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sábado, 23 de julho de 2016

ALGUNS ROSADO EM CAJAZEIRAS (*)

Por Deusdedit Leitão

Recebi de Vingt-un Rosado uma interessante plaquete contendo dados genealógicos de sua família. Antes de dar-me à leitura, nas suas saborosas minudências, percebi a forma dedicada com que o infatigável pesquisador mossoroense estava a me cobrar uma promessa feita há dois anos.
          
Quando me foi dada a satisfação de conhecer pessoalmente esse enxundioso e excelente amigo que é Vingt-un Rosado tomei conhecimento do seu propósito em relação à sua genealogia. Dei-lhe algumas notícias da passagem de seus ancestrais por Cajazeiras e prometi-lhe rever a fonte dessas informações o que, infelizmente, não me foi possível fazer porque não tivera eu o cuidado de assinalar dentre os numerosos MS que constituem os arquivos de minha terra aqueles que continham as informações que interessavam à árvore genealógica de Vingt-un. Não tivera mais notícias de seu trabalho e julguei que o passar do tempo tivesse abatido nele o elevado propósito de reconstruir a história de sua gente. Felizmente Vingt-un não é desses tímidos que desanimam ao se depararem com as primeiras dificuldades. Fez o que lhe foi possível sem o tempo que lhe é negado pela incessante atividade profissional. Juntou os elementos de que dispunha, arrumou-os de modo especifico, como convém à aparente confusão da genealogia e publicou-os, incorporando-os à Coleção Mossoroense com a promessa formal de voltar ao cometimento porque não é outra coisa o que se depreende de suas palavras iniciais: Aprendi que uma maneira prática de solicitar informações aos outros é imprimir as que possuímos e distribuímos aos possíveis colaboradores.
          
Cajazeiras a partir de 1860 foi aos poucos conquistando foros de metrópole sertaneja. O colégio do Padre Rolim ia reunindo em seu derredor as numerosas famílias que para alí afluíram com a preocupação de educar os seus rebentos. Como consequência da expansão demográfica foi a terra do Padre Rolim tornando-se centro comercial de relativa importância o que sem dúvida não deixou de ser também outro fator de seu progresso material. A história guardou dessa época, um nome que ainda é lembrado como expressão mais alta de nossa pretensa opulência econômica. É ele exatamente o Francisco Bezerra de que nos fala Vingt-um. Fazendeiro abastado e comerciante progressista deu à sombra de seus cabedais, acolhida a numerosos adventícios que, arrastados pelo renome da cidade, iam tentar a vida na tão decantada Cajazeiras do Rolim. Foi esse sentimento acolhedor que levou Jerônimo Rosado à minha cidade, numa das fases mais difíceis de sua vida. É o que nos conta Vingt-un e que lá, viajando às feiras vizinhas, com banca de fazendas, conseguiu, com seus irmãos, sobreviver a grande seca de 1877-1879.

Vingt-un Rosado e Lauro da Escóssia
          
O desejo de atender a solicitação de Vingt-un fez-me indagar de pessoas mais antigas se sabiam algo sobre os Rosado em Cajazeiras. De uma delas, a Professora Vitória Bezerra, ouví a narração de episódios vividos em minha cidade por outros Rosado que não Jerônimo Rosado e seus irmãos. Falava-me a veneranda educadora cajazeirense da influência exercida pelo irmãos Rosado d Haro de Oliveira sobre a mocidade daqueles longínquos dias. Rapazes bem apessoados, elegantes no porte e na indumentária, foram eles autênticos dandy a empolgar as ternas donzelas sertanejas. Nas reminiscências de     Dona Vitória percebe-se ainda um ressaibo de permanente saudade na lembrança desses nomes, na evocação das serenatas inesquecíveis, pois que, eram eles exímios flautistas. Lembra a respeitável preceptora de tantas gerações de cajazeirenses que o pai desses rapazes era comerciante de tecidos que a sua família ligou-se por laços de fraterna amizade àqueles jovens portugueses tendo o seu pai externado o alto apreço que lhe dedicava dando a um dos seus filhos o nome de Alípio. Foi desse Alípio, ou, como requer a indagação de Vingt-un, foi desse Alípio Rosado d Haro Oliveira que encontrei excelente fotografia, existente entre tantas que pertenceram ao saudoso político de minha terra Higino Gonçalves Sobreira Rolim. O Major Higino, como ainda é lembrado em Cajazeiras, era um homem comunicativo que emprestava a todos os forasteiros o conforto de sua amizade. Os visitantes mais esclarecidos não lhe dispensavam a prosa saborosa entrecortada da erudição de sua admirável cultura humanística.
          
