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terça-feira, 29 de novembro de 2016

NÃO POSSO FUGIR DISTO

Por. Zé Ronaldo

Gaiola pote e caneco
Baú banco e matulão
Enxada de cacareco
Um burro manso no oitão
Três bêbados em um boteco
Pinico carrinho de mão.

Os ratos na cumieira
E um gato na janela
na cozinha uma ratoeira
E a fumaça da panela
Com tripas feijão e beiras
E um osso de costela.

Um galão e ancoretas
Ao lado de um caçoar
Espingardas de espoletas
Meninos nus a brincar
Uma pimenta porreta
Para no caldo gosto dar.

Um cachimbo e um urinol
Uma rede de dormir
Galão de pesca e anzol
Uma tilápia um cangati
As cantigas de vovó
Para a casa divertir.

Um pote no canto da sala
De madeira uma copeira
No quarto bem duas malas
De palha no chão uma esteira
Um papagaio que fala
Serve pela vida inteira.

Uma latada na porta da cozinha
De madeira um garajau
Chiqueiro de porcos e galinha
E uma cerca feita de paus
Uma sombra a tardinha
Na oiticica do quintal.

Isto é a simplicidade
Viver a paz e alegria
Se acordar com vontade
Vendo o raiá do dia
Ter do sol a claridade
No relógio do meio dia.




Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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LIVROS DO ESCRITOR ANTONIO VILELA DE SOUZA


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LIVROS DO ESCRITOR GILMAR TEIXEIRA


Dia 27 de julho de 2015, na cidade de Piranhas, no Estado de Alagoas, no "CARIRI CANGAÇO PIRANHAS 2015", aconteceu o lançamento do mais novo livro do escritor e pesquisador do cangaço Gilmar Teixeira, com o título: "PIRANHAS NO TEMPO DO CANGAÇO". 

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Autor: Gilmar Teixeira
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A CARNE É FRACA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 29 de novembro de 2016 - Escritor Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.598

É óbvio se dizer que o anúncio do governo estadual sobre construções de matadouros foi bom, muito bom, excelente.

A notícia é que será construído um matadouro em Matriz de Camaragibe, Região Norte, com capacidade de abate de 100 animais por dia no que será frigorífico público. O referido matadouro atenderá, segundo o comunicado, aos municípios de Paripueira, Barra de Santo Antônio, São Luiz de Quitunde, Porto Calvo, Matriz de Camaragibe, Jacuípe, Japaratinga, Maragogi, entre outros.

Arredores de matadouro.

Nada demais lembrar que dois novos matadouros regionais estão em fase final de conclusão, o de Viçosa e de Murici.

Ainda se noticia que o governo estadual pretende construir matadouros em Santana do Ipanema, União dos Palmares e Penedo. 

Diante do que vimos ficamos sem saber por que os marchantes, como os de Santana do Ipanema, por exemplo, que são mais de duzentos, não se uniram para a construção do frigorífico. Tantos homens esperando apenas o dinheiro do governo para o trabalho. Sem liderança, sem união, cada qual puxando o naco maior do lucro para si e o povo sabendo de todo tipo de carne, até reses cancerosas que procuram vaga no descuido da vigilância. 

Os matadouros de quase todas as cidades de Alagoas recordam os tempos medievais. Não são matadouros, são “matanças” onde a podridão domina o núcleo e a periferia das machadadas. Muitas pessoas que visitam esses lugares chegam a vomitar e abandonam o consumo de carne bovina desses antros. Alguns deles foram fechados, mas o jeitinho político da imundície fez reabrir alguns, levando até à mesa a ignomínia que o povo come.

Essas “matanças”, sem as mínimas condições de higiene, são semelhantes às fabriquetas de queijo que de vez em quando são fechadas e perdem toneladas do produto com moscas para a Vigilância.

Dentro do século XXI com os pés no século XV, a mentalidade humana é pior do que a dos bichos. “Morra quem quiser, deixando o lucro é o que vale”, pensam muitos assim. Quando faltam gatos, os ratos tomam conta. Bem que o governo, nesse caso, vai ao rumo certo, mas se depois das construções não houver rigor na vigilância, o população voltará ao prato de ontem. 



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OBITUÁRIO DE VIVOS

*Rangel Alves da Costa

De modo estranho, mas a verdade é que o livro de registro de mortos está cada vez mais tomado de nomes de vivos. E não são fantasmas ou assombrações, mas pessoas deste mundo, em carne e osso e sentimentos, que vão sendo consideradas como desaparecidas ou inexistentes entre os demais. Neste sentido já havia afirmado o filósofo: Há gente que apenas vive sem viver, há gente que apenas está sem ser visto ou considerado, como se a morte em vida lhe antecipasse o fim.

Já um velho amigo sertanejo, daqueles sábios moldados na quentura da terra, assuntava: Há um cemitério pelo mundo inteiro, cheio de defunto morto e de defunto vivo. Tem gente que andeja como se vivo fosse, mas já se foi desde muito. Tem gente viva que nem parece que ainda vive. Também não há muita diferença em tá debaixo da terra ou por riba dela quando o sofrimento é tanto que chega a não suportar. E quem disse que viver é padecer desde o amanhecer ao anoitecer?

Diz-se, assim, que há um obituário de vivos toda vez que o vivente seja considerado como um renegado das mínimas condições de existência. Neste sentido, somente pode ser considerada como vida aquela que torne a pessoa reconhecida na sua dignidade, como ser de direitos, como alguém que possa fruir dignamente de sua própria condição humana. Por consequência, aquele que rasteja em busca do grão, que se ressente da negativa do pão, da água, do remédio, da moradia, de qualquer felicidade ou prazer, tem seu nome inscrito no obituário dos vivos.

Logicamente que obituário se refere a óbito, a falecimento. É o registro ou informe sobre a morte de alguém, contendo os dados necessários à sua identificação, contendo ainda, possivelmente, dados relativos à filiação, laços familiares e os feitos em vida. Alguns jornais ainda publicam obituários, outros não. A morte parece ter se tornado insignificante demais para ser lembrada além família, parentes e amigos. E, devido ao crescimento populacional, há também o fato de ter se tornado tão comum e rotineira que já não é mais pranteada como antigamente.

