MOSSORÓ(RN),
28.11.2016,
PREZADO(A)S
SENHORE(A)S DEBATEDORE(A)S E PARTICIPANTES DO I FOPHPM
CONFORME ANUNCIADO NO EXPEDIENTE ASCRIM/PRESIDENCIA - REITERAMENTO - OF Nº
296/2016), DE 14.11.2016, E, COMBINADO PESSOALMENTE, PEDIMOS QUE APÓS LER OS
TEXTOS DOS EXPOSITORES(VIDE ARQUIVO ANEXO), MANIFESTEM-SE A RESPEITO DE
SUA PARTICIPAÇÃO NO DEBATE DO I FOPHPM.
NO RESUMO, OS DEBATEDORES PODEM CONSIGNAR AS OPINIÕES PESSOAIS(COM BASE TEÓRICA
OU HISTÓRICA), CORROBORANDO OU NÃO A TESE DOS EXPOSITORES. REFERIDOS RESUMOS
FUNDAMENTARÃO AS CONCLUSÕES SOBRE O DEBATE OCORRIDO NO DIA 1º DE SETEMBRO DE
2016 E SERÁ PUBLICADA EM PLAQUETE.
EVIDENTE, DADA A EXIGUIDADE DO TEMPO CONTAMOS A COMPREENSÃO PARA ENVIAR-NOS O
RESUMO ATÉ O DIA 1º DE DEZEMBRO.2016, FIM PODERMOS EDITAR A PLAQUETA QUE SERÁ
LANÇADA DIA 05.12.2016, NO II SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENCONTRO DAS AMÉRICAS.
SAUDAÇÕES
ASCRIMIANAS,
FRANCISCO JOSÉ
DA SILVA NETO
PRESIDENTE DA
ASCRIM-
OBSERVAÇÃO: O ARQUIVO
ANEXO, CONTÉM O TEXTO DOS EXPOSITORES:
GERALDO MAIA,
TESE/SUBTEMA “I -MARCO ZERO DA ORIGEM DE MOSSORÓ.DEBATEDORES: ELDER HERONILDES
DA SILVA, FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO E MILTON MARQUES MEDEIROS.
E
ROMERO
CARDOSO,TESE/SUBTEMA II – VISÃO GEOGRÁFICA DE HENRY KOSTER SOBRE MOSSORÓ EM
1810; DEBATEDORES: BENEDITO VASCONCELOS MENDES, LUDIMILLA CARVALHO SERAFIM DE
OLIVEIRA E RICARDO LOPES)
C/CÓPIA PARA
TODOS EXPOSITORES/DEBATEDORES E PARTICIPANTES DO I FOPHPM
VISÃO
GEOGRÁFICA DE HENRY KOSTER SOBRE MOSSORÓ EM 1810
Por José
Romero Araújo Cardoso
Henry Koster
era filho de um comerciante inglês radicado em Lisboa (PT), tendo nascido na
capital lusitana. Devido à saúde frágil, estabeleceu-se no ano de 1809 em Pernambuco,
onde se tornou senhor de engenho em Itamaracá. Falava fluentemente o português,
motivo pelo qual ficou conhecido entre os nativos por Henrique da Costa. Faleceu
por volta de 1820 em Recife (PE).
Em 1810
empreendeu viagem a cavalo, saindo de Recife em direção ao Ceará. A sete de
dezembro, às dez horas da manhã, chegou ao pequeno arraial de Santa Luzia, o qual
não passou despercebido à apurada visão do viajante inglês. Em 1816 Koster
publicou em Londres livro que compila as observações feitas durante a
fantástica viagem, com título de Travels in Brazil, em dois volumes. Em 1942
Câmara Cascudo
traduziu, prefaciou e comentou a obra do viajante inglês, sendo publicada pela
Editora Brasiliana, de São Paulo, dando-lhe o título de Viagens ao Nordeste do
Brasil.
Com relação a
Mossoró, cujos registros Câmara Cascudo considerou o primeiro e melhor
depoimento sociológico e etnográfico da região, Koster assinalou que na época constava
duzentos ou trezentos habitantes, estando edificado em quadrângulo tendo uma igreja
e pequenas casas baixas. O viajante inglês enfatizou ainda a dura labuta
cotidiana dos sertanejos radicados no arraial de Santa Luzia do Mossoró, tendo
que conviver com a ameaça de animais ferozes e com as secas.
