Por Sálvio Siqueira
NO DIA 31 DE
OUTUBRO DE 2005, UMA TERÇA-FEIRA, HÁ EXATOS 12 ANOS, O JORNAL "O
MOSSOROENSE", DA CIDADE DE MOSSORÓ, RN, PUBLICAVA UMA ENTREVISTA COM O
PESQUISADOR/HISTORIADOR
Rostand Medeiros, João Gomes de Lira e Sérgio Augusto de Souza Dantas - Sobre
o autor – Sérgio Augusto Dantas nasceu em Natal, é bacharel em Direito
pela UFRN, magistrado desde 1993 e autor dos livros “Lampião e o Rio
Grande do Norte – A História da Grande Jornada” (2005), “Antônio
Silvino: O Cangaceiro, O Homem, O Mito” (2006) e “Lampião, entre a
Espada e a Lei” (2008). Publicado originalmente no essencial Tok
de História
SÉRGIO AUGUSTO DE SOUZA DANTAS SOBRE SUA OBRA LITERÁRIA
"LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE - A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA", A
QUAL TEVE SEU LANÇAMENTO NO MESMO ANO.
A TRAJETÓRIA
DE INFORMAÇÕES DESSE PRELO É SENSACIONAL. QUANDO DO ATAQUE A CIDADE DE MOSSORÓ,
EM 13 DE JUNHO DE 1927, HÁ 90 ANOS ATRÁS, PELO BANDO DE LAMPIÃO, O QUAL FOI
REPELIDO PELA FORÇA DEFENSORA DA RESISTÊNCIA LOCAL, UM DOS CANGACEIROS É MORTO
DURANTE O CONFRONTO E OUTRO É BALEADO. O BALEADO É PRESO E MEDICADO. NA CADEIA
UM JORNALISTA, DESSE PERIÓDICO, CONSEGUE UMA ENTREVISTA COM O PRISIONEIRO.
TRANSCRIÇÃO,
NA ÍNTEGRA, DA ENTREVISTA:
No rastro de
Lampião
O ataque do
bando de Lampião a Mossoró vem sendo contado e recontado em prosa e verso,
desde 1927, quando a resistência comandada pelo então prefeito Rodolfo
Fernandes impediu que os bandoleiros saqueassem a cidade. O assunto parecia
exaurido, com exceção de alguns pontos polêmicos, entre os quais as motivações
e as verdadeiras circunstâncias da morte do cangaceiro José Leite Santana, o Jararaca,
que ainda não foram e dificilmente serão esclarecidas. A verdade, contudo, é
que havia muito mais a ser contado, um vácuo histórico de 400 quilômetros,
compreendendo o início da marcha dos cangaceiros rumo à capital do Oeste
potiguar e o caminho percorrido por eles após o confronto em Mossoró. E é essa
lacuna que o juiz de Direito Sérgio Augusto de Souza Dantas, do Juizado
Especial do Fórum Varela Barca, de Natal, propõe-se a preencher com o livro
"Lampião e o Rio Grande do Norte - A História da Grande Jornada". Em
entrevista exclusiva ao jornal O Mossoroense, o autor fala sobre a obra, revela
dados coletados em seis anos de pesquisa, levanta nova hipótese para a execução
de Jararaca e afirma que está apenas esperando o convite para lançar o trabalho
na terra que derrotou o Rei do Cangaço.
Cid Augusto Repórter
Como surgiu a ideia de se refazer o roteiro de Lampião no Rio Grande do Norte?
Tudo começou
em Martins. Em dezembro de 1993, logrei êxito em concurso público de provas e
títulos para o cargo de juiz de Direito neste Estado. Aos primeiros dias de
janeiro do ano seguinte, assumia, na qualidade de juiz substituto, a comarca
serrana.
Nos dias subsequentes, fiz uma pequena correição no cartório, selecionando
processos, organizando arquivos, vendo feitos ainda pendentes de julgamento.
