Seguidores

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

DO POÉTICO AO VULGAR

*Rangel Alves da Costa

É de Carlos Drummond de Andrade o poema Quadrilha, publicado em 1930, aquele mesmo onde os relacionamentos amorosos se sequenciam para dar em nada: “João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria que amava Joaquim, que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”.
Como visto, o poema diz que alguém amava alguém, mas que este alguém amava outra pessoa, e esta pessoa já amava outra, e assim por diante. Uma sequência de frustrações, de amores diluídos, de desejos não realizados. É como se na dança amorosa (na quadrilha), alguém fosse deixado para trás por que o outro já deu a mão ao parceiro seguinte, e assim por diante.
Como consequência, sem a permanência, as relações se banalizam e vulgarizam, eis que o que importa mesmo é ir seguido em frente na troca de amores de momento. Tal fragilidade e banalização acabam tornando o amor verdadeiro inexistente e com cada um tomando seu destino na vida e, logicamente, num mundo de entregas e descompromissos.
O poema de Drummond, ainda pareça simplista, é profundo e reflexivo. É até triste e melancólico. Ora, sem a pretensão da banalidade amorosa, mostra o compasso da tentativa da felicidade. Um amor querido e não tido. Um amor negado a um e em nome de outro amor impossível. Gente querendo amar – e amando – pessoas não alcançadas pelas suas vontades. Ou gente que simplesmente decidiu não amar. Mas em tudo as desesperanças e as desilusões, os sonhos e as irrealizações, as negativas e os sofrimentos.


Todos vão tomando seus rumos na vida, todos vão cumprindo seus destinos futuros, mas sem jamais se esquecerem das tentativas amorosas do passado. E talvez o futuro tivesse sido mais melancólico por causa disso, pelas frustrações e os desejos não realizados. Atem mesmo quem não amava ninguém, certamente teve seu sofrimento alentado pela solidão. Mais tarde, talvez tivesse desejado não abdicar de dividir seu coração.
A poesia drummondiana é perfeitamente exemplar. Os amores não são amados pela impossibilidade, ainda que os desejos tenham sido tamanhos e tantos. E neste sentido se contrapõe ao que se tem hoje como relação amorosa, como busca de amor e em meio a banalizações e facilidades. Se o poema diz “João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria que amava Joaquim, que amava Lili...”, a sua reescrita atual seria no sentido de dizer que nem João nem Teresa, nem Raimundo nem Maria ou Lili, amava alguém.
Sim, nenhum amava ninguém, vez que o que se tem atualmente é o amor do momento, do ficar, do transar, e pronto. Poucos ainda querem amar, poucos querem realmente conhecer o sentido e o gosto do amor, poucos querem realmente compartilhar seu coração e sentimentos. Mas muitos - muitos mesmos - querem apenas experimentar, provar, sentir o gosto das banais relações, e que ainda chamam de amor. Por isso logo perguntam se o outro quer fazer amar. Como se faz amor se o amor é construído e não achado feito?
Mas assim a vida e seus desvãos. O que foi o amor e o que se tem como amor. Que bom se João amasse Maria e por ela lutasse, vez que a mesma ama outro. Mas não. João apenas quer transar com Maria. E Maria só quer transar com Pedro. Ou João quer transar com qualquer uma, e Maria e Pedro também. Não mais como uma quadrilha poética de passe e repasse de amores e mãos, mas simplesmente como um jogo de devassidão.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

MENSAGENS

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de fevereiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.056
Resultado de imagem para Clerisvaldo B. Chagas

Antônio Machado - Sem contato com o brilhante escritor Antônio Machado, somente agora estou agradecendo publicamente pelas palavras na sua coluna em site santanense, sobre a 2edição do livro “Floro Novais, Herói ou Bandido?”. Foi o seguro escritor olhodaguense o autor do prefácio de ambas as edições do citado livro.  O pronunciamento em sua coluna faz rasgados elogios ao escritor B. Chagas e ao livro em questão. Fiquei lisonjeado com o que li e mais uma vez fico agradecido pela força da sua verve. Quando for à cidade de Olho d’Água das Flores, irei visitá-lo como fez o parceiro França Filho.  O escritor Machado, assim como eu, também é membro fundador da Academia de Letras de Arapiraca.