No arraial de
Santa Luzia, Koster reencheu garrafas de bebidas e supriu-se de tijolos de
rapaduras, demonstrando que o viajante inglês estava bem adaptado à cultura local.
A rapadura, obtida com o beneficiamento da cana-de- açúcar em engenhos e moagens,
tornou-se um dos símbolos do Nordeste Brasileiro.
A igreja a
qual Koster fez referência é a atual matriz de Santa Luzia, em cuja imediação é
considerada por muitos como o marco zero do povoamento mossoroense.
Com relação ao
citado templo católico, encontramos na Wikipédia que: A primeira edificação no
local foi uma capela fundada oficialmente no dia 5 de
agosto de 1772. Na ocasião, o sargento-mor da ribeira do Mossoró, Antônio
de Souza Machado, e sua mulher, Rosa Fernandes, receberam autorização para construir
uma capela na fazenda Santa Luzia, de sua propriedade. Em 13 de
julho de 1801, Rosa Fernandes, já viúva, doou o patrimônio da Capela
de Santa Luzia, onde já eram enterrados os mortos da cidade
desde 1773. Em 1830 foi feita uma reforma na capela, que
recebeu uma imagem de Santa Luzia de Mossoró, em madeira, esculpida
em Portugal.
Motivos
históricos, como a fixação efetiva da população e a continuidade do povoamento,
foram levados em conta para a fixação do marco zero ao lado da igreja matriz de
Santa Luzia, pois há consenso entre àqueles que escreveram sobre Mossoró que a
povoação tomou impulso histórico e geográfico a partir da construção do templo em
devoção à santa italiana.
Polêmicas, no
entanto, são enfatizadas com relação ao início da colonização e do povoamento
de Mossoró, pois há registros bem antes de 1772, com a presença dos Carmelitas
no Rio do Carmo.
Em Viagens ao
Nordeste do Brasil, Koster não faz menção à existência da Missão Carmelita no
rio do Carmo, talvez em razão de sua viagem não ter sido realizada contemplando
efetivamente a área de fixação dos religiosos oriundos de Pernambuco, não
obstante haver citação em Viagens ao Nordeste do Brasil que houve travessia do leito
seco do Panema, em cujo curso encontrava-se a redução Carmelita de catequese.
Em todo relato
enfatizado por Koster, constata-se inexpressiva espacialização geográfica no
arraial de Santa Luzi e em áreas adjacentes, pois avançando em direção ao
Ceará, na localidade Tibau, destacou existir esparsas choupanas de pescadores e
cinco ou seis casinhas de palha no povoado de Areias.
A fim de dar
sustentação à tese que defende o surgimento de Mossoró a partir da igreja de
Santa Luzia, o escritor e historiador Geraldo Maia afirma que: O fato dos Carmelitas
terem sido os primeiros habitantes da região não quer dizer que os mesmos foram
os fundadores, nem tampouco que a mesma nasceu no Carmo. (...) Mossoró surgiu
ao redor da Capela de Santa Luzia em 1772, erguida no pátio da fazenda do mesmo
nome, nas margens do rio Mossoró, por isso ficou sendo arraial de Santa Luzia, sendo
emancipada como Vila do Mossoró, em 15 de março de 1852 , através da lei número
246, e elevada ao predicamento de cidade em nove de novembro de 1870, através
da Lei número 620 da mesma data, passando a ser Cidade de Mossoró como permanece
até os dias atuais.
O escritor e
historiador Geraldo Maia defende que se os Carmelitas realmente tivessem tido a
primazia de ter fomentado a efetiva colonização e povoamento de Mossoró, a
Cidade teria tomado a denominação toponímica de Nossa Senhora do Carmo, Carmópolis
ou denominações parecidas.
