Por José
Mendes Pereira
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Enquanto lá
na cozinha dona Dionísia preparava o café da manhã seu Galdino
permanecia no curral, mungindo as suas famosas e invejadas vacas; e assim que
arreou o segundo bezerro para desleitar a mãe, levantando a vista em direção à
estrada, viu seu Leodoro Gusmão que vinha se aproximando do curral, montado
numa égua em dias de parir. E ao vê-lo, não pensou duas vezes, e de
imediato, chamou logo à sua atenção, dizendo-lhe que ele não
tinha dó daquela pobre égua em dias de parir.
Seu Leodoro que havia trabalhado em diversas fazendas de grandes portes, disse-lhe
que era bom para facilitar no momento do parto. Com isso, convenceu seu
Galdino, já que ele tinha trabalhado em várias fazendas, com certeza, sabia
muito mais do que ele.
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Enquanto
eles conversavam, alguém vinha se aproximando do curral. Era o vaqueiro do
fazendeiro Luiz Duarte, que procurava uma vaca embicheirada. E ao descer do
cavalo, sendo ele um dos que mais proseava com seu Galdino, devido as suas
mentiras, desafiou-o, dizendo-lhe que o daria 50,00 reais para ele
inventar uma mentira naquele momento.
Luiz Duarte da Costa - http://jotamaria-liliduarte.blogspot.com/2017/07/luiz-duarte-da-costa.html
Seu Galdino
arrebatou-o, dizendo-lhe, que havia recebido uma proposta para inventar uma
mentira por 100,00 reais, e não a aceitou. Se ele arriscasse contar uma mentira
por 50,00 reais, já estava no prejuízo, perdendo 50,00 dos 100,00 que
o sujeito o havia oferecido. Mas na verdade, já era uma verdadeira mentira,
porque ninguém paga para ouvir mentiras.
A conversa
entre os três durou até a chegada da dona Dionísia, esposa do seu Galdino,
que veio se aproximando do curral, e em suas mãos, xícaras, mais um bule
de café.
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Ali, entre
prosas, beberam o café, fumaram, e em seguida, o vaqueiro disse-lhes que iria
embora, porque precisava campear uma vaca parida nos tabuleiros, lá pelas
redondezas do rio Angicos. E despedindo-se, montou-se em seu animal e
foi-se embora.
Seu Galdino
estava ansioso para que o vaqueiro fosse logo embora, pois precisava
expor uma das suas maiores mentiras ao seu Leodoro, que mesmo sabendo que o seu
compadre Galdino mentia muito, ele apreciava ouvir as suas lorotas.
Seu Galdino,
segundo ele, havia feito uma viagem em Bananeiras, no Estado da Paraíba, em uma
fazenda, para comprar um bom reprodutor de ovelhas. Ao chegar, o sol já havia se
levantado bem esperto, porque havia acordado coberto por um enorme lençol de
nuvens encarneiradas.
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Ao chegar à
fazenda, assustou-se com uma onça que estava deitada ao pé da porteira. Com
medo de ser atacado por ela, alarmou desesperadamente em direção à casa
do vaqueiro, que trouxesse armas para matar uma onça vermelha, que
ali estava deitada na entrada do portão.
Seu Leodoro o
ouvia em silêncio, sem dizer uma palavra, mas de olhos arregalados em direção
ao seu Galdino, como se não estivesse acreditando no que contava o seu
compadre.
E continuou seu Galdino, que lá de dentro da casa, alguém da fazenda respondeu,
dizendo-lhe que não se preocupasse com a onça, ela era mansa, e
havia chegado ali há alguns meses, ficou morando, e já era um animal de
estimação por todos dali, como se fosse o cachorro daquela fazenda.
Seu Leodoro só fazia ouvir, nenhum gesto, nenhuma palavra, apenas no seu eu,
duvidava daquela história do seu Galdino. Ele já tinha ouvido muitas de suas
conversas, até então, umas quase verdades, outras cabeludas, mas aquela da onça
vermelha, estava lhe deixando assustado. Não pela a onça, pela mentira do seu
compadre.
