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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

CUSCUZ PURO

*Rangel Alves da Costa

O cuscuz é um dos pratos típicos mais apreciados do mundo. Típico por que cada povo costuma ter uma receita própria e à base de milho, arroz, trigo e outros cereais. Dependendo da região, o cuscuz se torna num misturado que mais parece outro prato.

As receitas são muitas, levando miúdos, carnes diversas, queijos, salsichas e outros embutidos, temperos, conservas, dentre outras opções. Mas nada igual ao nosso velho e conhecido cuscuz nordestino, sertanejo de cheiro e fogão. Cuscuz de massa ou flocos de milho, sem mistura, saído fumegante do cuscuzeiro.

Conheço muita gente que se basta no cuscuz puro, sem acompanhamento algum. Até diz que qualquer coisa misturada às fatias amareladas acaba distorcendo o generoso sabor. E com razão. E tem gente que aprecia tanto o prato que é capaz de devorar um cuscuz inteiro em poucos instantes.

“Agora, imagine sendo o cuscuz autêntico, de milho ralado em quintal, cozido em fogão de lenha e recoberto por pano limpo, de onde logo surge uma névoa quente, cheirosa, perfumada, apetitosa, para depois ser fatiado e saboreado com manteiga da boa, ovos de galinha de capoeira ou queijo da terra se espalhando ainda quente pelas fatias e ao redor...”.

Conheci um senhor que causava um problema sério na hora do café da manhã ou do jantar. Sempre queria cuscuz, e puro, mas tendo de ser vigiado pela família para não fugir do limite. Como eram feitos dois cuscuz, sendo o dele um pouco menor, comia inteirinho o seu e depois olhava para os cantos e, não avistando ninguém, corria a pegar fatias no outro cuscuzeiro.

“Agora, imagine se esse cuscuz tão apreciado fosse saboreado com uma xícara de café batido em pilão e torrado, feito em chaleira antiga, derramando pelas beiradas o mel enegrecido dos deuses. Manteiga se derretendo por cima de cada fatia, mais adiante uma porção de tripa assada, fininha, mas daquelas que escorre pelo canto da boca a cada mordida...”.


Muita gente come o cuscuz puro por falta mesmo da chamada mistura. Mas tenho certeza que muito mais gente prefere ele assim, sem acompanhamento algum, pelo simples prazer em comer, em saborear cada pedaço de fatia, e sempre querendo mais. Quando no ponto, nem muito endurecido nem muito molhado, descendo ainda fumegante no prato, realmente faz esquecer qualquer outra comida que possa ser misturada. Basta esfriar um pouquinho e mastigar revirando os olhos.

“Agora, imagine um cuscuz de milho ralado, como aqueles próprios das fazendas e lugarejos afastados, chegando sobre a mesa acompanhado de um bom pedaço de porco assado, uma boa costela de gado, ou mesmo uma carne torrada e oleosa. Antes de tudo, molhar a fatia com o óleo da fritura, depois espalhar por cima uns pedaços já cortados segundo cada garfada ou colherada, e tendo ao lado uma xícara de café negro e encorpado. É um não querer sair mais nunca da mesa...”.

Muita gente prefere pão, inhame, macaxeira, sopa, ou mesmo o que tiver na hora da fome da manhã e da boca da noite. Mas há os verdadeiros apaixonados, fanáticos pelo cuscuz. E tanto faz que seja em floco ou a simples massa, bastando que chegue com aquele cheiro inconfundível do milho cozido. Verdade que o aroma nunca é igual àquele ralado em quintal e cozido sumarento sobre o fogão de lenha, mas a intenção vai pela fome e a fome faz surgir o perfume.

“Agora, imagine um cuscuz caipira, de milho ralado, com leite de coco por cima, ou mesmo leite de gado morno, com nata grossa por riba. Imagine um cuscuz assim acompanhado de uma perna de preá assado, de uma nambu ou codorna, de uma caça qualquer. Imagine um prato assim diante de um cabra que chega cansado ou que tem de ter sustança para o trabalho do dia. A pessoa come de perder a hora, de dar moleza, de dar vontade de somente se estirar numa rede e sonhar. Com mais cuscuz...”.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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A INCRÍVEL HISTÓRIA DA CANGACEIRA INACINHA..


Era companheira do cruel cangaceiro " GATO ". No combate da Fazenda Picos com a volante do Ten. João Bezerra. Foi a mesma ferida nas nádegas, e, embora estivesse grávida, foi aprisionada, e, algum tempo depois, veio a dar à luz de um filho. Após algum tempo, foi solta, tendo retornado para Brejo do Burgo, onde se casou com o policial militar Estevão Rufino. 

Fonte/texto/Foto: João De Sousa Lima..../ Gilmar Teixeira.


A ex-cangaceira morreu em 1957, vítima de um câncer, depois de ter lutado contra a doença, sem ver resultados. Fugiu do hospital e mandou um mensageiro ir avisar ao marido que queria morrer em casa. Estevão selou uns burros e foi atender ao último pedido da companheira. 