PARCIAL DE SANTANA DO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

     Pedro Pacífico – Devido a problema de saúde, na época, não pude comparecer ao convite de lançamento de livro do companheiro Pedro Pacífico. Padro estava lançando a sua primeira obra sem parceria, inclusive com prefácio apresentado por mim. Nem sei se Pacífico ficou aborrecido com a minha ausência, mas há de compreender: primeiro a saúde. Soube também que o autor enviou-me exemplar da sua obra pelos Correios, mas ainda não tive o prazer de degustá-la pós- lançamento; é que estou em Maceió, devendo retornar a Santana até o dia 15. Ao chegar à terrinha irei localizar o conterrâneo para as respectivas considerações.

     Silvano Gabriel – Pelo mesmo motivo deixei de comparecer também ao lançamento de uma obra do meu amigo Silvano Gabriel, homem dedicado à dramaturgia popular e morador rural entre os sítios Curral do Meio II e Sementeira. Almejo parabenizá-lo no retorno.
     
     TV Assembleia e Rádio Liderança – Esperamos em breve estarmos, eu e o parceiro Marcello Fausto, na TV Assembléia com Chico de Assis, convidados que fomos. Agradeço também o convite da Rádio Liderança na pessoa de Anderson Diego, quando logo, logo em Santana do Ipanema estarei a visitá-la, para sonharmos juntos com a poesia, em seu programa romântico e noturno.

A GUERRA DO PARAGUAI E O CONDE D’EU


Na foto o Conde D'Eu com o seu neto

Duque de Caxias deu por encerrada a guerra no dia 5 de janeiro de 1868, quando o Exército Imperial chegou a Assunção e estabeleceu um governo títere. Mas a ordem foi continuar. Em carta ao imperador Pedro II, datada de 18 de novembro de 1867, ele pediu demissão. Depois de referir-se à bravura do soldado paraguaio, que via como “simples cidadãos, homens, mulheres e crianças”, questionou: “Quanto tempo, quantos homens, quantas vidas para terminar a guerra, é dizer, para converter em fumo e pó toda a população paraguaia, para matar até o feto do ventre da mulher?”.

Caxias desistiu de ser o coveiro do povo paraguaio, mas o Império, atendendo à vontade maior da metrópole britânica, não arredou pé. Pedro II nomeou para o Comando seu genro, o conde D’eu. Este superou qualquer tipo de violência até então conhecido, a exemplo do episódio de Peribebuy, quando o sádico mandou fechar e incendiar um hospital onde só havia velhos e crianças doentes.

Outro crime foi a batalha de Acosta Ñu, no dia 16 de agosto de 1869. Havia se formado um batalhão de 3.500 crianças, a partir de seis anos, para fazer frente aos invasores, possibilitando a fuga de Solano López com 500 homens, o que restava para defender o país. Cercadas por 20 mil soldados, as crianças foram derrotadas, naturalmente. Muitos, chorando, abraçavam- se nas pernas dos soldados pedindo para não serem mortas, mas não havia contemplação. Eram degoladas sem dó. No final, as mães correram para a mata para resgatar corpos e procurar sobreviventes, mas não parou por aí: o conde foi capaz de ordenar o incêndio da mata, queimando as crianças e suas mães. O 16 de agosto foi estabelecido, posteriormente, como o Dia das Crianças no Paraguai.

Solano e seus últimos companheiros, cem soldados, foram encontrados e derrotados no dia 1º março de 1870. Instado a se render, ele pronunciou suas últimas palavras: “Morro com minha pátria”.

O povo paraguaio foi praticamente exterminado: mais de 75% de sua população foi morta. Dos 800 mil habitantes no início da guerra, restaram 194.000. A população masculina adulta foi dizimada em quase 100%. Sobraram 14 mil homens, em sua grande maioria, crianças com menos de 10 anos e velhos. Sarmiento, argentino, escreve: “A Guerra do Paraguai conclui-se pela simples razão de que matamos a todos os paraguaios maiores de dez anos”.