Houve um tempo que a morte era quase que protocolar, exigindo cerimônias e rituais de despedida. Os velórios, as sentinelas e os encaminhamentos fúnebres eram exigências que as famílias observavam em detalhes, ainda que as dores e os sofrimentos se redobrassem. As missas, os lutos, as saudades, também possuíam maior significação. Atualmente, contudo, poucos são os velórios nas residências e diminutas também as manifestações de pesar. E chegam mesmo a dizer que são tantos os sofrimentos em vida que apenas se somam aqueles pela morte de alguém.


Mas é chegado um tempo que os obituários só têm serventia aos historiadores. De vez em quando estes estão repassando papéis envelhecidos em busca de dados que a outros não teriam qualquer importância. E dizem que o historiador sergipano Sebrão Sobrinho possuía avidez em vasculhar tais documentos em capelas de cemitérios. Só tinha como verdadeira a informação se pudesse constatar no velho livro a data de nascimento e da despedida. Era um apaixonado por datas, dados estatísticos, minúcias históricas.

Mas por que existiria obituário de vivos, se este documento se presta unicamente a registrar a morte? Eis uma história para depois saber se o historiado está morto ou vivo. Era uma vez um sujeito que passou a andejar pelas ruas depois que perdeu barraco, mulher, quase tudo o que tinha vida. Molambento, sujo, barba e cabelos longos, também sujos e desgrenhados, na barriga uma fundura de poço. De fome e sede. Reconhecia velhos amigos, mas por nenhum era reconhecido. Tentava se aproximar e era ignorado. Sem cama, sem mesa, sem porta, apenas o mundo como guarida. Sempre entristecido, assim foi vivendo entre soluços sem prantos e dor sem gemidos. Solitário num banco de praça, sempre esperava o outono chegar para se avistar naquele aflitivo e angustiante retrato. E um dia sentiu que já era folha seca, que também precisava ser levado pela ventania. Mas ele vivia?

Nas portas e corredores de hospitais o livro aberto. Nas condições que chegam e como são cuidados, verdadeiramente ninguém sabe em qual página escrever seus destinos. Sabe-se que há um país - qual nome? - onde basta precisar de atendimento médico em hospital e já se está tendo o seu nome lançado no obituário dos vivos. E também aqueles esquecidos de toda sorte que mugem e berram as dores do bicho nas secas de cada dia, que comem o barro e bebem o suor da cruel desvalia. Em toda seca que há e o livro é aberto para o rabisco da sina. E assim o obituário vai enchendo suas páginas de vivos que já não vivem. 

Aquela criança africana, rastejando o grão e comendo terra, de sepultura nos olhos e ossada na pele, parece ser de identificação indefinida no livro. Por mais que ainda sopre vida, por mais que seu olho se mova sem brilho, não há como dizer que está viva. O problema é que não há mais páginas para tantos nomes.

Escritor
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QUADRO DENOMINADO AGRESTE


Artista plástica, escritora e geógrafa Franci Dantas

Quadro denominado AGRESTE, para o Professor José Romero Araújo Cardoso, que se encontra na sala de reuniões do Departamento de Geografia da UERN. 

Agradecendo o carinho, Professor.

Franci Dantas


Professor José Romero de Araújo Cardoso


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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A MULHER NO CANGAÇO (DOCUMENTÁRIO)

Por Geraldo Júnior

O documentário A MULHER NO CANGAÇO da Rede Globo (1976) destaca a entrada e o papel da mulher nos bandos cangaceiros a partir do ano de 1930.

Um importante registro histórico que todos devem conhecer.
Assistam...


No documentário que tem a direção e roteiro de Hermano Penna e narração de Sérgio Chapellin poderemos conferir o depoimento de vários remanescentes da época do cangaço. Destaque para Dadá companheira do cangaceiro Corisco, Adília companheira de Canário, Sila de Zé Sereno e para "Balão" e "Deus-Te-Guie", antigos integrantes do bando de Lampião.

Categoria
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https://www.facebook.com/HistoriasdoCangaco/?fref=ts

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A DOR DE CHAPECÓ, DO ESPORTE, DO BRASIL

Por Rangel Alves da Costa

O jogo acabou antes da hora marcada. Muitos não retornaram aos vestiários, mas subiram aos céus. O povo catarinense hoje amanheceu aos brados, não por um grito de gol da Chapecoense, mas pelo repentino adeus de quase toda sua equipe de futebol. O Brasil, emissoras de rádio, canais televisivos de esporte, todos igualmente estarrecidos com o lamentável acidente nos espaços colombianos. 

https://www.youtube.com/watch?v=JrRj5gFP0UU

Faleceram jogadores, membros da comissão técnica, dirigentes, jornalistas, narradores e locutores, tripulantes. Um apito final antes da hora, uma derrota inesperada, uma despedida dos gramados da terra. Há que se chorar a dor de um povo, há que se lamentar a perda de tantas vidas, há que se prantear esse tão duro revés no esporte. 

https://www.youtube.com/watch?v=_WYvig-imak

A equipe ia exatamente disputar a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. Não entrou em campo, subiu na nuvem, deixou entre nós um troféu de luto. Que tristeza Chape, que lágrima tão verdadeira de um povo que somente agradece pela sua tenacidade no campeonato da vida. Morrestes, não! Deus te consagrará na vitória eterna!

Rangel Alves da Costa
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ASSASSINADO O CORONEL DELMIRO GOUVEIA


No dia 17 de outubro de 1917, o jornal "O Mossoroense" publicou o assassinato do empresário coronel Delmiro Gouveia, fato ocorrido no Estado de Alagoas.


Mossoró, 17 de outubro de 1917

Acaba de ser assassinado em Alagoas, o Cel. Delmiro Gouveia, chefe da conceituada firma Iona & Cia., e proprietário da Fábrica de linha da Pedra, pelo extinto fundada, não há muitos anos, naquele próspero Estado.


O Cel. Demiro que foi um dos maiores incrementadores da exportação de peles e de outros produtos do país, no norte do Brasil, era muito conhecido em nosso meio comercial, onde contava com afeições bem sinceras entre as quais a do Cel. Miguel Monte a quem, pelas firmas Iona foi logo transmitida a notícia do fatal evento.