Já em casa, INACINHA sofreu por mais alguns dias, até falecer, deixando a eterna lembrança no coração do homem que por ela ainda verte lágrimas. ESTEVÃO, ainda vive no Brejo do Burgo.

Fonte/texto/Foto: João De Sousa Lima..../ Gilmar Teixeira.

Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste

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NOVO LIVRO NA PRAÇA "O PATRIARCA: CRISPIM PEREIRA DE ARAÚJO, IOIÔ MAROTO".


O livro "O Patriarca: Crispim Pereira de Araújo, Ioiô Maroto" de Venício Feitosa Neves será lançado em no próximo dia 4 de setembro as 20h durante o Encontro da Família Pereira em Serra Talhada.

A obra traz um conteúdo bem fundamentado de Genealogia da família Pereira do Pajeú e parte da família Feitosa dos Inhamuns.

Mas vem também, recheado de informações de Cangaço, Coronelismo, História local dos municípios de Serra Talhada, São José do Belmonte, São Francisco, Bom Nome, entre outros) e a tão badalada rixa entre Pereira e Carvalho, no vale do Pajeú.

O livro tem 710 páginas. 
Você já pode adquirir este lançamento com o Professor Pereira ao preço de R$ 85,00 (com frete incluso) Contato: franpelima@bol.com.br 
fplima1956@gmail.com

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2016/08/novo-livro-na-praca_31.html

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FAZENDA PATOS (PIRANHAS/AL)

Por Geraldo Júnior

Local em que no dia 02 de agosto de 1938 aconteceu uma das maiores chacinas ocorridas em todo o ciclo do cangaço, nessa casa (Foto) aconteceu a morte e o degolamento do Vaqueiro Domingos Ventura, sua esposa, três filhos e uma filha.


A chacina ocorreu poucos dias após a morte de Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros na Grota do Angico. Induzido por um coiteiro chamado Joca Bernardo, Corisco matou e degolou seis pessoas inocentes sem dar-lhes chances de defesa por acreditar estar vingando a morte de seus antigos companheiros de cangaço.

No dia seguinte Corisco mandou as cabeças de suas vítimas, dentro de sacos, endereçadas ao Tenente João Bezerra, comandante da Força Volante alagoana que deu cabo de Lampião.

Foto: Rosalvo Sampaio (Tabira/PE)
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo O Cangaço)

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NA CAPITAL FEDERAL LANÇAMENTO DO LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Na última quarta-feira, 10 de agosto, no espaço cultural do restaurante Xique-Xique, em Brasília, ocorreu o lançamento do livro “O Sertão Anárquico de Lampião”, de autoria do escritor Luiz Serra. 

Nesta obra, o escritor apresenta sua visão pessoal sobre o sertão de Lampião, “anárquico”, considerando as crônicas e os mitos épicos construídos ao longo do tempo. A narrativa fundamentada em estudos culturais tem informações inéditas e uma possível teoria sobre a misteriosa morte do Rei do Cangaço e seu bando.

Lampião, Maria Bonita e seus cangaceiros.

A mistura de literatura e história em “O Sertão Anárquico de Lampião” inspira o leitor a pensar os acontecimentos históricos dentro de uma perspectiva social, filosófica, política e não apenas factual. Mais do que buscar a compreensão de um fenômeno social, o livro retrata a alma do brasileiro e seus conceitos de violência. 

A obra, que é a primeira pesquisa histórica publicada pelo professor de Português e Literatura, onde o autor costura acontecimentos importantes do início do século XX no Nordeste – Cangaço, Canudos, Padre Cícero, Coluna Prestes, coronelismo e Estado Novo – em uma só história.

O cangaço não morreu com Lampião, como diz Maurício Melo Júnior no texto de orelha do livro, “é um erro pensar que o cangaço morreu com Lampião em 28 de julho de 1938. A partir de então ele se urbaniza e até o final do século XX, com os pistoleiros de aluguel, aterrorizava o Nordeste. Atualmente está travestido de milícias nos morros do Rio de Janeiro e outros tantos recantos do país”. 

Sobre o escritor

Escritor Luiz Serra

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço
“O Sertão Anárquico de Lampião” (de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016)
Valor do livro: R$ 50,00 (Frete fixo: R$ 5,00)

Através do e-mail anarquicolampiao@gmail.com
Informações: Luiz Serra – (61) 99995-8402 luizserra@yahoo.com.br
Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563leidisilveira@gmail.com
Fontes: 

https://tokdehistoria.com.br/2016/08/17/na-capital-federal-lancamento-do-livro-o-sertao-anarquico-de-lampiao-de-luiz-serra/

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ZÉ RUFINO – O MATADOR DE CANGACEIROS

Por Geraldo Júnior

José Osório de Farias o “Zé Rufino” pernambucano da cidade de Belmonte, que um dia se viu forçado a trocar a sua inseparável sanfona pelo Fuzil. Não sabia Zé Rufino que seria exatamente a utilização desse segundo instrumento que o colocaria para sempre nas páginas da história do cangaço nordestino como o maior matador de cangaceiros de todos os tempos.