Voltemos, porém, ao Alípio de quem guardei a fotografia com o propósito de encaminhá-la a Vingt-un. Antes procurei mostra-la a Dona Vitória que, com sua admirável maneira de reconstituir os fatos de sua época, segredou-lhe algo sobre o casamento de Alípio. É uma história um tanto parecida com a de seu irmão José Augusto. Não sei se há equivoco mas me animo a acreditar na veracidade da informação da querida professora cajazeirense porque ela tem um senso histórico fora do comum. A fotografia a quem me refiro foi oferecida a Higino Rolim, remetida de Águeda (Portugal) com a data de 18 de novembro de 1905. É um grupo muito simpático trajando com os requintes dos figurinos parisienses. Vê-se na fotografia, além de Alípio, a sua mulher D. Joana, a filha Margarida e a enteada Marieta. A enteada é um encanto de mulher a justificar plenamente a maliciosa informação de Dona Vitória. O casamento de Alípio foi muito comentado e repercutiu nas terras do sertão paraibano entre os seus amigos de Cajazeiras. Não lhe faltou o aspecto romântico tão ao gosto da época. Dizem que o nosso bom português apaixonara-se por Marieta, o que não é de admirar para quem a vê no encanto primaveril de seus 18 anos. A moça não retribuiu os galanteios de Alípio que não se deu por achado e foi reviver no coração de Dona Joana a chama que também lhe fazia arder o coração quarentão. Ficou, assim, aos pés de Marieta dando carinhosa assistência paterna a quem lhe recusara os carinhos de esposa. Margarida aparece no centro do grupo, na graça de seus três anos, como se ali estivesse de propósito, unindo pelo sangue os três familiares que lhe circundam.
          
Mando a Vingt-un a fotografia que a prestimosidade de Cristiano Cartaxo confiou-me com o pesar de sentir-se desfalcado de mais essa lembrança de seu saudoso pai. Que Vingt-un a receba como uma minha modesta colaboração ao seu excelente trabalho, sem deixar de atentar para o seu valor como elemento subsidiário nas indagações ecológicas.     
Deusdedit Leitão. Historiador paraibano de saudosa memória.

(*) A UNIÃO – 17-12-1958 – João Pessoa.

FONTE: ROSADO, Vingt-un. Informação Genealógica Sobre Alguns Rosado. Mossoró/RN: Fundação Guimarães Duque, 1982 (Série C, Coleção Mossoroense, Vol. CCXXXIII. P. 55-60.

Jerônimo Rosado pai da família numerada

Jerônimo Ribeiro Rosado – (Depoimento do meu primo José Menandro da Cruz): Vovô Jerônimo Ribeiro Rosado era casado com D. Vicência da Costa, filha do português Trajano da Costa, irmão de Vicente da Costa, Bento da Costa, Salviano da Costa que requereram terras ao Governo para situarem fazendas. No sítio Genipapo ficou Salviano da Costa. No sítio Capuxú, Trajano da Costa. Jerônimo Ribeiro Rosado a uns 5 quilômetros da Cidade de Pombal. O meu avô com os recursos que trouxe de Portugal, começou a viajar ao Piauí para comprar gado e estabeleceu diversas fazendas: uma no sítio José Rodrigues outra no sítio Leonel, outra no sítio Galoada e vizinho.

No sítio José Rodrigues construiu um açude com o trabalho escravo. Em Pombal edificou uma casa. Vovô sofria de hidrocele. Morreu de septicemia deixando dez filhos. Leopoldina casou-se com o seu primo José Rosado de Oliveira, que não suportando os rigores da seca, abandonou a família, retirando-se para o Porto de Águeda, em Portugal. Papai (Menandro José da Cruz) assumiu a direção da família em momento tão difícil, levando-a para Cajazeira do Rolim onde era empregado de balcão de Francisco Bezerra. Viajava às feiras vizinhas, com banca de fazendas. Com o seu trabalho os seus irmãos puderam sobreviver a grande seca de 1877-1879.

No Diário de Pernambuco de 12 de julho de 1871, na Revista Diária, encontro dados que me esclarecem a morte do meu avô. Ele falecera a 8 de julho de 1871, de tétano. Português de 50 anos, branco, casado, residindo na Boa Vista. Foi sepultado nas catacumbas do S. B. Jesus da V. Sacra. Impossível localizar no Cemitério de Santo Amaro o seu túmulo, porque decorridos alguns anos, devem ter sido os seus restos mortais removidos para uma vala sem inscrição, ao pé das catacumbas.
Jerônimo Ribeiro Rosado nasceu, portanto em 1821.

a)      Do seu consorcio com Vicência da Costa, nasceram:   

F1) Leopoldina cc seu primo José Rosado de Oliveira ou José Augusto d Aro e Oliveira. Pais de:

N1) Jerônimo Augusto Rosado D Oliveira

N2) Joaquim Augusto Rosado D Oliveira

N1 e N2 estão numa fotografia de Águeda, ano de 1880.
Do casal Leopoldina – José Ribeiro descendem os Rosados de Pernambuco.

F2) Herculana Rosado Bandeira n. em 22/02/1871 cc José Lopes Bandeira em Cajazeira. Descendem deste casal quase todos os Rosado que residiam em Governador Dix-sept Rosado.

F3) Francisco Rosado (F. 27/02/1914) consorciou-se duas vezes, cc Maria trigueiro Castelo Branco S.S. 2ª vez cc Capitulina Eudoxia Rosado. Filhos:

N3) Jerônimo Rosado de Sousa

N4) Josefa Rosado de Souza (Quinta)

F3) Sebastião. S.S.

F4) Trajano cc Corina Henrique Rosado. Pais de:

F5) Maura

F5) Delmira. S.S.

F6) Maria. S.S.

F7) Ana, f. em Pombal em 1903. S.S.

