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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

ZÉ PEREIRA CONCEDE ENTREVISTA

AMIGOS, leiam esta interessante e rica matéria.

Em 1930, em pleno "Estado Livre de Princesa", na Paraíba, o famoso coronel José Pereira falou longamente ao repórter dos "Diários Associados", Victor do Espírito Santo.

Reportagem para mim duplamente interessante, por conta de um ocorrido: a inesperada e momentânea presença deste notável jornalista na minha pequena e querida Aracaju de 1930, quando o hidroavião que o transportava do Rio a Recife, de onde ele iniciou a peregrinação em busca de Princesa e do famoso Zé Pereira, precisou, vocês saberão o motivo, demorar um pouco mais em Aracaju, momento este que Victor fez questão de deixar registrado no âmbito desta histórica matéria.

EM BUSCA DE PRINCESA, O MUNICÍPIO REVOLUCIONADO DA PARAÍBA.

Victor do ESPÍRITO SANTO

(Enviado especial d’O JORNAL e do “Diário da Noite” do Rio e do “Diário da Noite” de S. Paulo)

DO RIO A RECIFE EM AVIÃO DA CONDOR – PARADA INESPERADA EM ARACAJU E UMA OPORTUNIDADE PARA UMA ENTREVISTA PITORESCA – MANÉ CAROÇO VISTO POR UM BACHAREL DE 84 – RECIFE

RECIFE, 13 – (Por avião) – Não fui inteiramente feliz nesta minha primeira viagem aérea.

Para que uma viagem assim longa decorra a contento, necessário é que se tenha por companheiros pessoas com as quais possamos trocar impressões, tornando menos insípidas as longas travessias quando a vista se cansa de admirar o oceano, “que castiga pela majestade e o litoral que se repete milhas e milhas sem um fato novo que prenda a atenção, que desperte a curiosidade. E eu não tive desses companheiros quando saí do Rio, no “Olinda”, o possante e seguríssimo avião da Condor. Foram meus companheiros até à Bahia, dois alemães quase mudos e cujo sono acabou por contagiar-me.

Em Canavieiras, porém, assaltou-me a esperança de que ia ser melhorada a viagem, pois nessa pequena cidade deveriam embarcar cinco passageiros para a capital baiana. Não fui, ainda desta feita, feliz. Os meus novos companheiros eram o prefeito de Canavieiras, um engenheiro, um mecânico da Condor, um médico e a sua esposa. A não ser o mecânico, todos os demais eram políticos que empregavam todo o tempo em discutir o coeficiente de votos que o coronel fulano deveria dar e não dera e outras coisas que tais enquanto isso, a senhora do médico cansava-se de enjoar...

Na Bahia, a situação mudou-se, afinal. Quando, na Ribeira, esperava o pequeno bote que deveria conduzir-me para bordo do novo avião em que iria prosseguir a viagem até Recife, uma figura muito nossa conhecida desembarcou de um automóvel para seguir também em demanda do aparelho: tratava-se de monsenhor Rosalvo Costa Rego, o vigário geral aí do Rio. Ia, enfim, ter uma ótima companhia! E o foi efetivamente. Com a sua palavra atraente, a sua verve encantadora, o seu espírito fino, a sua inteligência brilhante e os seus grandes conhecimentos da zona que íamos percorrer, monsenhor Costa Rego era a companhia desejada.

Era a primeira vez que o ilustre vigário geral do Rio embarca em um avião e o fazia, disse-nos ele, sem satisfação devido às condições que o obrigavam a utilizar-se daquele meio de viação: desejara chegar a Maceió quanto antes por precisar visitar uma pessoa cara que se encontrava gravemente enferma. Infelizmente, a bordo do "Itaité", recebera comunicação de que essa pessoa falecera. E agora prosseguia viagem por já estar de passagem comprada e ter de providenciar sobre o espólio da pessoa que morrera, sua mãe de criação.

Deixamos a Bahia às 6 horas, e pouco antes das 9, o “Blumenau”, numa descida elegante e suave pousava os seus flutuantes no porto de Aracaju a fim de aí entregar a correspondência e receber gasolina. A demora deveria ser rápida, de 15 minutos, se tanto.

Assim, pouco depois das 9 horas, o “Blumenau” erguia-se das águas, elevava-se sobre Aracaju e contornava a pequena mas linda capital sergipana. O motor, porém, não estava funcionando a contento, conforme foi notado pelos tripulantes do avião. E após atingir uma altura de cerca de 1000 metros, o “Blumenau” descia novamente e com rapidez, um tanto precipitadamente para alcançar outra vez o ponto de onde partimos.

Era, disse-nos o piloto do avião, o tubo de óleo que não estava funcionando com regularidade e, por isso, necessitava de reparos, que demandariam cerca de duas horas.

Apresentava-se-nos uma oportunidade para percorrer a cidade de Aracaju e íamos aproveitá-la.

GREVE DE CHOFERES

Aracaju, a pacata capital do pequenino Sergipe, recebeu-nos a mim e aos meus companheiros de excursão com curiosidade. Ainda é herói em nossa terra quem viaja de avião. E nós éramos considerados como heróis...

Tornava-se incômoda aquela situação de alvos da curiosidade pública e, por isso, procurávamos um meio de evitá-la aproveitando também a oportunidade para conhecer a cidade.