O Paraguai perdeu 140 mil quilômetros quadrados do seu território, o que corresponde a Pernambuco e Alagoas juntos. As terras, como todas as riquezas saqueadas, foram repartidas entre brasileiros e argentinos.


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1829981233780479&set=gm.1220215114809269&type=3&theater&ifg=1

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

MARIA BONITA ERA, REALMENTE , BONITA ?

Por Voltaseca
Foto pescada no Google/Benjamin Abrahão/ Familia Ferreira.

Para os padrões da mulher sertaneja da época, MARIA se enquadrava na beleza da mulher sertaneja ?

Veja-se, nessa foto, tirada em pleno sertão; sem maquiagem e, de perfil, a sua verdadeira beleza...

Dê sua opinião, sobre essa mulher guerreira que, por livre e espontânea vontade/amor, acompanhou LAMPIÃO até a sua morte...


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1018719638330010&set=gm.1003130963229181&type=3&theater&ifg=1

http://blogodmendesemendes.blogspot.com

TOMA POSSE A NOVA DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL PEDRA DO REINO

Por Gaby Leal

A noite de sexta (01) foi de celebração! Tomou posse a nova diretoria da Associação Cultural Pedra do Reino, formada pelo presidente Ernesto Sávio, a vice-presidente Nazaré Magalhães, os tesoureiros Caio Menezes e Ana Paula Novaes, os secretários Joelma Marques e Cícero Moraes, bem como os membros do Conselho Fiscal nas pessoas de Mestre Régis, Francisco Diogo (que passa a presidência para Ernesto), Charles Neves, Auxiliadora dos Santos e Zé Iran. Esses responderão pela ACPR durante o biênio 2019/2020.

O evento foi prestigiado por autoridades municipais, dentre elas, o prefeito Romonilson Mariano, sua esposa e Secretaria de Assistência Social, Heliany Pereira Mariano, o vice prefeito e um dos fundadores e primeiro presidente da Associação, Antônio de Alberto, sua esposa, Marta, o secretário de turismo, Jackson Berg, o presidente da Câmara, Nenga de Stomberg. Além dessas autoridades, registramos a presença do comandante da Polícia Militar de São José do Belmonte, tenente Pablo, e o presidente da CDL de Belmonte Anderson Eugênio.



A presença das autoridades demonstra o compromisso do Poder Público em irmanar esforços junto à ACPR com o fim de tornar a Cavalgada uma festa cada vez maior. Nós da ACPR firmanos nosso compromisso de auxiliar incansavelmente os trabalhos da nova diretoria.

Gaby Leal
São José de Belmonte

http://cariricangaco.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


JÁ O MILAGRE FOI MILAGRE!

Padre Cícero e Benjamim Abraão

Ao adentrar na política, meio escuso, verdade, o Padre Cícero estava, ainda obediente ao seu propósito, reservar o Juazeiro aos carentes de tudo e de todos. Ele tinha sim, várias propriedades, direcionadas ao plantio de mandioca e outras vocações agrícolas para salvaguardar os carentes da fome, e ter uma renda, não era no sistema de arrendamento! Dr. Floro apareceu no momento e hora certa, sozinho o Padre Cícero não conseguiria preservar o território. Popular como foi em vida, sabidões tiraram proveitos, Benjamim Abraão, principalmente. 

Ele acolhia crianças desamparadas, dando-as dignidade. Sua viagem a Roma foi sob ajuda financeira, inclusive passando "aperreios" na cidade eterna por falta de dinheiro. Já o milagre, 
foi um milagre. 

Milagre é qualquer manifestação que não pode ser explicada pela ciência. José Marrocos não provocou o fenômeno com substâncias, ficaria muito claro e evidente a fraude. Quem indicou a primeira comissão foi a própria cúpula da igreja dando parecer favorável. 