Quando verificava o arquivo geral, a fim de aferir a ordem regular dos
processos, tive contato com antigo calhamaço judicial, onde apareciam como réus
os cangaceiros Virgolino Ferreira da Silva, Massilon Leite, Sabino Gomes e
outros. O processo era de 1927.
De muito há muito, entretanto, eu já ouvira sobre Lampião. Quando adolescente
ainda, costumava escutar estórias contadas pelo meu avô materno, natural do
município pernambucano de Triunfo. Deliciava-me com as narrativas sobre o
"cabra Lampião", como o velho costumava chamar.
Então - voltando ao fio da meada - ao perceber documento de tamanha importância
histórica naquele cartório, iniciei uma verdadeira batalha para decifrar as
letras escritas à mão nas inúmeras folhas do processo. Vale lembrar, aí, que
até a ortografia era relativamente díspare da atual, o que só aumentou o grau
de dificuldade na interpretação. O processo, enfim, contava crimes havidos nos
sítios Castelo, Cachoeirinha de Vítor, Jurema, Serrota e descrevia uma chacina
ocorrida na madrugada do dia 12 de junho daquele ano, ocorrida nas imediações
da atual cidade de Lucrécia. Três homens mortos pelo bando liderado pelo famoso
cangaceiro. Também havia citações a assaltos a fazendas situadas no município
de Pau dos Ferros. Até então - como a maioria acredita - eu cria que a passagem
de Lampião pelo Rio Grande do Norte fora silenciosa, e tinha como objetivo
único saquear Mossoró.
Lógico que até aí não havia interesse em escrever um livro. O que fiz foi
copiar o velho processo e guardar a reprodução xerográfica para um momento
futuro. Confesso mesmo que o colecionei como uma "raridade"
histórica. Mas os fatos que ali encontrei narrados, me intrigaram bastante.
Anos passaram, todavia a lembrança daquelas estórias e outras que ouvi pelo
sertão afora, não se apagaram da memória.
Certo dia, algo em torno de uns cinco anos, resolvi pesquisar mais, saber mais.
Voltei às folhas do processo. Tinha como certo que muito havia sido feito pela
malta de cangaceiros pelo interior do Estado. Em pouco também consegui uma
cópia do processo-crime instaurado também em 1927 na Comarca de Pau dos Ferros,
aqui no Estado e em Crato, no Ceará, e fui montando um quebra-cabeças.
Talvez aí, nesse estágio, já houvesse a gênese de um livro. Afinal, tinha dados
inéditos em mãos.
Resumindo a
"Grande Jornada": em que cidade começa a narrativa e onde ela se
encerra?
Aí onde está o
ponto crucial do nosso livro. A descrição do ataque a Mossoró me parecia uma
coisa vaga. Não só para mim, como para grande parte de pessoas com quem
conversei. A grande maioria dessas - mesmo os habitantes do sertão - são
totalmente leigas no assunto "cangaço". Poucos sabem diferenciar quem
foi Jesuíno Brilhante, Silvino ou Lampião. Datas e fatos são confundidos, distorcidos
e mesmo criados. Há, por exemplo, quem pense que Antônio Silvino fez parte do
bando de Lampião. Na pesquisa de campo mesmo, encontrei quem afirmasse que
Lampião havia morrido em Mossoró durante o combate. Veja como a ignorância a
respeito do tema é de impressionar.
Assim - como disse há pouco - Mossoró parecia algo solto, sem um antes ou um
depois. Havia a vitória da resistência encabeçada pelo intendente Rodolfo
Fernandes, fato incontroverso, incontestável. Porém, não me eram fáceis
encontrar explicações do porquê da invasão do Estado, quem patrocinou a ousada
empresa, por onde o bando passou até chegar à grande cidade salineira. Também
me assaltaram dúvidas sobre a veracidade de outros crimes ocorridos no interior
do Rio Grande do Norte, além daqueles citados nos processos que há pouco me
referi.
