Por Raimundo
Nonato Araújo da Rocha∗
O
anúncio:
No dia 12 de
julho de 1951, uma quinta feira, por volta das 11h e 30min, o comandante da
Base Área de Natal entregou ao vice-governador e governador em exercício do
Estado do Rio Grande do Norte, Sylvio Pedroza, um telegrama proveniente do
comandante da Base área de Aracajú. O teor da comunicação era o seguinte:
Informo que o avião PP-LPG após sobrevoar as 8h e 30min este campo caiu no rio
do sal em sobrado distante do aeroporto três quilômetros tendo perecido todos
os tripulantes e passageiros ignorando-se os números vistos que os mortos se
encontram presos aos destroços. Avião completamente danificado. – (a) Comte.
Miranda. (TELEGRAMA. 12/7/1951. Arquivo Digitalizado de Dix-Sept Rosado. Imagem
22) Minutos após o recebimento desse telegrama, o governador Sylvio Pedroza
recebeu outro telegrama do Governador de Sergipe comunicando que havia caido,
nas imediações de Aracajú, um avião da empresa Linhas Áreas Paulistas (LAP) e
que todos os passageiros estavam mortos. No mesmo telegrama perguntava se o
Governador DixSept Rosado estava no avião. No momento em que o governador
recebia os telegramas, na cidade de Natal já podia ser confirmada a notícia
captada por rádio-amadores desde as primeiras horas da manhã: o avião que
conduzia o governador do Rio Grande do Norte não encontrou condições de pouso
em Aracajú e terminou caindo no Rio do Sal, situado a três quilômetros da
capital de Sergipe. O Governador Dix-Sept Rosado e sua comitiva haviam
decolado, às 4h15min da manhã, do dia 12 de julho de 1951, do aeroporto de Parnamirim,
a bordo do avião Douglas, de prefixo PL - 3 PPLG da LAP, com destino ao Rio de
Janeiro. A viagem do governador potiguar tinha como destino a Capital Federal,
onde iria tratar de assuntos políticos e buscar recursos para minimizar os
efeitos da seca. A morte de Dix-Sept Rosado acontecia três meses após a morte
de Mário Negócio de Almeida e Silva, que havia sido um dos seus principais
auxiliares, ocupando a função de Secretário Geral do Governo. Além disso,
Dix-Sept e Mário nutriam amizade desde os bancos escolares. Mário Negócio
morreu em acidente automobilístico, ocorrido em 30 de março de 1951, próximo a
cidade de Tacima, no interior da Paraíba. Mário Negócio nasceu em 1911, na
cidade de Fortaleza, mas aos quatro anos foi morar em Mossoró. Advogado de
destaque na região em torno de Mossoró, foi eleito deputado estadual
(1946-1950). A notícia foi divulgada em jornais locais e nacionais. O jornal
carioca “A Noite”, por exemplo, dedicou duas páginas inteiras, publicadas no
dia 17 de julho, para comentar o ocorrido. A notícia, intitulada
“Impressionante catástrofe do PPL-P6! 32 mortos no desastre do avião das Linhas
áreas Paulistas.” A seguir mostra uma grande foto dos destroços do avião no Rio
do Sal e outra grande foto de três cadáveres (adultos e crianças) já enrolados
em sacos plásticos, antes de serem removidos para Aracajú. Na reportagem o
jornal descreve que embora o acidente tivesse ocorrido a uma distância de três
quilômetros de Aracajú, as equipes de busca só conseguiram chegar ao local 11 horas
depois, em razão do terreno pantanoso e das péssimas condições de acesso (A
noite, 17 de julho de 1951: 8-9). A ida do Governador ao Rio de Janeiro tinha
sido anunciada, por meio de telegrama, ao presidente Vargas nos seguintes
termos: […] Tenho hora comunicar Vossa Excelência próximo dia 12 viajarei até
essa Capital avião LAP, fim tratar assuntos interesses administração pública.
Sirvome esse ensejo para expressar Vossa Excelência a minha confiança de que,
como de outras vezes Governo meu estado receberá preclara atenção eminente
Presidente República, dispensando amparo justos reclamos populações castigadas
pela estiagem, de que o Rio Grande do Norte vem suportando. […] .
