Por Deusdedit
Leitão
Recebi de Vingt-un Rosado uma interessante plaquete contendo dados genealógicos
de sua família. Antes de dar-me à leitura, nas suas saborosas minudências,
percebi a forma dedicada com que o infatigável pesquisador mossoroense estava a
me cobrar uma promessa feita há dois anos.
Quando me foi dada a satisfação de conhecer pessoalmente esse enxundioso e
excelente amigo que é Vingt-un Rosado tomei conhecimento do seu propósito em
relação à sua genealogia. Dei-lhe algumas notícias da passagem de seus
ancestrais por Cajazeiras e prometi-lhe rever a fonte dessas informações o que,
infelizmente, não me foi possível fazer porque não tivera eu o cuidado de assinalar
dentre os numerosos MS que constituem os arquivos de minha terra aqueles que
continham as informações que interessavam à árvore genealógica de Vingt-un. Não
tivera mais notícias de seu trabalho e julguei que o passar do tempo tivesse
abatido nele o elevado propósito de reconstruir a história de sua gente.
Felizmente Vingt-un não é desses tímidos que desanimam ao se depararem com as
primeiras dificuldades. Fez o que lhe foi possível sem o tempo que lhe é negado
pela incessante atividade profissional. Juntou os elementos de que dispunha,
arrumou-os de modo especifico, como convém à aparente confusão da genealogia e
publicou-os, incorporando-os à Coleção Mossoroense com a promessa formal de
voltar ao cometimento porque não é outra coisa o que se depreende de suas
palavras iniciais: Aprendi que uma maneira prática de solicitar informações aos
outros é imprimir as que possuímos e distribuímos aos possíveis colaboradores.
Cajazeiras a partir de 1860 foi aos poucos conquistando foros de metrópole
sertaneja. O colégio do Padre Rolim ia reunindo em seu derredor as numerosas
famílias que para alí afluíram com a preocupação de educar os seus rebentos.
Como consequência da expansão demográfica foi a terra do Padre Rolim
tornando-se centro comercial de relativa importância o que sem dúvida não
deixou de ser também outro fator de seu progresso material. A história guardou
dessa época, um nome que ainda é lembrado como expressão mais alta de nossa
pretensa opulência econômica. É ele exatamente o Francisco Bezerra de que nos
fala Vingt-um. Fazendeiro abastado e comerciante progressista deu à sombra de
seus cabedais, acolhida a numerosos adventícios que, arrastados pelo renome da
cidade, iam tentar a vida na tão decantada Cajazeiras do Rolim. Foi esse
sentimento acolhedor que levou Jerônimo Rosado à minha cidade, numa das fases
mais difíceis de sua vida. É o que nos conta Vingt-un e que lá, viajando às
feiras vizinhas, com banca de fazendas, conseguiu, com seus irmãos, sobreviver
a grande seca de 1877-1879.
Vingt-un Rosado e Lauro da Escóssia
O desejo de atender a solicitação de Vingt-un fez-me indagar de pessoas mais
antigas se sabiam algo sobre os Rosado em Cajazeiras. De uma delas, a
Professora Vitória Bezerra, ouví a narração de episódios vividos em minha
cidade por outros Rosado que não Jerônimo Rosado e seus irmãos. Falava-me a
veneranda educadora cajazeirense da influência exercida pelo irmãos Rosado d
Haro de Oliveira sobre a mocidade daqueles longínquos dias. Rapazes bem
apessoados, elegantes no porte e na indumentária, foram eles autênticos dandy a
empolgar as ternas donzelas sertanejas. Nas reminiscências de
Dona Vitória percebe-se ainda um ressaibo de permanente
saudade na lembrança desses nomes, na evocação das serenatas inesquecíveis,
pois que, eram eles exímios flautistas. Lembra a respeitável preceptora de
tantas gerações de cajazeirenses que o pai desses rapazes era comerciante de
tecidos que a sua família ligou-se por laços de fraterna amizade àqueles jovens
portugueses tendo o seu pai externado o alto apreço que lhe dedicava dando a um
dos seus filhos o nome de Alípio. Foi desse Alípio, ou, como requer a indagação
de Vingt-un, foi desse Alípio Rosado d Haro Oliveira que encontrei excelente
fotografia, existente entre tantas que pertenceram ao saudoso político de minha
terra Higino Gonçalves Sobreira Rolim. O Major Higino, como ainda é lembrado em
Cajazeiras, era um homem comunicativo que emprestava a todos os forasteiros o
conforto de sua amizade. Os visitantes mais esclarecidos não lhe dispensavam a
prosa saborosa entrecortada da erudição de sua admirável cultura humanística.