Grandes historiadores locais deixaram à margem de suas pesquisas o que foi
vivido no interior do Estado entre os dias 10 e 13 de junho de 1927.
Resolvi, pois, cobrir as lacunas.
Esclareço, entretanto, que o livro não relata em compartimentos estanques as
etapas das minhas inúmeras viagens a campo, até porque foram feitas em períodos
às vezes distanciados um do outro em torno de seis meses e em lugares opostos
entre si.
Porém, no que tange ao enredo em si, a história é o conjunto do que foi apurado
na leitura da extensa bibliografia sobre o assunto, em documentos judiciais,
jornais da época, documentos encontrados em arquivos públicos do Rio Grande do
Norte e Paraíba. Em suma, a história narrada é rigorosamente cronológica e
formalmente precisa: tem início no mês de dezembro de 1926, em Recife, quando o
Governo de Pernambuco enceta violenta campanha contra o cangaço, forçando a
"migração" dos bandos de Lampião, Sabino, Jararaca e outros para o
extremo ocidente da Paraíba e depois Ceará. É nesse contexto que Massilon -
misto de jagunço e cangaceiro já bastante conhecido no extremo sudoeste do
Estado do Rio Grande do Norte - encontra Lampião em coito encravado em fazenda
de importante político cearense, e o convence saquear Mossoró.
Mas o livro vai bem mais além da grande marcha sobre o solo potiguar. Segue os
passos do Capitão Virgolino pelo Jaguaribe, Cariri, sertões adustos de
Pernambuco, sempre com a polícia em seu rastro, durante o resto de 1927 e meses
de 1928, demonstrando, aí, a resposta das autoridades públicas ao insolente
ataque a Mossoró.
Enfim, concluo a narrativa em julho de 1928, quando Lampião e mais cinco
cangaceiros remanescentes do grande bando que marchou sobre nosso Estado,
cruzaram o Rio São Francisco. A partir dali, em território a princípio isento
de perseguições policiais, o cangaço lampiônico reinará mais uma década. Digo a
princípio porque em pouco tempo a Polícia da Bahia também passou a persegui-lo.
Lampião morrerá em julho de 1938.
O senhor também
pretende refazer esse roteiro, lançando o livro em algumas cidades pelas quais
o bando de Lampião passou?
Isso dependerá
do interesse das Prefeituras e Autoridades locais. Seria interessante, de
início, lançá-lo em Mossoró. Principalmente o habitante desta cidade deve
entender com maior profundeza o contexto histórico, e perceber quão grande foi
o heroísmo da urbe naquele dia e, principalmente, aperceber-se de que Mossoró
representou um verdadeiro divisor de águas na carreira de Lampião. De lembrar
que até o episódio Mossoró, Lampião tinha em seu rastro as polícias de
Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Com o ataque irresponsável a Mossoró - cidade já
por demais importante à época - o cangaceiro atraiu contra si mais dois
contingentes militares: o do Rio Grande do Norte e - por razões que não cabe
aqui discutir, posto expostas no livro - também o do Ceará.
Cinco Estados contra um bando de menos de setenta homens. Não houve saída.
Lampião não era mais bem-vindo nem no Ceará, lugar de antigos e indevassáveis
coitos.
Em Mossoró morava gente importante, grandes comerciantes de algodão e sal. Ou
seja, usando o dito popular, o vesgo "cutucou onça com vara curta". É
provável que a grande maioria dos habitantes da terra de Baraúna não se dê
conta dessa importância histórica. Só a resistência em si não explica nada.