Na tarde do
dia 11 de julho, em razão da viagem prevista para o dia 12, houve a transmissão
do poder para o vice-governador Sylvio Pedroza. Na transmissão do cargo, o
governador anunciou que na viagem ao Rio de Janeiro assinaria contrato com o
Banco do Brasil para ampliar o saneamento de Natal e iniciar o saneamento de
Mossoró. O governador levou em sua comitiva de viagem alguns auxiliares de
governo: o dr. José Gonçalves de Medeiros, Diretor do Departamento de Imprensa;
o agrônomo Felipe Pegado Cortez, Diretor do Departamento de agricultura e o dr.
José Borges de Oliveira, Diretor do Departamento de Assistência aos Municípios.
As
repercussões:
A repercussão
da morte de Dix-Sept permanece forte nos dias atuais. Um blog local assim se
refere ao ex-governador: Dix-sept Rosado, como era conhecido, hoje é nome de
cidade, bairro de Natal, de praça em Mossoró – sua terra – e nome de ruas em
dezenas de municípios do Rio Grande do Norte. Alto, forte, óculos “ray-ban”
marrom, quase sempre vestido de mescla, era um homem popular, sem ser
populista. Tinha o carisma de líder, vivia no meio do povo e conversava
política 24 horas por dia. Tinha paciência de ouvir e ponderação ao falar.
Nasceu para a vida pública, mas o destino ceifou uma das maiores lideranças do
Estado no desastre aéreo de Sergipe. Na mesma lógica laudatória, a
deputada federal Sandra Rosado, sobrinha de Dix-Sept, ao abrir o seminário “Os
rosado em tese”, realizado em 2011, relembrou uma música da campanha de Vingt
Rosado1 para prefeito de Mossoró. Entre os versos da música lida pela deputada
estavam os seguintes trechos: Dix-sept Rosado foi bravo De alma pura, varonil;
Tombou no campo da honra Lutando pelo Brasil. Choram rios, choram montes, Chora
o céu e o mar; Cobriu-se de dor e pranto Todo povo potiguar. (ROSADO, 2001b: 9)
Este mesmo sentimento se fez presente no calor dos acontecimentos. A partir da
confirmação da notícia as mobilizações no Rio Grande do Norte ganharam as ruas
e os jornais. A população foi estimulada ao luto; o bispo – Dom Marcolino
Dantas – fez missas na Catedral com a participação do coro do Colégio Salesiano
e da Banda da Polícia; poetas fizeram poesias; as fotos da família inconsolável
e das multidões que visitavam o corpo foram amplamente divulgadas. Também as
superstições se fizeram presentes no imaginário da morte de Dix- sept. Após a
morte de Dix-Sept, os seus irmãos foram eleitos para cargos no executivo e
legislativo. Vingt, por exemplo, foi eleito prefeito de Mossoró várias vezes. A
citação se refere, especificamente, a campanha de 1952. Nessa campanha, Vingt
saiu-se vitorioso e Dix-Sept foi usado como exemplo de luta, como modelo a ser
seguido. Segundo relato de Laíre Rosado para o jornal “O Mossoroense”, na época
do acidente algumas pessoas diziam que o fato de Dix-sept usar constantemente
um paletó da cor marrom pode ter favorecido para o acontecido. Um amigo seu
chegou a dizer que não havia gostado do paletó marrom que Dix-Sept havia usado
durante a posse no cargo de governador, pois esta dava azar. Coincidentemente,
seis meses após, Dix-sept Rosado, trajando o mesmo paletó marrom, morreu num
desastre aviatório e em pleno exercício do poder. (Relato feito por Laíre
Rosado). O colunista Nizário Gurgel, por exemplo, assim escreveu para o jornal
A República: Vôo fatal À memória do popular e digno governador Jerônimo
Dix-Sept Rosado Maia […] DIX-SEPT ROSADO Chegaste cedo ao termino da vida, Em
plena mocidade, audaz e forte! Enfrentaste a batalha mais renhida. Sentiste
aurir no peio a própria sorte. Após tanta vitória,veio-te a morte! Quanta
gloria te foi interrompida Na beleza de teu augusto porte. Inflamado pela honra
merecida! Voaste para o céu num vôo fatal! Levaste o coração do povo todo, De
tua gente do torrão natal! Bemdito sejas tu na eternidade! Tiveste um a
existência sem apôdo E tinhas por dilema a caridade!. As homenagens de
todo o Brasil eram amplamente divulgadas na imprensa local e os jornalistas
locais passaram a exaltar a figura do governante morto tragicamente. Perceba-se
nos próprios versos de Nizário observasse a construção de uma imagem: um jovem
lutador, vitorioso, caridoso e destinado à glória, deixava seu povo com o
coração sofrido. Texto com sentido idêntico pode ser encontrado no
panfleto distribuído em Mossoró para a celebração da missa de 7º dia. O amor
recíproco entre o ex-prefeito e o seu povo é exaltado com Folheto distribuído
pela Prefeitura de Mossoró anunciando a missa de 7º dia. A comoção era imensa.