F8) Josefa cc Natanael Maia. Pais de:
N5) Natalia cc João Belarmino de Oliveira (paisinho). Pais de:

B1) Francisca

B2) Lauro

B3) João

F9) Jerônimo Ribeiro Rosado, depois JERÔNIMO ROSADO. Consorciou-se duas vezes, a primeira com D. Maria Amélia Henriques Maia e a segunda com D. Isaura Henriques Maia, ambas filha do Major Laurentino Ferreira Maia. Do primeiro consórcio, nasceram três filhos e dezoito do segundo. Destes dois matrimônios descendem os Rosado de Mossoró.

b) Jerônimo Ribeiro Rosado e Francisca Freire de Andrade são os pais de:

F10) Menandro José da Cruz. O meu primo José Menandro da Cruz, fez referências ao seu pai, que é exatamente o meu tio Menandro José da Cruz. Foi este criado por minha avó Vicência da Conceição Costa e das boas relações que existiam entre ele e o resto da família, dá um testemunho uma dedicatória que lhe fez, em uma fotografia o meu pai Jerônimo Rosado: Ofereço a meu irmão e dedicado amigo Menandro José da Cruz. Catolé do Rocha, 24 de novembro de 1883. Jerônimo Ribeiro Rosado.

FONTE: ROSADO, Vingt-un. Informação Genealógica Sobre Alguns      Rosado.         Mossoró/RN: Fundação Guimarães Duque, 1982 (Série        C, Coleção Mossoroense, Vol. CCXXXIII. P. 120-124.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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O ESCRITOR E A SOLIDÃO TÃO SÓ

*Rangel Alves da Costa

Estou cada vez mais sozinho. Moro só, deito só, acordo só. Lavo e passo minhas roupas, prego meus botões, varro o meu chão, rego as minhas plantas, preparo minha comida. Tudo sozinho.

Sempre fui assim, sozinho. Talvez sempre dormir de rede seja a comprovação maior de que ninguém está ao lado. Viro de um lado, sozinho. Viro para o outro lado, novamente sozinho.

Levanto às três da madrugada e sem qualquer cuidado de não acordar alguém que esteja ao lado. Só tenho o trabalho de desligar a televisão e logo correr para debaixo do chuveiro. Depois um café bem forte, um cigarro, e o dia começando assim.

Gosto da solidão das madrugadas mais escuras, chuvosas, molhadas. Saio á porta dos fundos e abraço os braços para melhor sentir a chuva caindo. Quando a chuva é forte, então ali mesmo me deixo completamente molhar.

Há, nas madrugadas, uma poesia dolorosa, porém confortante. Quando não está chovendo, o céu enluarado, ainda estrelado, se faz de horizonte à reflexão. E sempre encontro algum instante para mirar o alto e imaginar nas alturas.

Ainda na semiescuridão, sigo até o portão da frente, de xícara à mão, e lanço o olhar sobre a rua nua, vazia, deserta. Portas e janelas fechadas, a luz amarelada do poste se estendendo sobre o asfalto, tudo tão diferente. E sempre faz meditar.

Não há momentos mais apropriados à meditação do que entre as três e as cinco horas da manhã. Nasce com o silêncio fechado, absoluto, até se estender aos primeiros murmúrios do dia. Uma porta se abre, alguém já segue, há uma foz distante, um passo que passa.

Até esse instante, quando a mente ainda se encontra em si mesma, é sempre possível recordar, rememorar, relembrar, planejar, dialogar com o silêncio, até sonhar, até sorrir, até sofrer e chorar. Ora, é poesia escrita pelo instante, e este nem sempre se mostra feliz.


Tudo isso seria possível sem a solidão? Logicamente que não. A simples presença de alguém, ainda que adormecida no quarto, já inibe a mente para voar, pensar, refletir, sonhar, sofrer, querer sorrir, sentir vontade de chorar. É que a solidão precisa de solidão.

Minha solidão não inibe a minha nudez de canto a outro, não inibe o banho debaixo da chuva, não inibe o diálogo silencioso enquanto os horizontes são avistados, não inibe o olhar sofrido nem a face alegre demais para o instante. Mas com outra presença seria diferente.

E quando o dia acorda e a rua desperta, somente a solidão já existente para permitir sua continuidade. Não há palavras, pois não há com quem conversar. Não há afazeres diferentes daqueles costumeiros: letra a letra, juntando ideias, fazer surgir qualquer coisa.

E quanto solitário é o ofício da escrita. Creio ser impossível escrever com vozes ao lado, barulhos, pessoas entrando e saindo, aborrecimentos e preocupações. Daí ser necessário estar em clausura, em silêncio monástico, para fazer com que a pena emerja da alma.

Para o escritor, a solidão afeiçoa-se ao próprio poder de criação. Ora, não pode viver dois mundos ao mesmo tempo. Ele abdica de si, através do silêncio e da solidão, para adentrar naquele outro mundo surgido de sua imaginação. É este o seu mundo que se revela.

Há, assim, uma solidão impregnada e tão própria de cada escritor. Ou ele é solitário ou nada pode criar. O seu pensamento só caminha, voa, vaga e divaga, se tiver a liberdade de encontrar o que desejo. E não pode ser impedido pela presença do mundo ao redor.

Não fosse minha solidão, talvez jamais conseguisse escrever sequer um bilhete. E não fosse o silêncio ao qual me imponho, certamente não brotaria ao menos uma carta. E não fosse a clausura enquanto escrevo, certamente que minhas ideias correriam porta afora.

Agora, novamente e sempre, estou sozinho. Já é noite. Minha rede já espera a minha solidão. Para talvez sonhar vagando sozinho e acordar para o convívio de minha madrugada tão só. E depois caminhar pela solitária rua com o meu olhar.

Escritor
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BALÃO "CABRA DO INPS" TRINTA ANOS DE LUTA. AGORA, É UM TRABALHADOR APOSENTADO E DOENTE.

