(Volta Seca, Lampião, Cangaço e Nordeste)
(11-NOVEMBRO-1926, hoje 93 anos).
Lampião foi
ferido gravemente na fazenda Tigre, em Floresta, retirando-se para o município
de Tacaratu para ali se tratar, restabelecendo-se por fim em uma das fazendas
de Ângelo da Jia. Com força total, voltou três meses depois a espalhar o medo.
Apareceu na região do riacho São Domingos, seguindo para os povoados de São
Francisco e Santa Maria. Entrou no município de Floresta e passou pelas fazendas
Campos Bons, Cachoeira, Exu e Arapuá, dormindo no dia 10 de novembro (1926) na
fazenda Favela, a cerca de 12 quilômetros da cidade. Cerca de 90 homens sob o
comando do sargento José Saturnino e anspeçada Manuel Neto seguiam-lhe a pista.
Diz Marilourdes Ferraz (O Canto do Acauã, 1 ed., p. 245) que a força “encontrou
Emiliano Novais, certamente indo ao encontro de Virgulino Ferreira.
Interrogado, não forneceu quaisquer informações; apenas por considerar seus
parentes, Manuel Neto o libertou”. “Emiliano foi imediatamente ao encontro de
Lampião avisar que Manuel Neto tomava aquele rumo.”
E quando, na madrugada do dia 11 (alguns autores, erradamente, dão esse fato
como acontecido em agosto), a força chegou à Favela, já encontrou uma grande
emboscada. Sem desconfiar, Manuel Neto bateu à porta da fazenda. Perguntaram
quem era.
- É Manuel Neto.
Pediram para aguardar. De repente, a parte superior da porta se abriu e uma
tremenda descarga foi dada para o lado de fora da casa, tombando mortos dois
soldados, sendo outros feridos.
João Gomes de Lira (obra citada, p. 339) diz que, assim que os bandidos
recolheram as armas, Manuel Neto, que se encostara ao pé da parede, ao lado da
porta, “sem perda de tempo, botou a boca do mosquetão para o lado de dentro,
fazendo fogo.”
De outra casa partiam tiros, levando pânico aos soldados em campo raso. Da
parede do açude diversos cangaceiros alvejavam os homens de José Saturnino que
recuou com vários feridos e mortos em seu grupo. Cerca de duzentas armas
vomitavam fogo e “o mundo” encobriu-se de fumaça. Os bandidos viam Manuel Neto
lutar como poucos. Provavelmente nesse combate o nazareno ganhou dos
companheiros o apelido de Manuel Fumaça. Lampião preferia chamá-lo de Cachorro
Azedo, face a sua disposição em persegui-lo.
A frágil posição das forças, com as violentas retaguardas dos cangaceiros,
entretanto, não permitiram uma maior resistência. Depois de 3 a 4 horas de
fogo, os soldados começaram a se retirar, resistindo bravamente Manuel Neto até
o último momento. Vendo ao seu lado um punhado de combatentes e com inúmeras
perdas, resolveu o anspeçada recuar, levando os feridos para Floresta.
Na cidade, somente depois que deixou de ouvir o tiroteio é que o capitão Muniz
de Farias se dispôs a socorrer os companheiros, para ali seguindo com 70 a 80
praças. Segundo João Gomes de Lira (obra citada, p. 341), Muniz encontrou o
anspeçada no caminho. Vinha “dando esturros de todo tamanho. Vinha mesmo
faiscando de todo jeito por ter Lampião ficado na cava”. Pediu ao capitão a sua
força, disposto a, no mesmo momento, perseguir os bandidos. O capitão negou.
“Indignado” - conta Lira -, “disse coisas pesadas ao superior.” Muniz ainda foi
até à Favela, nada encontrando. Ainda segundo Lira, o capitão, “por não gostar
da família Novaes, incendiou as casas da grande fazenda. Foi bem elevado o
prejuízo que o proprietário, Sr. Antônio Novaes, sofreu.” Marilourdes Ferraz
esclarece que o capitão mandou “atear fogo aos cercados da Favela.”
A 15 de novembro de 1926, o Comandante das Forças Volantes, major Theóphanes
Ferraz Torres, passou ao Comandante Geral da Força Pública o seguinte
telegrama:
“Sindicando sobre tiroteio fazenda Favela, tenho satisfação de dizer que tal
acontecimento foi um dos feitos de maior valor praticado no interior do Estado,
pela nossa heróica Força Pública. Bandidos em número superior sabiam que José
Saturnino e Manuel Neto marchavam em perseguição, de modo que, ao chegarem em
lugar apropriado e absolutamente favorável a eles, esperaram força em campo
raso, de surpresa receberam as primeiras descargas, travando-se luta
verdadeiramente encarniçada, durante algumas horas.
Após o tiroteio grupo foi encontrado rumando direção serra Umã conduzindo cinco
bandidos feridos. Foi também encontrado um bandido morto no local do tiroteio,
afora os que de certo o grupo pôde ocultar.
Saudações.”
Em reconhecimento ao esforço de Manuel Neto o capitão Muniz, chegando a
Floresta, “pediu por ato de bravura a promoção de cabo para o anspeçada”, sendo
imediatamente atendido.
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