Saímos em busca de automóveis, mas em vão, pois não encontramos um só desses veículos de aluguel na cidade. Um sergipano baixo e cheio incumbiu-se de dar-nos a explicação de ausência de autos e fê-lo na sua linguagem de homem do povo, dizendo a monsenhor Costa Rego:

- Hoje, “seu” padre, não há automóvel, não sinhô. Os “chofé” estão em greve porque obrigaram eles a mudar de ponto.

E um outro habitante de Aracaju atalhou logo, desolado:

- Que triste impressão vão os senhores levar de Sergipe!...

Mas, “há males que vêm para bem” diz o rufião. A greve dos choferes privou-nos de percorrer a cidade, que víramos do alto. Em compensação proporcionou-nos ensejo de manter com um homem simples, uma palestra pitoresca em que a língua por vezes solta de um velho bacharel, de um bacharel de 84, teve palavras de brasa contra muitos dos nossos homens públicos.

UM SENHOR DE ENGENHO, O GOVERNADOR DE SERGIPE:

Na falta de um meio de condução que nos levasse aos diversos pontos da cidade, não nos aventuramos a andar a pé pela cidade de Aracaju, para evitar que se formasse uma procissão atrás de nós. Era, no entanto, necessário esperar que terminassem os consertos no avião. Por isso, encaminhamo-nos para o cais, onde se aglomeravam populares para ver o aparelho. Monsenhor Costa Rego, era quem mais chamava a atenção dos sergipanos, que para ele se voltavam curiosos. Assim, quando o ilustre sacerdote chegou no coreto existente no cais, foi logo abordado por um cavalheiro de idade avançada, cabeça inteiramente calva, bigodes brancos e barba por fazer, olhos empapuçados e orelhas um tanto grandes, que, de chofre, lhe perguntou:

- Seu padre, o senhor veio de avião?!

- Sim, vim no “Blumenau”.

- Que coragem, seu padre! Eu não viajaria naquele bichinho, nem para ganhar mais de dez anos de vida... Deus deu asas aos pássaros e só os pássaros podem voar. Se Deus quisesse que os homens voassem, ter-lhes-ia dado asas também. Se não o fez...

- Qual! – atalhou o vigário geral – não há o menor perigo em viajar-se em aeroplano. Creio que o automóvel oferece menos segurança.

Embora, porém, todos os argumentos de monsenhor Costa Rego, corroborados por mim e pelo terceiro companheiro de viagem, o velho mostrou-se irredutível, assegurando:

- Salviano Corrêa de Oliveira Andrade, advogado formado em 1884, morador em São Cristóvão, nunca viajará naquilo. Quero morrer naturalmente e não precipitar os acontecimentos.

Em pouco a conversa descambou para a política e o velhinho, entusiasmando se, provocado sempre por monsenhor, ia falando de uma situação, atacando outra oposição, elogiando Pernambuco e dizendo sempre:

- Isto é um país perdido. Então Manoel Dantas é lá homem para governar Sergipe?! Ele é um senhor de engenho, um coronel de poucas letras, um homem rude. Honesto, isto lá ele é. Mas nunca estudou direito administrativo, não sabe o que é uma administração adiantada.

- Então o senhor é oposicionista?

- Não! Sou conservador. Não posso formar com esses malucos dos liberais. Eles querem implantar aqui doutrinas do Soviet e eu, um homem de leis, não posso estar de acordo com eles. Sou conservador e, embora tenha admirado o governo que fez o doutor Graccho Cardoso, não posso aplaudir-lhe o gesto que vem de ter rompendo com o governo. É um homem inteligente mas dessa vez falhou. Eu acho é que nós precisamos de uma monarquia como a de D. Pedro II, a de Victor Manoel, a de Jorge V. só assim é que consertaríamos a situação má que atravessamos.

- Mas Mussolini é um ditador e o senhor, um homem de lei, não pode aprovar uma ditadura! – disse provocadoramente monsenhor Costa Rego.

- De modus in rebus – fez o doutor Corrêa – Ele salvou a Itália do abismo. Eu ando bem informado, esteja certo, pois sou assinantes do Diário de Pernambuco, o decano da imprensa brasileira.

E o bom velho, atacando os liberais, fazendo caretas horríveis quando pronunciava a palavra liberal, entrou a dissertar sobre a política federal, a pernambucana até que, provocado por monsenhor Costa Rego, abordou a situação de Alagoas, assegurando:

- Lá está um tal Sr. Paes, um homem de poucas letras, tal como o Sr. Manoel Dantas.

- Mas ele é seu colega, bacharel – disse um dos presentes.

- Ser bacharel, hoje, não é nada. Vai-se agora analfabeto para a Bahia e volta-se sobraçando uma bolsa de couro e com o título de bacharel. Pergunta-se a um desses bacharéis o que é Corpus Juris e ele dirá que é sanduíche... no meu tempo, sim, é que se estudava para se obter um pergaminho assinado em nome de Sua Majestade o Imperador.

Hoje, parece que os bacharéis sabem tanto como o coronel Manoel Dantas.

Monsenhor Costa Rego procurou ainda encaminhar a palestra para o seu irmão, o ex- governador de Alagoas. O avião, porém, já estava pronto e tivemos necessidade de deixar o bom velhinho, que, ao despedir-se do sacerdote, depois de abraça-lo demoradamente, fez questão de novo abraço, dizendo:

- Esse abraço foi-me ao coração! Dê-me outro, seu padre!

Daí a instantes, depois de uma tentativa frustrada, o “Blumenau” levantava voo e demandava a Alagoas, para daí tomar a direção de Recife, onde desembarquei, afinal, às 15 ½ horas de ontem.

