Chegou à
cidadezinha montado num velho e desnutrido jumentinho. E logo os curiosos
rodearam o homem de barba grande, com botas alongadas, chapéu de palhas, e uma
enorme sacola sobre a pequena sela de montaria. Todos estavam ali, rindo do
infeliz mendigo, que ao ver tanta humilhação contra si, saiu em busca de um
bar, e lá, pediu, por favor, uma urgente e caprichada pinga.
O dono do
boteco nem sabia a quem estava atendendo. Mas resolveu colocar no copo uma
caprichada pinga. Os curiosos acompanharam-no até a venda. O mendigo bebeu a
primeira, e em seguida, pediu bis.
O dono do bar
fez gesto de que não estava gostando, imaginando que iria dançar na hora em que
fosse cobrado o acerto de contas. E assim que o mendigo ingeriu a segunda dose,
de imediato, pediu a terceira.
O sangue nas
veias do velho comerciante esquentou de vez. E foi obrigado a dizer ao mendigo que só colocaria a terceira dose, se ele pagasse logo as duas primeiras.
Os curiosos
estavam todos em risos, e até um deles ameaçou o barba grande, dizendo que se
ele não pagasse as doses de cachaça ao comerciante, não iria sair dali com
vida.
O mendigo
concordou pagar logo as duas chamadas. Foi até ao seu jumentinho, retirou uma
enorme sacola que estava sobre ele, e era nela que ele guardava o seu dinheiro.
Em seguida, retornou para fazer o pagamento das chamadas ao comerciante. E
pôs-se a procurar o dinheiro no meio de tantas bugigangas. Enfiou a mão na
sacola, e ficou tirando algumas peças. Em seguida, retirou uma cabeça humana
cheia de sangue, colocando-a em cima do balcão.
A cabeça de Lampião é só para ilustrar o trabalho
O comerciante
ao ver a cabeça coberta com sangue e com os olhos fechados, admirou-se, dizendo
em tom de susto e tremendo:
- Meu Deus!!!
Que coisa triste, hein!!!
- Eu faço este
trabalho muito bem e com perfeição. - Dizia o mendigo. - E adoro fazê-lo.
Durante a semana são duas, três, até mais cabeças. Mas melhor do que eu, quem
faz, é um parceiro meu, o "Negrão das Cavernas". Ele desceu aqui em
busca do mercado central, e me disse que iria procurar vítimas para ver se
negocia umas duas ou três cabeças.
O comerciante
de tanto tremer não resistiu mais em pé, saiu desmaiando por cima de uma porção
de mercadorias que estava sobre o chão. Os curiosos desapareceram em disparada
carreira, e aos gritos, pelas ruas, pedindo clemência. A partir daí, a fama do
homem barbudo e do "Negrão das Cavernas" aumentou no lugarejo.
Um velho que
no momento entrou no bar, ao ver aquela terrível cena, isto é, a cabeça de um
corpo humano sobre o balcão, ajoelhou-se diante do mendigo, pedindo-lhe que
pelo o amor de Deus não o matasse. E o mendigo ficou sem saber o porquê daquela
imploração do velho, pedindo-lhe que não o matasse.
Os moradores
da cidade ao tomarem conhecimento do perigoso mendigo e do "Negrão das
Cavernas" que haviam entrado na comunidade, entraram em choque, procurando
por todos os lugares os seus filhos e parentes, temendo que eles fossem
degolados pelos facínoras.
Imagem da internet
Logo que as
mulheres ficaram sabendo da presença de dois delinquentes na cidade corriam
pelas as avenidas do lugarejo em lastimosos choros, procurando por todas as
entradas os seus filhos pequenos.
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O prefeito
quando recebeu a informação que na cidade tinha entrado dois perigosos
marginais recolheu-se à prefeitura, ligando para tudo que era de autoridade,
que cuidasse de prender com urgência os assassinos.
Além do
contingente da cidade o prefeito solicitou dos administradores das cidades
vizinhas, que liberassem os seus policiais para tentarem prender os dois
bandidos.
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- Os homens
são perigosíssimos, amigos! - Dizia ele pelo telefone aos prefeitos das cidades
adjacentes. Andam com cabeças humanas degoladas dentro das suas sacolas! Uns
homens desse tipo estão com o capeta nas costas, e poderão bagunçar a minha
cidade e depois invadirem as suas! Com a ajuda de vocês, prenderemos estes
delinquentes"
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O dono do
açougue (o Ludugero), ao ser informado da entrada destes criminosos no
lugarejo, foi curto e grosso. "- A culpa é do prefeito que não põe mais
policiais nas ruas. Ele só pensa em si. Aos domingos, se manda com a família
para as praias, como se fosse o governador do Estado".
A cidade já
imaginava a quantidade de defuntos que iria ficar estirada nas ruas, depois que
o mendigo e o "Negrão das Cavernas" saíssem do lugar.
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Os coveiros do
cemitério já haviam recebidos ordens para cavarem covas em quantidades. Os dois
homens eram perigosíssimos, e com certeza, muitos moradores iriam perder as
suas vidas sobre as miras das suas armas, ou nas pontas dos seus afiados
facões.
Chegaram
praças de todos os lugares. E obedecendo a exigência do prefeito, de imediato,
morrendo de medo, os policias ocuparam os fundos e a frente do bar. E aos
poucos, com muito cuidado, vendo a hora surgirem balas disparadas pelo barba
grande, que naquele momento, ali, só se encontrava ele, todos foram fechando o
cerco, e ao se aproximarem do infeliz, deram ordens de prisão. Assim que o
algemaram, acusaram-no de decepador de cabeça humana.
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O mendigo
tentava explicar quem ele era, mas a polícia não quis conversa, obrigando-o
colocar a cabeça dentro da sacola, e que ele iria ser conduzido até à delegacia
para as devidas explicações ao delegado.
Ao entrar na
delegacia, de imediato ele recebeu um pescoção, aplicado pelo delegado. E um
tenente que nem estava de serviços, não demorou muito para bofeteá-lo diante do
delegado.
Exigido a comprovação
do crime o mendigo retirou a cabeça humana de dentro da sacola. O delegado
ficou rodeando-a, e observou que ela nem sangrava, apenas ainda permanecia como
se tivesse sido decepada recentemente. E como inteligente e um pouco de
psicologia, o delegado percebeu que não tinha nada a ver com cabeça humana.
Os dois homens
não eram mendigos e nem marginais. Devido viverem andando pelas ruas, as roupas
eram como de mendigos. Eram apenas dois escultores em madeiras que faziam as
suas peças e saíam à procura de compradores. Ambos eram grandes talhadores com
muita perfeição e enganava qualquer especialista. Até a pintura, tinha
aparência de sangue vivo.
"Antes de
julgarmos uma pessoa devemos esmiuçar a sua vida com cautela, para que ela não
venha ser castigada injustamente e moralmente ofendida".
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