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sábado, 18 de julho de 2015

Lançamento Livro FIM DO CANGAÇO: AS ENTREGAS

Autor Luiz Ruben F. de A. Bonfim

Introdução

Este livro vem de uma longa pesquisa realizada nos jornais baianos, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, em Salvador, capital da Bahia, distante 470 km da minha atual residência, em Paulo Afonso, no nordeste baiano. Buscava saber tudo que foi publicado sobre o cangaço, especialmente sobre Lampião nos jornais daquela época. Daquele trabalho mais abrangente, fiz um recorte que apresento agora, tratando especificamente do fim do cangaço, através das entregas dos grupos cangaceiros, mostrando tudo que o jornal A Tarde, Diário de Notícias, Diário da Bahia, Estado da Bahia, O Imparcial, À Noite, Correio da Manhã, Diário da Noite, Jornal de Alagoas, Gazeta de Alagoas e O Globo, publicaram sobre o assunto.

Imagem da cabeça de Lampião - www.espacoeducar.net

Com o fim do rei do cangaço na grota de Angico em Sergipe, em 28 de julho de 1938, os cangaceiros remanescentes passaram por certo isolamento, pela falta de um líder como Lampião. Seria uma decorrência natural Corisco assumir a chefia dos bandos, mas, dois meses após a morte de Lampião, em outubro de 1938, iniciou-se o processo das rendições por parte do grupo de Zé Sereno. O fim do cangaço se aproximava.

Imagem do cangaceiro Corisco

Esse trabalho é dividido em quatro partes. A primeira mostra as entregas dos cangaceiros liderados por Zé Sereno, Ângelo Roque e o grupo do cangaceiro Pancada. Os primeiros se entregaram na Bahia, e o último em Poço Redondo estado de Sergipe, para as polícias alagoanas e sergipanas.

Grupo de Zé Sereno este era primo de Zé Baiano e Mané Moreno

A outra parte deste trabalho foi realizada no Quartel dos Aflitos, atual QG da Polícia Militar, também em Salvador. São os documentos oficiais dos Boletins da Polícia Militar da Bahia sobre o combate ao banditismo, obtidos graças à gentileza do amigo, na época tenente Marins, que me deu total acesso aos arquivos da Polícia Militar da Bahia do período de 1928 a 1940.


Na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, localizada no bairro dos Barris em Salvador, fiz o levantamento dos jornais locais a partir da morte de Lampião em julho de 1938, mostrando o que a imprensa baiana publicou sobre as entregas dos cangaceiros à Polícia Militar da Bahia, com menor destaque ao grupo de Zé Sereno, ao contrário do grande destaque dado a rendição do grupo de Ângelo Roque, com fotografias e páginas inteiras sobre o fato.

Grupo de Pancada

As entregas à Polícia alagoana obtive o material da imprensa Caetés, como troca de documentos com o pesquisador David Bandeira e Marcos Edilson. Também de pesquisa feita por Ana Paula Arruda, por mim contratada para essa missão em Aracaju, onde foram pesquisados os jornais tanto sergipanos quanto alagoanos.

A morte de Corisco e a sua perseguição estão descritas de duas formas, a primeira pela imprensa baiana, através de enviados ao local da morte de Corisco e ferimento de Dadá. Outra parte é descrita nos boletins oficiais da Polícia Militar da Bahia, narrada pelos próprios protagonistas dos acontecimentos e de oficiais ligados ao comando da perseguição aos fugitivos, Dadá, Corisco, a menina Zefinha, e o cangaceiro Rio Branco com sua companheira.

Nas matérias publicadas pela imprensa, quando foi presa e depois operada para amputação da perna, Dadá revela uma versão para sua entrada no cangaço, conforme vemos nos jornais da época, que é diferente da versão dada tempos depois, de que foi raptada e seduzida à força por Corisco, publicada em livros, revistas e jornais.

Um fato curioso que apresento são os relatos das negociações de prazo com a Polícia Militar para sua entrega e agiotagem por parte de Corisco que vemos nos boletins oficiais da polícia. Outra curiosidade é quando ele joga dinheiro, quando da tentativa de fuga dele em 25 de maio de 1940 na fazenda Pacheco, publicado nos jornais.