Preparo-me agora para atravessar o sertão pernambucano, andar várias léguas de trem e automóvel para conseguir penetrar em Princesa. Conseguirei? Lograrei defrontar-me com o coronel José Pereira e entrevista-lo? É o que vou tentar.

O Jornal - 18.04.1930.

NO REDUTO DO SR. JOSÉ PEREIRA, O CHEFE SERTANEJO DISSIDENTE DA PARAÍBA – A VIAGEM DO ENVIADO ESPECIAL D’ "O JORNAL", DO "DIÁRIO DA NOITE", DO RIO E DO "DIÁRIO DA NOITE" DE S. PAULO ATÉ A CIDADE DE PRINCESA, NO INTERIOR PARAIBANO – OS RECURSOS BÉLICOS DOS CANGACEIROS – O AMBIENTE NO SERTÃO DA PARAÍBA

Levado pelo intuito de oferecer aos seus leitores um depoimento tão amplo quanto possível, em torno dos acontecimentos que se estão desenrolando no interior paraibano, com a ocupação da importante cidade de Princesa por um grupo de homens armadas, sob a chefia do Sr. José Pereira, O JORNAL, em combinação com o Diário da Noite desta capital e o Diário da Noite de S. Paulo destacou um dos seus redatores para colher, de visu, no próprio teatro da luta armada, que ora se trava no interior daquela unidade federativa do norte, impressões que logrem dar uma justa ideia e definir as verdadeiras proporções do levante cangaceiro que se opõe ao poder constituído da Paraíba.

O nosso enviado especial teve ensejo, no desempenho da missão de que foi portador, de visitar o reduto do chefe dissidente paraibano, onde demorou-se o suficiente para observar o vulto e os objetivos das atividades rebeldes do Sr. José Pereira, cuja palavra, ainda por seu intermédio, os nossos leitores terão oportunidade de conhecer, através das correspondências que hoje começamos a publicar.

RECIFE, 15 – É das coisas mais penosas ter-se de atravessar o sertão pernambucano, percorrendo léguas e léguas das mais horríveis estradas. Logo que se sai de Recife começa o suplício com a viagem em incômodo trem da Great Western, por caminhos poeirentos, com paradas intermináveis e marcha de caranguejo. E percorrem-se, assim, durante mais de novo intermináveis horas, 270 quilômetros, para atingir-se Rio Branco, o ponto terminal da linha! Viagem bem mais incômoda que em qualquer trem da Linha Auxiliar...

De Rio Branco a Princesa são 30 léguas que se percorrem em automóvel, numa verdadeira corrida de obstáculos em que a perícia e o arrojo dos choferes são a cada instante reclamados. Chegando a Rio Branco às 16 horas do dia 12, quatro horas após embarcava eu em um auto que me deveria conduzir à cidade dominada por José Pereira e seus homens.

Não me foi fácil encontrar quem me conduzisse até princesa, dado o receio dos choferes de penetrar na cidade que se encontra fora da lei e onde se afirma José Pereira vem desde longos anos fazendo valer a sua vontade, encobrindo crimes e mandando executar outros.

Afinal, com a interferência do prefeito de Rio Branco, coronel Antonio Japiassu, que tinha interesse em mandar para o seu colega de Flores, coronel Antonio Medeiros, a fim de que este as enviasse a José Pereira, duzentas e cinquenta alpercatas de couro cru, que recebera de Recife, conseguiu-se um auto com chofer disposto a fazer a longa caminhada. No auto, porém, deveriam seguir as alpercatas...

No dia imediato, domingo, entrava eu em Princesa, onde a melhor das recepções me foi feita e da qual me ocuparei em outra reportagem. Quero agora dizer como encontrei a cidade de onde José Pereira se corresponde, como ele próprio me afirmou, diretamente com os presidentes da República e de S. Paulo.

DESOLAÇÃO

José Pereira havia sido avisado de minha visita, e, por isso, tratara de preparar ambiente para que a minha impressão fosse a melhor possível. Mandara vir para a cidade algumas famílias, determinara que se preparasse uma mesa farta para o almoço, fizera com que os  melhores dos seus homens, os mais abastados, ficassem na parte central do lugar, de forma que eu trouxesse de Princesa uma impressão que desmentisse tudo o que de mal se dizia a seu respeito.

E, efetivamente, a julgar pelo que me foi mostrado em Princesa, teria eu de voltar daquele longínquo lugar aplaudindo a atitude de José Pereira, se não estivesse bem ao par da situação dos verdadeiros motivos que determinavam o seu gesto de rebeldia.

Princesa bem merece o nome que tem, pois é uma cidade de bom aspecto, a melhor dos que percorri em toda a zona sertaneja, exceção feita de Triunfo. Possui boas estradas, bens prédios, recursos próprios, embelezamentos naturais e feitos pela mão do homem, sendo, no sertão, uma cidade em que se pode viver.

Logo à entrada, porém, da cidade, tem-se a impressão de desolação e tristeza: casas abandonadas e inteiramente fechadas, com mato a atingir já à altura das janelas. Nem uma só pessoa em longa extensão, para afinal só se encontrar homens em armas, quando se entra na porta central do povoado.

Às margens das estradas, trincheiras construídas de pedra e barro, tendo a guarda-las sertanejos de caras assustadas e olhos inquiridores.

E Princesa que, em dias normais, deve ser uma cidade de movimento, atraente e interessante, apresentava naquele domingo em que lá estive um aspecto de desolação.

