigar, resolve mandar um bilhete escrito de próprio punho, numa péssima caligrafia, julgando que assim conseguiria o intento:
\"Cel. Rodolfo
Estando Eu até aqui pretendo drº. Já foi um aviso, ahi pº o Sinhoris, si por acauso rezolver, mi, a mandar será a importança que aqui nos pede, Eu envito di Entrada ahi porem não vindo essa importança eu entrarei, ate ahi penço que adeus querer, eu entro; e vai aver muito estrago por isto si vir o drº. Eu não entro, ahi mas nos resposte logo.
Capm Lampião\".
Mais uma vez, o prefeito responde com negativa. Diz em sua resposta para Lampião:
\"Virgulino, Lampião.
Recebi o seu bilhete e respondo-lhe dizendo que não tenho a importância que pede e nem também o comércio. O Banco está fechado, tendo os funcionários se retirado daqui. Estamos dispostos a acarretar com tudo o que o Sr. queira fazer contra nós. A cidade acha-se, firmemente, inabalável na sua defesa, confiando na mesma. 
Rodolfo Fernandes
Prefeito, 13.06.1927\".
Nessa altura dos acontecimentos, os mossoroenses, já convencidos do intento dos cangaceiros, tratavam de preparar a defesa da cidade. O tenente Laurentino era o encarregado dos preparativos. E como tal, distribuía os voluntários pelos pontos estratégicos da cidade. Haviam homens instalados nas torres das igrejas matriz, Coração de Jesus e São Vicente, no mercado, nos Correios e Telégrafos, companhia de luz, Grande Hotel, estação ferroviária, ginásio Diocesano, na casa do prefeito e demais pontos.
O plano de Lampião era chegar a uma localidade conhecida como Saco, que ficava a uma distância de dois quilômetros de Mossoró, onde abandonariam as montarias e prosseguiriam a pé até a cidade. O cangaceiro Sabino comandava duas colunas de vanguarda. Uma das colunas era chefiada por Jararaca e outra por Massilon. Lampião ia no comando da coluna da retaguarda.
Enquanto cangaceiros e voluntários se preparam para o combate, o restante da população, que não participaria do mesmo, tentava deixar a cidade. Eram velhos, mulheres e crianças, pessoas doentes que não tinham nenhuma condição de enfrentar, de armas em punho, a ira dos cangaceiros.
A cena era dantesca desde o dia 12 de junho. Nas ruas, o povo tentava deixar a cidade de qualquer maneira. Mulheres chorando, carregando crianças de colo ou puxadas pelos braços, levando trouxas de roupas, comida e água para a viagem, vagando na multidão sem rumo. Era uma massa humana surpreendente que se deslocava pelas ruas da cidade na busca de transporte, qualquer que fosse o meio, para fugir antes da investida dos cangaceiros. Famílias inteiras reunidas, em desespero, lotavam os raros caminhões ou automóveis que saíam disparados a caminho do litoral. Muitos, sem condição de transporte, tratavam de conseguir esconderijo dentro ou fora da cidade. A ordem dada pelo prefeito era que quem estivesse desarmado saísse da cidade.
O desespero aumentava mais à medida que o dia avançava. Às onze horas da noite, os sinos das igrejas de Santa Luzia, São Vicente e do Coração de Jesus começaram a martelar tetricamente, o que só servia para aumentar a correria. As sirenes das fábricas apitavam repetidamente a cada instante. Muita gente que não acreditava na vinda de Lampião, só aí passou a tomar providências para a partida
Na praça da estação da estrada de ferro, era grande a concentração de gente na busca de lugar para viajar nos trens que partiam de Mossoró. Até os carros de cargas foram atrelados à composição para que a multidão pudesse partir. Mesmo assim não dava vencimento, e os retardatários, em lágrimas, imploravam um lugar para viajar.
O prefeito, coronel Rodolfo Fernandes de Oliveira, se desdobrava na organização da defesa ao mesmo tempo que ordenava a evacuação da cidade, medida essa que poderia salvar muitas vidas.
Enquanto isso, a locomotiva a vapor, quase milagrosamente partia, resfolegando com o peso adicional, parecendo que ia explodir, tamanho o esforço feito pela máquina que emitia fortes rangidos e deixava um rastro de fumaça negra no horizonte. Era uma viagem relativamente curta, entre Mossoró e Porto Franco, nas proximidades da praia de Areia Branca.
Na cidade, o badalar dos sinos continuava e o desespero também, pois apesar da pequena distância que o trem deveria percorrer, a locomotiva demorava mais do que o normal para chegar, com o maquinista parando com frequência para se abastecer de água e lenha pelo caminho. Saía de Mossoró com todos os carros lotados e voltava vazio. Era um verdadeiro êxodo.
Na noite do dia 12 de junho, não houve descanso para ninguém em Mossoró. Os encarregados pela defesa da cidade se revezavam na vigília, enquanto o restante da população esperava a vez de partir. E o movimento na estação ferroviária não parava. O embarque de pessoal virou toda a noite e só terminou na tarde do dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, quando foram ouvidos os primeiros tiros, dando início ao terrível combate. Mas a meta havia sido alcançada; a cidade estava deserta, exceto pelos defensores que das trincheiras aguardavam o ataque. 
Ao entrar na cidade o bando sente medo devido ao abandono do local. Sabino encaminha-se com suas colunas para a casa do prefeito. Não perdoa o atrevimento daquele homem que resolveu enfrentar o bando do cangaceiro mais temido do Nordeste brasileiro. Sabino posiciona-se sozinho em frente à casa de Rodolfo Fernandes. Os defensores da cidade ficam indecisos, sem saber se ele é um soldado ou um cangaceiro, já que não havia muito diferença entre a maneira de se vestir de um e de outro. Foi preciso a ordem do prefeito para que começassem a atirar.
Nesse momento o tempo fechou. Uma forte chuva começa a cair, comprometendo o desempenho dos cangaceiros e tornando mais tétrico o ambiente. Lampião segue em direção ao cemitério da cidade enquanto Massilon procura os fundos da casa do prefeito.
O cangaceiro \"Colchete\" tenta revidar os tiros lançando uma garrafa com gasolina contra os fardos de algodão que servem de trincheiras para os defensores, na tentativa de incendiá-los. Nesse momento é atingido por um tiro, caindo morto. Jararaca se aproxima do corpo, com o intuito de dar prosseguimento ao plano do comparsa morto, e é também atingido nas costas, tendo os pulmões perfurados.
No mesmo instante, os soldados entrincheirados na boca do esgoto começam a atirar, encurralando os cangaceiros. Os defensores dominam a situação e não resta outra solução aos facínoras se não abandonarem a cidade. A ordem de retirada é dada por Sabino que puxando da pistola dá quatro tiros para o alto. É o fim do ataque.
Não foi um combate longo; iniciou-se às quatro horas da tarde, aproximadamente, sendo os últimos disparos dados por volta das cinco e meia da mesma tarde. Lampião havia fugido, deixando estirado no chão o cangaceiro Colchete e dando por desaparecido o Jararaca, que depois seria preso e \"justiçado\" em Mossoró. Mas com medo da revanche dos bandidos, os defensores permaneceram de plantão toda a noite, só descansando no outro dia, quando tiveram certeza que já não havia mais perigo.
Quando lembramos esses fatos, ficamos pensando que tragédia poderia ter acontecido se a cidade não houvesse sido esvaziada a tempo. Quantas mortes poderiam ter havido se a população tivesse permanecido aqui. Só Deus pode saber.
Depois do acontecido, a população começa a voltar para casa. É outra batalha para se conseguir transporte, juntar os parentes, desentocar os objetos de valores que tinham ficado escondidos e tantas providências mais, que só quem viveu o drama poderia contar.
13 de junho, Dia de Santo Antônio. Um dia que ficou marcado para sempre na história de Mossoró.
               