Voltemos, porém, ao Alípio de quem guardei a fotografia com o propósito de
encaminhá-la a Vingt-un. Antes procurei mostra-la a Dona Vitória que, com sua
admirável maneira de reconstituir os fatos de sua época, segredou-lhe algo
sobre o casamento de Alípio. É uma história um tanto parecida com a de seu
irmão José Augusto. Não sei se há equivoco mas me animo a
acreditar na veracidade da informação da querida professora cajazeirense porque
ela tem um senso histórico fora do comum. A fotografia a quem me refiro foi
oferecida a Higino Rolim, remetida de Águeda (Portugal) com a data de 18 de
novembro de 1905. É um grupo muito simpático trajando com os requintes dos
figurinos parisienses. Vê-se na fotografia, além de Alípio, a sua mulher D.
Joana, a filha Margarida e a enteada Marieta. A enteada é um encanto de mulher
a justificar plenamente a maliciosa informação de Dona Vitória. O casamento de
Alípio foi muito comentado e repercutiu nas terras do sertão paraibano entre os
seus amigos de Cajazeiras. Não lhe faltou o aspecto romântico tão ao gosto da
época. Dizem que o nosso bom português apaixonara-se por Marieta, o que não é
de admirar para quem a vê no encanto primaveril de seus 18 anos. A moça não
retribuiu os galanteios de Alípio que não se deu por achado e foi reviver no
coração de Dona Joana a chama que também lhe fazia arder o coração quarentão.
Ficou, assim, aos pés de Marieta dando carinhosa assistência paterna a quem lhe
recusara os carinhos de esposa. Margarida aparece no centro do grupo, na graça
de seus três anos, como se ali estivesse de propósito, unindo pelo sangue os
três familiares que lhe circundam.
Mando a Vingt-un a fotografia que a prestimosidade de Cristiano Cartaxo
confiou-me com o pesar de sentir-se desfalcado de mais essa lembrança de seu
saudoso pai. Que Vingt-un a receba como uma minha modesta colaboração ao seu
excelente trabalho, sem deixar de atentar para o seu valor como elemento
subsidiário nas indagações ecológicas.
Deusdedit
Leitão. Historiador paraibano de saudosa memória.
(*) A UNIÃO –
17-12-1958 – João Pessoa.
FONTE: ROSADO,
Vingt-un. Informação Genealógica Sobre Alguns Rosado. Mossoró/RN: Fundação
Guimarães Duque, 1982 (Série C, Coleção Mossoroense, Vol. CCXXXIII. P. 55-60.
Jerônimo Rosado pai da família numerada
Jerônimo
Ribeiro Rosado – (Depoimento do meu primo José Menandro da Cruz): Vovô
Jerônimo Ribeiro Rosado era casado com D. Vicência da Costa, filha do português
Trajano da Costa, irmão de Vicente da Costa, Bento da Costa, Salviano da Costa
que requereram terras ao Governo para situarem fazendas. No sítio Genipapo
ficou Salviano da Costa. No sítio Capuxú, Trajano da Costa. Jerônimo Ribeiro
Rosado a uns 5 quilômetros da Cidade de Pombal. O meu avô com os recursos que
trouxe de Portugal, começou a viajar ao Piauí para comprar gado e estabeleceu
diversas fazendas: uma no sítio José Rodrigues outra no sítio Leonel, outra no
sítio Galoada e vizinho.
No sítio José
Rodrigues construiu um açude com o trabalho escravo. Em Pombal edificou uma
casa. Vovô sofria de hidrocele. Morreu de septicemia deixando dez filhos.