Denota, sem dúvida, a bravura de um povo. Porém, o principal aspecto é omitido:
Mossoró enxotou - desculpe-nos a rudeza do termo -, vez por todas, Lampião do
lado de cá do Rio São Francisco. E isso as gerações futuras têm que ter em
mente. E ajunto, dizendo que a SBEC tem um papel preponderante neste
particular, aguando sempre a planta, para o episódio não cair no esquecimento,
como ocorreu em Uiraúna, na Paraíba, fato, aliás, que também narro em nosso
livro. Raro o habitante daquela cidade que sabe pelo menos o ano em que se deu
a grande vitória da população sobre o bando de uns trinta a quarenta
cangaceiros liderados pelo próprio Lampião.
Por falar em Uiraúna, e voltando ao cerne de sua pergunta, penso em lançar o
livro lá igualmente, como em outras cidades. Mas, repito, aguardo a
manifestação das autoridades ligadas à cultura dos municípios de Luís Gomes,
Pau dos Ferros, Marcelino Vieira, Antônio Martins, Frutuoso Gomes, Martins,
Umarizal, Apodi, Governador Dix-Sept Rosado, só para citar algumas áreas
cruzadas pela malta lampiônica naquele ano.
Que
contribuições o livro traz para a história do cangaço?
Em parte já
respondi a pergunta até este ponto. Todavia, lembro que o longo percurso que
refiz, partindo de Missão Velha, no Ceará, foi pontilhado, em 1927, de pequenos
e grandes eventos, todos, dentro do possível, contados no livro. Episódios
inéditos ocorridos no Ceará, como o fogo de Porteiras, o combate de Riacho do
Sangue, por exemplo, são narrados em minúcias. Outros fatos de grande
importância ocorridos no Ceará, Paraíba e aqui no Rio Grande do Norte, e ainda
não narrados, foram trazidos ao conhecimento do público. Em uma palavra:
Mossoró foi o meio do caminho. Faltava o "início" e o "fim"
da história e esse foi o meu maior propósito. E esses dois pólos - o digo com
propriedade - estavam praticamente imaculados em termos de pesquisa.
Quais pontos
desse roteiro de Lampião ficaram marcados pela crueldade?
Há vários,
porém não me cabe aqui aferir a gravidade de atos praticados neste ou naquele
lugar. O meu objetivo é deixar o leitor tirar as suas próprias conclusões.
Cito, entretanto, alguns exemplos: no combate de Riacho da Fortuna, no Ceará, o
bando de cangaceiros matou vários soldados. Já na Paraíba, Massilon e Sabino
praticamente destruíram o antigo povoado de Canto do Feijão, hoje cidade de
Santa Helena. Lá, por questões pessoais, Massilon matou dois homens, inclusive
o "chefete político" local. E, no mês anterior, enquanto Massilon
atacava Apodi, Lampião com perto de quarenta homens - como citei anteriormente
- tentava penetrar em Belém do Arrojado, hoje Uiraúna, sendo rechaçado por onze
civis. Enorme quantidade de fatos inéditos são, repito, trazidos à baila.
Tentativas de homicídio são descritas; a terrível chacina ocorrida no lugar
Caboré, arredores da cidade de Lucrecia, no sopé da Serra de Martins, também é
relevada em detalhes. Tudo, claro, fundamentado em documentos e em fonte
primária. Portanto, cabe ao leitor, como disse, julgar se foram de fato
"atos de crueldade" ou reação de homens rudes a um sistema
político-judiciário capenga.
Lampião teve
realmente receio de entrar em Mossoró pelo fato de a padroeira ser Santa Luzia,
como diz a tradição da cidade?
Essa afirmação
é do doutor Raul Fernandes, em seu clássico "A Marcha de Lampião".
Creio que não se pode creditar só à lenda. Deve haver algum fundo de verdade.
Essa informação teria sido passada a Fernandes por Jaime Guedes, genro do
Coronel Antônio Gurgel. O poderoso Coronel da Fazenda Brejo deve ter ouvido
essa afirmação da boca do próprio chefe cangaceiro. Entretanto, dado o longo
tempo passado entre o fato estudado e a minha pesquisa de campo, nada ouvi
neste particular. Portanto, não ousaria questionar a informação prestada por
doutor Raul Fernandes em sua grandiosa obra.