Texto de Cláudio Bojunga para o jornal “O Estado de São Paulo” –  01/08/1973 


No dia 27 de outubro de 1972, o ex-cangaceiro Balão, de cabra de Corisco, Anjo Roque e Lampião, cabra macho, pai de 25 filhos, tendo o corpo fechado por um patuá secreto e inconfessável; Balão, portanto, na verdade Guilherme Alves, mas por direito Balão porque sempre teve o peito estufado, recebia nas costas cem quilos dentro de um poço desbarrancado, perdido na ocasião os dentes, fraturando as costelas, rachando os lábios, cegando os olhos, afundando o peito. A cidade de São Paulo liquidava um cabra que sobrevivera aos tiros de Mané Neto e que durante nove anos de caatinga nunca pisara em farmácia. O declarante tem algo a dizer?

- Sabia que aquele poço ia cair, mas o mestre de obras Guerino começou a me torrar. Entrei para ele ver. Só me lembro de ter enchido um balde de terra.
Aposentado.

O curioso é que, havendo lutado durante os primeiros trinta anos de sua vida e trabalhado durante os outros trinta que também viveu, nunca teve férias. Ouçam a história:

Depois de nascer em Paulo Afonso, Bahia, no ano de 1910 viu com quatro anos de idade o diabo – 
“um neguinho preto botando fogo na roupa”. O bicho desapareceu lá pelo Pilãozinho.

Balão não chegou a ver seus pés de bode, mas diz que “o resto era homem de mesmo”. Foi a única vez que viu o diabo em pessoa. Depois, viu só suas obras. A seca era braba e a criação se acabava de sede. Chegou então a volante, sovou o pai em cima de um saco molhado de sal e cortou o couro cabeludo do irmão. Balão, tipo genioso, decidiu vingar. Nisso passa Corisco.

Briga 

– “recebi um fuzil comprido e seiscentas e sessenta balas. Gastei tudo no primeiro dia”. Comida – “quando achávamos uma rês ninguém ia percurar o dono; passava a do coco. Mas era difícil encontra e as vêis nós abria a boca pro céu e não encontrava nem uma salivinha na ponta da língua”. Ascendência – “minha bisavó foi pegada lá pros lados de Mato Grosso. Era da aldeia Carajá". Lampião - “num queria mudá nada, morreu purque tava cansado – brigar vinte anos num é vida de homi”.

Corpo Aberto

Balão só viu o mar no dia em que se entregou. Foi em 1938, Salvador, na barra do Rio Vermelho. Caiu n’água e gostou. Só que de noite teve a primeira dor nas costas de sua vida. Andaram dizendo que aquilo lhe abrira o corpo. Balão não acreditou, mas nunca pôde tirar a prova, já que a partir daquele dia nunca mais entrou num tiroteio.

Ficou um ano no quartel, foi bem tratado pelo capitão Aníbal e depois deu no pé a fim de procurar seu destino. Para quem nunca havia trabalhado aquele seu primeiro emprego na estrada de ferro, de trena e baliza na mão, foi até manso. Puxou com os “ingenhero” uma linha de Contendas a Monte Azul; tomou conta de noite do barracão de lentezinhas, acabou arranjando um caso com o "dotô" que lhe cortejou a namorada. Não bateu nele, não – deu só uns tiros numa porta – o "dotô" pulou uma janela e um abaixo-assinado removeu-o do local. Fugiu correndo para o Sul sem documento. Corpo agora definitivamente aberto.

Passou por um investigador da polícia em Pederneiras, passou por Tupã, encarou uma pensão portuguesa em Marília. Era o tempo da Guerra e do gasogênio, os carros corriam com um caldeirão atrás. Balão plantou um pouco de algodão, mas trabalho mais duro era um suplício – o homem que só tinha empunhado o fuzil criou 17 calos na mão no dia em que cortou sua primeira lenha. Sua época mais feliz foi logo depois, quando arrumou um barzinho à beira da estrada em troca de cem votos municipais. Depois inventaram um negócio de imposto e Balão veio para São Paulo – 30 de outubro de 1960. Foi dando logo uma entrada para comprar a casinha. Itaquaquecetuba. Por ali, perto de São Miguel Paulista, Balão descobria mais gente do que na cidade de Belém, por exemplo. Milhares de nordestinos. Isso aliás nunca o espantou – Balão disse que não se espanta com “panorama”, aliás não se espanta com nada.

E foi aí que começou o inferno. Começava sua carreira como poceiro – poços de 10 a 15 metros, sem ajudantes a não ser seus filhos “de menor” que trabalhavam de graça e não conseguiam alçá-lo do fundo da terra. Os peitos e as costas rebentadas de noite. Recebeu seu primeiro cheque sem fundo no dia 25 de outubro de 1963 – ele se lembra de que era o banco Auxiliar de São Paulo, emitido por dois larápios, o Norberto Tedesco e um outro pilantra vestido com uma falsa farda da Aeronáutica.

À procura dos direitos

Num gesto de absoluta ingenuidade, Balão devolveu não só o primeiro mas o segundo e o terceiro. Depois assinou promissórias que ficaram sem resposta. Quando o prazo esgotou Norberto pediu a Balão que “desse o fora” e fosse procurar seu direito. Que voltasse quando conseguisse encontra-lo. Balão saiu desesperado com a desfaçatez. Nem pegou o elevador: desceu a escada a pé e foi comprar uma garrucha e 25 balas na rua Joaquim Nabuco. Mas “se os maiores estavam criados, os de menor não tinham parentes ou aderentes – estariam perdidos com um pai na cadeia”. Saiu procurando seus direitos – trocou a garrucha por um rádio de pilhas.