O cangaceiro Volta Seca - http://cariricangaco.blogspot.com

Procurados pelos pesquisadores e repórteres na vida após o cangaço, os ex cangaceiros foram tirados do anonimato. Alguns ficaram à vontade com a exposição, a exemplo do cangaceiro Volta Seca, que não perdia oportunidade tanto na época em que ficou preso, como após sua libertação pelo indulto de Getúlio Vargas. Outros, contudo, se reservaram e só foram descobertos quase no fim de suas vidas.

Já Dadá era uma figura bastante procurada pela imprensa, não só por ter sido esposa de Corisco, mas também por ter sido uma hábil cangaceira, e uma excelente costureira, introduzindo uma nova estética na vestimenta dos cangaceiros pela sua arte nos bordados.

Apresento neste trabalho uma série de fotografias, entre outras, mostrando aspectos urbanísticos de algumas das cidades que tiveram alguns fatos ligados às visitas dos cangaceiros, na área de atuação dos grupos que andavam com Lampião no cangaço.

Quero deixar registradas minhas homenagens à imprensa alagoana e baiana pelos seus profissionais anônimos e os que estão identificados neste trabalho.

Um agradecimento ao hoje Capitão Marins, da Polícia Militar da Bahia, na época da pesquisa tinha patente de tenente, e ao seu comando, pelo acesso aos arquivos da Polícia Militar da Bahia.

Ao amigo David Bandeira e ao Instituto Geográfico e Histórico de Alagoas pelas pesquisas para mim enviadas, particularmente os jornais de Alagoas.

A Biblioteca Pública do Estado da Bahia.

A Marcos Edilson, paulafonsino residente em Tocantins, pelo intercâmbio que sempre mantivemos do assunto.

Escritor e pesquisador do cangaço Antonio Amaury

Em especial ao amigo e mestre Antônio Amaury, já parceiro em outras publicações, que me honra com a apresentação deste novo livro, suas críticas construtivas, seu incentivo e entusiasmo pelo tema que nesses últimos doze anos de convivência me proporcionaram um aprendizado valioso, tanto nos estudos do cangaço, como na vida, pela pessoa humana e digna que é. Extensivo a sua esposa Reneé Maria, seus filhos Antonio Amaury, Carlos Elydio e Sérgia Reneé e seus netos Henrique e Marcelo que sempre recebem a mim e a minha esposa Angela, em sua residência em São Paulo, com muita atenção e consideração.

Luiz Ruben F. de A. Bonfim
Economista e Turismólogo
Pesquisador do Cangaço e Ferrovia

Enviado pelo autor Luiz Rubens F. de A. Bonfim

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ESCOMBROS DA RESIDÊNCIA DE JOÃO GERICÓ DA BOAVENTURA (JOÃO FLANDEIRO)


Essa cruz marca um dos mais tristes episódios da história de nosso Barro. Escombros da residência de João Gericó da Boaventura (João Flandeiro), assassinado nesse local barbaramente por determinação do Major Zé Ignácio do Barro. 

Sinhô Pereira - http://cariricangaco.blogspot.com

O bando foi comandado pelo célebre cangaceiro Sinhô Pereira e entre os comandados estavam Lampião, Ulisses Liberato, Cícero Costa, Tiburtino Inácio, Baliza, Cajueiro, João Dedé e outros não menos conhecidos. 

Lampião

Esse episódio ocorreu no dia 12 de Janeiro de 1922 e repercutiu sobremaneira. Uma semana depois o bando atacou o Padre Lacerda na Vila de Coité no município de Mauriti. 

Ao pé da Cruz os torrões petrificados pelo incêndio na residência.

Fonte: facebook

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ENTRE A CRUZ E O PUNHAL


Esse era um cenário comum em uma época que o cangaço e o banditismo de um modo geral, imperava nos sertões nordestinos.

Época em que o medo e o terror causado por cangaceiros, jagunços e polícia, dominava e aterrorizava o já tão sofrido e judiado povo nordestino.

Um povo oprimido pela pobreza e que vivia sob o julgo dos poderosos, obrigado a atender suas vontades e conveniências, onde a negativa, poderia ser a sentença de morte, inclusive para toda a família.

Quantas famílias não perderam suas vidas por causa de poucos metros de terra?

Quantos não foram expulsos de suas terras ou saíram para não serem mortos pelo simples fato de ter se negado a vender barato, o seu pequeno pedaço de chão?