Lailson Gurgel, Heitor Macedo, Manoel Severo e Calixto Júnior

Lampião levou armas, munição, dinheiro e a falsa patente, tudo articulado por Dr. Floro ou Benjamim Abraão, a batata esquentou nas mãos de padre Cícero. O bando sai de Juazeiro com o objetivo alcançado, promessa é promessa... ou aconteceria uma carnificina, tudo controlado e a cidade permaneceria tranquila. Ficaria ao cargo do Estado o seu papel de combater o crime... como? Se a corrupção impera!! Latifundiários e, até corporações, vinculados na proteção do bandoleiro. 

Laílson Gurgel
Pesquisador, Juazeiro do Norte, CE
E vem aí
Cariri Cangaço
10 Anos
24 a 28 de Julho de 2019
CEARÁ

cariricangaço.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blofgspot.com

UMA LEMBRANÇA DE ARIANO SUASSUNA

Por Bruno Paulino

Um dia eu conheci o escritor Ariano Suassuna e conversei com ele. Não foi por muito tempo, mas valeu o papo. Foi quando o vate visitou Quixeramobim no final do ano da graça de 2011. Fico pensando hoje que poderia ter tirado uma foto para registrar aquele momento. Mas ele estava tão emocionado por adentrar a casa em que nasceu Antônio Conselheiro que respeitosamente hesitei. Acho que fui também tomado por aquele sentimento catártico. 
                                   
"Suassuna lacrimejava em silêncio."

Depois ele comentou com todo mundo que ali o rodeava que o livro Os Sertões foi um componente fundamental de sua formação intelectual. Que foi lendo Euclides da Cunha que se deparou pela primeira vez num livro com a gente simples e a paisagem que conhecia. E que aquela saga de Antônio Conselheiro e sua gente – que teve início ali naquela casa – era também a história dele. Era a história de todo o sertão. Era um Brasil que não se conhecia. Era o Brasil Real. Não o Brasil Oficial. Impossível não se emocionar com depoimento tão vivo e espontâneo.

Ariano recebe do Cariri Cangaço comenda de 
"Personalidade Eterna do Sertão"

Recordo que ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, Ariano Suassuna discursou: “Euclides da Cunha, mesmo ofuscado, ao se ver diante do povo brasileiro real, pôde tomar seu lado – e o grande livro que é Os Sertões resultou do choque experimentado ante aquele Brasil brutal, mas verdadeiro, que ele via pela primeira vez em Canudos e que amou com seu sangue e seu coração, se bem que nunca o tenha compreendido inteiramente com sua cabeça, meio deformada pela falsa ciência européia que o Brasil venerava, e ainda venera, como dogma.”

Bruno Paulino, Manoel Severo e Anapuena Ravena

Apaixonado pela saga do beato Antônio Conselheiro, Ariano dedicou-lhe o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e andava pelos vários cantos do país com a relíquia de um cartucho de bala em seu bolso, artefato que foi encontrado nos arredores do dizimado arraial de Belo Monte, e que gentilmente um morador da atual cidade de Canudos na Bahia lhe presenteou. O escritor exibia a cápsula durante suas palestras e falava das medonhas disparidades entre o Brasil Real e o Brasil Oficial, citando e explorando o pensamento antes desenvolvido por Machado de Assis. Dizia que bastava estudar sobre Canudos para entender toda história do Brasil.

“Em Canudos, a bandeira dos seguidores de Antônio Conselheiro era a do Divino Espírito Santo – a bandeira do nosso povo, pobre, negro, índio, e mestiço. Povo que o Brasil Oficial, o dos brancos e poderosos, mais uma vez (e como já se sucedera em Palmares e no Contestado), iria esmagar e sufocar, confrontando-se ali, no caso, duas visões opostas de justiça”, escreveu certa vez Suassuna ao inaugurar no Recife um teatro que nominou de Arraial em homenagem aos seguidores do Beato nascido em Quixeramobim. Nem sei por qual motivo hoje dei para lembrar esse dia. Porém, nunca esquecerei uma frase que disse pessoalmente a mim quando tive a oportunidade de trocar algumas palavras com ele: 

“Tenho muita inveja de você rapaz que nasceu nessa terra que pariu um dos maiores revolucionários que esse mundo conheceu que foi o bom peregrino Antônio Conselheiro. Cuide com seus amigos para que essa história não caia no esquecimento por aqui.”.