Depois venceu a sanfona de oitenta baixos, fez galeria na rua Santo Antônio (“o mestre de obras era ruim, quase meto a picareta no gogó dele”) trabalhou no ar comprimido para a Sobraf – nunca tinha visto aquilo –, o português jogou-o lá dentro até o dia em que o médico disse que ele não tinha mais idade para aquele trabalho, bateu estaca na rua Veridiana. Sempre à procura de seus direitos, mas com um ditado à mão: “boi muito amassado dentro do curral se num soltar fica ruim”.
E foi indo até o dia em que o Guerino, o maldito Guerino, resolveu desafiá-lo a entrar naquele poço evidentemente apodrecido. Sabia que ia desabar. Mas ele torrou, e Balão cavou um balde – o último balde bem cavado de sua vida: dentes, costelas, olhos, peito – e a dor na virilha, a sinusite crônica, a urina avermelhada de sangue. E os direitos?

Balão nunca se separa das muitas carteirinhas ensebadas mas em ordem, dentro do bolso da camisa. Depois de tantos anos de vida sem lei, é quase uma obsessão a lei. Afinal, a cidade grande e o mundo industrial é que são os civilizados. Carteira profissional n° 2502, chapa 1180 da Sobraf, etc... A carteira está presa na Delegacia do Trabalho na rua Martins Fontes, pois Balão finalmente resolveu fazer um processo. Está liquidado, soterrado, o corpo mais que aberto e não recebe o devido. No bolso, cartõezinhos de advogado:

“Na forma combinada apresento-lhe o senhor Guilherme Alves, vítima daquele acidente em que ficou soterrado num poço de fundação”.

Bônus!!!

Balão, em registro de Antônio Amaury
(Obs. Foto não compõe a matéria original)

Um boi amassado dentro de um curral.

Está devendo duzentas pratas na venda, ainda não acabou de pagar a casa. - Se num soltá fica ruim. Ultimamente deixou novamente seus cabelos crescerem.

Encheu os dedos de anéis. Quem sabe, num arranja um papel em filme de cangaceiro. Está procurando seus direitos.
A última filha de Balão tem dez dias. Quem vai dizer a Balão que Corisco fez bem em não se entregar?

Créditos para Antônio Correa Sobrinho

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28 DE JULHO NA GROTA DO ANGICO XIX MISSA DO CANGAÇO UMA REALIZAÇÃO DA SOCIEDADE DO CANGAÇO.


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COMITIVA DE MOSSORÓ CONFIRMA PRESENÇA NO IX FESMUZA


O Caldeirão Político recebeu, na manhã do dia 19, comunicado oficial do professor José Romero Cardoso, da cidade de Mossoró-RN, confirmando a presença do professor Benedito Vasconcelos Mendes, a esposa Suzana Gorete, o filho Milton e o próprio Romero, no IX Festival de Músicas Gonzagueanas (FESMUZA), nos dias 19 e 20 de agosto próximo.

Na oportunidade, o ICOP – Instituto Cultural do Oeste Potiguar prestará homenagem especial ao presidente do Parque Cultural O Rei do Baião, em plena festa do Gonzagão.


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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GINÁSIO DIOCESANO DE POMBAL – 1ª TURMA DE CONCLUINTES. 1955 A 1958

Por Verneck Abrantes de Sousa

Paraninfo: Dr. Janduhy Carneiro

Especiais Homenagens: D. Zacarias Rolim de Moura – Bispo Diocesano. Monsenhor Abdon Pereira – Primeiro Inspetor Federal. Cônego Joaquim de Assis Ferreira – Atual Inspetor Federal. Dr. Lourival Cavalcante de Oliveira – Decano do Corpo Docente. Acadêmico Arlindo Ugulino da Costa – Professor Co-Fundador. 


Professores: Dr. Atencio Wanderley Bezerra, Dr. Avelino Elias de Queiroga. Dr. Wilson Seixas. Dr. Azuil Arruda de Assis, Acadêmico Plínio Leite Fontes, Herotides Santana de Sousa, Tenente Luiz Gonzaga de Melo, Ex-Professor Antonio Salvantes Dias, Ex-Professor Gilberto Rolim de Moura.

Concluintes: Alcides Carneiro Cavalcante, Antonio Guedes da Nóbrega, Aércio Pereira Lima, Arnaldo Ugulino, Carlos Alberto Soares de Oliveira, Carlos Brunet de Sá, Dário Gouveia Moniz, Eurico Vieira Carneiro, Francisco Almeida de Sousa, Francisco das Chagas Alves do Ó, Francisco Queiroga de Alencar, Ignácio Tavares de Araújo, Josué Carlito Dantas Bezerra, José Fernandes de Queiroga, Jurandir Guedes da Nóbrega, João Índio Queiroga Vilar, Joel Javan Trigueiro Bezerra, José Leny Dantas Bezerra, Jorge Pereira de Lucena, Jurandir de Queiroga Urtiga, José Severo de Queiroga, João Vieira Lima, Lacides Brunet de Sá, Luiz Alves de Sousa, Luiz Camilo de Sousa, Miguel Brilhante de Sousa, Mordecai Tavares Formiga, Nicodemos de Abrantes Gadelha, Orlando PEREIRA, Olavo Setúbal Rocha, Rivaldo Dantas Bezerra, Valdeci Silva.