Um pacato sertanejo que após ter sido convidado a ingressar no cangaço pelo próprio Lampião resolveu ingressar nas Forças de Repressão (Volantes) ao banditismo como forma de proteção a uma possível retaliação devido à recusa do convite, para a infelicidade de muitos cangaceiros, inclusive do próprio Rei do cangaço.

Entre todos os perseguidores de cangaceiros, Zé Rufino foi o que matou o maior número, entre os mortos podemos citar Barra Nova II, Pai Velho, Pavão, Mariano, Zeppelin, Azulão II, Canjica, Zabelê II, Maria Dórea “Eudora” (Maria de Azulão), Corisco, entre outros.

O nome de Zé Rufino tirou o sono de muitos cangaceiros e bandidos comuns pelos sertões do Nordeste na época em que o cangaço era predominante e porque não dizer, imperante...

... nas quebradas do Sertão.
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo O Cangaço)

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DO SERTÃO AO RIO

Por Maria Stela Torres Barros Lameiras
Do sertão ao rio: De Água Branca até Penedo (uma travessia sem ponte) Penedo; foto:Ricardo Junior

Ainda bem criança, antes mesmo que a dita “idade da razão” viesse atormentar meus sentimentos, vivia, via e ouvia as coisas acontecerem sem grandes preocupações: era a vida no curso de seu leito, no qual corríamos felizes pra lá e pra cá. Água Branca era nosso pequeno paraíso aqui na terra.

Mas chegou um tempo em que fomos surpreendidos por uma mudança repentina: Teríamos de deixar nosso Sertão (ainda que ele nunca tenha nos deixado órfãos dele). Íamos nos afastar do Velho Chico, a menos de dez léguas (será que estou certa? Uma légua tem uns seis Km?) de nossa pequena cidade, mas uma proximidade que a vista alcançava do alto dos quase 600 metros acima do nível do mar, o que exercia um fascínio para o sertanejo “habituado” à terra seca. Nosso destino era Penedo: o Velho Chico continuaria conosco, lá, na encantadora Princesa do São Francisco.

As razões dessa mudança “não vêm mais ao caso”... Mas foram essas “razões”(irracionais) que nos “arrancaram” de nosso torrão natal. Não entendíamos nada. Era coisa de adulto: complicado demais para crianças... Só sabíamos que deixaríamos para trás pessoas muito queridas e aquele cheiro de terra e de frutas que impregnava nossa vida cotidiana - as pitangas e as uvas do belo parreiral sairiam da realidade para o sonho. Não veríamos mais as serras, não sentiríamos mais o cheiro da cana melada... Ainda bem que as férias nos trouxeram de volta esses pequenos grandes prazeres de uma vida - e como esperávamos por elas!


Assim, começamos a abrir e fechar muitos parênteses em nossas vidas. Mais que isso: abrimo-nos para novos horizontes, novas paisagens, novos cheiros, outros afetos. Nosso entorno foi se tornando menos estrangeiro... Penedo passou mesmo a ser, como diz o verso da canção: 

TERRA DE QUEM QUER BEM.

Ali, havia aquele “jasmineiro [sempre] em flor”, tal qual o que via Cecília Meireles quando abria sua janela na prosa poética... Em nosso caso, não era uma janela: eram duas grades, um corredor, muitos abraços e um cheiro de coisa boa para alimentar a gulodice infantil e um vazio de “um não sei o quê” que trazíamos no peito. Percorrido o corredor, chegávamos a uma sala aconchegante. Olhávamos para a “sacada” e sentíamos aquele cheiro de jasmim, vindo das pequenas flores que, ao menor toque, “despetalavam-se”, de tão delicadas que eram. Mas tudo isso era só um cenário. 

Bom mesmo eram as personagens daquele encontro em Penedo, longe de nosso Sertão, com uma outra parte de nossa história, a família de nossa avó materna, Stella Fernandes Lemos: Olga – já bem no ocaso da vida, e que nos deixou uma rápida e doce lembrança em um pequeno apelido afetuoso, UÓ, e Edila, nossa Mãe Dila). Não chegamos a conhecer nossa avó; partira bem antes de nossa chegada. Sabíamos, de “ouvir dizer”, que era uma mulher terna, educada, caridosa – e essa fama lhe rendeu um belo cordel de autoria de uma pessoa que dizia não ter “alisado banca” e, por isso, se desculpava pela simplicidade de seus versos – descobri-o anos depois e guardo-o com muito carinho. 

Maria Stela Torres Barros Lameiras no Cariri Cangaço em Água Branca

O que ouvíamos com frequência era que ela era a esposa do filho do Barão de Água Branca – um apagamento de identidade que ainda existe em muitos casos, como bem disse minha querida prima Lidinha, Maria Lídia Torres Bernardes, cheia de curiosidade como eu, diante desses vácuos identitários, sobretudo em relação às mulheres daquela época (e nem só daquela época...). 