Seu Galdino afirmava ainda que, a bicha era do tamanho de um bezerro de um ano,
e que ela passeava e brincava na fazenda, corria no meio dos rebanhos de
ovelhas, bodes, e quando estava deitada, as galinhas ficavam sobre
ela, procurando parasitas no seu corpo.
Ao entardecer, ele e o vaqueiro foram até ao cercado, olhar o rebanho de
ovelhas, no intuito de seu Galdino escolher o melhor dos carneiros
reprodutores para comprá-lo.
O vaqueiro da fazenda preparou um cavalo lustroso, gordo, selando-o. Em
seguida, selou a onça, com todos os equipamentos que se usa em cavalos.
Ao terminar,
ordenou que ele se montasse na onça, aconselhando que ela não lhe faria nenhum
mal. Lutou muito para não aceitar esta ordem, mas findou se rendendo, e sem
muito esforço, subiu na onça.
A onça mesmo
não o conhecendo, saiu de chote em direção ao cercado, e vez por outra, ela dava
uns pulos mais distantes, como se quisesse chegar primeiro do que o cavalo, que
caminhava sobre o comando do vaqueiro.
Dizia ele que
havia gostado bastante desta experiência, que antes não tivera, de andar
montado em um animal tão grande e conhecido como feroz, valente, malvado e
traiçoeiro. Mas estava certo que, o que dizem da sua valentia, não procede. Ela
é domável e amiga.
Nesse mesmo
dia, antes de passear montado sobre o seu lombo, enquanto ela descansava em
um galho, seu Galdino disse que ficou alisando o seu pelo sem nenhum
receio. E ela até havia dado umas lambidas em seu rosto e em uma das mãos.
Seu Leodoro
Gusmão estava como se estivesse hipnotizado. Nenhuma palavra saía da sua
boca, para confirmar ou contrariar um pouco o seu Galdino.
E de repente, resolveu ir embora, precisava fazer campo, campear alguns dos seus
animais, pois havia recebido informações de alguns vaqueiros, que uma de suas
novilhas estava embicheirada. Mas antes de partir, saiu com uma engraçada, dizendo-lhe:
- Eu acredito plenamente no que o senhor me afirmou compadre Galdino, porque a
última vez que a Gertrudes, minha esposa, foi visitar os seus familiares
lá nas Minhas Gerais, fez um passeio nas águas de uma lagoa sobre o lombo de
uma cobra sucuri, com mais de 20 metros de comprimentos e da espessura de um
tonel.
- Sim, senhor! - Fez seu Galdino...!
"- Ela
ainda me adiantou que, a sucuri já era treinada para este fim, servindo de
prancha para os turistas que ali apareciam e queriam surfar sobre o seu lombo nas águas da
lagoa. O que ela me contou, eu fiquei de boca aberta, compadre! O início do
passeio foi na beira da lagoa. A sucuri deu partida, isto com a Gertrudes em cima dela, em pé, de braços abertos, como se fosse uma sufista, e saiu
rodeando a lagoa, com toda velocidade. E quando chegaram ao lugar de onde
haviam saído, a sucuri deu um freio tão grande, mas tão grande, que a jogou
longe da lagoa, saindo feito uma roda de carro descontrolada, passando sobre pedras, matos
rasteiros, rodando sobre o solo, embolada como se fosse um tatu
bola".
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- Meu Deus! - admirou-se seu Galdino.
- E quando ela caiu na real, isto é, que há tempo que tinha saído
de cima do lombo da sucuri, já estava no terreiro dos seus familiares, porque
havia esbarrado em um rio que passava em frente a casa da família. E ao cair
nele, a água corrente a levou até lá".
- Minha
nossa Senhora, que coisa, hein! - fez seu Galdino.
Já satisfeito com o troco que havia dado ao seu Galdino, sobre a sua história,
seu Leodoro disse:
- Eu já estou
indo, compadre Galdino. Eu preciso ir ao campo.
Despedindo-se,
montou-se na égua e foi-se embora.
- Mas que
compadrinho mentiroso! Que sucuri que nada! Nesses dias ela irá surfar em outra
cobra, mas desta vez surfará é na minha anaconda. Dizia seu Galdino
balançando a cabeça e se desmanchando em risos, pela grande mentira que o
Leodoro soltara naquele momento.
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