No dia 13 de julho de 1951, o jornal carioca “A noite” apresentou a seguinte
uma notícia iniciada com a seguinte manchete: “ “Exemplo para as novas gerações
brasileiras”: como do Dr. Raul de Góes, presidente do Instituto Nacional do
Sal, se referiu à personalidade de do Governador Dix-Sept Rosado.” O senhor Ivo
Aquino, líder da maioria no senado, enviou telegrama ao senador Georgino
Avelino (PSD/RN): “peço ao caro amigo representar-me nas exéquias do Governado
Dix-Sept Rosado e de seus dignos auxiliares às suas famílias e ao governo [sic]
do Estado, as minhas condolências pela grande perda do doloroso golpe que
sofreram com o desaparecimento de filhos tão dedicados e ilustres do Estado do
Rio Grande do Norte”. O jornal Diário de Natal assim noticiou o sepultamento:
“Sepultadas as vítimas da maior tragedia [sic] que já enlutou a vida política e
administrativa do Rio Grande do Norte: os corpos do Governador do Rio Grande do
Norte e dos seus companheiros de infortúnio José Borges de Oliveira, José
Gonçalves, Felipe Pegado Cortez, Jacob Wolfson [médico], Agenor Coelho,
Sandoval de Oliveira e Pedro dos Santos, foram acompanhados até o cemitério do
Alecrim por” . A senhora Darcy Sarmanho Vargas, esposa do presidente Vargas e
presidente da LBA, encaminhou telegrama à primeira dama Adalgiza Rosado
lamentando o episódio. Outros telegramas com o mesmo teor, endereçados a
própria Adalgisa ou ao Governador Sylvio Pedrosa, foram enviados por ministros,
governadores, senadores, deputados, prefeitos. As sessões do Senado e da Câmara
foram suspensas logo que as notícias da tragédia foram confirmadas. Os jornais
de todo o país anunciam o fato. Essa repercussão nacional foi amplamente
divulgada na imprensa local, que passou a exaltar a o ex-governador com
características extremamente positivas, com características de um homem sem
defeitos. Nesse clima de exaltação, em 19 de agosto de 1952, pouco mais de um
mês após o acontecimento, formou-se um movimento popular para a doação de
uma estátua de bronze do ex-governador à cidade de Mossoró. Um dos panfletos
distribuídos em Mossoró conclama a população a exaltar o ex-governador. Um
cronista descreve os acontecimentos durante o sepultamento da seguinte forma:
Dix-Sep (Sepultamento) 1.-)Na cidade do Natal no Cemitério do Alecrim, 13 de
julho, arrebol de um dia sem sol e duma esperança frustrada (para não dizer
furtada). [...] 4.-) A família do extinto e as autoridades de todas as ordens
abeiravam-se da campa cercada pela gente que transbordava do cemitério pelas
ruas adjacentes na ânsia se não de ver e ouvir, ao menos de participar daquela
homenagem ao seu supremo magistrado. 5.-) Ocorreu-nos então esta alocução
inédita: Autoridades, homens do povo: eis que um do povo chegou a ser, entre
nós a suprema autoridade. Milagre da educação doméstica excelência do regime
democrático que o Brasil defende... Edifique-nos, ainda, o comportamento
exemplar dessa esposa e mãe integrada nessa paisagem de tristezas, compungida e
estóica, – entre a saudade do companheiro que se foi e está a vista e a dos
filhinhos queridos e distantes... Pelo exposto, pode-se perceber claramente a
comoção popular diante da morte do governador.
