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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

CASAL DE CANGACEIROS DE LAMPIÃO.

 Por José Mendes Pereira

Seu nome verdadeiro Eleonor, mas no Bando de Lampião, ganhara o apelido de Neném do Ouro, devido a sua vontade de usar ouro, e uma corrente com  medalhão bem grande no pescoço. Morreu sendo a companheira fiel do cangaceiro Luiz Pedro, que era o cangaceiro de confiança do capitão Lampião.

Ela tinha muito afinidade com Maria Bonita e bastante amiga de Sila do Zé Sereno. Em um tiroteio, entre cangaceiros e polícia, nas imediações de Itabaiana, a Neném recebeu um tiro mortal ao tentar ultrapassar um cerca de arame farpado. Seu companheiro tentou resgatá-la, mas foi impedido pelo Bando, uma vez que ela estava morta.

Já o Luiz Pedro foi assassinado na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, em Sergipe. Lá. ficaram mortos 9 cangaceiros duas mulheres e um volante. Diz que o volante foi morto por fogo amigo. 

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GOELA ABAIXO

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 2.829

Estamos lendo sobre um projeto público, ao mesmo tempo lembrando de uma palestra que assistimos em Arapiraca, há muito tempo. Uma senhorita que atuava na Cultura, nos explicava de plano que foi elaborado para os artistas da terra e, que foi um grande fiasco. Disse ela que após o fracasso, a equipe sentou-se para analisar a causa de tanto descontentamento quando posto em prática o projeto. A equipe descobriu o “X” do problema. Não era aquilo que a classe queria.  E ficou a lição de que em projeto público a classe interessada deve ser ouvida e fazer parte do projeto. Nunca impor de goela abaixo. Todos convocados, novo projeto à mesa e êxito total na sua implementação. Mas, o que impressionou mesmo naquela palestra que ouvimos, foi a humildade da palestrante em reconhecer o seu erro e ainda aconselhar a todos os presentes.

ARAPIRACA AO ENTARDECER (FOTO: B. CHAGAS).

Estar aí um motivo para afastamento da arrogância e da soberba de alguns dirigentes nesse país, que agem como aquele que dá uma esmola na rua. Muitos que se elegem a alguma coisa com o voto do povo, caem na tentação de acharem que “tudo agora é meu”, e assim agem como os antigos escravocratas donos de engenho do passado, acreditando piamente que são superiores aos que os colocaram no poder. Até que frequentam templos religiosos para serem vistos e assim darem satisfação à sociedade, não acreditam, porém, intimamente que Deus está acompanhando de perto todos seus atos malévolos, mascarados de caridade.

E como ouvimos do cantador de viola sobre a morte, a riqueza acumulada (ilicitamente) não cabe no caixão, nem o poder e nem nada além do corpo e alma corrompida que seguirá para regiões onde se pagará até o último ceitil de tantas dívidas acumuladas na terra. Nada adiantará a desfaçatez de homenagens terrenas e bestas porque o corrupto estará pagando caro longe da soberba familiar.     Isto não representa desabafo algum, apenas uma observação juntos aos repentistas nordestinos. Afinal, como dizia o quadro que havia na Farmácia Vera Cruz: “entrai pela porta estreita, larga é a porta da perdição”. Mas, que perdição? Perguntam os incrédulos.

Antes de partir você saberá.

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MORTE DO CANGACEIRO MARIANO

Por José Mendes Pereira

Diz o pesquisador do cangaço Ivanildo Alves da Silveira, que o cangaceiro Mariano Laurindo Granja, nasceu em 1898, em Afogados da Ingazeira, no Estado de Pernambuco, e faleceu no dia 10 de outubro de 1936, entre os municípios de Porto da Folha e Garuru, sendo esta região conhecida como Cangaleixo.

Era genro do vaqueiro Lê Soares, sendo ele companheiro de Rosinha, irmã da cangaceira Adelaide. E segundo a pesquisadora do cangaço Juliana Pereira, a companheira de Mariano foi morta a mando de Lampião. 

Mariano era um facínora que não gostava de praticar morte quando não achava necessária. Tinha um respeito enorme com o seu chefe Lampião. Tinha habilidade para tocar gaita e dono de uma grande simpatia. Estava sempre com gestos risonhos.

Diz ainda o Ivanildo, que Mariano teve um fim doloroso, onde foi baleado e apunhalado várias vezes pelo soldado Severiano, vulgo, bem-Te-Vi, que segundo ele, estava vingando a morte do seu pai, feita por Mariano.

Assim que o capturou, apoderou-se do punhal, e a mão subia e descia furando as carnes do assecla. Apunhalava-o com tanta ira, que quem assistiu, ouviu o ranger da ponta do punhal atravessando as carnes e os nervos da vítima, saindo do outro lado do corpo, fincando-se na terra seca.