As injustiças, a fome e a miséria gera revolta no ser humano e o leva por caminhos que jamais trilharia, se tivesse oportunidades e condições dignas e humanas para sua sobrevivência.

Quantas vidas foram ceifadas e quanto sangue foi derramado por este sertão à fora?

Quanto sangue ainda será derramado até que as injustiças humanas, sejam exterminadas definitivamente?

Perguntas que ecoam sem respostas.

Enquanto houver injustiças e descasos para com os seres humanos, haverá levantes populares, surgirá formas de banditismos diferenciadas e cenas semelhantes a essa da imagem abaixo, continuarão a existir, poluindo visualmente a nossa paisagem.

E o povo continuará vivendo entre... A CRUZ E O PUNHAL.

PRINCIPALMENTE... NAS QUEBRADAS DO SERTÃO...
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)

Fonte: facebook

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LAMPIÃO UM ESTUDO DE BUSCAS E ESSÊNCIAS


Vejam o que acabo de receber de presente. Um amigo, vindo das bandas de Petrolina – PE, aumentou o peso da bagagem e me trouxe esse livro. Para mim, o maior e melhor presente que uma pessoa dar à outra.... é uma forma de 'passar' conhecimentos. Vendo por alto, são 700 páginas ao todo... 442 em sua essência pesquisa, o restante ficando para iconografia e entrevistas com imagens dos entrevistados... já tenho com que me divertir.

Fonte: facebook

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RASPANDO O TACHO – COMIDA E CANGAÇO, NOVO LIVRO DE ADRIANO MARCENA

Autor Adriano Marcena

Após a publicação de Mexendo o Pirão, prefaciado pelo antropólogo Raul Lody, Adriano Marcena nos oferta mais um estudo inédito na história da alimentação brasileira: 


Raspando o tacho - comida e cangaço: relações etnogastronômicas entre nômades e sedentários nos sertões nordestinos (1922-1938), com prefácio de Ésio Rafael.

Desta vez, a publicação do historiador mergulha no universo nômade do cangaço para discutir as principais características da ‘munição de boca’ usada pelos cangaceiros.

É sabido que o nomadismo cangaceiro se dava dentro de uma sociedade sedentária (sertão nordestino) em meio à complexa rede de interesses socioeconômicos que envolviam os atores sociais. Como os cangaceiros se relacionavam com a comida e a bebida em suas andanças?

Com ilustrações de Carlos Newton Júnior, a publicação concentra suas atenções na interface entre cangaço – especificamente o bando de Lampião – e as comidas e as bebidas, tendo como norteador teórico a etnogastronomia, entendida como práticas alimentares com características próprias de um povo ou comunidade, desenvolvidas com intencionalidade relacionada a processos educativos de tradição e resistência, e que permitem a patrimonialização do ato de comer entre os comensais.

Tal exercício permitiu ao autor perceber o ato de comer como patrimônio, tanto entre sertanejos sedentários quanto as extensões vestigiais que escorreram pelos tachos andarilhos do cangaço.

A publicação traz uma versão em audiobook do livro para garantir o acesso das pessoas com deficiência visual e conta com o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura, Governo do Estado de Pernambuco, além de ter o apoio cultural da Recife Promo.

Serviço: Lançamento de livro –

Título: Raspando o tacho - comida e cangaço: relações etnogastronômicas
entre nômades e sedentários nos sertões nordestinos (1922-1938).
Autor: Adriano Marcena
Local: Restaurante Teatro Mamulengo - Praça do Arsenal – Recife Antigo
Data: 25/07/15 (sábado)
Horário: Das 10h às 14h

Enviado pelo autor

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CORISCO A SOMBRA DE LAMPIÃO


Pela grandeza da Obra e pelo inconfundível talento do autor, Corisco - A Sombra de Lampião é mais do que recomendável, é imprescindível!

Palavras do Manoel Severo do http://cariricangaco.blogspot.com

Vendas através de Francisco Pereira
Valor de R$ 50,00 (com frete incluso).
Pedidos através do e-mail:

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INTRODUÇÃO SOBRE CANGAÇO


LEMBRANDO AO LEITOR QUE OS VÍDEOS POSTADOS SÃO APENAS PARA PROPAGAR O CANGAÇO, E NÃO FAZEM PARTE DESTE TEXTO.