Verneck Abrantes de Sousa. Agrônomo. Escritor. Natural de Pombal/PB


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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Luiz Ruben F. de A. Bonfim
Economista e Turismólogo
Pesquisador do Cangaço e Ferrovia

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VIRGOLINO ALCOOLIZADO

Por Matias Arrudão

"O SERTANEJO VÊ NO CANGACEIRO O INSTRUMENTO INCONSCIENTE DE UMA VINGANÇA BRUTA E CEGA..."

INOFENSIVO, de olhos parados, um machucado sangrento na testa, as tranças negras pendentes.

Capitão Virgolino Ferreira.

Lembram-se dele?

De couro era o seu chapéu fabricado em Caruaru. A aba imensa se revirava em quarto de lua, enfeitada de medalhas. De couro eram a sua jaqueta, as perneiras, os seus sapatos. De couro o mocó da comida, o cantil, a mochila, a bruaca, o embornal de milho e os arreios de seu cavalo. De couro a sua barraca e a sua cama. E de couro, finalmente, a bainha da sua faca, a alça de seu rifle, a capa do seu revólver, a sua cinta e as suas cartucheiras.

Virgolino era um homem do couro. Com um pouco menos seria um homem do ouro. Contudo, a legra c, não conseguiu cortá-la, talvez porque fosse analfabeto. Então, com ela cravada na carne, acabou assim. Os olhos imóveis, as tranças paradas, incapaz de fazer mal a ninguém, exceto provavelmente às crianças que estão para nascer.

Capitão Virgolino reside num vidro de álcool, no Museu Nina Rodrigues, na cidade do Salvador. Isto é, quem mora ali é a sua cabeça. O resto ficou na fazenda dos Angicos, ao lado dos corpos degolados de Maria Bonita, Azulão, Zabelê, Maçarico e outros. Sua presença, porém, irradia-se por esta campanha. E eu mesmo, que sou da Praia Grande, mas criado no Butiá, eu mesmo o encontrei, na sua roupa de couro, com o chapéu levantado, galopando na caatinga e dando tiros a esmo.

Foi o caso que há muito tempo, no vale seco de Santana do Ipanema, no sertão salitroso das Alagoas, Virgolino me apareceu, quando, comprando um chapéu de vaqueiro, pensei alto em que com ele faria sucesso.

Nessa hora o comerciante me atalhou: - olhe, prefiro o cangaço.

Calmamente, firmemente, contou-me que um dia Lampião acampara na sua fazenda e lhe prendera o pai de refém. Mandou buscar vinte contos, senão punha fogo no paiol e queimava o velho. Eu fui, levei dois contos e chorei de verdade, porque não possuía mais. O capitão teve dó. Aceitou e prosseguiu. Não carneou nem uma vaca. Uma semana depois chegaram os homens da polícia e me chamaram de coiteiro. Mataram meu gado e incendiaram o resto.

Foi nessa hora que Virgolino, cujo espírito andava perto se encarnou. Ganhou corpo e fez questão de vir comigo na direção do interior da Bahia.

O automóvel foi comendo a estrada, subindo e descendo as montanhas do sistema de Moxotó. A noite começou a cair e as estradas entraram a piorar. Estrelas profusas no céu quase equatorial. Vultos estranhos, mulas sem cabeça, um padre vestido de branco, andando para trás. Noite fechada e o carro perdido. Perdido nas mil trilhas brancas da caatinga esquálida.

Varamos por um atalho, por outro. Na curva, os faróis bateram numa porta de couro. Alumiada por quatro velas de carnaúba, lá estava a mulher morta, amortalhada, sobre um estrado raso de couro. Vestida de branco, a carpideira puxava a ladainha. Vozes esganiçadas cortavam o silêncio negro – tende piedade dela.

Pergunto-lhe: - capitão, sabe o caminho?

Virgolino Ferreira não se ofende com minha indagação. Ora se... Nem é bom falar. A planura de Mata Grande ele a conhece como a palma da sua mão. Vai entrar na cidadezinha, pacificamente, outra vez. Vai me obter uma rede para o corpo exausto na pensão daquelas velhinhas surdas, de camisola, andando feito sombra no sobradão assombrado.

Lampião já agora me parece um bom sujeito. O mal está em que foi o homem do couro, quando devera ter sido, como tantos outros, um homem do ouro. Simples degraus da civilização, diferença de uma letra do alfabeto. Tão pouco...

Diz que não morreu de tiro, em combate, mas envenenado por arsênico, à traição. Depois é que os macacos lhe fizeram o buraco na cabeça e estouraram o crânio de Azulão. Mutilaram os cadáveres e embolsaram os prêmios do governo.

Passa a mão no pescoço e exclama: - polícia que degola também envenena, também assalta, também cangaceia.

Faz uma pausa, como se puxasse pelas recordações, e ajeita os óculos. Continua.

Prova está em que o povo do sertão gosta de mim. Não viu aquele vendeiro de Santana? Ninguém sabe. Nem eu, que agora estou morto e poderia descobrir a verdade. Só sei que vingo. É alguma coisa que ninguém avalia, nem define, nem compreende. Uma vingança sem rumo, uma força que ninguém segura. Alguma coisa está errada para que haja tanto sofrimento em meio do meu povo. Ainda agora, desfeito em pó, eu represento a dor das vítimas e luto contra o que desconheço. Por isso é que essa gente se lembra.