Leopoldina casou-se com o seu primo José Rosado de Oliveira, que não suportando
os rigores da seca, abandonou a família, retirando-se para o Porto de Águeda,
em Portugal. Papai (Menandro José da Cruz) assumiu a direção da família em
momento tão difícil, levando-a para Cajazeira do Rolim onde era empregado de
balcão de Francisco Bezerra. Viajava às feiras vizinhas, com banca de fazendas.
Com o seu trabalho os seus irmãos puderam sobreviver a grande seca de
1877-1879.
No Diário de
Pernambuco de 12 de julho de 1871, na Revista Diária, encontro dados que me esclarecem
a morte do meu avô. Ele falecera a 8 de julho de 1871, de tétano. Português de
50 anos, branco, casado, residindo na Boa Vista. Foi sepultado nas catacumbas
do S. B. Jesus da V. Sacra. Impossível localizar no Cemitério de Santo Amaro o
seu túmulo, porque decorridos alguns anos, devem ter sido os seus restos
mortais removidos para uma vala sem inscrição, ao pé das catacumbas.
Jerônimo
Ribeiro Rosado nasceu, portanto em 1821.
a) Do
seu consorcio com Vicência da Costa, nasceram:
F1) Leopoldina
cc seu primo José Rosado de Oliveira ou José Augusto d Aro e Oliveira. Pais de:
N1) Jerônimo
Augusto Rosado D Oliveira
N2) Joaquim
Augusto Rosado D Oliveira
N1 e N2 estão
numa fotografia de Águeda, ano de 1880.
Do casal
Leopoldina – José Ribeiro descendem os Rosados de Pernambuco.
F2) Herculana
Rosado Bandeira n. em 22/02/1871 cc José Lopes Bandeira em Cajazeira. Descendem
deste casal quase todos os Rosado que residiam em Governador Dix-sept Rosado.
F3) Francisco
Rosado (F. 27/02/1914) consorciou-se duas vezes, cc Maria trigueiro Castelo
Branco S.S. 2ª vez cc Capitulina Eudoxia Rosado. Filhos:
N3) Jerônimo
Rosado de Sousa
N4) Josefa
Rosado de Souza (Quinta)
F3) Sebastião.
S.S.
F4) Trajano cc
Corina Henrique Rosado. Pais de:
F5) Maura
F5) Delmira.
S.S.
F6) Maria.
S.S.
F7) Ana, f. em
Pombal em 1903. S.S.
F8) Josefa cc
Natanael Maia. Pais de:
N5) Natalia cc
João Belarmino de Oliveira (paisinho). Pais de:
B1) Francisca
B2) Lauro
B3) João
F9) Jerônimo
Ribeiro Rosado, depois JERÔNIMO ROSADO. Consorciou-se duas vezes, a primeira
com D. Maria Amélia Henriques Maia e a segunda com D. Isaura Henriques Maia,
ambas filha do Major Laurentino Ferreira Maia. Do primeiro consórcio, nasceram
três filhos e dezoito do segundo. Destes dois matrimônios descendem os Rosado
de Mossoró.
b) Jerônimo
Ribeiro Rosado e Francisca Freire de Andrade são os pais de:
F10) Menandro
José da Cruz. O meu primo José Menandro da Cruz, fez referências ao seu pai,
que é exatamente o meu tio Menandro José da Cruz. Foi este criado por minha avó
Vicência da Conceição Costa e das boas relações que existiam entre ele e o
resto da família, dá um testemunho uma dedicatória que lhe fez, em uma
fotografia o meu pai Jerônimo Rosado: Ofereço a meu irmão e dedicado amigo
Menandro José da Cruz. Catolé do Rocha, 24 de novembro de 1883. Jerônimo
Ribeiro Rosado.
FONTE: ROSADO, Vingt-un. Informação Genealógica Sobre Alguns
Rosado.
Mossoró/RN: Fundação Guimarães
Duque, 1982 (Série C, Coleção Mossoroense, Vol.
CCXXXIII. P. 120-124.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
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