Nota: a coluna "Mossoró no Passado" republicou esta matéria em 17.07.1973.

http://memodelmirogouveia.blogspot.com.br/2008_11_16_archive.html

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ACUSADOS DE MATAR DELMIRO GOUVEIA SÃO ABSOLVIDOS

Por Manoel Canabarro (*)
Publicado em 08 de junho de 1983

O coronel Delmiro Gouveia, pioneiro da industrialização do Nordeste e ferrenho adversário das multinacionais inglesas, lia tranquilamente um jornal na noite de 10 de outubro de 1917, sentado no alpendre de seu pequeno chalé no município de Água Branca, Alagoas, quando foi fulminado por três tiros de carabina. Dois anos depois, os operários têxteis José Ignácio Pia e Róseo Moraes do Nascimento, demitidos de uma fábrica de Gouveia duas semanas antes do crime, foram condenados a trinta anos de prisão, apesar de sempre terem dito que eram inocentes. Pia morreu em 1924, baleado quando tentava fugir da prisão. Nascimento cumpriu quinze anos de pena, foi solto por bom comportamento e morreu em 1979, aos 86 anos, amargurado por ser chamado de “assassino” nas ruas de Maceió. No último dia 24, 63 anos depois do primeiro julgamento, os Juízes do Tribunal de Justiça de Alagoas entenderam que seus avós togados haviam cometido um erro – e absolveram postumamente Pia e Nascimento.


Poucos dias depois do crime, Pia e Nascimento foram capturados em Própria, Sergipe, pela polícia de Alagoas. Brutalmente torturados pelo capitão PM Pedro Nolasco da Silva, assinaram minuciosas confissões e apontaram como mandante do assassinato o coronel José Rodrigues de Lima, rival de Gouveia. Posteriormente os operários afirmaram perante o juiz que confessaram porque tinham medo de morrer e que, no dia em que Gouveia tombou morto, estavam trabalhando em Maroim, em Sergipe, distante 200 quilômetros de Água Branca. Sem meios de comprovar sua versão, Pia e Nascimento foram condenados, apelaram e, em 1922, num segundo julgamento, tiveram suas penas confirmadas.

TELEGRAMA NO ARQUIVO – Trabalhando no caso desde 1968, preso a uma promessa feita a Róseo do Nascimento, o advogado e professor universitário Pedro Aleixo Paes de Albuquerque, 46 anos, considerava virtualmente impossível, depois de mais de seis décadas, obter alguma prova material da inocência dos dois operários. Em agosto do ano passado, no entanto, a prova afinal surgiu, graças ao historiador e advogado Moacir Medeiros de Sant’Ana, 51 anos, diretor do Arquivo Público de Maceió. Ao pesquisar os documentos arquivados no cartório de Água Branca, Sant’Ana topou com o processo em que o coronel José Rodrigues de Lima era acusado de mentor intelectual do assassinato. Para provar sua inocência, Lima exibira no inquérito um telegrama do coronel Gonçalo Prado assegurando que Róseo do Nascimento e José Ignácio Pia estavam efetivamente em Maroim quando Delmiro Gouveia morreu.

De posse deste telegrama, que não apareceu em nenhum dos julgamentos de Pia e Nascimento, Paes de Albuquerque conseguiu a reabertura do caso e, agora, a absolvição dos réus por cinco votos a quatro. “Apesar de tudo, sempre confiei na Justiça”, dia a empregada doméstica Laurentina Moraes do Nascimento, 47 anos, filha de Róseo. “Só lamento que meu pai não esteja vivo para poder respirar aliviado e encarar os outros de frente.” Morando com seus quatro filhos numa pequena casa no bairro do Prado, na periferia de Maceió, Laurentina não pretende processar o Estado de Alagoas para pleitear uma indenização por perdas e danos a seu pai. “Eu só queria que a verdade fosse vitoriosa”, explica.

VITÓRIA PARCIAL – A verdade, porém, foi parcialmente vitoriosa, pois ainda persiste um mistério: quem assassinou Delmiro Gouveia? O mistério continuará a desafiar a argúcia dos historiadores. “Não existe revisão criminal em favor da sociedade, mas apenas em benefício do réu”, diz Paes de Albuquerque. “Por isso nunca mais será aberto um processo judicial para apurar a identidade dos criminosos.” De qualquer maneira, muitos livros de história que tratam da vida desse coronel de idéias nacionalistas, que utilizou a força hidráulica da Cachoeira de Paulo Afonso para gerar energia no território sob sua influência, terão de ser revistos, face a sentença do Tribunal de Alagoas. 


Filme “Coronel Delmiro Gouveia” - https://www.youtube.com/watch?v=ZMsyOSwK3zc

E o filme “Coronel Delmiro Gouveia”, dirigido por Geraldo Sarno e lançado em 1979, talvez merecesse algumas cenas adicionais que isentassem Pia e Nascimento de qualquer responsabilidade no assassinato do legendário coronel.

(*) Jornalista de Maceió (AL)


http://memo-delmirogouveia.blogspot.com.br/2008_11_16_archive.html

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C O M U N I C A D O!


A próxima visita ao Museu do Sertão (Mossoró) será no dia 6 de dezembro de 2016 (terça-feira ), de 7 às 18 horas.  Esta visita será no dia da ida ao Museu do Sertão dos participantes do II SEMINÁRIO  INTERNACIONAL ENCONTRO DAS AMÉRICAS.

Enviado pelo professor, escritor, fundador e diretor do Museu do Sertão de Mossoró.

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MEDALHA DO MÉRITO DEÍFILO GURGEL



Enviado pelo professor, escritor, fundador e diretor do Museu do Sertão de Mossoró e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes

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ASCRIM/PRESIDENCIA – PLAQUETA I FOPHPM - OFÍCIO Nº 302/2016.


MOSSORÓ(RN), 28.11.2016,

PREZADO(A)S SENHORE(A)S DEBATEDORE(A)S E PARTICIPANTES DO I FOPHPM

CONFORME ANUNCIADO NO EXPEDIENTE ASCRIM/PRESIDENCIA - REITERAMENTO - OF Nº 296/2016), DE 14.11.2016, E, COMBINADO PESSOALMENTE, PEDIMOS QUE APÓS LER OS TEXTOS DOS EXPOSITORES(VIDE ARQUIVO ANEXO),  MANIFESTEM-SE A RESPEITO DE SUA PARTICIPAÇÃO NO DEBATE DO I FOPHPM.