Cada vez que vou a Penedo, é grande a emoção de olhar para o Colégio Imaculada Conceição, cujo aprendizado das letras e da vida deu continuidade ao saudoso Gabino Besouro, onde minha mãe era professora. E ali, logo em frente ao colégio, na Praça Jácome Calheiros, ainda está aquela casa que não mudou muito fisicamente, mas onde não temos mais os abraços de Mãe Dila, de Lourdes e de Edith, o que nos trazia a sensação gostosa de que ali nós não éramos estrangeiros – aquele solo não era apátrido: era um solo quase em forma de coração, um chão que passou a ser o nosso novo torrão.
  
Imagem da linda Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Água Branca

A vida seguiu seu curso. Surgiram novos capítulos, a começar com os irmãos penedenses, que vieram, nos cinco anos seguintes... vieram também outras histórias, e um vai e vem que nos levava de uma paisagem para outra, fazendo-nos transitar em mundos que se somavam e que faziam morada em nossos corações. 

Ao longo da vida, muitos mundos vão se sobrepondo e nós vamos nos damos conta de que a melhor geografia não é a física nem a política: é a geografia humana, mais especificamente, a do coração, essa que não precisa de mapa, nem marca distâncias, nem mesmo precisa de ponte para irmos do SERTÃO AO RIO, pois ambos vivem em nós: Água Branca e Penedo são palcos e coxias de nossa história.

Maria Stela Torres Barros Lameiras
Maceió - AL

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“O SUPLÍCIO DO CANGACEIRO BALIZA”


Em dias quentes, quando o ‘Astro Rei’, sem dó nem piedade, calcina as terras sertanejas, os animais e aves da caatinga procuram refugiarem-se do abrasador calor, popularmente conhecido como ‘maiá’, nos mais diversos lugares possíveis.

O cangaceiro conhecido pela alcunha de “Baliza”, que na verdade tratava-se de Venceslau Xavier, junto com sua companheira Antônia Maria, em princípios de 1933, estão a aninharem-se na beira de um barreiro, mais ou menos ao meio dia, do dia 19 de março do ano que corria. Ali, juntinhos e abraçados estão, no silêncio da mata, pois tudo que tem vida, respeita a força do poder do clima no Sertão. 

A ‘coisa’ estava pegando fogo igual ao calor do sol do meio dia, tão boa e gostosa que, mesmo naquele total silêncio, não notaram a aproximação da volante que os cercavam.

Tratava-se da volante comandada pelo cabo Justiniano. Os soldados volantes os cercam e dão ordem de prisão. Após serem amarrados, o casal de cangaceiros é levado para um povoado próximo. 

Ficando preso naquela localidade, servindo de atração para aqueles de maior curiosidade em conhecer um cangaceiro de perto, como que fossem ‘coisa de outro mundo’. Esquecia que eram gente igual a todos, menos seus atos, isso, os fazia diferentes.

Depois de vários dias detidos naquele pequeno povoado, vem a ordem para que o cabo escolte o prisioneiro para a cidade de Santo Antônio da Glória. O cabo manda que entre em forma seu pequeno contingente e seguem, em cortejo, com o prisioneiro entre duas fileiras humanas, rumo à localidade designada. 

Havia naquela região um comandante de volante, Ladislau Reis, que tinha sua fama propagada por toda ribeira. As atrocidades comandadas pelo tenente foram tantas que, mesmo diante de tão horrendas histórias, o sertanejo, sem nunca perder a inspiração, dão-lhe o apelido de “Tenente Santinho”. Quando algum lavrador escutava que o ‘tenente Santinho’ estava pela redondeza, seu coração disparava, seu corpo, involuntariamente, reagia como que o repugnando, e seus pelos, todos, arrepiavam-se, descendo uma corrente elétrica do ‘talo’ do pescoço ao osso do ‘mucumbu’. 

O dito comandante era mais perverso do que Lampião e Corisco, juntos. Gato, Zé Baiano e Sabino foram ‘fichinhas’ diante da ‘dureza’ do tenente.

Seguindo pelas estradas tortuosas do longo caminho, o cabo, seus homens e o prisioneiro, a certa altura, encontra-se com uma volante que estava de passagem por aquela várzea... E era, justamente, a volante comandada pelo “Tenente Santinho”.

Tendo a patente superior a do cabo, o tenente ordena que seja lhe entregue a guarda do prisioneiro. O cabo, tremendo mais que vara verde, apressadamente entrega o prisioneiro ao superior. Ladislau diz que levará o mesmo para a cidade designada pela ordem escrita e que o cabo poderia retornar para sua cidade com seus comandados.

Depois de assumir a custódia do prisioneiro, o tenente Santinho imediatamente ‘ordena’ a seus homens que comessem a dar um ‘trato’ no cabra Baliza. 