No sertão do Nordeste brasileiro, as violentas disputas entre famílias poderosas e a falta de perspectivas de ascensão social numa região de grande miséria levaram ao surgimento de bandos armados, gerando o fenômeno do cangaço. Cangaço é a denominação dada ao tipo de luta armada ocorrida no sertão brasileiro, do fim do século XVIII à primeira metade do século XX. Cangaceiro era o homem que se dedicava a essa atividade, trazendo sempre atravessada nos ombros sua espingarda, como um boi debaixo da canga. Já no começo do século XIX, o cangaceiro trazia a tiracolo ou dependurada no cinturão toda sorte de armas suplementares, como longos punhais que batiam na coxa e cartucheiras de pele ou de couro, praticamente a mesma indumentária de Lampião, cem anos mais tarde.


Existiram três tipos de cangaço na história do sertão: o defensivo, de ação esporádica na guarda de propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios, disputa de terras e rixas de famílias; o político, expressão do poder dos grandes fazendeiros; e o independente, com características de banditismo. No primeiro caso, após realizarem sua missão de caçar índios no sertão do Cariri e em outras regiões, a soldo dos fazendeiros, os cangaceiros se dissolviam e voltavam a trabalhar como vaqueiros ou lavradores. As rixas entre famílias e as vinganças pessoais mobilizavam constantemente os bandos armados. Parentes, agregados e moradores ligados ao chefe do clã por parentesco, compadrio ou reciprocidade de serviços compunham os exércitos particulares.


O cangaço político resultou, muitas vezes, das rivalidades entre as oligarquias locais, e se institucionalizou como instrumento dessas oligarquias, empenhadas na disputa para consolidar seu poder. Mas no final do século XIX surgiram bandos independentes que não se subordinavam a nenhum chefe local, tendo sua origem no problema do monopólio da terra. Esse tipo de cangaço já existira no passado, em função das secas, mas não conseguira perdurar, eliminado pelos potentados locais, assim que se restabeleciam as condições normais de vida.


O primeiro dos grandes bandos independentes foi o de Antônio Silvino (1875), pernambucano que, desde jovem, na última década do século XIX, se dedicara ao cangaço a serviço da família Aires. A partir de 1906, afastou-se das lutas políticas e dos conflitos entre famílias, passando a lutar pela dominação armada de áreas do sertão. Atuou em Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, espancando, assassinando, cobrando tributos e saqueando. Ferido em 1914, durante combate, foi preso e condenado a trinta anos de prisão em Recife, sendo indultado em 1937.


Virgulino Ferreira, o Lampião, o mais famoso de todos os cangaceiros, assumiu a chefia de seu bando em 1922. Por causa da organização e disciplina que impunha seus cabras, raramente era derrotado, além do fato de aparecer perante a população sertaneja como um instrumento de justiça social, procurando, dessa forma, justificar seus crimes, que atingiam pobres e ricos indistintamente. Morreu em combate em 1938. Outros cangaceiros famosos foram Jesuíno Brilhante (1844-1879), cearense, morto em luta com a polícia; Lucas da Feira, baiano, enforcado em 1849; José Gomes Cabeleira, pernambucano, e Zé do Vale, piauiense, igualmente enforcados nas últimas décadas do século XIX.


Os três tipos de cangaço muitas vezes coexistiram. O defensivo e o político ocorreram por todo o país e sobrevivem, a bem dizer, até os dias atuais. O independente, porém, tem localização certa no tempo, pois surgindo em fins do século XIX, praticamente desapareceu em 1939, com a morte de Corisco, o Diabo Louro, o mais famoso chefe de bando depois de Lampião.

A extinção desse fenômeno social foi consequência sobretudo da mudança das condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abriam para as massas nordestinas com a migração para o Sul, e das maiores facilidades de comunicação, entre outros fatores. Mais de dez anos antes da morte de Corisco já os nordestinos começavam a migrar para as fazendas paulistas de café, em longas viagens a pé; de 1930 em diante, a industrialização no Sul, a abertura de novas frentes agrícolas, como a do norte do Paraná, e a interrupção da imigração estrangeira tornaram mais intensa a demanda de braços do Nordeste, trazendo, como consequência, uma intensa migração para o Rio de Janeiro e São Paulo.