Os escombros
da antiga morada dos Carmelitas existem, visitei-os diversas vezes, motivado
pelos relatos fabulosos de David Medeiros Leite, Gildosn Sousa Barreto eJosé
Lima Dias Júnior em Os Carmelitas em Mossoró, opúsculo importantíssimo para a
história local em razão que defende com plausíveis argumentos a instalação do verdadeiro
marco zero do início da povoação na região do rio do Carmo.
A presença
Carmelita no Rio do Carmo é fato histórico inegável, datando do início do
século XVIII, setenta anos antes da construção da igreja de Santa Luzia, motivo
pelo qual não se pode desprezar a contribuição inequívoca que a ordem religiosa
prestou para a História mossoroense, havendo necessidade de se repensar a
importância de se colocar placa alusiva ao fato histórico referente ao início
do povoamento também na área em que se fixou a missão religiosa na terra dos
Monxorós, pois a existência de dois marcos zeros não é algo possível para a
localização histórica referente ao início da colonização e povoamento de um
lugar.
FONTES
CONSULTADAS:
Catedral de
Santa Luzia de Mossoró. Disponível em .<
https://pt.wikipedia.org/wiki/Catedral_de_Santa_Luzia_de_Mossor%C3%B3>.
Acesso
em: 03 de
junho de 2016.
DAVID MEDEIROS
LEITE. Disponível em .<
http://www2.uol.com.br/omossoroense/120504/entrevista.htm>.
Acesso em: 09 de junho de 2016.
GASPAR, Lúcia.
Henry Koster. Pesquisa Escolar Online. Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
Disponível em .<
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar_en/index.php?option=com_content&id=111
5>.
Acesso em: 20 de julho de 2016.
LEITE, David
Medeiros; BARRETO, Gildson Sousa; DIAS JÚNIOR, José Lima. Os
Carmelitas em
Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 2002.
MAIA, Geraldo.
Assim Nasceu Mossoró. Disponível em: .<
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2011/11/assim-nasceu-
mossoro.html >.
Acesso em: 05
de junho de 2016.
_______________.
Henry Koster e Mossoró em 1810. Disponível em: .<
http://www.caldeiraodochico.com.br/henry-koster-
e-mossoro- em-1810/>. Acesso em:
08 de julho de
2016.
_______________.
Seriam os Carmelitas os fundadores de Mossoró? Disponível em: .<
http://www.blogdogemaia.com/geral.php?id=167>.
Acesso em: 09 de julho de 2016.
KOSTER, Henry.
Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Tradução, prefácio e comentários de
Luís da Câmara Cascudo. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2003. V. 01.
___________.
Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Tradução, prefácio e comentários de
Luís da Câmara Cascudo. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2003. V. 02.
ROSADO,
Vingt-un. Koster volta a Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 1998
(Série C, Coleção Mossoroense, V. 990).
______________.
Mossoró. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado, 2006 (Série C, Coleção Mossoroense,
V. 1521).
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de
Geografia (DGE) da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (FAFIC) da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Membro do ICOP (Instituto
Cultural do Oeste Potiguar), SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço)
e da ASCRIM (Associação dos Escritores Mossoroenses). Diretor de Acervos da
ASCRIM (Associação dos Escritores Mossoroenses) (Biênio 2017-2018).
MARCO
HISTÓRICO DO INÍCIO DO POVOAMENTO DE MOSSORÓ
Por Geraldo
Maia do Nascimento
Ismo. Sr.
Francisco José da Silva Neto
Presidente da
Associação dos Escritores de Mossoró – ASCRIM
A quem peço
permissão para em seu nome saudar os demais membros da mesa.
Minhas
Senhoras e meus Senhores.
Não nasci em
Mossoró, mas tenho por essa terra um respeito e um carinho muito
grande. Quando aqui cheguei, em 1998, desejoso de conhecer a
cidade onde ia morar, comecei a pesquisar sua história, a verdadeira
alma da cidade. O que encontrei me fascinou. E seguindo a sentença
bíblica, passei a escrever sobre todos e sobre tudo o que via.
Venho
descrevendo Mossoró em prosas e versos. Devo alertar, no entanto, que na verdade
sou apenas um apaixonado pela História de Mossoró, sendo esse o motivo
das minhas pesquisas. Não tenho qualificação nem títulos que credenciem
as minhas observações, mas o que registro são baseados em fontes
documentais. Não seria leviano para agir de outra forma.