NO RESUMO, OS DEBATEDORES PODEM CONSIGNAR AS OPINIÕES PESSOAIS(COM BASE TEÓRICA OU HISTÓRICA), CORROBORANDO OU NÃO A TESE DOS EXPOSITORES. REFERIDOS RESUMOS FUNDAMENTARÃO AS CONCLUSÕES SOBRE O DEBATE OCORRIDO NO DIA 1º DE SETEMBRO DE 2016 E SERÁ PUBLICADA EM PLAQUETE. 

EVIDENTE, DADA A EXIGUIDADE DO TEMPO CONTAMOS A COMPREENSÃO PARA ENVIAR-NOS O RESUMO ATÉ O DIA 1º DE DEZEMBRO.2016, FIM PODERMOS EDITAR A PLAQUETA QUE SERÁ LANÇADA DIA 05.12.2016, NO II SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENCONTRO DAS AMÉRICAS.

SAUDAÇÕES ASCRIMIANAS,

FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO
PRESIDENTE DA ASCRIM-

OBSERVAÇÃO: O ARQUIVO ANEXO, CONTÉM O TEXTO DOS EXPOSITORES:
GERALDO MAIA, TESE/SUBTEMA “I -MARCO ZERO DA ORIGEM DE MOSSORÓ.DEBATEDORES: ELDER HERONILDES DA SILVA, FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO E MILTON MARQUES MEDEIROS. 

E

ROMERO CARDOSO,TESE/SUBTEMA II – VISÃO GEOGRÁFICA DE HENRY KOSTER SOBRE MOSSORÓ EM 1810; DEBATEDORES: BENEDITO VASCONCELOS MENDES, LUDIMILLA CARVALHO SERAFIM DE OLIVEIRA E RICARDO LOPES) 


C/CÓPIA PARA TODOS EXPOSITORES/DEBATEDORES E PARTICIPANTES DO I FOPHPM

VISÃO GEOGRÁFICA DE HENRY KOSTER SOBRE MOSSORÓ EM 1810
Por José Romero Araújo Cardoso

Henry Koster era filho de um comerciante inglês radicado em Lisboa (PT), tendo nascido na capital lusitana. Devido à saúde frágil, estabeleceu-se no ano de 1809 em Pernambuco, onde se tornou senhor de engenho em Itamaracá. Falava fluentemente o português, motivo pelo qual ficou conhecido entre os nativos por Henrique da Costa. Faleceu por volta de 1820 em Recife (PE).

Em 1810 empreendeu viagem a cavalo, saindo de Recife em direção ao Ceará. A sete de dezembro, às dez horas da manhã, chegou ao pequeno arraial de Santa Luzia, o qual não passou despercebido à apurada visão do viajante inglês. Em 1816 Koster publicou em Londres livro que compila as observações feitas durante a fantástica viagem, com título de Travels in Brazil, em dois volumes. Em 1942

Câmara Cascudo traduziu, prefaciou e comentou a obra do viajante inglês, sendo publicada pela Editora Brasiliana, de São Paulo, dando-lhe o título de Viagens ao Nordeste do Brasil.

Com relação a Mossoró, cujos registros Câmara Cascudo considerou o primeiro e melhor depoimento sociológico e etnográfico da região, Koster assinalou que na época constava duzentos ou trezentos habitantes, estando edificado em quadrângulo tendo uma igreja e pequenas casas baixas. O viajante inglês enfatizou ainda a dura labuta cotidiana dos sertanejos radicados no arraial de Santa Luzia do Mossoró, tendo que conviver com a ameaça de animais ferozes e com as secas.

No arraial de Santa Luzia, Koster reencheu garrafas de bebidas e supriu-se de tijolos de rapaduras, demonstrando que o viajante inglês estava bem adaptado à cultura local. A rapadura, obtida com o beneficiamento da cana-de- açúcar em engenhos e moagens, tornou-se um dos símbolos do Nordeste Brasileiro.

A igreja a qual Koster fez referência é a atual matriz de Santa Luzia, em cuja imediação é considerada por muitos como o marco zero do povoamento mossoroense.

Com relação ao citado templo católico, encontramos na Wikipédia que: A primeira edificação no local foi uma capela fundada oficialmente no dia 5 de agosto de 1772. Na ocasião, o sargento-mor da ribeira do Mossoró, Antônio de Souza Machado, e sua mulher, Rosa Fernandes, receberam autorização para construir uma capela na fazenda Santa Luzia, de sua propriedade. Em 13 de julho de 1801, Rosa Fernandes, já viúva, doou o patrimônio da Capela de Santa Luzia, onde já eram enterrados os mortos da cidade desde 1773. Em 1830  foi feita uma reforma na capela, que recebeu uma imagem de Santa Luzia de Mossoró, em madeira, esculpida em Portugal.

Motivos históricos, como a fixação efetiva da população e a continuidade do povoamento, foram levados em conta para a fixação do marco zero ao lado da igreja matriz de Santa Luzia, pois há consenso entre àqueles que escreveram sobre Mossoró que a povoação tomou impulso histórico e geográfico a partir da construção do templo em devoção à santa italiana.

Polêmicas, no entanto, são enfatizadas com relação ao início da colonização e do povoamento de Mossoró, pois há registros bem antes de 1772, com a presença dos Carmelitas no Rio do Carmo.

Em Viagens ao Nordeste do Brasil, Koster não faz menção à existência da Missão Carmelita no rio do Carmo, talvez em razão de sua viagem não ter sido realizada contemplando efetivamente a área de fixação dos religiosos oriundos de Pernambuco, não obstante haver citação em Viagens ao Nordeste do Brasil que houve travessia do leito seco do Panema, em cujo curso encontrava-se a redução Carmelita de catequese.

Em todo relato enfatizado por Koster, constata-se inexpressiva espacialização geográfica no arraial de Santa Luzi e em áreas adjacentes, pois avançando em direção ao Ceará, na localidade Tibau, destacou existir esparsas choupanas de pescadores e cinco ou seis casinhas de palha no povoado de Areias.