A seção de tortura inicia-se ali mesmo. O ‘cacete come solto’ de tal forma, que em pouco tempo, em vez de ver-se um rosto, via-se um acúmulo de sangue e edemas os quais desfiguraram totalmente a cara do prisioneiro. 

Por horas, os soldados da volante aplicam inimagináveis atos torturantes naquele corpo, que mais parecia uma peneira de tantas perfurações de pontas de punhais e facas peixeiras. E segue aquela sessão horrível aplicada ao corpo de Venceslau Xavier. 

Em determinado momento, os soldados do tenente Santinho, acatando suas ordens, o amarram em uma árvore. O laço da corda de fibras de agave, sisal, e colocado na altura dos tornozelos do cangaceiro. Arrastam-no como se arrasta um tronco de madeira e amarram-no de cabeça para baixo num galho de uma árvore próxima.

Após está dependurado, é colocado pedaços de madeira bem perto da sua cabeça. Uma fogueira estava arrumada, a qual, logo, logo, estaria acesa, pelo próprio tenente Santinho.

O prisioneiro debate-se, gira para um lado, depois para o outro... Contorcendo-se feito uma cobra na areia quente, na tentativa vã de esquivar-se das chamas que consumiam seu corpo, Venceslau Xavier, tenta amenizar as dores causadas pelo calor das labaredas que assam, no sentido próprio da palavra, seu corpo. 

No princípio, ouvem-se gritos horripilantes saídos das cordas vocais do cangaceiro Baliza, acompanhado do odor de cabelos chamuscados, para em seguida, a fumaça levar um cheiro de carne assada pelos campos sertanejos. Por fim, o suplício tem seu término, Baliza está morto. 

Santinho não deixa nem o fogo apagar-se totalmente, puxa da bainha seu facão e corta o pescoço daquele corpo, chamuscado, queimado, assado...

Deixando o corpo naquela posição, o tenente Ladislau leva seu troféu macabro para Santo Antônio da Glória, e lá o mostra a população, exibindo, com orgulho e satisfação, o ‘produto’ de seu ato de selvageria.
Fonte “CORISCO - A Sombra de Lampião”- DANTAS, Sérgio Augusto de S., pg 145. 1ª edição, editora Polyprint Ltda, Natal-RN,2015

Foto "A noite Ilustrada", Revista, edição de 30 de Novembro de 1932.

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JOÃO MOSSORÓ NO SHOW DO PEDRO AUGUSTO


Amigo José Mendes Pereira:

No próximo domingo (04 de setembro), estarei participando do show do Pedro Augusto na quadra da Beija Flor a partir das 17:00 horas, e no sábado no Cantinho das Concertinas na Cadegue a partir das 11:45,  e logo após os amigos do Alto Minho. 


Uma festa portuguesa com certeza. 

Um abraço amigão, José Mendes!

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CONVITE ESPETÁCULO GRUTUM


Berioska,

Bom dia!

Por favor repasse o convite do Espetáculo do GRUTUM  para ampla divulgação junto aos professores e departamentos acadêmicos.

Atenciosamente,

Anne
Secretária DECA
3315-2234

Pró-Reitoria de Extensão - PROEX
Diretoria de Educação, Cultura e Artes - DECA
Divisão de Execução e Produção Artístico-Culturais - DEPAC
UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte



Lázaro Emerson Soares - Mat. 08944-3
Agente Técnico Administrativo
Departamento de Geografia


Jionaldo Pereira de Oliveira

Chefe do Departamento de Geografia

Portaria 031/2016-GR

UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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terça-feira, 30 de agosto de 2016

O PATRIARCA, DE VENÍCIO FEITOSA NEVES

    

Hoje para minha satisfação e a partir da gentileza dos amigos Venício Feitosa e professor Pereira, recebi "O Patriarca", a mais nova obra do pesquisador e escritor Venício Feitosa Neves; uma obra realmente de fôlego, resultando em 712 páginas de pura pesquisa e imensurável história, nos trazendo um estudo criterioso e precioso sobre Crispim Pereira de Araujo, e as família Feitosa dos Inhamuns e Pereiras do Pajeú; sem dúvidas imperdível!  
Manoel Severo 

"Esse estudo foi elaborado com muita dedicação, pesquisas e carinho, muitas vezes renunciei estar com minha família para torná-lo possível, escrever sobre clãs numerosos e importantes que exerceram seus domínios desde a colonização é algo que requer muito cuidado, sensatez e respeito" comenta o autor, Venício Feitosa Neves. "O Patriarca vai ser uma grande referência para os que estudam a genealogia e têm interesse pela história dos Pereiras do Pajeú, do cangaço e do Nordeste brasileiro. Venício Feitosa Neves é um exemplo de pesquisador dedicado e incansável. Aguardo ansioso "O Patriarca" para deleitar-me com a leitura. Um grande abraço e até Serra Talhada" afirma o pesquisador Helvécio Feitosa. Já professor Pereira, Conselheiro Cariri Cangaço e um dos maiores livreiros do País " a Genealogia é uma área de pesquisa bem complexa e as vezes seletiva, mas o primo Venício Feitosa Neves usou, com maestria, os recursos da História, Antropologia e sociologia para tornar o seu trabalho o mais abrangente possível, com conteúdos de Cangaço, Coronelismo e história local. Com essa técnica, a leitura ficou agradável e acessível. O conteúdo é excelente, o autor deve ter consultado aproximadamente 1000 fontes bibliográficas. Parabéns."