Geraldo Maia do Nascimento

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Fonte:

GRUPO DO CANGACEIRO CORISCO EM 1936


Exposição do grupo de Cristino Gomes da Silva Cleto (Corisco ou Diabo Loiro) nasceu em 10 de agosto de 1907 em Alagoas e morreu em 25 de Maio de 1940 na Bahia. lugar tenente de Lampião.


Quem assassinou o cangaceiro Corisco foi o tenente Zé Rufino, que após o fim do cangaço foi promovido a Coronel da Polícia. Ele foi o maior caçador de cangaceiros do Nordeste Brasileiro. Mais de 20 cangaceiros foram tombados pelas suas armas.

Ele, o primeiro à esquerda, logo depois dele sua inseparável companheira Sérgia Ribeiro da Silva  (Dadá) que nasceu em Belém do São Francisco - PE em 1915 e morreu em Salvador – BA. em 1994.  À frente ver-se seu cachorro de estimação (guarani). 

A foto é de Benjamim Abrahão Botto - ano 1936.

Fonte:

Amor semeado (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa(*) 
Rangel Alves da Costa


Amor semeado


Dois grãos no olhar
duas sementes na face
gota d’água na boca
vestido branco de nuvem
os pés sobre a terra
e o fértil coração
para ser alimentado
dos frutos nascidos
sobre o chão onde vives

sei que da colheita
terei o doce fruto do amor
mas jardineiro que sou
aproveito a boa estação
e espalho semente de flor
apenas uma semeada
bem perto da tua boca
onde molhe com o lábio
mel que surge em cortejo
para mansamente brotar
para nascer como beijo.


(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Voltamos a apresentar

Por: Aderbal Nogueira

Lampião em Limoeiro, CE

Segunda parte da entrevista de Custódio Saraiva de Menezes Juiz municipal de Limoeiro do Norte em 1927, concedida a Agenor Ferreira, da Rádio Vale do Jaguaribe, em 1977.

Constam também mais dois depoimentos gravados por nós, em 1997. Um é do irmão de Custódio Saraiva e o outro de mais uma testemunha ocular, uma senhora que presenciou a entrada de Lampião em Limoeiro.
 





A propósito

Vocês sabem algo sobre esse pistoleiro que acompanhava Lampião em Limoeiro?

Se não me engano, Frederico Pernambucano uma vez me falou que Lampião tinha serviço de pistolagem para cobrar dinheiro emprestado  por ele para comerciantes nas capitais.

Isso procede?

Bom proveito
Aderbal Nogueira!