A fim de dar sustentação à tese que defende o surgimento de Mossoró a partir da igreja de Santa Luzia, o escritor e historiador Geraldo Maia afirma que: O fato dos Carmelitas terem sido os primeiros habitantes da região não quer dizer que os mesmos foram os fundadores, nem tampouco que a mesma nasceu no Carmo. (...) Mossoró surgiu ao redor da Capela de Santa Luzia em 1772, erguida no pátio da fazenda do mesmo nome, nas margens do rio Mossoró, por isso ficou sendo arraial de Santa Luzia, sendo emancipada como Vila do Mossoró, em 15 de março de 1852 , através da lei número 246, e elevada ao predicamento de cidade em nove de novembro de 1870, através da Lei número 620 da mesma data, passando a ser Cidade de Mossoró como permanece até os dias atuais.

O escritor e historiador Geraldo Maia defende que se os Carmelitas realmente tivessem tido a primazia de ter fomentado a efetiva colonização e povoamento de Mossoró, a Cidade teria tomado a denominação toponímica de Nossa Senhora do Carmo, Carmópolis ou denominações parecidas.

Os escombros da antiga morada dos Carmelitas existem, visitei-os diversas vezes, motivado pelos relatos fabulosos de David Medeiros Leite, Gildosn Sousa Barreto eJosé Lima Dias Júnior em Os Carmelitas em Mossoró, opúsculo importantíssimo para a história local em razão que defende com plausíveis argumentos a instalação do verdadeiro marco zero do início da povoação na região do rio do Carmo.

A presença Carmelita no Rio do Carmo é fato histórico inegável, datando do início do século XVIII, setenta anos antes da construção da igreja de Santa Luzia, motivo pelo qual não se pode desprezar a contribuição inequívoca que a ordem religiosa prestou para a História mossoroense, havendo necessidade de se repensar a importância de se colocar placa alusiva ao fato histórico referente ao início do povoamento também na área em que se fixou a missão religiosa na terra dos Monxorós, pois a existência de dois marcos zeros não é algo possível para a localização histórica referente ao início da colonização e povoamento de um lugar.

FONTES CONSULTADAS:
Catedral de Santa Luzia de Mossoró. Disponível em .<

https://pt.wikipedia.org/wiki/Catedral_de_Santa_Luzia_de_Mossor%C3%B3>. Acesso
em: 03 de junho de 2016.
DAVID MEDEIROS LEITE. Disponível em .<
http://www2.uol.com.br/omossoroense/120504/entrevista.htm>. Acesso em: 09 de junho de 2016.
GASPAR, Lúcia. Henry Koster. Pesquisa Escolar Online. Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em .<
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar_en/index.php?option=com_content&id=111
5>. Acesso em: 20 de julho de 2016.
LEITE, David Medeiros; BARRETO, Gildson Sousa; DIAS JÚNIOR, José Lima. Os
Carmelitas em Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 2002.
MAIA, Geraldo. Assim Nasceu Mossoró. Disponível em: .<
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2011/11/assim-nasceu- mossoro.html >.
Acesso em: 05 de junho de 2016.
_______________. Henry Koster e Mossoró em 1810. Disponível em: .<
http://www.caldeiraodochico.com.br/henry-koster- e-mossoro- em-1810/>. Acesso em:
08 de julho de 2016.
_______________. Seriam os Carmelitas os fundadores de Mossoró? Disponível em: .<
http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=167>. Acesso em: 09 de julho de 2016.
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Tradução, prefácio e comentários de Luís da Câmara Cascudo. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2003. V. 01.
___________. Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Tradução, prefácio e comentários de Luís da Câmara Cascudo. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2003. V. 02.
ROSADO, Vingt-un. Koster volta a Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 1998 (Série C, Coleção Mossoroense, V. 990).
______________. Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 2006 (Série C, Coleção Mossoroense, V. 1521).
José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de Geografia (DGE) da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (FAFIC) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Membro do ICOP (Instituto Cultural do Oeste Potiguar), SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) e da ASCRIM (Associação dos Escritores Mossoroenses). Diretor de Acervos da ASCRIM (Associação dos Escritores Mossoroenses) (Biênio 2017-2018).

MARCO HISTÓRICO DO INÍCIO DO POVOAMENTO DE MOSSORÓ
Por Geraldo Maia do Nascimento

Ismo. Sr. Francisco José da Silva Neto
Presidente da Associação dos Escritores de Mossoró – ASCRIM
A quem peço permissão para em seu nome saudar os demais membros da mesa.

Minhas Senhoras e meus Senhores.

Não nasci em Mossoró, mas tenho por essa terra um respeito e um carinho muito grande. Quando aqui cheguei, em 1998, desejoso de conhecer a cidade onde ia morar, comecei a pesquisar sua história, a verdadeira alma da cidade. O que encontrei me fascinou. E seguindo a sentença bíblica, passei a escrever sobre todos e sobre tudo o que via.

Venho descrevendo Mossoró em prosas e versos. Devo alertar, no entanto, que na verdade sou apenas um apaixonado pela História de Mossoró, sendo esse o motivo das minhas pesquisas. Não tenho qualificação nem títulos que credenciem as minhas observações, mas o que registro são baseados em fontes documentais. Não seria leviano para agir de outra forma.

Nesses anos de pesquisas, já com mais de 750 artigos publicados em jornais e revistas sobre Mossoró, além de alguns livros e dezenas de palestras, tenho encontrado algumas incorreções na história local e embora sabendo que isso incomoda algumas pessoas, tenho tentado resgatar a verdade, mesmo que esta não seja tão bonita quanto à fantasia dada como oficial, mas claro, sempre baseado em vasta documentação.

Estou certo de que o assunto que vamos abordar será importante para que os mais novos conheçam um pouco do nosso passado e com ele aprendam, bem como para que os profissionais mais experimentados não se esqueçam e tirem lições desta história.

I

Dos Primeiros Habitantes

Antes da chegada do colonizador, a terra já era ocupada. Mas na passagem devastadora dos povoadores dos sertões, os primitivos habitantes foram sendo escravizados, massacrados e expulsos de suas terras e nelas os povoadores fincaram os mourões das porteiras dos currais de gado. Já não havia mais lugar para os nativos. E quem eram esses nativos? Eram os Mouxorós, Monxorós ou Mossorós, da tribo carirí, que habitaram a região até quase metade do século XVIII, oséculo do povoamento mossoroense.