Lançamento Oficial:
Dias 03 e 04 de setembro de 2016, 
Em Serra Talhada, Pernambuco
Para adquirir a obra
Manter contato através do email:
franpelima@bol.com.br 

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1 ANO E 6 MESES DE LUTA SEM TRÉGUA, VISANDO PUBLICAR NOTAS PARA A HISTÓRIA DO NORDESTE EM FORMATO IMPRESSO

Por José Romero Araújo Cardoso

1 ano e 6 meses de luta sem trégua, visando publicar NOTAS PARA A HISTÓRIA DO NORDESTE em formato impresso. A primeira versão, organizada pela nobre e distinta Profa. Dra. Marinalva Freire da Silva, saiu em formato e-book, dificultando em muito a disseminação das informações sobre o Nordeste contidas no livro. 


Devido ao rigor da crise, ainda não consegui realizar a publicação impressa de NOTAS PARA A HISTÓRIA DO NORDESTE.


Prof. Ms. José Romero Araújo Cardoso

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SERTÃO, VELHO SERTÃO NORDESTINO - 28 DE AGOSTO DE 2016

Por Geraldo Maia do Nascimento
Poeta Antonio Francisco atrás, Geraldo Maia e Dr. Vingt-un Rosado à direita

Antes da chegada do colonizador as terras já eram ocupadas pelas tribos indígenas Janduís e Paiacus. Mas na passagem devastadora dos povoadores dos Sertões, os primitivos habitantes foram sendo escravizados, massacrados e expulsos de suas terras e nessas, os povoadores fincaram os mourões das porteiras dos currais de gado. Já não havia mais lugar para os nativos. Assim começou o desbravamento do Sertão potiguar. 


Sertão, velho Sertão nordestino. Sertão de lutas, de agruras, Sertão sofredor. Se o ano for de seca, a sede, a fome e a desgraça amedrontam o sertanejo; se for ano de chuva, a fartura, a beleza do campo e o cantar da passarada alegram aquele torrão. Terras que no dizer de Euclides da Cunha são “barbaramente estéreis, maravilhosamente exuberantes”.
               
O vocábulo sertão, nos primórdios do povoamento brasileiro, designava todas aquelas regiões ainda não povoadas ou ainda mal ocupadas do país. Como a natureza hostil do interior do Nordeste dificultou a fixação humana da região, gerando uma ocupação rarefeita de lento e penoso adensamento, moldando o isolamento das comunidades, foi consagrado o nome sertão para todo aquele imenso território coberto pelas caatingas.
               
Podemos dizer que foi o gado o desbravador do Sertão. Os imensos canaviais da costa das capitanias do Nordeste eram as bases de uma economia mercantilista que fez com que o litoral bastasse aos portugueses. Toda a terra fértil, próxima ao litoral, estava destinada, por determinação da Coroa, ao cultivo exclusivo da cana-de-açúcar. Não sobrava, dessa forma, espaço para o desenvolvimento de atividades acessórias como a pecuária, que fornecia carne e força motriz aos engenhos. Daí surgiu, no litoral, a necessidade de separação entre a monocultura da cana e a pecuária. Uma Carta-Régia de 1701 determinava que as dez primeiras léguas, a partir da batida do mar (aproximadamente 60 Km), eram destinadas à cana-de-açúcar. Para o gado, sobrava o Sertão. Foi no interior das capitanias, como a do Rio Grande do Norte, que o criatório mais se desenvolveu, mesmo com a resistência indígena contra os primeiros assentamentos de fazendas.
               
Oswaldo Lamartine dizia que “a semente do gado trazida do reino para cá foi inicialmente para suprir a necessidade de força do cangote do boi no giro tardo das almanjarras dos engenhos, ou no gemer lamuriento das cantadeiras dos carros de boi, carregando cana e lenha, de vez que os trapiches requeriam sessenta bois, dos quais moíam de doze em doze horas revezados. Depois, à medida que crescia a parição foi, então, havendo maior aproveitamento do leite, das carnes e dos couros”.
               
E foi assim que os caçadores se internaram no Sertão, rompendo pelos caminhos das águas, ou da areia, já que na estiagem os rios secavam. A marcha era lenta e penosa, castigada pelo sol abrasador, pela sede, rasgando as carnes nos espinhos da sarjadeira, da jurema, do sabiá, da macambira, da quixabeira, do juazeiro, do cardeiro ou do xique-xique, muitos perdendo a vida pelas flechas do caboclo brabo ou pela picada venenosa da jararaca ou cascavel.
               