Extensa é a bibliografia sobre o cangaço, de estudos sociológicos à reportagem documental. Na literatura, destacam-se o romance O Cabeleira (1876) de Franklin Távora, e as obras de José Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Guimarães Rosa, este último autor de Grande sertão, veredas, considerado o maior romance já escrito sobre os cangaceiros. No cinema, sobressaíram O cangaceiro (1953) de Lima Barreto e Deus e o diabo na terra do sol (1964) de Gláuber Rocha. 

http://www.eunapolis.ifba.edu.br/informatica/Sites_Historia_EI_31/cangaco/Site/Cangaco.html

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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS


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"LAMPIÃO - O CANGAÇO E SEUS SEGREDOS"

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UM MILITAR EXEMPLAR

Tenente-brigadeiro Rui Moreira Lima
Tenente-brigadeiro Rui Moreira Lima

Herói de guerra e democrata, o brigadeiro Rui Moreira Lima soube posicionar-se nos melhores e piores momentos das Forças Armadas

Paulo Ribeiro da Cunha
Sê um patriota verdadeiro e não te esqueças de que a força somente deve ser empregada a serviço do Direito”. Boa parte das gerações militares contemporâneas, bem como setores políticos e acadêmicos, parecem desconhecer o real significado destas palavras atualmente.
Rui Moreira Lima em fotografia de 1953, no Rio de Janeiro. O militar ganhou condecorações por sua participação na Segunda Guerra Mundial e foi torturado por se opor ao regime ditatorial de 1964. (Foto: Acervo Pedro Luiz Moreira Lima)
Rui Moreira Lima em fotografia de 1953, no Rio de Janeiro. O militar ganhou condecorações por sua participação na Segunda Guerra Mundial e foi torturado por se opor ao regime ditatorial de 1964. (Foto: Acervo Pedro Luiz Moreira Lima)
Escritas em 1939 pelo juiz de direito Bento Moreira Lima numa carta para seu filho, o cadete Rui Moreira Lima, que aos 20 anos ingressava na Força Aérea Brasileira (FAB), elas parecem ter servido como uma declaração de princípios que nortearia a vida do futuro brigadeiro.
Tenentes Rui Moreira Lima, Alberto Martins Torres e Renato Goulart Pereira
Tenentes Rui Moreira Lima, Alberto Martins Torres e Renato Goulart Pereira
Poucos anos depois, Rui Moreira Lima seria um herói de guerra. Com outros jovens aviadores brasileiros, todos voluntários, integrou o grupo de aviação da FAB, o “Senta Púa”, unidade que recebeu uma das mais altas condecorações americanas em reconhecimento pela bravura de seus membros. Ao final da Segunda Guerra, sua folha de serviços computava 94 missões, pelas quais ganhou as mais altas condecorações militares do Brasil, da França e dos Estados Unidos. 
Representação do Republic P-47 Thunderbolt com que o tenente Rui combateu na Itália - Fonte -www.militar.org.ua
Representação do Republic P-47 Thunderbolt com que o tenente Rui combateu na Itália – Fonte -www.militar.org.ua
Sempre que podia, declamava com sabor de poesia a carta recebida de seu pai. Em um dos trechos, ela aconselhava: “Obediência a seus superiores, lealdade aos teus companheiros, dignidade no desempenho do que te for confiado, atitudes justas e nunca arbitrárias”. Nada mais válido nos tempos da Guerra Fria pra lá de quente que se iniciaria em 1947. O debate em que esteve imerso o jovem oficial trazia não somente o desafio de edificar uma nação, mas principalmente o de construir e defender uma democracia. Patriota, democrata e nacionalista, Rui Moreira Lima teve uma discreta empatia à esquerda, e uma identificação sem militância com o PSB (Partido Socialista Brasileiro), agremiação que tinha entre seus membros militares históricos, compromissados com a democracia e a nação, como o almirante Herculino Cascardo (1900-1967) e o general Miguel Costa (1885-1959).
Ao retornar da guerra, como tenente, Moreira Lima foi condecorado pelas missões na 2ª Guerra Mundial pela FAB (Foto: Agência Força Aérea/Arquivo)
Ao retornar da guerra, como tenente, Moreira Lima foi condecorado pelas missões na 2ª Guerra Mundial pela FAB (Foto: Agência Força Aérea/Arquivo)