Segundo alguns historiadores, como é o caso de J.C.R. Milliet de Saint-Adolphe, autor do “Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil”, foi dessa tribo que veio o nome do rio. E do rio o nome da Cidade. Explica o mesmo, quando se refere ao rio Apodi: “Dá-se d’ordinário o nome de Mossoró a sua embocadura, por causa da vizinhança

das salinas, e d’uma aldeia desse nome”. Existia, portanto, uma aldeia indígena denominada Mossoró, Mouxorós ou Monxorós, e habitada pelos indígenas deste nome.

Sobre essa tribo, pouco sabemos. Nas histórias oficiais do Rio Grande do Norte, quase nada encontramos. Apenas Câmara Cascudo se ocupa do assunto. Segundo ele, “os Mouxorós ou Monxorós (Mossorós), cariris, vagavam pelas margens do atual Mossoró em seu derradeiro trecho e também Upanema. Com os Pégas se uniram e com eles mataram muito gado, provocando correria repressiva dos curraleiros de Campo Grande (Augusto Severo) contra eles. Habitaram depois a serra dos Dormentes (Portalegre), outrora de Manoel Nogueira Ferreira, situador valente”.

Informa ainda Cascudo que “ Carlos Vital Borromeu e seu irmão Clemente Gomes d’Amorim, em 1740, ajudados pelos Paiacús, desalojaram os Pégas e Mossorós dos aldeamentos serranos. Passaram então a viver na serra da Cipilhada, posteriormente denominada Serra de João do Vale”. Nonato Mota, em “Notas Históricas”, Comércio de Mossoró, 12 de julho de 1914”, completa a história informando que “os Pégas e Mossorós foram transferidos para a aldeia de Mopibu ou Mipibu, onde se dissolveram etnicamente”, esparsos e fracos ante a tentação do álcool, levando uma vida totalmente diferente da que estavam acostumados, sendo obrigados a trabalhar, plantando e colhendo, tarefa que a tribo confiava às mulheres, descaracterizando as funções da tribo.

Não se sabe de onde vieram os Mossorós. Se vieram do Ceará, pelo Jaguaribe ou pelo planalto para o Apodi. Sabe-se, no entanto, que eram fortes, ágeis, indômitos, atrevidos, incansáveis. Eram bons caçadores e achavam no gado trazido pelos colonizadores, alvos fáceis para as suas flechas. Da caça abatida tiravam a carne que era comida assada ou chamuscada. Dormiam no chão nu, ignorando e depois quase desprezando a rede de algodão dos tupis, tendo a esteira como requinte para os fracos, segundo informação de Cascudo. Corriam dias inteiros, lépidos, gritando, rindo, cantando.

As mulheres eram oleiras. Não tão hábeis como às cunhãs tupis, mas faziam os utensílios que necessitavam; plantavam e colhiam. Os homens iam à caça, com armas de arremesso, a pesca, a colheitas de frutos e mel de abelha. Não tinham reservas nem celeiros. Faziam vinho de raízes e frutos, fermentando-os, apressados pela salivação. Sob o efeito do vinho, dançavam, em rodas, erguendo os braços, festejando a Lua Nova num bailado que durava a noite toda.

Não podiam ser civilizados. Só podiam existir como tinham sempre vivido, livres, vivendo da caça e da pesca, dançando, gritando aos ventos o sabor da liberdade. Quando foram pacificados, não se habituaram a paz da disciplina dos brancos. Sem liberdade, não resistiram; morreram todos.

E assim passaram os Mossorós, deixando para a terra que um dia lhe pertenceu o legado do nome e do amor pela liberdade. Essa liberdade, que emana da terra, tem sido o brado forte e retumbante do povo mossoroense.

II

Da Colonização do Nordeste

A colonização do Nordeste brasileiro deu-se pelo litoral, onde os portugueses encontraram condições ideais para o plantio da cana-de- açúcar.

O açúcar era um produto de grande aceitação na Europa e alcançava um grande valor comercial. Após as experiências positivas de cultivo no Nordeste, já que a cana-de- açúcar se adaptou bem ao clima e ao solo nordestino, começou o plantio em larga escala. E o litoral bastava para os colonizadores. Toda parte não habitada era chamada de deserto, ou “desertão”, palavra essa que posteriormente ficou resumida a “Sertão”.

Surgiram então os engenhos para processar o açúcar, e para mover as moendas tiveram que importar o gado para os trabalhos de tração. 

Com o crescimento do rebanho, começaram a surgir problemas entre os senhores de engenho e os criadores de gado, de forma que em 1701 uma Carta-Régia determinou a retirado do rebanho das terras litorâneas. As 10 primeiras léguas (aproximadamente 60 Km), a partir da quebra do mar, estavam reservadas para a plantação de cana-de- açúcar. Restava, pois, aos criadores o sertão.

E foi no rastro do gado que o sertão foi colonizado. Os pecuaristas aproveitavam os leitos secos dos rios como estradas para conduzirem as suas boiadas e quando chegavam num lugar plano, fora da faixa proibida, construíam os seus currais, erguiam as suas cabanas, fixavam-se na terra.

Para a construção das cabanas primitivas, o couro do boi era usado em grande escala. De couro eram as portas e janelas dos casebres, o lastro das camas rústicas, os baús de guardar objetos e roupas, os depósitos para a farinha, os arreios dos animais, o chapéu do vaqueiro, o gibão que os protegia, o peitoral que protegia igualmente os animais dos espinhos e pontas de galhos secos.

A presença do escravo africano nas fazendas era insignificante. Até porque um único homem era capaz de cuidar até de 200 rezes, do modo como era criado o gado no sertão. E pelo isolamento em que o sertanejo vivia, os poucos escravos eram tratados como membros da família, sem os castigos sofridos pelos escravos dos engenhos do litoral. Muitos dos escravos se afeiçoavam tanto aos seus patrões e aos filhos dos patrões, que eram capazes de dar a própria vida para defendê-los. São várias as histórias que se contam nesse sentido.