Imagino que Lampião está certo. Se a reação é violenta surge o bandido, se mística, aparece o fanático. Antonio Silvino é o mesmo que Corisco, Antonio Conselheiro é o mesmo que o padre Cícero.

Virgolino, palidamente humano, prossegue, como se tivesse perdoado. Compre o meu ABC. Leia os versos que me fizeram os homens simples do sertão. Os versos, que eles cantam nas tardes tristes, nas tardes calmas, nas noites sem orvalho, nas noites secas, quando o luar se reflete nos mandacarus e traça formas estranhas no chão. Quando morri, padre Albuquerque, de São Miguel Campos, celebrou missa por minha alma e sessenta pessoas me ofereceram a sagrada comunhão...

Penso um instante. No folclore efetivamente transpira a simpatia da massa – humilde pelos bandoleiros audazes, que enfrentam os poderosos, e pelas suas mulheres guerreiras, que nas costas carregam o fuzil e um perdido amor dentro do peito. Aí estão as cerâmicas, tão ingênuas, que retratam a vida dos homens errantes do cangaço...

“Parece – explica Djacir Menezes – que o sertanejo vê no cangaceiro o instrumento inconsciente de uma vingança bruta e cega, a agir indefinida e estupidamente contra “qualquer coisa” invisível e má. Essa mentalidade está duplamente preparada pela série de fatores telúrico-sociais discriminados: - reclama Conselheiros, padres Cíceros ou Josés Lourenços”.

Reanimado pela gasolina de lata o motor ronca outra vez.

Convido-o.

- Vamos, capitão?

Virgolino faz um gesto negativo.

- Vai, meu filho, eu fico. Volto daqui. Lá adiante expuseram as cabeças dos meus cabras e tiraram aquela fotografia que horrorizou o mundo. Vá sozinho. Visite Paulo Afonso e escreva um artigo sobre o sonho morto de Delmiro. Sobre a fábrica de linhas que ele fundou, que funcionava, dava trabalho a centenas de sertanejos e que os “seus” homens do ouro... compraram, para jogar as máquinas no rio São Francisco.

Quis obter pormenores, mas não mais o vi.

Não houve estampido nenhum. Nem estouro, nem cheiro de enxofre.

Inteiramente alcoolizado, Virgolino simplesmente evaporou.

Por Matias Arrudão
“ESTADO DE S. PAULO” – 30.06.1957

Fonte: facebook
Página: Antonio Correia Sobrinho

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UMA MENSAGEM DE 291 ANOS PASSADOS

Por Verneck Abrantes de Sousa

Vejam que achado interessante: No trabalho de retelhamento da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, primeiro foi encontrado uma telha datada de 1723, agora foi encontrado mais duas telhas, uma com assinatura de ANTONIO DE OLIVEIRA LEDO, homônimo do tio avô, e filho de Teodósio de Oliveira Ledo com Isabel Paes, esse foi o fundador de Pombal e aqui viveu por muitos anos. A outra telha tem a assinatura de MANOEL JÁCOME. 

É um longínquo passado mandando mensagem para o presente. Viva a velha Igreja Nossa Senhora do Rosário, sentinela do nosso patrimônio histórico, datada de 1721. 

Verneck Abrantes de Sousa. Agrônomo. Escritor. Natural de Pombal/PB

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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A PRESENÇA FEMININA NO CANGAÇO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Amigos, tomando emprestado uma parte do trabalho de Ana Paula Saraiva de Freitas - a presença feminina no cangaço: práticas e representações (1930-1940), vemos que os matadores de mulheres de cangaceiros foram impiedosos, para se dizer no mínimo, nos combates entre eles pois essas não eram belicosas, como a frase do matador de Maria Bonita, diz, se gabando como deu os tiros que a mataram: "...num dexa a bandida escapar... ela tá fugindo...!" exclamava o soldado para o soldado Panta de Godoy e esse em sua insanidade diz: "... atirei pelas costas e ela caiu..."

Quem a coloriu eu não encontrei

A morte de Maria Bonita foi de uma crueldade sem tamanho. O blog MULHERES NO CANGAÇO nos fala que "Nas Cruzadas da Idade Média a violência era menor."

Como sabemos hoje, por acompanhamento e estudos feitos por profissionais da comunicação e os da psicologia, a imprensa televisada, irradiada e escrita tem um poder muito grande de incutir nas massas o que eles querem. E não foi diferente o tratamento dado pela imprensa, às mulheres no cangaço. Vejamos a Dissertação apresentada a Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP, para a obtenção do título de Mestre em História (Área de conhecimento: História e Sociedade) da referida autora que falo no início desse artiguete:

"Praticamente na metade do ano de 1935, o jornal Estado de S. Paulo referindo-se à composição do bando do cangaceiro Zé-Baiano enfatiza que ele e seus homens “estavam acompanhados de quatro mulheres”. - O Estado de S. Paulo 22/05/1935, p. 7

Cerca de 3 anos depois. esse mesmo tratamento numérico, também permanece no contexto do Estado Novo. Em abril de 1938, três meses antes da morte de Lampião, o periódico noticiava: “o grupo era composto de 10 homens e 4 mulheres” - O Estado de S. Paulo 17/04/1938, p. 7.

E depois da morte de Lampião, já sob a garantia de anistia por parte do governo estado-novo, veiculava: “duas mulheres entregaram-se a polícia bahiana em Geremoabo” - O Estado de S. Paulo 09/12/1938, p. 5.