A chegada ao
poder
Toda a
exaltação ao Governo Dix-Sept precisa ser dimensionada com exatidão. Na verdade
o governador só ficou no cargo entre 31 de janeiro de 1951 – dia de sua posse -
e 12 de julho de 1951 – dia de sua morte. Não é possível falar de uma gestão,
pois ele ficou no poder por apenas 5 (cinco) meses e 12 (doze) dias. A
historiografia norte-rio-grandense tem analisado Dix-Sept Rosado como um
político construído a partir da imagem do pai. Nesse sentido, necessário se faz
que entendamos esses vínculos familiares e o grau de autonomia de Dix Sept em
relação aos negócios e compromisso do pai. Dix-Sept Rosado nasceu no dia 25 de
março de 1911, na cidade de Mossoró. Seu pai, o farmacêutico Jerônimo Rosado,
chegou a Mossoró em 1890 e lá fincou as raízes familiares e profissionais. Em
entrevista concedida, em 1998, Vingt-un Rosado, irmão de Dix-Sept, narra a
história do seu pai e explica como foi estabelecido seu vínculo com Mossoró:
Meu avô paterno, Jerônimo Ribeiro Rosado, era português. Ele casou-se com uma
moça – Maria Vicencia do Nascimento Costa – que pertencia a uma família de
recursos, a família Costa, aqui de Pombal na Paraíba. Com a seca de 1877, muita
gente daquela região ficou na miséria, inclusive meu avô. Meu pai tinha o mesmo
nome do avô. Ele nasceu no dia 8 de dezembro de 1861. Quando meu pai tinha dez
anos meu avô morreu. Ele ainda era rapazinho quando se mudou para Catolé do
Rocha, também na Paraíba, para trabalhar. Seu primeiro emprego foi na loja do
português Amorim, como caixeiro [...] Nesse tempo [...] ele fez amizade com o
juiz Venâncio Neiva, [...] [que] foi chefe político e presidente da Paraíba.
[...] Aos poucos o juiz foi vendo que o menino tinha vontade de crescer. [...]
Primeiro colaborou para que meu pai concluísse os estudos no Liceu Paraibano,
na capital da Paraíba. Concluídos os esses estudos [...] doutor Neiva fez uma
carta aos dois irmãos dele que moravam no Rio de Janeiro pedindo para que eles
auxiliassem meu pai a trabalhar e a estudar. [...] [...] Estudando e
trabalhando [...] meu pai concluiu o curso de Farmácia. Com o título de
farmacêutico, ele voltou para a Paraíba e se estabeleceu com uma farmácia em
Catolé do Rocha. Em 1890, doutor Almeida Castro que era médico e chefe político
aqui em Mossoró, o convidou para vir estabelecer-se aqui na cidade. (ROCHA,
2001: 106-7) . Jerônimo Rosado ao chegar a Mossoró, em 1890, instalou-se com
uma farmácia, onde produzia e vendia fórmulas farmacêuticas. Em 1911, foi
nomeado, pelo governador Alberto Maranhão, 2º Juiz Distrital para o triênio
1911 e 1913. Paralelamente as atividades da farmácia e de Juiz, ensinava Física
e Química em colégios da cidade. Em 19152 , começou a explorar jazidas de
gipsitas3 , em suas terras, no povoado de São Sebastião4 . Foi presidente da
Intendência do município entre 19175 e 1919. Além disso, exerceu o cargo de
Coletor Federal entre 1922 e 25 de novembro de 1930, quando faleceu (BRITO,
1985: 62-3). Do ponto de vista familiar, o patriarca teve 21 filhos, frutos de
dois casamentos – três do primeiro e 18 do segundo. A primeira mulher, Maria
Amélia Henriques Maia, faleceu e Jerônimo casou com Isaura Henriques Maia,
ambas filhas do paraibano Laurentino Ferreira Maia. A partir do sexto filho,
Jerônimo começou a numerá-los sistematicamente. Do sexto ao décimo filho a
numeração era em língua portuguesa. Do décimo primeiro ao vigésimo primeiro
filho, Jerônimo passou a nomeá-los com algarismos em francês. Assim da 11ª
filha – Laurentina Onzième – até o caçula, Há divergências quanto a data
do início de exploração da gipsita por Jerônimo. Alguns autores se referem a
1912. A gipsita é um minério que pode ser usado como matéria-prima para
diversas indústrias, tais como: fabricação de cimento e gesso para a construção
civil; fabricação de moldes cerâmicos; nas indústrias de jóias e automotiva; na
medicina; na odontologia. Os Rosados extraíam o minério, industrializavam o
gesso e comercializavam a produção. O povoado de São Sebastião,
posteriormente chamado Sebastianopólis, pertencia ao município de Mossoró. Em
1951, em homenagem ao governador falecido, o povoado passou a ser denominado
Governador Dix Sept Rosado. Em 1963, o município foi emancipado. Para
dimensionar o tamanho de Mossoró em 1917, pode-se citar: o município possuía
uma população em torno de 16.000 habitantes, dos quais 13.000 vivia na zona
urbana; existia na cidade apenas três automóveis de passeio, dois carros de
luxo, duas diligências. Jerônimo Rosado não estava entre os proprietários
desses bens. Um dos carros de luxo pertencia ao médico Almeida Castro,
responsável por trazer Jerônimo para Mossoró. 6 Com a primeira mulher – Maria
Amélia Henriques Maia – teve os três primeiros filhos, os demais foram frutos
do segundo casamento com Isaura Henriques Maia, irmã da primeira esposa. Os
filhos de Jerônimo Rosado foram os seguintes: 1. Jerônimo Rosado Filho
(1890-1920); 2. Laurentino Rosado Maia (1891- 1891, morreu pouco dias após o
parto); 3. Tércio Rosado Maia (1892-1960); 4. Isaura Rosado (1894- 1894, morreu
dois dias após o parto); 5. Laurentino Rosado Maia (1896-1897); 6. Isaura Sexta
Rosado de Sá (1897); 7. Jerônima Sétima Rosado Fernandes (1898); 8. Maria
Oitava Rosado Cantídio (1899); 9. Isauro Nono Rosado Maia (1891-1915); 10.