Disse isso me deixando atordoado e sem saber o que responder naquele momento.

Bruno Paulino é cronista e aprendiz de poeta
Quixeramobim, Ceara
Fonte:blogs.opovo.com.br


E Vem aí...
Cariri Cangaço
Antônio, O Conselheiro do Brasil
Quixeramobim - Maio de 2019

http://cariricangaco.blogspot.com/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O INESGOTÁVEL TEMA CANGAÇO

Por Wasterland Ferreira

Como todos sabemos, o fenômeno histórico e criminógeno do Cangaço foi derrotado militarmente (ainda bem), tendo como marco-histórico e oficial o assassinato do cangaceiro Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco, que não obstante o fato de estar aleijado de ambos os braços e obviamente segurar o mosquetão, por haver sido baleado meses antes na cidade baiana de Paripiranga, foi alcançado pela volante do tenente Zé Rufino (José Osório de Farias) da Polícia Militar da Bahia, que terminou por metralhar o famoso cangaceiro, tido por muitos, inclusive pela imprensa como o braço direito de Lampião, e também chamado de Diabo Louro. 

O fato, ocorrido na fazenda Pulgas, em Brotas de Macaúbas, Bahia, a 25 de maio de 1940, pôs fim à um ciclo histórico e épico de praticamente cinco séculos e que não tenho dúvidas, foi uma das mais fortes e aguerridas formas de irredentismo levantadas (de modo contínuo, ou seja, de caráter permanente e prolongado) contra os valores impostos pelo colonizador europeu, e com o passar dos séculos, a partir de quando o banditismo rural passou a operar nos sertões do Nordeste, deu-se início aquilo que o Mestre Frederico Pernambucano denominou magistralmente como o "divórcio litoral-sertão" - ver Guerreiros do Sol. Violência e banditismo no Nordeste do Brasil, ora em 5.a ou 6.a edição pela Editora A Girafa/Massangana, e considerada a obra mais completa sobre o assunto. 
  

Sandro Lee, Wasterland Ferreira, João de Sousa Lima e Itamar Baracho

Contudo, o Cangaço tornou-se bem vitorioso culturalmente, sendo seu símbolo máximo Nordeste, Brasil e mundo afora o famoso chapéu de couro com abas enormes e levantadas na frente e atrás e que a partir de 1930 sofreu uma estilização riquíssima - a partir do advento das mulheres, cuja porta de entrada foi a partir de Maria Gomes de Oliveira, a "Bonita", depois chegando Sérgia Ribeiro da Silva, a "Dadá", mulher do mencionado cangaceiro Corisco, que havia dois anos que estava na casa de uma tia deste. E sem ordem cronológica também citamos Dulce Menezes dos Santos, de Criança; Nenê, fiel companheira de Luiz Pedro; Adília, de Canário; Maria Fernandes, companheira do cangaceiro Mané Juriti; Antonia, do Rego, mulher de Santílio Barros, o Gato; Maria dos Santos, a Mariquinha, companheira de Ângelo Roque da Costa, o famoso Labareda, e tantas outras -, tornando-o ainda mais bonito e atrativo, como também a todo o conjunto do traje guerreiro do cangaceiro nordestino, que foi tão bem estudado pelo já referenciado escritor e historiador Frederico Pernambucano de Mello que terminou por dedicar uma obra especializada a respeito: Estrelas de Couro. A Estética do Cangaço, ora em 3.a edição pela Escrituras Editora, sendo o quê há de mais completo sobre a chamada "estética do Cangaço".

Aí o que vemos hoje são as várias representações da figura histórica e épica do cangaceiro em nossa cultura, seja através do boneco de barro esculpido pioneiramente pelo Mestre Vitalino (in memoriam), no Alto do Moura, em Caruaru, Pernambuco, fazendo escola; seja na formação dos grupos estilizados de Xaxado - esta é a música, sendo a "pisada", a dança -, estilizados no que refere-se a participação feminina na dança histórica e guerreira (surgida ainda nos tempos da atuação do bando de cangaceiros sob o comando de Sebastião Pereira e Silva, o Sinhô, havendo relatos de que o Xaxado teria sido criado em seu próprio bando), onde originalmente era uma dança exclusivamente masculina.