AS ARMAS DE PRINCESA

Na longa palestra que comigo entreteve, José Pereira teve ocasião de referir-se às armas com que conta, armas que, escassas a princípio, ele afirma serem agora abundantes, o mesmo sucedendo com relação à munição, que me foi assegurado bastar para seis meses de luta. E disse-me:

- “Afirmar-se que o governo pernambucano me vem auxiliando, fornecendo-me armas, munição e gente, é uma inverdade. As armas que aqui tenho são de particulares e foram adquiridas para combater os cangaceiros, quando Lampião andou por aqui. O Sr. João Pessoa quis toma-las, como fez com outros municípios, mas eu não me submeti à sua ordem e por isso, tenho hoje armas. Possuo também duas metralhadoras além de um pequeno canhão que só serve para arrombar portas. O governo de Pernambuco só tem feito prejudicar-me, com revistas rigorosas e vexatórias à entrada da cidade, fazendo ainda com que amigos que tenho em localidades pernambucanas deixem de vir dar-me a sua adesão, pelo temor das consequências que as providências do Sr. Estácio fazem prever.”

Nessa revista o carro em que eu viajei sofreu e foi efetivamente rigorosa. Verificou-se o mesmo em Flores, à saída da cidade. Entretanto, pouco antes dela ser feita, o comandante do destacamento do lugar, tenente Severino Felix, respondendo a uma pergunta por mim feita sobre a passagem para Princesa e os empecilhos que poderia encontrar, disse-me:

- “A não ser armas, que só passam com ordem do governo”, tudo mais pode seguir, sem qualquer dificuldade”.

OS HOMENS DE JOSÉ PEREIRA

Em Recife, assegurava-se que José Pereira tinha sob suas ordens cerca de 1500 homens.

O chefe do movimento armado afirmou-me, porém, que conta com 700 homens aproximadamente, o que leva a acreditar ser ainda inferior o número de sertanejos em armas.

Os que foram apresentados o farão como fazendeiros, lavradores, operários, gente do lugar, exclusivamente, havendo até entre eles um bacharel em direito, que exercia em tempo normal as funções de promotor da cidade. Mostravam-se todos animados e confiantes na vitória.

José Pereira teve a habilidade de fazer-lhes crer que se o governo paraibano conseguir

vencê-los, terão todos eles as suas vidas sacrificadas e as suas propriedades incendiadas.

Por isso, o encarniçamento com que lutam.

Um desses homens, a quem transportei de Princesa a São José, no automóvel que me servia, declarou-me: - “Eu não estou nessa luta por gosto, pois não tenho e nunca tive prazer em matar ninguém. Mas devo tantos favores a José Pereira que não posso deixar de estar a seu lado. Além disso não quero ser “sangrado” nem tão pouco que eles incendeiem a minha propriedade.”

Assegurou-me José Pereira que Princesa unânime está a seu lado e que aqueles que não lutam por não terem sangue de homem de guerra, favorecem a sua causa, fornecendo-lhe recados, roupa e mesmo gado.

A RESISTÊNCIA DE PRINCESA

Não obstante toda a fanfarronada de José Pereira, dizendo que Princesa não cairá e que poderá manter-se em luta durante meses e meses, a impressão que trouxe daquela zona e do que observei é que o reduto de José Pereira não poderá resistir a um ataque forte das forças paraibanas, ataque que talvez, à hora em que estas notas estiverem circulando, esteja sendo feito.

As forças rebeldes não têm chefes capazes de um bom plano estratégico, pois cada qual dá a sua opinião, que José Pereira acata, para depois aceitar outra inteiramente contrária.

Em guerrilhas, em emboscadas, são capazes de manter-se em luta longo tempo.  um ataque seguro não terão com que resistir. É preciso saber se a polícia paraibana conta com técnicos capazes de levar a efeito esses ataques.

A VOLTA A RIO BRANCO

Não quis voltar a Rio Branco sem passar por Patos, onde se dera, havia pouco, um encarniçado combate entre 50 soldados paraibanos e 300 rebeldes, e por Triunfo, onde estão as forças pernambucanas incumbidas de garantir a... neutralidade.

Encontrei Patos abandonada, com suas casas cheias de perfurações de balas, umas derrubadas a dinamite e outras bastante estragadas. Nem soldados paraibanos, nem sertanejos de José Pereira. Tudo em abandono!

Triunfo é uma vila privilegiada. Situada em lugar de clima aprazível, produzindo tudo o que se queira, a Petrópolis pernambucana deveria merecer as atenções dos governantes do Estado. Celeiro de todo o sertão daqueles lados, Triunfo deveria ter boas estradas que lhe dessem acesso, a fim de que o seu movimento correspondesse ao seu adiantamento.

Entretanto, o Sr. Estácio Coimbra que cobra dos municípios um pesado imposto destinado à conservação e melhoria das estradas, deixa a que vai de Patos a Triunfo e desta cidade a Flores em estado tal que só mesmo muita necessidade pode fazer com que alguém se aventure a percorre-la em automóvel. Foi um trajeto penoso, cheio de perigos, e que, feito à noite, mais difícil ainda se tornou.

De Flores a Rio Branco, embora melhores, as estradas muito atrasaram a viagem, pois por duas vezes vi o carro atolado, só conseguindo pô-lo novamente em movimento depois dos mais ingentes esforços, só postos em prática para que não visse a retardada de 48 horas a minha partida para Recife, visto que, se perdesse o trem de segunda-feira, só teria outros dois dias depois.