Nos anos 1950 e 1960, atuou na defesa da legalidade democrática e em causas nacionalistas, como a do Petróleo é Nosso. Na polarização entre grupos políticos e ideológicos dentro da própria FAB, condenou tentativas golpistas – como a de abortar a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek (1956) e as Revoltas de Jacareacanga (1956) e Aragarças (1959) – e apoiou a posse de João Goulart por ocasião da renúncia de Jânio Quadros (1961). “O soldado não conspira contra as instituições a que jurou fidelidade. Se o fizer, trai seus companheiros e pode desgraçar a nação”, escreveu o pai. 
Jango assiste, em 1963, à demonstração da FAB, com a presença de Rui Moreira Lima, à sua esquerda. O militar se pôs em defesa da ordem democrática e da manutenção da legalidade nos momentos de ruptura. (Foto: Acervo Pedro Luiz Moreira Lima)
Jango assiste, em 1963, à demonstração da FAB, com a presença de Rui Moreira Lima, à sua esquerda. O militar se pôs em defesa da ordem democrática e da manutenção da legalidade nos momentos de ruptura. (Foto: Acervo Pedro Luiz Moreira Lima)
A chegada de 1964 encontrou o militar no comando da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, a mais poderosa unidade de combate da FAB no período, cuja tradição ele ajudou a forjar como piloto de caça nos campos de batalha italianos.
Rui Moreira Lima acompanhava com preocupação os desdobramentos golpistas e lamentava a imobilidade do governo em reagir naquilo que era o princípio basilar das Forças Armadas: a hierarquia e a disciplina.
Reprimiu com rigor tentativas de envolver os comandados em aventuras, chegando a prender alguns de seus jovens oficiais. Em reação à movimentação das tropas do general Mourão, em março de 1964, sobrevoou em um rasante a coluna golpista já próxima de Areal (RJ), cuja tropa foi tomada por pânico. Na volta à unidade, confabulou com seus superiores que os rebelados poderiam ser dissolvidos em um ataque de precisão, sem maiores baixas. Mas só tomaria essa iniciativa se recebesse ordens para tanto. Diante do posicionamento do presidente João Goulart em não resistir e partir para o exílio, deu-se por encerrada qualquer possibilidade de reação.
1964 - Fonte - www.ocafezinho.com
1964 – Fonte  http://www.ocafezinho.com
Ali estava encerrada sua carreira militar, bruscamente interrompida. Antes, porém, teve ainda um ato de resistência: só aceitou passar  o comando da Base Aérea se fossem cumpridas todas as formalidades, postura que constrangeu seus algozes. “A honra é, para ele [o militar], um imperativo e nunca deve ser mal compreendida”. Pouco depois, Rui Moreira Lima foi preso em casa e teve de responder a três inquéritos policiais militares. Amargou um total de 153 dias no cárcere. Em uma das prisões, nos anos 1970, chegou a ser torturado.
30-12-1964
Diante do quadro de vilania que caracterizou o regime militar, qualificou de infame e covarde a figura do torturador – que, portanto, não deveria ser contemplado com a anistia. Visão compartilhada com o pai: “O soldado nunca deve ser um delator, senão quando isso importar a salvação da pátria. Espionar os companheiros, denunciá-los, visando a interesses próprios, é infâmia, e o soldado deve ser digno”.  
Tanques em frente ao Congresso Nacional patrulham a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, após o golpe militar de 1964 - Fonte - https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ditadura_militar_no_Brasil_(1964-1985)
Tanques em frente ao Congresso Nacional patrulham a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, após o golpe militar de 1964 – Fonte –https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ditadura_militar_no_Brasil_(1964-1985)
Inegavelmente a pátria estava em perigo, e o campo de batalha passou a ser outro para o então coronel. A perseguição foi uma constante para as centenas de cassados, entre oficiais e praças das Forças Armadas e das Polícias Militares. Todos os aviadores, por portarias secretas, foram proibidos de voar.
Rui 1964 (1)Rui 1964 (2)
JORNAIS DE 1964 MOSTRAM O QUE O BRIGADEIRO RUI MOREIRA LIMA SOFREU
Por convicção, não aderiu à opção de resistência armada ao regime militar: decidiu combater a ditadura na ação política. Foi um dos que ergueram a bandeira pela anistia ampla, geral e irrestrita. Ao lado do brigadeiro Francisco Teixeira e de outros oficiais, Rui Moreira Lima foi um dos fundadores da Adnam (Associação Democrática e Nacionalista dos Militares).