Nesses anos de
pesquisas, já com mais de 750 artigos publicados em jornais e
revistas sobre Mossoró, além de alguns livros e dezenas de palestras,
tenho encontrado algumas incorreções na história local e embora sabendo que
isso incomoda algumas pessoas, tenho tentado resgatar a verdade, mesmo
que esta não seja tão bonita quanto à fantasia dada como oficial, mas
claro, sempre baseado em vasta documentação.
Estou certo de
que o assunto que vamos abordar será importante para que os
mais novos conheçam um pouco do nosso passado e com ele aprendam, bem
como para que os profissionais mais experimentados não se esqueçam e
tirem lições desta história.
I
Dos Primeiros
Habitantes
Antes da
chegada do colonizador, a terra já era ocupada. Mas na passagem devastadora dos
povoadores dos sertões, os primitivos habitantes foram sendo escravizados,
massacrados e expulsos de suas terras e
nelas os povoadores fincaram os mourões das porteiras dos
currais de gado. Já não havia mais lugar para os nativos. E quem eram
esses nativos? Eram os Mouxorós, Monxorós ou Mossorós, da tribo carirí,
que habitaram a região até quase metade do século XVIII, oséculo do
povoamento mossoroense.
Segundo alguns
historiadores, como é o caso de J.C.R. Milliet de Saint-Adolphe,
autor do “Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do
Brasil”, foi dessa tribo que veio o nome do rio. E do rio o nome da Cidade.
Explica o mesmo, quando se refere ao rio Apodi: “Dá-se d’ordinário o
nome de Mossoró a sua embocadura, por causa da vizinhança
das salinas, e
d’uma aldeia desse nome”. Existia, portanto, uma aldeia indígena
denominada Mossoró, Mouxorós ou Monxorós, e habitada pelos indígenas
deste nome.
Sobre essa
tribo, pouco sabemos. Nas histórias oficiais do Rio Grande do
Norte, quase nada encontramos. Apenas Câmara Cascudo se ocupa do
assunto. Segundo ele, “os Mouxorós ou Monxorós (Mossorós), cariris,
vagavam pelas margens do atual Mossoró em seu derradeiro trecho e também
Upanema. Com os Pégas se uniram e com eles mataram muito gado,
provocando correria repressiva dos curraleiros de Campo Grande (Augusto
Severo) contra eles. Habitaram depois a serra dos Dormentes (Portalegre),
outrora de Manoel Nogueira Ferreira, situador valente”.
Informa ainda
Cascudo que “ Carlos Vital Borromeu e seu irmão Clemente Gomes
d’Amorim, em 1740, ajudados pelos Paiacús, desalojaram os
Pégas e Mossorós dos aldeamentos serranos. Passaram então a viver
na serra da Cipilhada, posteriormente denominada Serra de João do Vale”.
Nonato Mota, em “Notas Históricas”, Comércio de Mossoró, 12 de
julho de 1914”, completa a história informando que “os Pégas e
Mossorós foram transferidos para a aldeia de Mopibu ou Mipibu, onde se
dissolveram etnicamente”, esparsos e fracos ante a tentação do álcool,
levando uma vida totalmente diferente da que estavam acostumados,
sendo obrigados a trabalhar, plantando e colhendo, tarefa que a tribo
confiava às mulheres, descaracterizando as funções da tribo.
Não se sabe de
onde vieram os Mossorós. Se vieram do Ceará, pelo Jaguaribe ou
pelo planalto para o Apodi. Sabe-se, no entanto, que eram fortes, ágeis,
indômitos, atrevidos, incansáveis. Eram bons caçadores e achavam no
gado trazido pelos colonizadores, alvos fáceis para as suas flechas. Da
caça abatida tiravam a carne que era comida assada ou chamuscada.
Dormiam no chão nu, ignorando e depois quase desprezando a rede de
algodão dos tupis, tendo a esteira como requinte para os fracos, segundo
informação de Cascudo. Corriam dias inteiros, lépidos, gritando, rindo,
cantando.