Estava-me ainda reservada uma outra surpresa desagradável. Às 5 horas, depois de viajar toda uma noite por péssimas estradas, quando ainda faltavam seis quilômetros para atingir Rio Branco, a gasolina acabou. E eu, que viajara de avião milhas e milhas, que fora passageiro de trem e automóvel por caminhos intermináveis, acabei por ter de fazer 6 quilômetros a pé para alcançar Rio Branco, onde cheguei, enfim, a tempo de tomar o trem e chegar ontem, à noite, a Recife, para escrever a próxima crônica, em que inicio, realmente, o relato da minha palestra com o famoso Zé Pereira.

O Jornal - 24.04.1930

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O MOVIMENTO SUBVERSIVO DA PARAÍBA – COMO O SR. JOSÉ PEREIRA FALOU EM PRINCESA, AO REPRESENTANTE D’ O JORNAL E DO DIÁRIO DA NOITE – OBJETIVOS DA LUTA, SEGUNDO OS PROGNÓSTICOS DO CHEFE REBELDE – À ESPERA DA INTERVENÇÃO FEDERAL – UM COMENTÁRIO À MARGEM DA ATITUDE DA JUNTA APURADORA DO ESTADO 

RECIFE, 13 de abril de 1930 – Prosseguindo no meu relato, tive, logo depois, de aceder a um convite do Sr. José Pereira para tomar parte no seu almoço. Durante a refeição, a palestra versou sobre os mais variados assuntos, até que, à certa altura, disse-me o chefe reacionário de Princesa, empunhando uma taça de champanhe:

- É ainda champanhe que sobrou do banquete que oferecemos ao Sr. João Pessoa.

- E por que – perguntei, sendo oferecido esse banquete num dia logo no outro o Sr. rompeu as hostilidades?

- Simples – contestou-me o Sr. José Pereira. É que recebido aqui com todas as festas e honrarias, o Sr. João Pessoa sempre que eu lhe fazia perguntas sobre a reunião da

Comissão Executiva do Partido, fugia do assunto, atacando outra palestra. Quando, afinal, deixou Princesa entregou ao major Soubreira um papel para me ser dado. Tratava-se da chapa do Partido. Foi o que mais me exasperou.

O senhor José Pereira, ainda apreciou outros aspectos da questão, falando sempre com extrema volubilidade.

RELAÇÃO DE CRIMINOSOS QUE SERVEM AO SR. JOSÉ PEREIRA

Depois de terminado o almoço, passamos à sala, onde a palestra prosseguiu sempre animada. Conversador incorrigível, dado a espirituoso, o Sr. José Pereira nem sempre guarda a discrição que seria (...) em um homem que tem as suas responsabilidades.

Assim foi que, ao lhe fazer eu perguntas sobre os criminosos que tem entre os seus homens, obtive a seguinte resposta:

- Eu não tenho bandidos entre os meus homens, pois procuro selecioná-los sempre. Aliás, não faço isso por escrúpulo próprio. Por mim, eu aceitaria tudo o que caísse na rede. A questão, porém, é que não quero desmerecer a confiança que em mim depositam os senhores Washington Luís e Júlio Prestes, confiança essa manifestada em telegramas que tenho em meu poder. Por eles é que não aceito bandidos para servir entre os meus homens.

Aludimos, então, à lista de criminosos publicada pela União, órgão oficial do governo paraibano.

Sem perceber o alcance de suas declarações, retrucou o Sr. José Pereira:

- Pois então vejamos: “Sinhô Salviano” – esse homem matou efetivamente dois oficiais, mas fê-lo em defesa de seu irmão, que foi morto. Desse crime já foi absolvido. “Tocha” e “Moreno”. 

– Esses mataram em Triunfo, mas foram absolvidos, tendo o promotor apelado.

“Possidônio Cosello Branco” – matou um oficial de polícia em Flores, mas já foi absolvido.

“Manoel Virgulino” – tirou a vida a um homem, foi condenado, porém o crime prescreveu.

“José Soares” – esse nunca praticou crime nem foi condenado. Esteve preso, mas por engano, por um crime praticado por outro José Soares, que não é ele. “Marcolino Diniz” – esse é meu cunhado e teve necessidade de matar um homem em Triunfo; entretanto, já foi absolvido. E, assim, todos os demais.

E como para frisar:

- Eu queria agora é que o Sr. João Pessoa, por sua vez, contasse a crônica do famoso

“Quelé”, tenente José Guedes e outros.

COMO O SR. JOSÉ PEREIRA SE REFERE AO SENADOR EPITÁCIO PESSOA

A palestra, já agora provocada pelo Sr. Epitácio Pessoa de Queiroz, que se achava presente, voltou a girar em torno do Sr. João Pessoa, alvo da indignação do Sr. José Pereira.

O chefe rebelde de Princesa lamenta, nessa altura, que o Sr. Epitácio Pessoa tenha ficado ao lado do atual presidente da Paraíba, acentuando entretanto:

- Eu tenho pelo Sr. Epitácio a mais viva gratidão, a maior admiração, reconhecendo nele o maior dos brasileiros vivos. Nada lhe devo a não ser elogios que ele teve ocasião de fazer- me no Rio Negro, na presença do Sr. Arrojado Lisboa, ao passo que S. Excelência me deve até o governo da Paraíba, pois foi por minha causa que o seu nome saiu vitorioso em 1915. Princesa foi o fiel da balança.