Muitas dessas fazendas tornaram-se, posteriormente, cidades. E acontecia de maneira natural. A religiosidade do povo sertanejo fazia com que houvesse a necessidade de se construir suas casas de oração ou até mesmo pequenas capelas. E ao redor dessas capelas iam se construindo as casas dos moradores, com o tempo e com o crescimento das famílias aqueles lugares se tornavam povoados, vilarejos, vilas e depois cidades.

Aqui no Rio Grande do Norte várias cidades surgiram dessa forma, como
nos ensina o Mestre Câmara Cascudo. Mossoró é um exemplo claro dessa forma de povoamento.

A primeira concessão de terra doada nas ribeiras do Mossoró foi para os frades do Convento do Carmo de Olinda/PE.

III

Os Carmelitas na ribeira do Mossoró

Nos anais da história mossoroense encontramos registros que narram a presença de frades Carmelitas nas Ribeiras do Upanema e Mossoró, em terras doadas ao Convento do Carmo do Recife pelo Governador de Pernambuco, no início do século XVIII. Muito pouco se sabe, ao certo, das atividades exercidas pelos frades Carmelitas nessas Ribeiras. Não foram catequistas; se fossem, teriam criado uma missão ou aldeamento e isso não aconteceu. Não se sabe nem ao menos o porque do abandono da terra. O que sabemos é que aqui estiveram e que “com a licença do Reverendo Cura de Apodi, os Carmelitas confessavam, casavam, batizavam e encomendavam em toda a Ribeira de Upanema e do Mossoró, até a pancada do mar...”

Em seu livro “Notas e Documentos para a História de Mossoró” – Coleção Mossoroense – série C – volume II – o historiador Luís da Câmara Cascudo diz que “ em 26 de setembro de 1701, o governador e capitão general de Pernambuco, Dom Fernando Martins Mascarenhas de Lancastro, doava ao Convento de Nossa Senhora do Carmo do Recife terras que nunca tinham sido povoadas no rio Paneminha, começando nas primeiras águas doces, por cima da salgada, até Olho d’Água que poderia distar três léguas para cada banda do Rio”. Existem, na realidade, dois documentos dando posse destas terras aos Carmelitas: o primeiro é a doação que o Governador de Pernambuco fez ao Convento do Carmo em 1701; O segundo é a doação feita pelo Capitão Mor do Rio Grande do Norte, Sebastião Nunes Colares, em 28 de fevereiro de 1706. Ao que parece, os frades Carmelitas não reconheciam a competência do Governador de Pernambuco sobre as terras por ele doadas, requerendo, por garantia, uma outra data de sesmaria ao então Capitão Mor do Rio Grande do Norte.

Com a terra medida e demarcada, aqui chegaram os Carmelitas.

Pouco se conhece sobre o núcleo habitacional que aqui fundaram, já que os Carmelitas não possuíam na região uma missão oficial. Era provavelmente uma missão privativa do próprio Convento do Carmo. Sobre a sua localização geográfica, consta no inventário dos bens da Ordem Carmelita que “a fazenda que possui o Convento na ribeira do Panema é chamada vulgarmente de “Carmos”, e que a mesma está situada à margem da estrada real, que vai da cidade de Assu à cidade de Mossoró”. Esclarecendo sobre os vestígios toponímicos dos frades Carmelitas na Ribeira do Upanema, diz Cascudo: “O Rio do Upanema toma nome de Rio do Carmo em seu trecho paralelo a uma serra, prolongamento da chapada do Apodi, igualmente denominada “Serra do Carmo”, cerca de 30 quilômetros a leste da cidade do Mossoró. Nesta serra a tradição unânime fala da existência de Igreja e Convento (devia ser residência) dos frades Carmelitas”.

Ainda existem vestígios dessas edificações. O pesquisador David de Medeiros Leite, em artigo publicado, informa que as terras habitadas pelos frades pertencem hoje ao Sr. Raimundo Mendes, que adquiriu dos herdeiros do Sr. João Correia, que por sua vez comprou tais terras por volta de 1907 do Comandante Veras, de quem não pode informar nada. Os familiares do Sr. João Correia ainda lembram de detalhes do que eles chamam “Casa Grande”. Salas enormes e alguns quartos que traziam na arquitetura traços comprobatórios da presença religiosa, como por exemplo, os nichos (cavidades nas paredes para colocar imagens). Outro detalhe curioso da casa que foi a ruína há poucos anos, era a existência de certos buracos que varavam as largas paredes, em locais estratégicos e que, numa análise incerta, creditam ao uso de armas, como informa David Leite.

Para os moradores do lugar, as ruínas da casa que os frades Carmelitas habitaram é “mal-assombrada”. Alguns afirmam que ouviram vozes e coisas estranhos no local. E ainda permanece a lenda sobre uma “botija” deixada pelos Carmelitas, que já despertou a cobiça de muita gente.

IV

Da Fundação da Cidade

Depois das carmelitas, outras concessões de terras foram sendo doadas pela Coroa Portuguesa, ao longo da ribeira do Mossoró, inclusive a
 Fazenda Santa Luzia que pertencia, antes de 1739, ao Capitão Teodorico da Rocha. Por volta de 1770, a posse da Fazenda estava com o português Antônio de Souza Machado, e foi por essa época que a fixação demográfica foi iniciada pela criação de gado, oficina de carnes e extração do sal.

Foi Souza Machado quem construiu a pequena capela de Santa Luzia, em pagamento de promessa feita por sua mulher. Ao redor da capela foi sendo erguidas casas para os moradores e familiares e foi se formando a quadra do vilarejo. Em 15 de março de 1852, através de um projeto do Vigário Antônio Joaquim, o povoado de Santa Luzia do Mossoró era emancipado, desligando-se politicamente do município de Assu, passando a se chamar Vila de Mossoró, e em 9 de novembro de 1870 a vila foi elevada ao predicamento de cidade, permanecendo até os dias atuais como

Cidade de Mossoró.

V

Conclusão

Há uma corrente de estudiosos que defendem a tese de que Mossoró não surgiu em 1772 com a construção da Capela de Santa Luzia, como consta nos documentos oficiais, e sim setenta anos antes, na Ribeira do Upanema, fundada pelos frades carmelitas que ali habitaram.

Particularmente discordo dessa corrente de pensamentos, por não encontrar sustentação nos poucos e confusos documentos existente sobre o assunto.