É significativo recuperar que apesar da inferioridade numérica, elas são sempre tratadas em pé de igualdade quando se refere à criminalidade.

Além da expressão “bandida”, também foram usadas pela imprensa paulista “amante” e “companheira” para se referir à mulher cangaceira, como exemplificam as frases: “a bandida amante do chefe Jurema” (O Estado de S. Paulo 12/03/1935, p. 7) e “companheira de Lampeão” - O Estado de S. Paulo 28/07/1935, p. 2.

Esta última, permanece mesmo após a morte do casal em julho de 1938 no cerco a Angico /Sergipe. Referindo-se à chegada das cabeças de Lampião e Maria Bonita ao Museu do Serviço Médico do Estado da Bahia, o periódico enfatizou que “haviam desaparecido as obturações em ouro dos dentes de “Lampeão” e sua companheira” - (O Estado de S. Paulo 14/08/1938, p. 9. ).

Poucas são as matérias que expressam alguma positividade. Na notícia veiculada em 20 de maio de 1934, somos informados de que Lampião seria um homem viril e sedutor, pois “tinha duas amantes, ambas caboclas e bonitas” - O Estado de S. Paulo 20/05/1934, p. 8.

Contudo, ao longo da pesquisa pudemos perceber, a partir da análise dos documentos e dos depoimentos orais de ex-participantes, que a informação veiculada acima não traduz as relações existentes nos bandos, pois era permitido que os homens tivessem uma única companheira e vice-versa.

No que se refere ao desempenho com armas de fogo, as cangaceiras foram descritas da seguinte forma: “As três mulheres que integram o bando sinistro (...) são hábeis amazonas e manejam o rifle com incrível destreza. Algumas são tão cruéis quanto os homens. Tomam parte nos assaltos e combates ao lado dos bandoleiros, mostrando-se tão destemerosas como eles”. - O Estado de S. Paulo 13/01/1937, p. 7.

Nessa construção fica evidente que se constituíam em mulheres belicosas e perigosas. Em seus relatos orais, Sila e Dadá enfatizam que as mulheres quando incorporavam-se aos grupos, aprendiam a lidar com armas de fogo e punhais.

A historiadora Maria Cristina M. Machado, (As táticas de guerra dos cangaceiros. São Paulo: Brasiliense, 1978, p. 92. ) nos esclarece que na maioria das vezes as mulheres ficavam protegidas nos coitos e que não participavam ativamente dos confrontos, salvo no momento em que a perseguição policial tornava-se mais acirrada. Tal perspectiva transmite a idéia de legítima defesa, e justifica a prática feminina. Em sua concepção, com exceção de Dadá, a maioria das mulheres não possuía um perfil belicoso e violento.

A leitura de O Estado de S. Paulo nos mostrou que as cangaceiras foram qualificadas de forma homogênea como criminosas e bandoleiras construindo, assim, um estereótipo masculino, belicoso e violento de mulher, ou então, tratando-as como meros objetos de satisfação sexual, descrevendo-as como amantes ou companheiras dos homens.

E por fim, como números, sempre de modo depreciativo. Essa postura do periódico acabou por encobrir a própria condição feminina e o ser mulher criado no universo do cangaço. Os cuidados femininos com o embelezamento do corpo, com a aparência, foram anulados pela construção de uma identidade belicosa e marginal."

Como vemos, essa apresentação mostra claramente o poder da imprensa, em mostrar que as "cangaceiras" eram de uma periculosidade sem tamanho, e assim convencer a maioria da população, que tais eram bandidas da pior espécie.

Interessante é, quando os bandos do cangaço foram desfeitos, e após as entregas, elas voltaram para casa e tornaram-se ótimas donas de casa, cuidadora de seus filhos. Não é, Lili?

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/07/a-presenca-feminina-no-cangaco.html

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SERRA TALHADA VAI SEDIAR 1º ENCONTRO NACIONAL DA FAMÍLIA PEREIRA DO PAJEÚ

Por Robério Sá
A Família ‘Pereira’ tem nomes enraizados na História de Serra Talhada, PE. Foto: Arquivo Âncora

No mês de setembro em meio às tradicionais festividades da padroeira da cidade Nossa Senhora da Penha, acontece em Serra Talhada o 1º Encontro Nacional da Família Pereira do Pajeú, a ser realizado no Sertão Iate Clube no dia 03 de setembro de 2016.

Organizado por membros do Clã Pereira, este evento tem como objetivo proporcionar o encontro das atuais gerações, resgatando a história desta tradicional família do sertão pernambucano e terá a participação de muitos Pereiras, que vivem hoje espalhados pelo Brasil.

“O evento será único, fechado aos membros da família e contará com inúmeras atrações musicais, artísticas e culturais como forma de apresentação dos diversos talentos da família. Especialmente o lançamento do livro: O Patriarca, de Venício Feitosa Neves”, disse Graça Pereira, uma das organizadoras do encontro

Quem pertencer a esta numerosa família e pretender participar, deverá se inscrever com antecedência entrando em contato com a Comissão Organizadora, através da página do evento no Facebook:www.facebook.com/familiapereiradopajeu. 

Mais informações através do  WhatsApp de Fábio Tenório (11)97335-8801 / Graça Pereira (87)99631-7333 / Rosinha Pereira (87)99916-7877/ Verônica Pereira (81)99645-6663, Comissão.

http://ancoradosertao.com.br/serra-talhada-vai-sediar-1o-encontro-nacional-da-familia-pereira-do-pajeu/

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