As mulheres
eram oleiras. Não tão hábeis como às cunhãs tupis, mas faziam os
utensílios que necessitavam; plantavam e colhiam. Os homens iam à
caça, com armas de arremesso, a pesca, a colheitas de frutos e mel de
abelha. Não tinham reservas nem celeiros. Faziam vinho de raízes e frutos,
fermentando-os, apressados pela salivação. Sob o efeito do vinho, dançavam, em
rodas, erguendo os braços, festejando a Lua Nova num bailado que
durava a noite toda.
Não podiam ser
civilizados. Só podiam existir como tinham sempre vivido,
livres, vivendo da caça e da pesca, dançando, gritando aos ventos o sabor da
liberdade. Quando foram pacificados, não se habituaram a paz da disciplina dos
brancos. Sem liberdade, não resistiram; morreram todos.
E assim
passaram os Mossorós, deixando para a terra que um dia lhe pertenceu
o legado do nome e do amor pela liberdade. Essa liberdade, que emana da
terra, tem sido o brado forte e retumbante do povo mossoroense.
II
Da Colonização
do Nordeste
A colonização
do Nordeste brasileiro deu-se pelo litoral, onde os portugueses
encontraram condições ideais para o plantio da cana-de- açúcar.
O açúcar era
um produto de grande aceitação na Europa e alcançava um grande valor
comercial. Após as experiências positivas de cultivo no Nordeste, já
que a cana-de- açúcar se adaptou bem ao clima e ao solo nordestino,
começou o plantio em larga escala. E o litoral bastava para os colonizadores.
Toda parte não habitada era chamada de deserto, ou “desertão”,
palavra essa que posteriormente ficou resumida a “Sertão”.
Surgiram então
os engenhos para processar o açúcar, e para mover as moendas
tiveram que importar o gado para os trabalhos de tração.
Com o crescimento
do rebanho, começaram a surgir problemas entre os senhores de engenho e os
criadores de gado, de forma que em 1701 uma Carta-Régia determinou a
retirado do rebanho das terras litorâneas. As 10 primeiras léguas
(aproximadamente 60 Km), a partir da quebra do mar, estavam reservadas
para a plantação de cana-de- açúcar. Restava, pois, aos criadores o sertão.
E foi no
rastro do gado que o sertão foi colonizado. Os pecuaristas aproveitavam
os leitos secos dos rios como estradas para conduzirem as suas boiadas e
quando chegavam num lugar plano, fora da faixa proibida, construíam os
seus currais, erguiam as suas cabanas, fixavam-se na terra.
Para a
construção das cabanas primitivas, o couro do boi era usado em grande
escala. De couro eram as portas e janelas dos casebres, o lastro das camas
rústicas, os baús de guardar objetos e roupas, os depósitos para a farinha, os
arreios dos animais, o chapéu do vaqueiro, o gibão que os protegia, o
peitoral que protegia igualmente os animais dos espinhos e pontas de
galhos secos.
A presença do
escravo africano nas fazendas era insignificante. Até porque um
único homem era capaz de cuidar até de 200 rezes, do modo como era
criado o gado no sertão. E pelo isolamento em que o sertanejo vivia, os
poucos escravos eram tratados como membros da família, sem os castigos
sofridos pelos escravos dos engenhos do litoral. Muitos dos escravos se
afeiçoavam tanto aos seus patrões e aos filhos dos patrões, que eram capazes
de dar a própria vida para defendê-los. São várias as histórias que se contam
nesse sentido.
Muitas dessas
fazendas tornaram-se, posteriormente, cidades. E acontecia de
maneira natural. A religiosidade do povo sertanejo fazia com que houvesse a
necessidade de se construir suas casas de oração ou até mesmo pequenas
capelas. E ao redor dessas capelas iam se construindo as casas dos
moradores, com o tempo e com o crescimento das famílias aqueles
lugares se tornavam povoados, vilarejos, vilas e depois cidades.
Aqui no Rio
Grande do Norte várias cidades surgiram dessa forma, como
nos ensina o
Mestre Câmara Cascudo. Mossoró é um exemplo claro dessa forma de
povoamento.
A primeira
concessão de terra doada nas ribeiras do Mossoró foi para os frades
do Convento do Carmo de Olinda/PE.