Quando encontravam terras propícias, principalmente próximas a algum rio, eram fincados os currais. As cabanas eram construídas de madeira e palha, tendo o couro como elemento fundamental. Era a época do couro, como nos ensinou Capistrano de Abreu, pois as portas das cabanas eram de couro, o rude leito aplicado ao chão duro, e, mais tarde a cama, eram de couro, todas as cordas, a borracha para carregar água, o mocó ou alforje para levar a comida, como também a mala em que se guardavam as roupas, a mochila para milhar o cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as bainhas das facas, as bruacas, os surrões, a roupa de entrar no mato, os banguês para costumes ou para apurar sal.
               
Com a implantação dos currais, consolidavam-se os aglomerados. Como religiosos fervorosos que eram, logo construíam uma capela e ao seu redor surgiam as casas, sendo a do fazendeiro a mais vistosa. Nessa, instalavam-se e moravam alguns dependentes da família: os filhos, os parentes e os aderentes. O fazendeiro era uma espécie de figura de patriarca, senhor absoluto de sua vontade e, por isso, respeitado por todos, no meio daqueles sertões obscuros, por vezes violentos. Também eram padrinhos de toda meninada.
               
Desse modo, a fazenda era um centro de aglutinação de pessoas que se juntavam aos que viviam no mesmo regime de família, constituída de filhos e parentes, agregados, vaqueiros, homens de confiança para qualquer serviço. O apego ao clã constituía uma espécie de credo de união do grupo tão diverso. “Tocou em um, tocou em todos”, era essa a lei do Sertão.
               
No caso do Sertão potiguar, algumas fazendas transformaram-se em povoados, em vilas, e deram origem, dentre outras, às cidades de Açu, Apodi, Caicó, Portalegre, Pau dos Ferros, Currais Novos, Mossoró e Acari.
               
Mas os primitivos donos das terras não aceitaram facilmente a presença do colonizador. Estes agiam sempre com violência sobre a população indígena. Os índios não aceitavam entregar suas terras e também não aceitavam ser escravizados. Quando os portugueses não conseguiam aprisioná-los, matavam-nos. Revoltados, e já quase extintos, os índios da Capitania do Rio Grande do Norte uniram-se aos das Capitanias do Ceará, de Pernambuco e da Paraíba e decidiram atacar as fazendas e os povoados do interior, incendiando casas e plantações, matando o gado, os colonos e os vaqueiros. Essa revolta foi chamada de “Guerra dos Bárbaros” ou “Confederação dos Cariris”. Foram 13 anos de luta, estendendo-se de 1687 até 1700.
               
Com a apaziguamento do indígena, esse tornou-se o melhor auxiliar dos fazendeiros. No Sertão, predomina o mameluco ou caboclo, mestiço de branco e índio. É o nosso vaqueiro. Vaqueiro das caatingas áridas, das criações sem cercas, separadas por ribeiros.
               
No século XVIII, a economia baseava-se, essencialmente, em duas fontes: na agricultura e na indústria pastoril. Mas, havia sempre o fantasma da seca que tudo extinguia, obrigando os sertanejos a abandonarem os seus “torrões”. Essas secas, ao contrário do que se possa imaginar, “vêm de datas antiguíssimas na nossa cronologia histórica”. A primeira que se tem notícia data de 1600, em pleno século XVII. A seca atinge, e muito, a pecuária, desorganizando a criação de gado. No século XVII, foram registradas cerca de quatro secas (1600, 1614, 1691 e 1692) e, no período seguinte, o fenômeno repetiu-se em número bem maior, num total de vinte e uma (1710, 1711, 1723, 1724, 1726, 1727), dentre outras.
               
Diante da miséria, os sertanejos humildes valiam-se da sua fé e logo surgiam os beatos, apresentando-se enviados de Deus para redimir os pecados daquela gente sofrida. Prometiam, através da oração e do sacrifício, atingir a felicidade eterna. Alguns desses beatos conseguiam formar comunidades como foi o caso de Antônio Conselheiro que criou a comunidade de Canudos, no sertão da Bahia, e do beato José Lourenço que criou a comunidade do Caldeirão, no e cearense.
               
Em todos os casos, essas comunidades foram perseguidas e destruídas de maneira cruel pelos coronéis e pelos poderosos da região. O sertão do Rio Grande do Norte também abrigou a uma dessas comunidades, cujos habitantes eram conhecidos como os “Fanáticos da Serra de João do Vale”. Esse movimento teve início com o beato Joaquim Ramalho que, segundo Câmara Cascudo, era gordo, lento, apático, sujeito às cismas, meditações longas, o olhar parado, acompanhando um pensamento misterioso.
               
A tendência mística, afirma-se, com poucos anos, nas orações sem fim, nos passos ritmados, braços para o firmamento, rezando missas, impondo penitências. O beato Joaquim Ramalho cresceu e, adulto, casou-se, passando a morar na vila do Triunfo. Continuou, entretanto, com o mesmo comportamento estranho, rezando sempre.
               