Vicência Décima Rosado Maia (1902); 11. Laurentina Onzième Rosado Fernandes
(1903-1922); 12. Laurentino Duodécimo Rosado Maia (1905-1954); 13. Isaura
Trezième Rosado Maia (1906), casada com o médico Lavoisier Maia; 14. Isaura
Quatorzième Rosado de Magalhães (1907); 15. Jerônimo Quinzième Rosado Maia
(1908-1908, morreu antes de completar um ano de vida); 16. Isaura Seize Rosado
Coelho (1910); 17. Jerônimo Dix-sept Rosado Maia (1911-1951); 18. Jerônimo
Dix-huit Rosado Maia (1912-1996); 19. Jerônimo Dix-neuf Rosado Maia (1913; 20).
Jerônimo Vingt Rosado Maia (1918-1995); Jerônimo Vingt-un Rosado Maia.
(1920-2005).
Jerônimo Vingt-un Rosado Maia todos foram numerados em francês. As primeiras
versões historiográficas sobre o velho Jerônimo, construídas pela história
local, o apresentam como um homem de muitas habilidades: farmacêutico,
professor, industrial, comerciante, intendente capaz. Contudo, estudos
produzidos, sobretudo, na academia a partir dos anos 1990 nos mostram outras
faces do patriarca. O trabalho de Ana Lucas, por exemplo, demonstra que
Jerônimo Rosado construiu uma fortuna contando com os lucros da mina de gipsita
e das rendas da botica. Entretanto, a autora nos mostra que as atividades na
botica não se limitavam a venda de produtos, mas se prestava também a ser
consultório para os médicos da cidade atenderem seus pacientes. Jerônimo Rosado
fornecia gratuitamente o espaço da farmácia para os médicos. Todavia, essa
generosidade tinha um importante elemento de troca. Isso porque, esses médicos
eram também políticos e “não é difícil de imaginar, por um lado, a relação
entre médico-político e paciente-carente no interior do nordeste” na Primeira
República (LUCAS, 2001: 75) e, por outro, os benefícios adquiridos por quem
emprestava o espaço para as consultas. Pode-se afirmar que Jerônimo Rosado
construiu, ao longo das primeiras décadas da República, um poder baseado no
comércio, na indústria e nas relações clientelistas. Ele não era tratado como
um coronel, mas estava a serviço de uma elite política. Nessa perspectiva, como
afirma o professor Lemuel Rodrigues, Jerônimo Rosado não era um líder político,
mas um prestador de serviços a uma elite política, sobretudo, ao médico Almeida
Castro (RODRIGUES, 2001: 211). Após a morte de Jerônimo, em 1930, as atividades
econômicas da família tiveram continuidade com seus filhos Jerônimo Dix-Sept
Rosado Maia e Dix-Neuf Rosado Maia. Dix-Sept, sobretudo, concentrou a
administração dos negócios do pai, ampliando os trabalhos nas jazidas de gesso.
