Por Raul Meneleu Mascarenhas
Ex-cangaceiros, fugidos em 1940, sobreviventes do massacre
de Angico, em Sergipe, 1938, quando uma volante alagoana matou 11 cangaceiros,
entre eles Lampião e Maria Bonita, de repente aparecem em um seminário ocorrido
no Teatro Celina Queiroz, na Universidade de Fortaleza, cujo tema girava sobre
o assunto. Eram eles o ex-cangaceiro Moreno e sua esposa Durvinha.
Felizmente o
Cangaço não é mais uma questão maldita e podemos agora falar dele e de seu lado
idílico assim como de fatos de valentia e covardia praticados por eles. Antes,
era ambíguo no sentido de ser rejeitado e condenado, sobretudo pelos que nunca
quiseram compreender essas coisas. Hoje o estudamos, inclusive resgatamos as
figuras heroicas que o combateram.
O Cangaço,
como visão histórica, procurando debater diversas facetas dele, e entre tais, a
cultura do homem daquela época, onde centenas de livros e folhetos nos contam a
saga de Lampião e seus Cabras (a palavra "cabra" empregada no
nordeste em determinadas frases indica e denota valentia) e pode até parecer
estranho, essa enorme aura que paira sobre o assunto onde entra a visão de
"herói popular" tanto para cangaceiros quanto para os que os
combateram, as volantes militares e civis.
Registro as
boas e raras pesquisas a esse respeito, pois o Cangaço até então, tinha sofrido
não só indiferença, mas preconceito de significativos setores da sociedade, onde
em geral aparecia como criminoso, perverso, que em determinados momento o foi,
como apontam estudiosos.
Estivemos no
mês passado, precisamente de 26 a 29 de maio, na cidade pernambucana de
Floresta, no sertão do Pajeú, reunido com escritores, pesquisadores,
historiadores e amantes das coisas nordestinas, onde fomos recebidos
hospitaleiramente pela Prefeita do Município, Sra. Rorró Maniçoba,
Vereadores e população, que nos deram boas-vindas no evento inicial no
auditório da Câmara Municipal.
Nesse encontro
de escritores, historiadores, pesquisadores e estudiosos do cangaço, tive a
honra e a satisfação de receber, por indicação do Curador do Cariri Cangaço, o
amigo Manoel Severo e por aprovação dos Conselheiros, (sem esperar e surpreso
fiquei), o Título de Amigo do Cariri Cangaço, confraria que agrega
uma família de amantes da história nordestina.
Nesse encontro na cidade de Floresta, tivemos mais um grandioso lançamento de
estudo e pesquisa.
Trata-se do livro As Cruzes do Cangaço - Os Fatos e Personagens de
Floresta, dos jovens autores Marcos Antonio de Sá e Cristiano Luiz Feitosa
Ferraz que dissertam sobre os bravos e heroicos homens do Pajeú, que combateram
Lampião e seus cangaceiros.
Para aguçar a sede de conhecimento do assunto, trago aqui um pequeno comentário
sobre a chacina da família Gilo no ataque de Lampião à fazenda Tapera, onde
estivemos e fizemos um documentário da visita guiada pelos autores do livro. (veja aqui - A Chacina da Família Gilo por Lampião).
A narrativa textual sob o título O PREÇO DA TRAIÇÃO, os autores
narram a complexidade do fenômeno sócio histórico dessa família honrada,
habitantes dessa região do município de Floresta, mostrando o ataque à
fazenda Tapera, que foi planejado minuciosamente por Permínio Alves dos Santos,
que recebeu ameaça de Horácio Novaes, acusado de roubo de alguns muares de
propriedade dos Gilo, que se não ajudasse em sua vingança, sua família iria
arcar com as consequências. E Permínio, até então amigo dos Gilo, traiu a
família com medo das ameaças e seduzido por uma quantia oferecida de 200 mil
réis.
Desde o caso triste acontecido na fazenda Patos, no município de
Piranhas, Alagoas, com o extermínio quase que total da família de Domingos
Ventura, tido como coiteiro de Lampião, que também foi uma traição, quando
Corisco os matou e degolou suas cabeças e as mandou para o tenente Bezerra, que
comandou o ataque que dizimou o bando de Lampião, com a morte do mesmo (Veja aqui - A Vingança de Corisco no Palco dos Inocentes) eu não tivera
conhecimento de outro fato tão triste como esse que documentei na Fazenda
Patos.
Pois bem,
voltando ao início desse artigo, onde não podemos esquecer de um palestrante
famoso, o amigo João de Souza Lima, pesquisador baiano, que apresentou
o casal e que falou das mulheres no cangaço, e principalmente de Durvinha onde
foi mostrado trechos do filme de Benjamim Abrahão em
que Durvinha e Moreno aparecem dançando juntos, registramos Moreno,
animado, e que fez questão de levantar e declamar:
"Senhores
e senhoras / a todos eu peço licença / e todos prestem atenção / eu fui um
cangaceiro do grupo de Virgínio / cunhado de Lampião / e todos os cangaceiros
da quebrada do Sertão / eu falo com consciência / com toda satisfação / aqui
dentro do salão / que o sol vai abaixando / vai trazendo a escuridão / eu canto
a noite inteira / e seguro meu rojão"
Então amigos,
hoje podemos estudar, pesquisar e historiar o cangaço com suas consequências,
graças à desmistificação de ser coisas de bandidos, pois também estamos falando
e pesquisando sobre os militares e civis que combateram o cangaço e o
exterminaram.
Hoje convivemos com familiares de cangaceiros e volantes que
os combateram, irmanados todos, pelo conhecimento da história. Nesse encontro,
assim como outros que tivemos, foi uma alegria de encontrar novamente a filha
de Durvinha e Moreno, a amiga Neli, que abrilhanta nossos encontros do Cariri
Cangaço com sua alegria contagiante.
Os textos de José Lins do Rego, João Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, que nos
falam sobre os nordestinos; e as pesquisas de autores também famosos, tais
como; Frederico Pernambucano de Melo, Antônio Amaury Corrêa de Araújo,
Rachel de Queiroz, Ranulfo Prata, Maria Christina Matta Machado, Alcino Alves
Costa, João de Sousa Lima, Rodrigues de Carvalho, Luitigarde Oliveira
Cavalcanti Barros, entre outros, desmistificam a exclusão do cangaceirismo do
século 19 entre a importância histórica desses fatos, quando nos contam a saga
de cangaceiros, coiteiros, volantes e do povo heroico que combateu de igual
para igual, os facinorosos bandidos.
http://meneleu.blogspot.com.br/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com