AGUARDANDO A INTERVENÇÃO FEDERAL

Mais adiante perguntei ao Sr. José Pereira, como esperava viesse a terminar o movimento subversivo e ainda o que esperava afinal de tudo isso. O chefe rebelde respondeu logo:

- Espero pôr fora do governo ao Sr. João Pessoa.

Peguei em armas e não me entrego, visto não querer que amanhã a Câmara de que faço parte dê permissão para que eu seja processado como qualquer criminoso comum. Ainda se o governo reconhecesse que se trata de um crime político vá lã. Mas o Sr. João Pessoa não entende assim e hostiliza rudemente todos os meus correligionários, criando um ambiente de irritação surda contra o seu governo, de forma que hoje todos os habitantes de Princesa estão em armas em legítima defesa, não só para serem processados como bandidos como também para defender as suas propriedades. Se eu tivesse bandidos e quisesse saquear, como se afirma, não teria os escrúpulos que venho tendo.

Fez ainda considerações para justificar-se dizendo que tanto a mesa de Rendas como os Correios estão intactos.

- Se eu fosse assassino – prosseguiu – não teria poupado os soldados paraibanos que aqui estão presos, e não trataria dos feridos que estão em meu poder. São fatos que saltam aos olhos.

PLANOS DE GUERRILHAS

Perguntei-lhe, então, se pretendia depor o governo.

- Não. Eu não o atacarei. Continuarei a defender-me com toda a energia, certo de que eles aqui não entrarão. Se, por fim, não conseguir defender este reduto, dividirei meus homens em grupos de 50, 100, 200 e entrarei a assolar o Estado, fazendo guerrilhas e emboscadas. Mas creio que nada disse se verificará, por ter o governo de intervir aqui.

Ponderei que a intervenção se podia dar para garantir o governo legal! da Paraíba.

- Não creia – respondeu o Sr. José Pereira. O governo federal fará a intervenção para apaziguar o Estado, retirando do poder o Sr. João Pessoa. Não pode vir contra mim, que tenho sofrido pelo apoio que lhe dei, em favor de um adventício da Paraíba, de um governo que se colocou fora da lei, de um governo realmente ilegal e revolucionário. Nós aqui temos como certa a intervenção do governo federal, que nos dará ganho de causa.

VISITANDO A CIDADE

Fui, logo depois, convidado pelo Sr. José Pereira para uma excursão à linha de frente, em Tavares, o que, infelizmente, não foi possível realizar-se, pela intervenção de outra pessoas. Diante disse, fizemos uma visita à cidade. Fomos à praça Epitácio Pessoa, que o Sr. José Pereira afirmou estar sendo construída a suas expensas. Estivemos nos açudes Macapá e Barão de Ibiapina; andamos pelos arredores, percorrendo edifícios públicos, para, afinal, voltarmos ao ponto de partida.

A certo ponto, querendo provocar uma manifestação do chefe dos rebeldes sobre a atitude da Junta Apuradora da Paraíba, disse-lhe:

- Ninguém, no Rio nem em Recife, mesmo entre os mais exaltados governistas, quis ainda defender o ato da Junta Apuradora da Paraíba, diplomando os oposicionistas.

- Efetivamente – respondeu logo o Sr. Pereira – aquilo foi uma decisão escandalosa, e ninguém esperava tal decisão. Mas não tenha dúvida de que o presidente da República mandará reconhecer os diplomados...

Depois dessa confissão, pouco honrosa, aliás, para o Sr. Washington Luís, o chefe rebelde desconfiou, talvez, que teria avançado em demasia, não mais tocando no assunto, passando a dizer, já respondendo a uma pergunta minha, que, de fato, recorrera ao padre Cícero, pedindo homens e munições, no que não foi atendido. Assegurou, ainda, que não tinha agentes entre os cangaceiros do Ceará, e, nesse diapasão, sempre atacando o Sr. João Pessoa, o coronel José Pereira abordou ainda assuntos de menor importância, até à hora em que, afinal, deixei Princesa, com destino a Triunfo, para passar pela povoação de Patos, onde se travara vivo combate, há pouco.

O Jornal (RJ) - 26.04.1930 

IMAGENS que integram a reportagem: José Pereira - Rua coronel José Pereira, em Princesa - Grupo de homens armados na proximidade da casa de José Pereira - Rua coronel Marcolino Pereira, em Princesa.

Enviado por Antônio Corrêa Sobrinho.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O CANGACEIRO JURITY

Por Juarez Chaves

  

Lampião e Juriti

O cangaceiro baiano Manoel Pereira de Azevedo, oriundo do lugarejo Salgado do Melão, chegou ao bando de Lampião, com o nome de guerra JURITI, mas LAMPIÃO, de imediato, quer trocá-lo por Maçarico, mas o recém chegado cangaceiro rejeita o novo nome por considerá-lo afeminado e impõe a sua vontade de permanecer sendo chamado de JURITI. O capitão, que sempre admirou homens de personalidade e temperamento fortes, não colocou obstáculo ao preito de seu novo comandado e a partir daquele momento passaria para o esquecimento o nome Manoel Pereira de Azevedo para surgir, com todo fulgor, o perverso JURITI.