O Brigadeiro Rui de novo na cabine de um P-47 - Fonte - http://www.cartacapital.com.br/sociedade/uma-mentira-que-insiste-em-sobreviver-8561.html
O Brigadeiro Rui de novo na cabine de um P-47 – Fonte –http://www.cartacapital.com.br/sociedade/uma-mentira-que-insiste-em-sobreviver-8561.html
A anistia saiu em 1979, mesmo ano em que faleceu seu pai. Mas ela veio restrita em relação aos militares cassados, inclusive o brigadeiro, a despeito de sua folha de serviços. 
À frente da Adnam, continuou intervindo na agenda política com o objetivo de aprofundar a democracia e a construção de um efetivo estado de direito. Buscava não só a ampliação da anistia como a reintegração, mas também a  reincorporação dos militares cassados. Em outra frente de luta, preocupava-se com a memória e a história. Escreveu Senta Púa e Diário de Guerra, e contribuiu com depoimentos em livros, teses e documentários. Por sua intervenção direta, o acervo da Adnam foi entregue para a guarda do Cedem – Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Acima, recebe pedido de desculpas por meio do ministro da Justiça, em 2011. (Foto: Acervo Pedro Luiz Moreira Lima)
Acima, recebe pedido de desculpas por meio do ministro da Justiça, em 2011. (Foto: Acervo Pedro Luiz Moreira Lima)
Em seus últimos anos, através de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) patrocinada pela Adnam e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), contestou a anistia aos torturadores e apoiou com entusiasmo a formação da Comissão Nacional da Verdade, em 2012. Segundo ele, a CNV era um instrumento necessário para aproximar os militares e a sociedade civil, e não pode ser considerada expressão de revanchismo, mas sim de justiça e de um necessário resgate da história. Inclusive a sua história. 
Já com mais de 90 anos, não se furtou a outras polêmicas. Em 2012, subscreveu pela Adnam o manifesto “Aos Brasileiros”, confrontando um manifesto de golpistas elaborado por militares da reserva do Clube Militar. No ano seguinte patrocinou a “Carta do Rio de Janeiro”, documento endereçado à Presidência da República com vistas a equacionar em definitivo a questão de uma anistia ampla para os militares cassados e perseguidos após o golpe. 
Rui Moreira Lima * 12/06/1919 + 13/08/2013 - Fonte - revistaaerolatina.blogspot.com
Rui Moreira Lima * 12/06/1919 + 13/08/2013 – Fonte – revistaaerolatina.blogspot.com
Só depois de seu falecimento, em fins de 2013, o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa a uma ação reparatória reconhecendo seus direitos. Não viveu, portanto, para ver o epílogo de uma longa trajetória militar e política: a promoção à patente de tenente-brigadeiro, último posto da Força Aérea.
A FAB o dignificara já no enterro, com toque de silêncio e voos rasantes de aviões de caça da unidade Senta a Púa. A homenagem ao oficial cassado seria um passo importante para a decisão posterior do STF. 
Reconhecimento ainda mais cheio de significado, particularmente para os cadetes da Academia da Força Aérea, seria se a instituição de ensino reverenciasse Rui Moreira Lima em um dos painéis de sua ampla entrada onde constam pronunciamentos de várias personalidades civis e militares. Como texto, o ensinamento da carta de Bento Moreira Lima, um conselho que retrata a vida do filho ao mesmo tempo em que serve de lição aos militares e cadetes das novas gerações: “O povo desarmado merece o respeito das Forças Armadas. Estas não devem esquecer que é este povo que deve inspirá-las nos momentos graves e decisivos”.   
Paulo Ribeiro da Cunha é professor de Teoria Política na Universidade Estadual Paulista e autor de Militares e militância: uma relação dialeticamente conflituosa (Editora Unesp/Fapesp, 2014).
Saiba Mais
BONALUME NETO, Ricardo. A nossa Segunda Guerra: os brasileiros em combate, 1942 -1945. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1995.
FERRAZ, Francisco César. Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2005.
SODRÉ, Nelson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro/ São Paulo: Ed. Civilização Brasileira/ Expressão Popular, 2010 [1965].
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.com.br/2015/07/17/um-militar-exemplar/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com