No final de 1894, morreu o vigário de Triunfo, padre Manuel Bezerra Cavalcante, com oitenta anos, sendo chorado por toda a comunidade. No ano de 1898, Joaquim Ramalho teve um ataque, assim descrito por Câmara Cascudo: “bruscamente parou, nauseante, gorgolhando vômitos e caiu de bruços, pesadamente”. Durante a crise começou a cantar. Quando recobrou os sentidos, não se lembrava de nada. O fenômeno repetiu-se nas tardes seguintes. A notícia se espalhou rapidamente, crescendo o número de curiosos, todos querendo assistir a cena. Estava nascendo mais um líder místico no sertão nordestino.
              
Continua 
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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Fontes:
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CANÇÃO DE MÃO-DE-PILÃO

*Rangel Alves da Costa

No pilão antigo, ainda hoje fincado no quintal como relíquia imorredoura de gerações que se foram, toda a representação e memória de um tempo de lutas e sacrifícios, onde a sobrevivência tantas vezes dependia da batida da mão do pilão sobre a fundura na madeira.

Aquele talvez o último dos muitos pilões que sofreram nas entranhas a batida forte do roliço tronco de madeira de lei. Quando as mãos levantam a madeira e em seguida descem com força bruta, sem tempo para gemer, então se ouve um grito rouco, seco, saindo das entranhas do tronco. E gritos que se repetem compassadamente, segundo o tempo da batida, até a mão-de-pilão ser deitada após o trabalho feito.

O pilão, nos tempos idos, estava em tudo e por todo lugar. Não havia tribo sem pilão, não havia senzala sem pilão, não havia casa-grande sem pilão, não havia cortiço sem pilão, não havia quintal sem pilão. Para esmagar caroço de milho, tirar a casca do arroz, tornar em pó o grão do café, esfarelar a folha seca, para moer raízes e frutos. Mas ele sumiu.

O pilão sumiu, ou quase sumiu. E só não sumiu de vez por que os mais antigos possuem verdadeiro amor familiar àquele tronco agora adormecido num canto do quintal. Quando abrem as portas dos fundos e caminham pelos arredores, basta avistar o velho pilão e logo começam a recordar o passado e a canção da mão-de-pilão. Canção esta jamais escrita, jamais cantada com voz melodiosa, apenas ouvida e guardada na memória pelo som da mão descendo sobre o pilão.


“Tum-tum-tum. Levanta do chão a mão do pilão, limpa as pontas da mão do pilão. Coloca o grão dentro do pilão. A mão levanta a mão do pilão. Tum-tum-tum. Dentro da fundura a maior aflição, com o grão gemendo sob a mão-de-pilão...”.

As velhas mãos, já tão cansadas de tempo e idade, não têm mais forças sequer para levantar a mão do pilão. Mas noutros idos, ao amanhecer e entardecer sempre ecoava a canção do pilão. Precisava transformar o milho em xerém, bater o café em caroço, tirar a casca do arroz de várzea. Ou assim se fazia ou pouco se tinha como alimento do dia a dia, para o homem e para o bicho.

“Tum-tum-tum. Bate que bate o pilão na boca da noite, e bate mais forte senão logo chega o açoite. Negra mão na mão-de-pilão, pilão escravo de toda aflição. Tum-tum-tum. Bate que bate o pilão sem mostrar o cansaço, pois o algoz se aproxima tendo a mão o ferro e o laço...”.

A tecnologia do pilão é das mais antigas existentes. A necessidade fez com que o homem primitivo buscasse meios para esfarelar, triturar ou amassar, aquilo que encontrava como grão, raiz ou folha. Como perdia muito ao simplesmente bater sobre o grão numa pedra, então achou por bem abrir uma fundura num tronco, de modo que ao bater e triturar nada se perdesse. Depois separava com peneira o farelo ou o pó e o problema estava resolvido.

“Tum-tum-tum. Enquanto sobre e desce a mão-de-pilão, da voz se ouve uma canção. Mas é canto triste e de lamentação, falando de saudade e de solidão, mareando os olhos e o coração. Tum-tum-tum, assim bate o pilão, assim também a vida em recordação...”.

Não há melhor café que aquele nascido com o grão batido em pilão. Quando o pó desce pela peneira sobre o pano limpo e depois é levado para a chaleira já com água fervente, em cima de fogão de lenha, então logo tem início uma verdadeira magia. Tudo se perfuma, tudo se encanta, pois não há nada mais aromatizado e saboroso que o café de pilão borbulhando seu negrume precioso.

“Tum-tum-tum. A memória ainda guarda a batida do pilão, a nostalgia ainda relembra a mão sobre a mão do pilão, num misto de sofrimento e emoção. Tum-tum-tum, pois assim batia o pilão. E de saudade somente bate o coração...”.

Escritor
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