Era um rapaz de corpo atlético, esguio, louro, cabelos finos, gestos elegantes, boas maneiras, apesar de genioso e perverso ao extremo. A conta criminosa e maldita do cangaceiro de Salgado do Melão foi vasta e adubada com muito sangue e muitas dores. Tempos depois, já famoso e comentado, JURITI leva para a sua companhia a jovem Maria, uma filha de Manoel Jerônimo, vaqueiro da fazenda Picos. Vamos encontrar JURITI e sua companheira Maria no coito de Angico, junto com Virgulino Ferreira, no fatídico 28 de julho de 1938. Naquele dantesco acontecimento muitos bandidos, atônitos e sem saber o que estava acontecendo, só pensavam em fugir daquele inferno. 

Milagrosamente muitos conseguiram sair daquele inesperado abismo que se abateu sobre o grupo bandoleiro. Milagre que não foi possível para onze companheiros, incluindo o maioral, o grande chefe, LAMPIÃO. Do contingente que conseguiu se salvar alguns foram baleados. A luta para transportar os enfermos foi titânica. Os que tinham condições de carregar os feridos não pouparam esforço, mostraram que faziam parte de uma família verdadeiramente unida. Foi com admirável boa vontade e coragem que transportaram seus doentes para locais seguros, onde os mesmos pudessem ser tratados. 

Juarez Chaves
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DELUZ: O MAT4DOR DE JURITY (CANGACEIRO).

Texto Alcino Alves Costa.

Em nossos livros “Lampião além da versão” e “O Sertão de Lampião”, existe em cada um deles um capítulo discorrendo sobre a vida e morte de Deluz e de Juriti, este assassinado cruelmente pelo famoso e temido sargento, então delegado de Canindé de São Francisco. No “O Sertão de Lampião”, a página 269, está o capítulo “A morte do sargento Deluz” e no “Lampião além da versão, a página 345, está o capítulo “Juriti: perverso na vida, valente na morte”.

Sargento Deluz

Amâncio Ferreira da Silva era o verdadeiro nome do sargento Deluz. Nascido no dia 11 de agosto de 1905, este pernambucano ainda muito jovem arribou para o Estado de Sergipe, indo prestar os seus serviços na polícia militar sergipana. Os tempos tenebrosos do banditismo levaram Deluz para o último porto navegável do Velho Chico, o arruado do Canindé Velho de Baixo. Por ser um militar extremamente genioso, violento e perverso, ganha notoriedade em toda linha do São Francisco e pelas bibocas das caatingas do sertão. Dos tempos do cangaço ficou na história, e está registrada no livro “Lampião em Sergipe”, o espancamento injusto que ele deu no pai de Adília e Delicado, o velho João Mulatinho, deixando-o para sempre aleijado.

No pós-cangaço, sem jamais sair de Canindé, também ficaram na história aquelas versões de que os assaltantes de Propriá quando presos eram entregues a Deluz e ele ao transportá-los em canoas que faziam o trajeto Propriá/Canindé, prendia as mãos dos prisioneiros e amarrava uma pedra nos pés dos mesmos jogando-os dentro do rio. Um de seus maiores prazeres era caçar ex-cangaceiro para matá-los sem perdão e sem piedade. Foi o que fez com Juriti, prendendo-o na fazenda Pedra D`água e o assassinando de maneira vil e abjeta jogando-o em uma fogueira nas proximidades da fazenda Cuiabá. Foi em virtude de desavenças com o seu sogro, o pai de Dalva, sua esposa, que naquele dia 30 de setembro de 1952, quando viajava de sua fazenda Araticum para o Canindé Velho de Baixo, se viu tocaiado e morto com vários tiros. Morte atribuída ao velho pai de Dalva, o senhor João Marinho, proprietário da famosa fazenda Brejo, no hoje município de Canindé de São Francisco.

Diz à história que João Marinho foi o mandante, chegando até ser preso; e seu genro João Maria Valadão, casado com Mariinha, irmã de Dalva, portanto cunhado de Deluz, ainda vivo até a feitura desse artigo, com seus 96 anos de idade, completados no mês de dezembro de 2011, foi quem tocaiou e matou o célebre militar e delegado que aterrorizou Canindé e o Sertão do São Francisco.

Lampião e Juriti

Foi o sargento Deluz o matador de Manoel Pereira de Azevedo, o perverso e famoso Juriti. Manoel Pereira de Azevedo era um baiano lá das bandas do Salgado do Melão. Um dia arribou de seu inóspito sertão e viajou para as terras do Sertão do São Francisco, indo ser cangaceiro de Lampião, recebendo o nome de guerra de Juriti.

Este cangaceiro possuía uma aparência física impressionante. O seu porte atlético abismava as mocinhas sertanejas que se derramavam em desejos para receber os seus carinhos e o seu amor. Contrapondo a toda essa atração que despertava nas jovens, Juriti carregava em seu sentimento e em sua alma um extremado pendor para brutais violências; cangaceiro de atitudes monstruosas sentia especial prazer em torturar e assassinar com requintes animalescos as infelizes vítimas que caiam em suas mãos, como aconteceu com José Machado Feitosa, o rapaz de Poço Redondo que ele após torturá-lo medonhamente, o assassinou com uma punhalada em seu pescoço.

Em pouco tempo Juriti angariou extraordinária fama. A fama de ser um cangaceiro que deixava as mocinhas sertanejas loucas de paixão e a fama de ser um assecla perverso ao extremo. Uma menina-moça, chamada Maria, filha de Manoel Jerônimo e Àurea, irmã de Delfina da Pedra D`água, deixou-o alucinado. Aquela ardente paixão foi recíproca. E o jamais imaginado pelos seus pais aconteceu. A menina de Mané de Aura deixou seu lar, seus pais e se jogou no mundo. Os seus sonhos e a sua ilusão era passar a viver nos braços do tão falado e comentado cabra de Lampião.