Podemos também apontar o uso de elementos históricos e estéticos do Cangaço na formação dos grupos folclóricos de bacamarteiros, de que se valeu o eminente professor e escritor pernambucano Olímpio Bonald Neto, para escrever e publicar livro clássico: Bacamarte, pólvora e povo, recentemente reeditado pela CEPE - Companhia Editora de Pernambuco.
E a lista de manifestações artístico-culturais no uso da figura do cangaceiro que por tanto tempo atuou neste Nordeste setentrional é enorme, e vale ressaltar que bem acertado na absorção pelas vias da arte e do folclore e que hoje, ao contrário do que foi no passado, traz alegria, entretenimento, arte e beleza plenas à toda a população, como também riquezas materiais através dos capitais investidos e em contrapartida advindos dessa gama de produção cultural.

Wasterland Ferreira Leite, Recife-PE.
Pesquisador e Membro efetivo da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.

http://cariricangaco.blogspot.com/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

MISSÃO VELHA HOMENAGEIA CORONEL LIBERATO NA FESTA DE 10 ANOS DO CARIRI CANGAÇO

Por Bosco André

Nos 10 anos do Cariri Cangaço em Julho de 2019, Missão Velha se prepara para grandes homenagens. Vultos históricos que com sua atuação e presença forte nos cenários politico e administrativo foram relevantes para a construção da memória imortal da região do Cariri cearense. Dentre esses temos o Cel. Liberato Manuel da Cruz.

Cel Liberato foi Inspetor Escolar , Delegado e Intendente do Município de Missão Velha, substituindo ao não menos importante 
 Cel. Antonio Joaquim de Santana, no período entre

 29-08-1917 a 19-10-1917. Vigésimo filho

 do casal Manuel Inácio da Cruz e Maria das Dores da Encarnação, ca

sou duas vezes, primeiro com a sobrinha Ana Isabel da Conceição Macêdo e em segundas núpcias com Joana Rodrigues da Cruz (Santinha). Então que venha os 10 Anos de Cariri Cangaço no Portal do Cariri, Missão Velha, com a ho

menagem do Município ao ilustre Patriarca da família Liberato – Coronel Liberato Manuel da Cruz.

João Bosco André
Pesquisador e escritor
Conselheiro Cariri Cangaço.

http://cariricangaco.blogspot.com/

FONTE VIVA ANDRELINO PEREIRA FILHO, ÚNICO POLICIAL AINDA VIVO - COM 104 ANOS, EX-INTEGRANTE DAS TROPAS VOLANTES QUE COMBATERAM O CANGAÇO


Nascido em Cabrobó, Sertão pernambucano, em 18 de março de 1914, seu Andrelino jamais pensou que fosse viver tanto. Tornou-se volante porque, sem emprego, o jeito foi entrar para a polícia; mas quando entrou, não sabia que faria parte de uma tropa volante que entraria no Sertão em busca de cangaceiros. “Acabei lá. Quando convocaram, pensei em nada, só que ia pro Sertão e fui, calado”.

Os soldados andavam em grupos de sete, mais um comandante, e a tropa de Andrelino ficou pelas bandas de Alagoas (era época de ditadura, a de Getúlio Vargas, então a polícia comandava onde fosse necessário). Foram dois anos “andando no mato, dormindo no mato, vivendo o mato” - “dentro da caatinga de 1936 a 1938”.

Diz a história que cangaceiro tinha um cheiro peculiar, uma mistura de perfume ou água de colônia com suor, que acabava ajudando no rastreamento, como contra André Carneiro em “Capitães do Fim do Mundo”. “Mas não era uma certeza, era uma pista casual, acontecia. Só eles usavam, mas a gente, não. Se os encontrasse, bem; se não, seguíamos. Mas rezava pra não encontrar”, continua o ex-volante.

