* Por Antônio
Neto
Lampião no
comando de um grupo formado por mais ou menos sessenta cangaceiros, devidamente
armados e municiados, atacou de surpresa, às cinco horas da manhã do dia 6 de
janeiro de 1924, o arruado de Santa Cruz no município de Triunfo, com o intuito
de saquear e assaltar as residências daquela povoação. As casas escolhidas pelo
bandido foram as de Clementino José Furtado, o famoso Clementino Quelé, de
Pedro José Furtado, conhecido por Pedro Quelé e de José Antônio de Souza.
Conforme
depoimentos das testemunhas arroladas no processo-crime do delito em questão,
houve um tiroteio pesado de quase duas horas de fogo intenso, de modo que as
moradias daquele lugarejo ficaram cobertas de fumaça. As pessoas que se
encontravam nas habitações saqueadas, não passavam de meia dúzia de homens e
algumas mulheres e crianças, que gritavam desesperadas por socorro. Não tardou
para que os moradores do vizinho sítio Santa Luzia, viessem acudir as vítimas,
evitando, assim, o saque à povoação de Santa Cruz. O bando saqueador perdendo a
sua posição na retaguarda, se pôs, imediatamente em fuga, sendo perseguido por
seus combatentes até a divisa com estado da Paraíba, seguindo o referido grupo
o rumo da Vila de Patos, onde se entocaram.
Nessa ação
criminosa os bandidos mataram Pedro José Furtado, conhecido por Pedro Quelé e
Alexandre da Cruz e Souza, respectivamente irmão e genro de Clementino Quelé.
Pelo jeito, o bandido tencionava acabar com a raça de Clementino, seu
ex-cangaceiro e principal inimigo no município de Triunfo. Neposiano Alves
Feitosa que se encontrava na casa de seu cunhado, José Antônio de Souza,
vizinha à residência de Quelé, foi gravemente ferido, vindo a falecer no dia
seguinte(7/01/1924).
Por esses
crimes o promotor púbico de Triunfo, Dr. Severiano Machado Nepomuceno, em 22 de
janeiro de 1924, ofereceu denúncia ao 1º suplente do Juiz municipal de Triunfo,
contra os indivíduos: Virgulino Ferreira de Souza, o Lampião, Antônio Ferreira,
Levino Ferreira, Antônio Mariano, Antônio Lalau, vulgo Tochinha, Silvino ou
Clarindo, vulgo Bem-te-vi, Antônio de Tal, vulgo Meia-Noite, Joaquim Moitinha e
o cangaceiro, conhecido por Juriti.
Em depoimento
à justiça, Manoel Themóteo Ferreira, a 4ª testemunha a depor, afirmou ter
ouvido de João Alves Feitosa, Clementino Furtado e outros moradores de Santa
Cruz, que além dos indivíduos já incluídos na petição inicial da ação penal
pública, também fizeram parte do grupo assaltante os cangaceiros Manoel Lopes,
José Paulo, Manoel Joca, Luiz Leão, Salú de Leovegildo, Manoel Bezerra de
Vasconcelos, conhecido por Nezinho de Leovegildo, Sabino de Tal, morador do
lugar Abóboras, Felix Caboge, Laurindo Ferreira e Justino Ribeiro. Disse,
ainda, que todos esses indivíduos eram afeitos à prática de crimes.
O famoso
Clementino Quelé, embora em situação desvantajosa, saiu incólume desse
episódio. A partir de então passou a perseguir, ferrenhamente, Lampião e seu
grupo. Há quem diga que houve mais de vinte confrontos entre os dois. O Rei do
Cangaço o odiava, no entanto não foi capaz de dar cabo do mesmo. Todavia, para
se fortalecer e perseguir com segurança o tal bandido, Clementino, ingressou na
Fôrça Pública do Estado da Paraíba. Em pouco tempo galgou o cargo de sargento,
ficou famoso como “Sargento Quelé” e tonou-se um dos maiores perseguidores de
Virgolino, o Lampião. Terminou os seus dias de vida, tranquilo na cidade
paraibana de Prata, na divisa de Pernambuco com a Paraíba, sem ter logrado
sucesso em sua empreitada de acabar como o Rei do Cangaço. No entanto foi
implacável em sua perseguição.
Este trabalho
teve como fundamento os autos do processo-crime instaurado pela justiça de
Pernambuco, no pressuposto de ter sido cometido o ato criminal ora relatado.
Portanto, à luz da Lei. Quem tiver dúvida a respeito do conteúdo deste artigo,
sugiro que consulte os arquivos existentes no Memorial da Justiça de
Pernambuco, CX 2744 – Pasta: Crime – Triunfo, 1924. Autor: Justiça Pública.
Réus: Virgolino Ferreira de Souza, vulgo Lampião e outros.
(*) Antonio
Neto é pesquisador, biógrafo, escritor e poeta
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com