Jamais um homem matou com tanta ira um bandido. Os dedos do assecla tentavam afastar dos olhos a pasta de sangue que cobria a sua visão. A cabeleira derramava um líquido formado de suor e sangue. O seu corpo todo era um vermelhão só. O corpo estava totalmente aberto, pelos profundos golpes aplicados pelo o policial. Era a vingança do Bem-Te-Vi. Zé Rufino apenas assistia a violência do seu comandado, sem dizer uma única palavra. Passados alguns minutos, Zé Rufino disse-lhe: “- Tenha cuidado com a cabeça que eu preciso dela”. 

Os dois tinham certeza de que o assecla já havia morrido. Enganaram-se totalmente! Mariano continuava vivo.  E num momento, o assecla tentou se levantar do chão, todo coberto por um enorme manto de sangue vivo e escarlate. Era horroroso de se ver o seu estado.

O vingador quando viu o cangaceiro tentando apoiar-se para se levantar, mesmo com o corpo todo aberto pelas punhaladas aplicadas por ele, engatilhou a arma e encostando-a no peito do assassino do seu pai, preparou-se para dar o último tiro de misericórdia.

Foram dados tiros à queima-roupa, perfurando o corpo do bandoleiro, que já era uma verdadeira peneira de britador.  Agora sim, o bandido, finalmente chegou ao fim. Sem mais tentativa, findou a vida do chefe de subgrupo de Lampião. Mariano fez muita falta ao bando, pois todos os companheiros gostavam bastante dele. Enfim, foi-se a vida de um querido aliado dos justiceiros injustos.

Até mesmo alguns que não eram cangaceiros, falavam bem do Mariano. Os remanescentes de Lampião disseram que Mariano era um dos que tinha mais humanidade. Afirmaram até que ele era incapaz de uma crueldade desnecessária contra seres humanos.

No meu entender, com tanta humanidade assim, Mariano estava no cangaço, por um respeito a Lampião, já que eram bastantes amigos. Teria sido ele mesmo o autor da morte do pai de Bem-Te-Vi?

Segundo disseram os companheiros aos repórteres: “- Mariano Laurindo Granja foi injustiçado”.

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SEU GALDINO E A ONÇA VERMELHA.

Por José Mendes Pereira

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Enquanto lá na cozinha dona Dionísia preparava o café da manhã seu Galdino permanecia no curral, mungindo as suas famosas e invejadas vacas; e assim que arreou o segundo bezerro para desleitar a mãe, levantando a vista em direção à estrada, viu seu Leodoro Gusmão que vinha se aproximando do curral, montado numa égua em dias de parir. E ao vê-lo, não pensou duas vezes, e de imediato, chamou logo à sua atenção, dizendo-lhe que ele não tinha dó daquela pobre égua em dias de parir.

Seu Leodoro que havia trabalhado em diversas fazendas de grandes portes, disse-lhe que era bom para facilitar no momento do parto. Com isso, convenceu seu Galdino, já que ele tinha trabalhado em várias fazendas, com certeza, sabia muito mais do que ele.

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Enquanto eles conversavam, alguém vinha se aproximando do curral. Era o vaqueiro do fazendeiro Luiz Duarte, que procurava uma vaca embicheirada. E ao descer do cavalo, sendo ele um dos que mais proseava com seu Galdino, devido as suas mentiras, desafiou-o, dizendo-lhe que o daria 50,00 reais para ele  inventar uma mentira naquele momento.

Luiz Duarte da Costa - http://jotamaria-liliduarte.blogspot.com/2017/07/luiz-duarte-da-costa.html

Seu Galdino arrebatou-o, dizendo-lhe, que havia recebido uma proposta para inventar uma mentira por 100,00 reais, e não a aceitou. Se ele arriscasse contar uma mentira por 50,00 reais, já estava no prejuízo, perdendo 50,00 dos 100,00 que o sujeito o havia oferecido. Mas na verdade, já era uma verdadeira mentira, porque ninguém paga para ouvir mentiras.

A conversa entre os três durou até a chegada da dona Dionísia, esposa do seu Galdino, que veio se aproximando do curral, e em suas mãos, xícaras, mais um bule de café. 

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Ali, entre prosas, beberam o café, fumaram, e em seguida, o vaqueiro disse-lhes que iria embora, porque precisava campear uma vaca parida nos tabuleiros, lá  pelas redondezas do rio Angicos. E despedindo-se, montou-se em seu animal e foi-se embora.

Seu Galdino estava ansioso para que o vaqueiro fosse logo embora, pois precisava expor uma das suas maiores mentiras ao seu Leodoro, que mesmo sabendo que o seu compadre Galdino mentia muito, ele apreciava ouvir as suas lorotas.

Seu Galdino, segundo ele, havia feito uma viagem em Bananeiras, no Estado da Paraíba, em uma fazenda, para comprar um bom reprodutor de ovelhas. Ao chegar, o sol já havia se levantado bem esperto, porque havia acordado coberto por um enorme lençol de nuvens encarneiradas.

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Ao chegar à fazenda, assustou-se com uma onça que estava deitada ao pé da porteira. Com medo de ser atacado por ela, alarmou desesperadamente em direção à casa do vaqueiro, que trouxesse armas para matar uma onça vermelha, que ali estava deitada na entrada do portão.