Na Grota de Angico vamos encontrar Juriti e Maria vivendo aquele instante de suprema agonia. Lampião, Maria Bonita e seus companheiros foram abraçados pela morte. Sem o grande chefe o viver cangaceiro não era possível. Os bandos espalhados pelas caatingas foram se desfazendo. Alguns fugiram e outros se entregaram as autoridades de Alagoas e Bahia.

Juriti seguiu o mesmo caminho de muitos. Após enviar a sua Maria para a proteção do pai e a ajuda do amigo Rosalvo Marinho que a levaram para Jeremoabo, onde ela foi recebida e bem tratada pelo capitão Aníbal Ferreira que deixando o papai surpreso e feliz liberou a sua filha para que com ele retornasse para sua casa e para o aconchego de sua família. Ainda mais. Solicitou a ajuda de Maria, do pai e de Rosalvo Marinho para que ambos fizessem com que Juriti e seus companheiros também viessem se entregar.

Juriti e Borboleta são convencidos pelo amigo da Pedra D`água e também seguem para Jeremoabo onde se entregam ao capitão Aníbal. Recebem o mesmo presente que Maria recebeu. São liberados. Borboleta joga-se na “lapa do mundo” e nunca mais se soube notícias dele. Talvez não esquecendo a sua Maria, Juriti se demora alguns dias no Canindé Velho de Baixo, porém no início de 1939 viaja para Salvador a capital baiana.

Em Salvador consegue trabalhar como vigia de um fábrica. Em 1941 é despedido do trabalho e retorna para o sertão de Sergipe. É seu desejo visitar os amigos da Pedra D`água, obter notícias de sua antiga companheira e seguir viagem para o Salgado do Melão, a sua terra de nascimento. Chegou ao último porto do Baixo São Francisco em uma quarta-feira e seguiu para a fazenda de Rosalvo Marinho, onde se “arranchou” e dormiu.

O sargento Deluz foi avisado da inesperada presença de Juriti na casa de seu cunhado Rosalvo Marinho. O sentimento impiedoso do militar não perdoava ex-cangaceiro. Juriti teria que pagar todos os crimes praticados durante sua vida no cangaço, e ele seria o juiz que iria condená-lo a morte.

Assim foi feito. A quinta-feira amanheceu e ainda muito cedo o café foi servido. Juriti conversa animado com seu amigo Rosalvo. Deluz e seus “rapazes” haviam cercado a casa. Surpreso, Juriti se vê na mira das armas dos atacantes e é imediatamente preso.

Sorrindo, Deluz diz: “Mais qui surpresa! Nunca pensei qui Juriti fosse um pásso tom manso, tom faci de ser agarrado. Teje preso cabra. Eu num quero cangaceiro perto de mim não”.

Juriti se recompõe da surpresa e desafia Deluz, dizendo: “Deluz, você é covardi. Eu sei quem você é. Um covardi. Mostri qui é homi e mi sorte. Só assim você vai ficar sabeno quem sou eu. Vamu, mi sorti, covardi. Você é um covardi”. Amarrado a uma corda, Deluz transporta Juriti na direção de Canindé. Ao chegar a uma localidade chamada Roça da Velhinha, nas proximidades da fazenda Cuiabá, o sargento, friamente, ordena que se faça uma fogueira e quando as labaredas começam a lamber a caatinga e torrar a mataria e o chão daquele triste cenário da vida sertaneja, Juriti é jogado, sem dó e sem piedade no meio do fogaréu. Em poucos minutos o corpo do antigo cangaceiro havia se transformado em um monte de cinzas. Ficando, por várias décadas, como testemunha daquele medonho momento os botões da braguilha da calça de Juriti, além do negrume deixado pelo fogo no local do monstruoso assassinato do antigo Manoel Pereira de Azevedo, do Salgado do Melão.

Saudações cangaceiras!

Alcino Alves Costa (Escritor e pesquisador).

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OS 3 PAPAS PRETOS ESCONDIDOS NA HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA.

 Por Liturgie catholique

Sempre acreditei que nunca houve um papa negro na história da igreja católica. Lembro-me como estudante, nos debates sobre a religião católica, de discutir este tema, de ver um papa negro um dia.

Revirando arquivos num site, descubro com espanto que 3 papas africanos lideram a Igreja Católica desde o Vaticano. Aqui estão eles nesta imagem de arquivo, que vos apresento:

O primeiro chama-se São Vitor 1o, tornou-se o 14o Papa depois de São Pedro, em 189 depois de Jesus. Ele serviu por 10 anos e morreu em 199 depois de Jesus.

O segundo chama-se Saint Miltiad, tornou-se o 32o papa depois de São Pedro, em 311 depois de Jesus. Ele morreu em 14 de janeiro de 314 depois de Jesus e canonizado. A propósito, a liturgia do 10 de dezembro é celebrada em sua honra, mas aos fiéis não serão informados que esse papa é negro.

Finalmente o terceiro tem o seu nome Gelasius Ist, tornou-se papa em 19 de novembro de 492 depois de Jesus. Ele morreu em 19 de novembro de 496 e canonizado em 21 de novembro do mesmo ano.

Notarão que desde a partida deles deste mundo fizemos tudo para apagar os seus vestígios, mas indeléveis.

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