Há poucos
registros sobre a morte de Menino-de-Ouro, que não suportando a dor de um
ferimento sofrido em Mossoró teria pedido a Lampião que o executasse. O livro
desvenda esse episódio?
O episódio já
foi desvendado desde 1995 pelo pesquisador Hilário Lucetti. Casualmente Hilário
encontrou um certo Zeferino que trabalhava na fazenda Piçarra, do velho
coiteiro de Lampião, Antônio Teixeira, o Antônio da Piçarra. Aos poucos lhe
granjeou confiança e acabou com toda a história do Menino-de-Ouro em mãos. Todo
o episódio - as confusões com o apelido, a prisão do ainda garoto - está
contado no livro "Lampião e o Estado Maior do Cangaço", do próprio
Lucetti.
De fato, eu não desvendo mito nenhum. Apenas referendo as palavras de Lucetti,
o qual teve contato direto e quase diário com o chamado Menino-de-Ouro. E
acrescento apenas o seguinte: o episódio da morte de Menino-de-Ouro é narrada
por Raul Fernandes na obra a que me referi anteriormente, e teve como FONTE
ÚNICA o depoimento de Antônio Luiz Tavares, o ex-cangaceiro Asa Branca. Raul
chega mesmo a falar que desenterraram o cadáver do garoto ("A Marcha de
Lampião", capítulo 14, nota número 11).
Todavia, minhas pesquisas no Arquivo Público do Estado e no Instituto Histórico
e Geográfico não registraram a exumação de um garoto no lugar indicado pelo
velho Asa Branca, mas de um homem adulto. Não lhe posso precisar agora a data
da edição, mas há uma nota inserida em um exemplar do jornal "A República"
sobre o fato. E veja mais um detalhe: segundo o próprio Lucetti me contou,
Zeferino, quando vivo, lhe disse que seu apelido era Alagoano ou Oliveira, e
raríssimas às vezes se referiam a ele como Menino-de-Ouro. Por fim, basta ver a
foto do bando tirada em Limoeiro do Norte em 15 de junho daquele ano. Lá está o
Alagoano, o Oliveira, o Menino-de-Ouro de Lampião posando para o instantâneo.
Particularmente creio que o ex-cangaceiro Asa Branca - com todo o respeito que
devo à sua memória - deve ter confundido nomes e passou de forma errônea a
história para o doutor Raul Fernandes, ou mesmo a tradição oral criou o mito
Menino-de-Ouro e a posteridade o repercutiu. Essa é a minha visão. Porém
respeito a opinião de quem insiste em contrário.
O senhor usa a
expressão "horda maldita" para designar os cangaceiros. Isso
significa que, na sua opinião, os cangaceiros eram bandidos e não excluídos
sociais, como defendem alguns?
A expressão
"horda maldita" é somente sinônimo para bando, chusma ou choldra.
Todas significam a mesma coisa. Pode ser traduzido como bando de malfeitores.
Porém, como já apontei acima, e torno a insistir, deixo que o leitor tire suas
conclusões. O meu trabalho não tem cunho sociológico. Não trata Lampião como
herói ou bandido. Narra somente um história, tem um bom enredo. Entretanto, em
minha opinião pessoal, a aura do cangaceiro esconde um certo enigma, mas todo o
conjunto parece ser fruto do coronelismo, da falta de Justiça, da desigualdade
social, da miséria extrema. Enfim, um somatório de fatores que fogem à alçada
de meu trabalho, o qual, repito, tem cunho exclusivamente histórico.
Deixo apenas uma pergunta: Se Lampião foi tão cruel como amiúde se dissemina,
porque tanta idolatria ainda hoje? Lampião tinha coiteiros no Rio Grande do
Norte?