Foi na condição de empresário, que gerenciava com eficiência os recursos
familiares, que Dix-Sept avançou na atividade pública. Dessa forma, em 1948,
foi eleito prefeito de Mossoró e, em 1950, foi eleito Governador do Estado do
Rio Grande do Norte. Nascido em Mossoró em 1911, Dix-Sept tinha 19 anos de
idade quando o pai faleceu. Desde muito jovem costumava observar o pai
gerenciando os negócios, acompanhando desde o concerto dos carros da mineradora
a administração financeira. Assim, a morte do pai não trouxe uma vida nova, mas
uma continuidade do que já fazia. Entre 1930 (ano da morte de Jerônimo Rosado)
e 1948 (ano em que Dix-Sept foi eleito prefeito de Mossoró) 18 anos se
passaram. Isso demonstra que a ascensão política de Dix-Sept não tem uma
relação direta a política exercida pelo pai. Obviamente a estrutura familiar
ajudou, mas a hipótese que construímos neste trabalho é que foi o próprio
Dix-Sept quem inaugurou a ascensão política da família. Essa ascensão foi
fortalecida pela sua morte. A eleição de Dix-Sept Rosado Dix-Sept foi eleito
prefeito de Mossoró, pela UDN (União Democrática Nacional), em 21 de março de
1948, tendo como companheiro de chapa Jorge de Albuquerque Pinto. Seus
adversários foram Sebastião Fernandes Gurgel e Antônio Mota, ambos do PSD
(Partido Social Democrático). Tomou posse no cargo no dia 31 de março de 1948
(BRITO, 1985: 110-112). Em razão de sua candidatura ao governo do Rio Grande do
Norte, pediu, inicialmente, no dia 6 de junho de 1950, licença para se
candidatar. Em seu lugar assumiu o vice-prefeito Jorge de Albuquerque Pinto.
Posteriormente, renunciou em definitivo ao cargo de Prefeito, no dia 1 de julho
de 1950, para assumir a candidatura ao governo pela Aliança Democrática, que
reunia 3 partidos: PSD/PR/PSP.7 A candidatura de Dix-Sept ao Governo do Estado
esteve vinculada a um complexo quadro político, pois incialmente o nome dele
não era ao menos citado no processo sucessório. João Câmara, senador do PSD,
iria ser candidato ao governo do Estado e contaria com apoios da UDN e do PSD.
Todavia, a morte de João Câmara mudou o quadro político. O governador José
Varela (PSD) resolveu indicar o primo e deputado estadual Augusto Varela (UDN)
como candidato. Dix-Sept (UDN) passou um integrar uma frente contra o candidato
do governador. Essa frente foi vencedora das eleições. Concluindo Este trabalho
faz parte de uma pesquisa maior que ainda está em andamento. Assim, os
resultados aqui apresentados dizem respeito a uma parte do trabalho. Maiores
informações podem ser obtidas em BRITO, 1985. Informações mais genéricas sobre
o tema estão disponíveis no site: <http://oestepotiguarsite.blogspot.com/2009/11/prefeitos-constitucionais-de-mossoro.html>. Todavia,
já é possível perceber que as imagens construídas sobre Dix-Sept transmitem a
ideia do que poderia ter sido. Foi em torno dessas imagens que o poder da
família Rosado se fortaleceu ao longo desses anos. Sucessivos mandatos de
diferentes membros da família sempre evocam a imagem de Dix-Sept.
∗
Professor doutor do Departamento de História da UFRN.
Referências
Bibliográficas
A NOITE. Rio
de Janeiro. 1952 – diversos números. Arquivo particular e administrativo do
Governador Sylvio Pedroza. Fundação José Augusto. Natal. (Arquivo e,
organização) Arquivo particular e administrativo do Governador Dix-Sept Rosado.
Fundação José Augusto. Natal. (Arquivo e, organização)
BRITO,
Raimundo Soares de. Legislativo e executivo de Mossoró numa viagem mais que
centenária: 1853-1985. Fortaleza: Imprensa universitária da UFC, 1985.
FELIPE, José
Lacerda Alves. A reinvenção do Lugar: os Rosado e o “País de Mossoró”. In:
ROSADO, Carlos Alberto de Souza; ROSADO, Isaura Amélia Rosado Maia. (Orgs.). Os
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poder local. São Carlos: UFSC. 2008. (Dissertação de Mestrado em Ciências
Sociais)
ROCHA,
Raimundo Nonato Araújo da. Identidades e ensino de História. São Paulo: USP.
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ROSADO, Carlos
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ROSADO,
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SILVA, Lemuel
Rodrigues da. Estratégia de poder no Rio Grande do Norte: o caso da família
Rosado em Mossoró. In: ROSADO, Carlos Alberto de Souza; ROSADO, Isaura Amélia
Rosado Maia. (Orgs). Os Rosado em tese. Anais do Seminário 5 meses de governo
50 anos de história (Mossoró, 2001). Natal: Normalize/SerGraf, 2001.
Sites
Consultados:
Enviado pelo professor,
escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com