Sem descanso, sem comida, sem água, as volantes seguiam nessa missão ingrata; “ingrata” porque o pagamento era também escasso. “Comida era quando encontrava. Farinha, rapadura, queijo de coalho, se tivesse. Água, só quando encontrava um poço. Sobre banho, nunca se falou”.

As armas eram fuzis e o volante carregava, em média 50 balas que “pesavam como o diabo”, e nessa rotina dura, seu Andrelino diz que teve uma aliada: a calma. “Foi a primeira coisa que aprendi. A segunda foi a conviver; a terceira, foi ‘não atender a muita gente, a não dar atenção’. Se o camarada atende a muitas perguntas, passa o tempo todo. Eu preferia ficar em silêncio”.

As tropas não tinham treinamento, mas orientações de como se defender se encontrassem um bando. “Mas essa orientação era no momento. Estava no tiroteio e se os tiros apertassem, eu seguia a ordem: me jogava no chão”. Andrelino nunca ficou ferido (mas quase foi), nunca matou ninguém, nunca viu um de seus companheiros de tropa matando.

“O pagamento, eu não sei nem dizer como era. Eu lembro que a gente recebia, que tinha um sargento que era o pagador, Almeida, trazia tudo separado. Ele trazia o pacotinho de dinheiro. A gente chegava em uma bodega, fazia compras. Pronto, e o dinheiro desaparecia”. Não havia heroísmo, mas uma obrigação; não havia um intuito de fazer justiça, de trazer um bem social, mas uma vontade enorme de trabalhar para que o dia em que aquelas volantes terminassem chegasse logo.

Os coiteiros também davam pistas dos cangaceiros. Certo dia, diz seu Andrelino, foi o perfume de uma mocinha, numa casa, que entregou a presença de um bando. “Os cangaceiros estavam em uma distância de uns 500 metros e cozinhando um bode numa lata amarrada num pé de pau em cima de um fogo de lenha. Estava fervendo. A mocinha quis negar, mas terminou dizendo. Os cangaceiros deram fé e fugiram. Deixaram a lata fervendo lá. Ninguém comeu, quem sabia se não tinham colocado veneno?”.

Medo, seu Andrelino nunca sentiu, embora tenha visto e sentido muita coisa. Sentia, mas não podia falar porque, afinal, estavam todos do mesmo jeito. Alívio e alegria sentiu quando soube que a volante tinha terminado e ele seria deslocado para o Recife, onde faria serviços bem mais leves. “As roupas da volante eram de tecido grosso, feitas de todo jeito; no Recife, fizeram sob medida. Mas as duas eram cáqui e eu não uso mais cáqui desde que saí da polícia em 1966”.

Andrelino conheceu Lampião quando era menino. “Ele ia lá em casa, tomou café lá muitas vezes. Chamava minha mãe: ‘cumade’, tem um cafezinho?”. Tomava e ia embora”. E com seus 104 anos e sua memória reta, seu Andrelino defende uma tese diferente para a morte de Lampião. Ele ri da oficial - que Virgolino foi morto em uma emboscada em 1938, em Angico, Sergipe - e diz que tem certeza que o cangaceiro jamais morreria daquela forma. “Lampião morreu em Minas Gerais, na fazenda São Francisco, muitos anos depois, em 1963, justamente neste mês que estamos, de julho, mas eu não sei a data exata”.

“Um amigo dele, de Lampião, era amigo meu, um senhor de Porção (cidade do interior de Pernambuco). Tinha trabalhado com ele. Eu estava em Pesqueira (outra cidade pernambucana, localizada no Agreste), engraxando sapato, quando ele passou e falou: ‘sabe de onde eu venho? De Minas Gerais, do enterro de Lampião’. O que, homem?! Lampião morreu? Era mês de setembro. Eu já sabia que ele estava na fazenda São Francisco. As coisas passam no meio do mundo e a gente sabe”.

Por: Tatiana Notaro | Foto: Rafael Furtado
Publicado originalmente no www.folhape.com.br em 28/07/18
Créditos do achado para Joel Reis 

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2019/02/fonte-viva.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com