III
Os Carmelitas
na ribeira do Mossoró
Nos anais da
história mossoroense encontramos registros que narram a
presença de frades Carmelitas nas Ribeiras do Upanema e Mossoró, em
terras doadas ao Convento do Carmo do Recife pelo Governador de
Pernambuco, no início do século XVIII. Muito pouco se sabe, ao
certo, das atividades exercidas pelos frades Carmelitas nessas Ribeiras. Não
foram catequistas; se fossem, teriam criado uma missão ou aldeamento e
isso não aconteceu. Não se sabe nem ao menos o porque do abandono da
terra. O que sabemos é que aqui estiveram e que “com a licença do
Reverendo Cura de Apodi, os Carmelitas confessavam, casavam,
batizavam e encomendavam em toda a Ribeira de Upanema e do Mossoró, até a
pancada do mar...”
Em seu livro
“Notas e Documentos para a História de Mossoró” – Coleção
Mossoroense – série C – volume II – o historiador Luís da Câmara Cascudo diz
que “ em 26 de setembro de 1701, o governador e capitão general de
Pernambuco, Dom Fernando Martins Mascarenhas de Lancastro,
doava ao Convento de Nossa Senhora do Carmo do Recife terras que
nunca tinham sido povoadas no rio Paneminha, começando nas primeiras
águas doces, por cima da salgada, até Olho d’Água que poderia distar três
léguas para cada banda do Rio”. Existem, na
realidade, dois documentos dando posse destas terras aos
Carmelitas: o primeiro é a doação que o Governador de Pernambuco fez ao
Convento do Carmo em 1701; O segundo é a doação feita pelo Capitão Mor do
Rio Grande do Norte, Sebastião Nunes Colares, em 28 de fevereiro de
1706. Ao que parece, os frades Carmelitas não reconheciam a competência do
Governador de Pernambuco sobre as terras por ele doadas, requerendo,
por garantia, uma outra data de sesmaria ao então Capitão Mor do Rio Grande
do Norte.
Com a terra
medida e demarcada, aqui chegaram os Carmelitas.
Pouco se
conhece sobre o núcleo habitacional que aqui fundaram, já que os Carmelitas não
possuíam na região uma missão oficial. Era provavelmente uma missão
privativa do próprio Convento do Carmo. Sobre a sua localização
geográfica, consta no inventário dos bens da Ordem Carmelita que “a fazenda
que possui o Convento na ribeira do Panema é chamada vulgarmente de
“Carmos”, e que a mesma está situada à margem da estrada real, que vai
da cidade de Assu à cidade de Mossoró”. Esclarecendo sobre os vestígios
toponímicos dos frades Carmelitas na Ribeira do Upanema, diz Cascudo: “O
Rio do Upanema toma nome de Rio do Carmo em seu trecho paralelo a uma
serra, prolongamento da chapada do Apodi, igualmente denominada
“Serra do Carmo”, cerca de 30 quilômetros a leste da cidade do Mossoró.
Nesta serra a tradição unânime fala da existência de Igreja e Convento
(devia ser residência) dos frades Carmelitas”.
Ainda existem
vestígios dessas edificações. O pesquisador David de Medeiros
Leite, em artigo publicado, informa que as terras habitadas pelos frades
pertencem hoje ao Sr. Raimundo Mendes, que adquiriu dos herdeiros do
Sr. João Correia, que por sua vez comprou tais terras por volta de 1907 do
Comandante Veras, de quem não pode informar nada. Os familiares do
Sr. João Correia ainda lembram de detalhes do que eles chamam “Casa
Grande”. Salas enormes e alguns quartos que traziam na arquitetura
traços comprobatórios da presença religiosa, como por exemplo, os
nichos (cavidades nas paredes para colocar imagens). Outro detalhe
curioso da casa que foi a ruína há poucos anos, era a existência de certos buracos
que varavam as largas paredes, em locais estratégicos e que, numa análise
incerta, creditam ao uso de armas, como informa David Leite.