Nada apurei a esse respeito. Sequer uma referência a esse fato foi por mim
ouvida nesses anos de pesquisa.
Como a imprensa de Mossoró cobriu o episódio?
Olha, revirei vários jornais da época. Aqui do Estado, da Paraíba e do Ceará.
Especificamente no caso do Rio Grande do Norte, a imprensa local praticamente
se deteve no episódio ocorrido em Mossoró. Quase nada encontrei em relação às
tropelias do bando nas vilas, sítios ou fazendas situadas no Oeste do estado.
Jararaca virou
"santo" e, recentemente, a prefeitura ergueu estátuas de Lampião e de
Maria Bonita no centro de artesanato do município, enquanto Rodolfo Fernandes
pouco é lembrado nos meios populares. Como o senhor avalia essa questão?
Torno com a
mesma resposta já aqui fornecida em pergunta anterior: se ele era tão cruel
assim, por que se idolatra? Por que Lampião é tão procurado em lojas de
artesanato Nordeste afora?
De lembrar, antes de qualquer coisa, que o cangaço forjou parte significativa
da cultura nordestina em geral. A cultura da bravura, da valentia, do chapéu de
aba virada para cima, das alpercatas em couro, do xaxado, só para lembrar
alguns ícones materiais, que logo são associados ao Nordeste, ao sertão.
Agora, quanto à questão do ex-intendente Rodolfo Fernandes - mentor maior da
resistência mossoroense - acho uma injustiça não muito se fazer para manter
viva a sua memória. Neste particular, creio que o povo e seus representantes
poderiam resgatar de maneira mais incisiva o valor heroico e o arrojo do antigo
chefe político.
O estudo é fundamental para a difusão da cultura, e infelizmente a leitura não
é um hábito brasileiro.
É preciso, de fato, ler para saber sobre Rodolfo Fernandes.
Já Lampião, você escuta histórias verdadeiras ou falsas o tendo como
protagonista em qualquer esquina. Não há o esforço da leitura para o
conhecimento. Os boatos se espalham rápido e por si sós.
Porém, se o Coronel Rodolfo é hoje pouco lembrado na cidade, não me cabe tecer
comentários a esse respeito. Só os mossoroenses podem explicar esse paradoxo.
Creio, pessoalmente, que Fernandes não ainda esteja no patamar que merece, mas
de igual acredito que em tempo hábil, não só os mossoroenses, mas todos os
potiguares entenderão melhor a grande figura que foi o político Rodolfo
Fernandes.
A morte de
jararaca: vingança, medo ou covardia?
Na minha
opinião, queima-de-arquivo. Suspeito que a sugestão ou ordem para a execução
não partiu daqui do Estado. Nas entrevistas que Jararaca deu à imprensa àquela
época, apontou nominalmente coiteiros poderosos, coronéis do Ceará e de Pernambuco.
Creio que se houve uma determinação para exterminá-lo, tal veio de fora.
Todavia, desejo frisar, não há prova nenhuma em torno dessas hipóteses, e por
tal não posso apontar uma opinião conclusiva. Seria temerário. Todavia, em meu
trabalho, coloco algumas questões que levam o leitor a meditar um pouco sobre o
assunto. Talvez um dia o mistério seja desvendado. Ou, do contrário,
permanecerá enterrado como o cadáver do cangaceiro Colchete: sepultado em lugar
secreto, recôndito, difícil de encontrar, para que os tentáculos da história
jamais o desvende.
PS// AS
PESSOAS QUE APARECEM NA TERCEIRA FOTOGRAFIA SÃO, DA ESQUERDA PARA DIREITA,
NOSSO AMIGO Gilmar Leite, VERA FERREIRA (NETA DE VIRGOLINO FERREIRA E MARIA
GOMES DE OLIVEIRA) E O Drº SÉRGIO AUGUSTO DE SOUZA DANTAS.
BONS ESTUDOS!!!
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