É muito perigoso contestar um fato histórico sem o embasamento documental. “A história é, sobretudo, uma lição moral. A realidade é a melhor mestra dos costumes, a crítica a melhor bússola da inteligência, por isso, a história exige sobretudo observação direta das fontes primordiais, pintura fiel dos acontecimentos, ao lado disso, a frieza impassível do crítico para coordenar, comparar, de modo impessoal, objetivando o sistema dos sentimentos gerados dos atos positivos”, como nos ensina o mestre Oliveira Viana.

Não há dúvida de que os frades carmelitas foram os primeiros povoadores dessa região, instalando aqui uma fazenda de criação de gado.

Não era uma missão catequizadora oficial. É ainda o mestre Cascudo quem afirma: “Esses carmelitas possuíam em 1740 três missões indígenas: duas na Paraíba (Baía da Traição e Preguiça e Mantemor, perto de Mamanguape) e uma no Rio Grande, em Gramació(Vila Flor), conforme registrado na página 20 do Livro de Tombo do Convento do Carmo”. Nada há, no Convento do Carmo, sobre o trabalho desempenhado pelas carmelitas em Mossoró. Esses religiosos instalaram-se e permaneceram na região denominada por eles mesmo de “Carmo”, de 1702 até 1845, trabalhando no campo e, com permissão dos párocos do Apodi, prestando assistência religiosa.

O fato das carmelitas terem sido os primeiros habitantes da região não quer dizer que os mesmos foram os fundadores da cidade, nem tampouco que a mesma nasceu no Carmo. Com Natal aconteceu do mesmo modo. O marco zero da cidade, que indica o local de fundação, é na Praça

André de Albuquerque, em frente à antiga Catedral. Foi ali que construíram a capela e fincaram o Pelourinho, símbolo do poder e da justiça, apesar dos portugueses já habitarem a região há quase dois anos, tendo inclusive construído um forte, o mesmo que se encontra ali até os dias atuais. Não é o Forte dos Reis Magos o marco zero de Natal; não é o Carmo o marco zero de Mossoró.

Mossoró surgiu, repito, ao redor da capela de Santa Luzia em 1772, erguida no pátio da fazenda do mesmo nome, nas margens do Rio Mossoró, por isso ficou sendo arraial de Santa Luzia do Mossoró.

A respeito da existência de uma casa de oração no lugar conhecido por “Igreja Velha”, entre Paredões e Barrocas, subúrbios dessa cidade, construída antes da capela de Santa Luzia, o Monsenhor Francisco de Sales Cavalcanti, historiador da Diocese de Santa Luzia diz: “ Esta casa de orações, apesar de ter sido construída de pedra e cal, foi, entretanto, coberta de palha de carnaúba pelo que se desmoronou. Até agora, porém, não se sabe quando nem por quem foi construída e muito menos se tem qualquer notícia de algum ato litúrgico. De 1767 até 1820 os frades carmelitas batizaram em diversos lugares. Nada na mencionada “Casa de Oração”.

Não seria um simples oratório particular de uma família abastada, como existem muitos pelo interior?”

O frei Antônio da Conceição, administrador do Carmo, por muitos anos prestou serviços religiosos na região. Ao morrer, já velhinho, foi enterrado no interior da capela de Santa Luzia, como consta em documentos daquela Igreja. É muito pouco provável que se existisse um Convento no Carmo ou mesmo uma Igreja, seu corpo tivesse sido enterrado em outro local que não fosse no Carmo, principalmente sendo ele o administrador da fazenda. Devia ser, do mesmo modo da Igreja Velha, um oratório da casa dos padres do Carmo.

Os frades carmelitas desapareceram desta região em 1845. Porque teriam esses religiosos abandonado suas propriedades? Com quem ficaram os seus bens? Não se sabe até hoje.

Em 1810 Henry Koster, indo para o Ceará, atravessou o arraial de Santa Luzia, “The Village of St. Luzia”. Era um inglês nascido em Portugal e vivendo, desde 1809, em Pernambuco. Tuberculoso, fugia do inverno europeu mas vez por outra atravessava o Atlântico, regressando ao Nordeste, saudoso da terra cujo idioma falava fluentemente. Em Itamaracá, onde possuía engenho, era chamado de Henrique da Costa. Faleceu em 1820, no Recife.

Essa viagem de Koster, foi fabulosa, indo de Recife a Fortaleza, ida e volta, a cavalo, varando o interior, olhando tudo e tudo registrando com clareza e verdade. Sobre Mossoró, registrou: “A 7 de dezembro de 1810, às 10:0h da manhã, chegamos ao arraial de Santa Luzia, que consta de duzentos ou trezentos habitantes. Foi edificada em quadrângulo, tendo uma Igreja e casas pequenas e baixas.” A descrição consta no livro “TRAVELS IN BRAZIL”, publicado em 1816 e traduzido para o português pelo historiador Luís da Câmara Cascudo com o título de “Viagens ao Nordeste do Brasil”. Nesse livro Koster descreve o arraial de Santa Luzia do Mossoró com bastante detalhe. Nada menciona sobre a existência de um convento ou outra capela que não fosse a Santa Luzia.

Não há documento nenhum sobre o trabalho que os carmelitas fizeram aqui em Mossoró a não ser o serviço religioso, tendo, para isso, que pedir autorização aos párocos de Apodi, a quem Mossoró era ligada. O próprio Convento do Carmo, de Recife, desconhece esse trabalho. O que ficou da presença dos carmelitas na ribeira do Upanema foram vestígios toponímicos: “Serra do Carmo”, onde estaria edificado o convento ou uma casa de residência; “Rio do Carmo”, que é a porção vizinha à serra do mesmo nome; “Frei Antônio”, nome de um dos frades; “Amaro”, talvez nome de algum religioso e “Lagoa dos Padres”.

Quando me perguntam se Mossoró teria nascido no Carmo, costumo responder que se isso fosse verdade, a cidade deveria se chamar Carmópolis, Cidade de Nossa Senhora do Carmo ou qualquer nome parecido, menos Mossoró, pois se assim se chama é por ela ter nascida nas margens desse rio.

Geraldo Maia do Nascimento

Do recanto tranquilo de Santa Luzia do Mossoró

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogodmendesemes.blogspot.com