Para os
moradores do lugar, as ruínas da casa que os frades Carmelitas
habitaram é “mal-assombrada”. Alguns afirmam que ouviram vozes e coisas
estranhos no local. E ainda permanece a lenda sobre uma “botija”
deixada pelos Carmelitas, que já despertou a cobiça de muita gente.
IV
Da Fundação da
Cidade
Depois das
carmelitas, outras concessões de terras foram sendo doadas pela
Coroa Portuguesa, ao longo da ribeira do Mossoró, inclusive a
Fazenda Santa
Luzia que pertencia, antes de 1739, ao Capitão Teodorico da Rocha. Por
volta de 1770, a posse da Fazenda estava com o português Antônio de
Souza Machado, e foi por essa época que a fixação demográfica foi iniciada
pela criação de gado, oficina de carnes e extração do sal.
Foi Souza
Machado quem construiu a pequena capela de Santa Luzia, em
pagamento de promessa feita por sua mulher. Ao redor da capela foi sendo
erguidas casas para os moradores e familiares e foi se formando a quadra do
vilarejo. Em 15 de março de 1852, através de um projeto do Vigário
Antônio Joaquim, o povoado de Santa Luzia do Mossoró era emancipado,
desligando-se politicamente do município de Assu, passando a se chamar
Vila de Mossoró, e em 9 de novembro de 1870 a vila foi elevada ao
predicamento de cidade, permanecendo até os dias atuais como
Cidade de
Mossoró.
V
Conclusão
Há uma corrente
de estudiosos que defendem a tese de que Mossoró não surgiu em
1772 com a construção da Capela de Santa Luzia, como consta nos
documentos oficiais, e sim setenta anos antes, na Ribeira do Upanema,
fundada pelos frades carmelitas que ali habitaram.
Particularmente
discordo dessa corrente de pensamentos, por não encontrar sustentação
nos poucos e confusos documentos existente sobre o assunto.
É muito
perigoso contestar um fato histórico sem o embasamento documental. “A
história é, sobretudo, uma lição moral. A realidade é a melhor mestra
dos costumes, a crítica a melhor bússola da inteligência, por isso, a
história exige sobretudo observação direta das fontes primordiais, pintura fiel
dos acontecimentos, ao lado disso, a frieza impassível do crítico para
coordenar, comparar, de modo impessoal, objetivando o sistema dos sentimentos gerados
dos atos positivos”, como nos ensina o mestre Oliveira Viana.
Não há dúvida
de que os frades carmelitas foram os primeiros povoadores
dessa região, instalando aqui uma fazenda de criação de gado.
Não era uma
missão catequizadora oficial. É ainda o mestre Cascudo quem afirma: “Esses
carmelitas possuíam em 1740 três missões indígenas: duas na Paraíba
(Baía da Traição e Preguiça e Mantemor, perto de Mamanguape) e
uma no Rio Grande, em Gramació(Vila Flor), conforme registrado na
página 20 do Livro de Tombo do Convento do Carmo”. Nada há, no
Convento do Carmo, sobre o trabalho desempenhado pelas carmelitas em
Mossoró. Esses religiosos instalaram-se e permaneceram na região
denominada por eles mesmo de “Carmo”, de 1702 até 1845, trabalhando no
campo e, com permissão dos párocos do Apodi, prestando assistência
religiosa.
O fato das
carmelitas terem sido os primeiros habitantes da região não quer dizer
que os mesmos foram os fundadores da cidade, nem tampouco que a
mesma nasceu no Carmo. Com Natal aconteceu do mesmo modo. O marco
zero da cidade, que indica o local de fundação, é na Praça
André de
Albuquerque, em frente à antiga Catedral. Foi ali que construíram a capela e
fincaram o Pelourinho, símbolo do poder e da justiça, apesar dos portugueses já
habitarem a região há quase dois anos, tendo inclusive construído um
forte, o mesmo que se encontra ali até os dias atuais. Não é o Forte dos Reis
Magos o marco zero de Natal; não é o Carmo o marco zero de Mossoró.
Mossoró
surgiu, repito, ao redor da capela de Santa Luzia em 1772, erguida no
pátio da fazenda do mesmo nome, nas margens do Rio Mossoró, por isso ficou
sendo arraial de Santa Luzia do Mossoró.