Seu Leodoro o ouvia em silêncio, sem dizer uma palavra, mas de olhos arregalados em direção ao seu Galdino, como se não estivesse acreditando no que contava o seu compadre.

E continuou seu Galdino, que lá de dentro da casa, alguém da fazenda respondeu, dizendo-lhe que não se preocupasse com  a onça, ela  era mansa, e havia chegado ali há alguns meses, ficou morando, e já era um animal de estimação por todos dali, como se fosse o cachorro daquela fazenda.

Seu Leodoro só fazia ouvir, nenhum gesto, nenhuma palavra, apenas no seu eu, duvidava daquela história do seu Galdino. Ele já tinha ouvido muitas de suas conversas, até então, umas quase verdades, outras cabeludas, mas aquela da onça vermelha, estava lhe deixando assustado. Não pela a onça, pela mentira do seu compadre.

Seu Galdino afirmava ainda que, a bicha era do tamanho de um bezerro de um ano, e que ela passeava e brincava na fazenda, corria no meio dos rebanhos de ovelhas, bodes, e quando estava deitada, as galinhas ficavam sobre ela, procurando parasitas no seu corpo.

Ao entardecer, ele e o vaqueiro foram até ao cercado, olhar o rebanho de ovelhas, no intuito de seu Galdino escolher o melhor dos carneiros reprodutores para comprá-lo.

O vaqueiro da fazenda preparou um cavalo lustroso, gordo, selando-o. Em seguida, selou a onça, com todos os equipamentos  que se usa em cavalos.

Ao terminar, ordenou que ele se montasse na onça, aconselhando que ela não lhe faria nenhum mal. Lutou muito para não aceitar esta ordem, mas findou se rendendo, e sem muito esforço, subiu na onça.

A onça mesmo não o conhecendo, saiu de chote em direção ao cercado, e vez por outra, ela dava uns pulos mais distantes, como se quisesse chegar primeiro do que o cavalo, que caminhava sobre o comando do vaqueiro.

Dizia ele que havia gostado bastante desta experiência, que antes não tivera, de andar montado em um animal tão grande e conhecido como feroz, valente, malvado e traiçoeiro. Mas estava certo que, o que dizem da sua valentia, não procede. Ela é domável e amiga.

Nesse mesmo dia, antes de passear montado sobre o seu lombo, enquanto ela descansava em  um galho, seu Galdino disse que ficou alisando o seu pelo sem nenhum receio. E ela até havia dado umas lambidas em seu rosto e em uma das mãos.

Seu Leodoro Gusmão estava como se estivesse hipnotizado. Nenhuma palavra saía da sua boca, para confirmar ou contrariar um pouco o seu Galdino.

E de repente, resolveu ir embora, precisava fazer campo, campear alguns dos seus animais, pois havia recebido informações de alguns vaqueiros, que uma de suas novilhas estava embicheirada. Mas antes de partir, saiu com uma engraçada, dizendo-lhe:

- Eu acredito plenamente no que o senhor me afirmou compadre Galdino, porque a última vez que a Gertrudes, minha esposa, foi visitar os seus familiares lá nas Minhas Gerais, fez um passeio nas águas de uma lagoa sobre o lombo de uma cobra sucuri, com mais de 20 metros de comprimentos e da espessura de um tonel.


- Sim, senhor! - Fez seu Galdino...!

"- Ela ainda me adiantou que, a sucuri já era treinada para este fim, servindo de prancha para os turistas que ali apareciam e queriam surfar sobre o seu lombo nas águas da lagoa. O que ela me contou, eu fiquei de boca aberta, compadre! O início do passeio foi na beira da lagoa. A sucuri deu partida, isto com a Gertrudes em cima dela, em pé, de braços abertos, como se fosse uma sufista, e saiu rodeando a lagoa, com toda velocidade. E quando chegaram ao lugar de onde haviam saído, a sucuri deu um freio tão grande, mas tão grande, que a jogou longe da lagoa, saindo feito uma roda de carro descontrolada, passando sobre pedras, matos rasteiros, rodando sobre o solo, embolada como se fosse um tatu bola". 

https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/tatu-bola.htm

- Meu Deus! - admirou-se seu Galdino.

- E quando ela caiu na real, isto é, que há tempo que tinha saído de cima do lombo da sucuri, já estava no terreiro dos seus familiares, porque havia esbarrado em um rio que passava em frente a casa da família. E ao cair nele, a água corrente a levou até lá".

- Minha nossa Senhora, que coisa, hein! - fez seu Galdino.

Já satisfeito com o troco que havia dado ao seu Galdino, sobre a sua história, seu Leodoro disse:

- Eu já estou indo, compadre Galdino. Eu preciso ir ao campo.

Despedindo-se, montou-se na égua e foi-se embora.

- Mas que compadrinho mentiroso! Que sucuri que nada! Nesses dias ela irá surfar em outra cobra, mas desta vez surfará é na minha anaconda. Dizia seu Galdino balançando a cabeça e se desmanchando em risos, pela grande mentira que o Leodoro soltara naquele momento.

Minhas Simples Histórias

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