A respeito da
existência de uma casa de oração no lugar conhecido por “Igreja
Velha”, entre Paredões e Barrocas, subúrbios dessa cidade, construída
antes da capela de Santa Luzia, o Monsenhor Francisco de Sales Cavalcanti,
historiador da Diocese de Santa Luzia diz: “ Esta casa de orações,
apesar de ter sido construída de pedra e cal, foi, entretanto, coberta de palha de
carnaúba pelo que se desmoronou. Até agora, porém, não se sabe quando
nem por quem foi construída e muito menos se tem qualquer notícia de
algum ato litúrgico. De 1767 até 1820 os frades carmelitas batizaram em
diversos lugares. Nada na mencionada “Casa de Oração”.
Não seria um
simples oratório particular de uma família abastada, como existem muitos
pelo interior?”
O frei Antônio
da Conceição, administrador do Carmo, por muitos anos prestou
serviços religiosos na região. Ao morrer, já velhinho, foi enterrado no interior
da capela de Santa Luzia, como consta em documentos
daquela Igreja. É muito pouco provável que se existisse um Convento no
Carmo ou mesmo uma Igreja, seu corpo tivesse sido enterrado em outro local
que não fosse no Carmo, principalmente sendo ele o administrador
da fazenda. Devia ser, do mesmo modo da Igreja Velha, um oratório da
casa dos padres do Carmo.
Os frades
carmelitas desapareceram desta região em 1845. Porque teriam esses
religiosos abandonado suas propriedades? Com quem ficaram os seus bens?
Não se sabe até hoje.
Em 1810 Henry
Koster, indo para o Ceará, atravessou o arraial de Santa Luzia,
“The Village of St. Luzia”. Era um inglês nascido em Portugal e vivendo,
desde 1809, em Pernambuco. Tuberculoso, fugia do inverno europeu mas
vez por outra atravessava o Atlântico, regressando ao Nordeste,
saudoso da terra cujo idioma falava fluentemente. Em Itamaracá, onde possuía
engenho, era chamado de Henrique da Costa. Faleceu em 1820, no
Recife.
Essa viagem de
Koster, foi fabulosa, indo de Recife a Fortaleza, ida e volta, a
cavalo, varando o interior, olhando tudo e tudo registrando com clareza e
verdade. Sobre Mossoró, registrou: “A 7 de dezembro de 1810, às 10:0h da
manhã, chegamos ao arraial de Santa Luzia, que consta de duzentos ou
trezentos habitantes. Foi edificada em quadrângulo, tendo uma Igreja e casas
pequenas e baixas.” A descrição consta no livro “TRAVELS IN BRAZIL”,
publicado em 1816 e traduzido para o português pelo historiador
Luís da Câmara Cascudo com o título de “Viagens ao Nordeste do Brasil”.
Nesse livro Koster descreve o arraial de Santa Luzia do Mossoró com
bastante detalhe. Nada menciona sobre a existência de um convento ou
outra capela que não fosse a Santa Luzia.
Não há
documento nenhum sobre o trabalho que os carmelitas fizeram aqui
em Mossoró a não ser o serviço religioso, tendo, para isso, que pedir
autorização aos párocos de Apodi, a quem Mossoró era ligada. O próprio
Convento do Carmo, de Recife, desconhece esse trabalho. O que ficou da
presença dos carmelitas na ribeira do Upanema foram vestígios toponímicos:
“Serra do Carmo”, onde estaria edificado o convento ou uma casa de
residência; “Rio do Carmo”, que é a porção vizinha à serra do mesmo nome;
“Frei Antônio”, nome de um dos frades; “Amaro”, talvez nome de algum
religioso e “Lagoa dos Padres”.
Quando me
perguntam se Mossoró teria nascido no Carmo, costumo
responder que se isso fosse verdade, a cidade deveria se chamar Carmópolis, Cidade
de Nossa Senhora do Carmo ou qualquer nome parecido,
menos Mossoró, pois se assim se chama é por ela ter nascida nas margens desse
rio.
Geraldo Maia
do Nascimento
Do recanto
tranquilo de Santa Luzia do Mossoró
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
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