Seguidores

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A cangaceira Lili


Neli Conceição é filha dos ex-cangaceiros Moreno e Durvalina. Este casal de cangaceiros foi o penúltimo a deixar a vida de facínora no dia 02 de Fevereiro de 1940.

Moreno e Durvalian

No meio de tantos sofrimentos dentro da caatinga, Moreno e Durvalina conseguiram sobreviver, e já livre de perseguições, mas no anonimato, o casal de cangaceiros nunca revelou aos seus filhos a vida que levava antes. É aquele velho ditado: "Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço" 

Corisco e Dadá

Mas os últimos cangaceiros que resistiram até o dia em que foram pegos pelas armas do tenente Zé Rufino, foram: Corisco, que foi assassinado no dia 25 de Maio de 1940, quando caiu na mira das armas deste militar e perseguidor de cangaceiros. E sua companheira Dadá, que foi poupada neste dia, mas perdeu uma das penas, tendo sido atingida por balas. Dadá só faleceu no ano de 1994, morte natural.


Quando Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião  foi assassinado juntamente com a sua rainha Maria Bonita e mais nove cangaceiros, alguns cangaceiros tentaram continuar o movimento do capitão, mas não tinham experiência para este fim, além disto, as pressões dos governos que ordenavam o extermínio total dos facínoras, e a partir daí, muitos resolveram caminhar para a rendição lá em Jeremoabo. 

Maria Bonita e Lampião
 
Alguns filhos de cangaceiros destacaram-se diante dos escritores e pesquisadores, mas de todos, quem mais brilhou e continua brilhando,  é a Neli Conceição ou a "Cangaceira Neli". 

 

Ela é conhecida no Brasil e no mundo inteiro, por ter participação junto aos estudiosos, eventos promovidos por estes que organizam a literatura lampiônica.

Se você quiser contatar-se com a nossa amiga Neli Conceição, basta acessar a sua página no facebook: Neli Conceição.

Moreno, José Geraldo Aguiar e Durvalina

A mãe de Neli Conceição, a Durvalina faleceu no ano de 2008, de AVC,  e o cangaceiro Moreno faleceu no dia 6 de Setembro de 2010, com 100 anos de idade.

Túmulo do casal de cangaceiros: Moreno e Durvalina

Fotos gentilmente cedidas pela a cangaceira Lili.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A Última Vontade de Izaias Arruda



João Tavares Calixto Júnior

“– Responda-nos1, agora, Dr2: pessoas vindas de Aurora informam-nos de que, depois de operado, em face de dois projéteis extraídos, Izaias Arruda teria pronunciado, dirigindo-se a um de seus irmãos3: Limpe estas balas, ponha-as num envelope e mande-as para o Júlio Ibiapina4. Diga-lhe que os seus desejos foram satisfeitos”.


1 – Entrevista realizada por Mário de Andrade, publicada por Jáder de Carvalho na edição de 14 de agosto de 1928 de A Esquerda, periódico oposicionista de Fortaleza.

2 – Dr. Virgílio Gomes, 2º Delegado de Fortaleza à época. Foi comissionado pelo Secretário de Polícia do Estado para presidir o inquérito do assassinato do Prefeito de Missão Velha Izaias Arruda de Figueiredo.

3 – Antônio Arruda, irmão mais velho de Izaías, filho do primeiro casamento de seu pai. Ex-vereador em Missão Velha, tinha participação ativa nas peripécias de Izaías.

4 – Júlio de Matos Ibiapina. Professor, escritor, membro da Academia Cearense de Letras. Fundou, em 1924, o jornal oposicionista O Ceará, que durou até 1930, quando fundou A Nação. Ém O Ceará foi publicada a histórica fotografia de Izaías Arruda deitado sobre uma mesa, na casa de Dona Felisbela de Augusto Jucá, na Rua da Estação em Aurora, logo após os disparos que lhe tirariam a vida, curta, polêmica e tumultuada.

Fonte: João Tavares Calixto Júnior
http://lavrasce.blogspot.com.br

http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A BIOGRAFIA DE UM GRANDE SERTANEJO

Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

Distante das recentes polêmicas envolvendo os escritos biográficos, onde parte das figuras públicas pretende que suas vidas sejam relatadas apenas pelo lado positivo e despolemizado, no último dia 1º de novembro foi lançada, na cidade de Poço Redondo, a biografia de um grande sertanejo: Alcino Alves Costa. A autoria é de Rangel Alves da Costa, seu filho, e articulista que assina acima.

Alcino, ou “O Caipira de Poço Redondo” ou ainda “O Vaqueiro da História”, como se identificava em alguns textos, falecido em 1º de novembro de 2012, aos 72 anos, certamente não acolheria a polêmica das restrições biográficas. Pelo contrário, sorriria o seu sorriso largo como agradecimento pelo reconhecimento de suas realizações enquanto cidadão sertanejo, autodidata, mas que trilhou pelos caminhos da pesquisa para oferecer ao povo as raízes de sua história, suas lutas, suas crenças e sua fé.

Como no poema drummondiano, Alcino um dia teve ouro, riquezas, influência política, mas todo esse passado de poder e posses se transformaria apenas em um retrato na parede. Mas que não lhe doía. E não lhe amargurava porque abandonou os meandros do poder e da política para enveredar de vez pelas trilhas da história sertaneja e, mesmo sem ter tal pretensão, se tornar seu guardião maior. Daí em diante sua grande riqueza passou a ser seus escritos.

A saga do povo sertanejo era o seu exercício de toda hora. E assim fez até suas forças permitirem. Com seu jeito sempre cativante de ser, sempre calçado nas suas inconfundíveis havaianas, cortando as ruas de seu Poço Redondo ou recebendo amigos de outras plagas enquanto ouvia Tonico e Tinoco, acabou se transformando em referência obrigatória acerca de tudo que dissesse respeito a sertão. E alguém já lembrou que poucas pessoas receberam tantas homenagens em vida como as que Alcino havia recebido. E foram realmente muitas.

 

Verdade é que o político escondia no seu verso uma outra feição muito mais prazerosa de lidar, que era a de pesquisador, poeta, colecionador de vinis da autêntica música caipira, apaixonado pela história cangaceira. O seu tio materno, Zabelê, cangaceiro do bando de Lampião, lhe servia de orgulho e inspiração. Foi a partir do interesse pelo destino do tio que foi cavando as raízes cangaceiras até se tornar num dos mais respeitados historiadores sobre o tema.

Não conformado com as mesmices nem com as inverdades escritas e asseveradas em torno da saga bandoleira, Alcino se propôs a dar outra feição à história. E conseguiu logo no primeiro livro publicado: “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”. E mais tarde surgiram “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”. Mas guardava escritos para muitos outros livros discutindo, contando e recontando, o percurso daqueles valentes e tantas vezes incompreendidos homens das caatingas e dos carrascais agrestinos.

Trouxe ao presente o conhecimento de personagens importantes da história nordestina; procurou desvendar os mistérios de Angico e da epopéia lampiônica, e com isso se tornou um dos escritores mais lidos e requisitados do fenômeno cangaço; colocou a música caipira e a viola cabocla no seu devido lugar de importância e reconhecimento. Revisitando seus arquivos, percebi o quanto de sertão existente em livros, recortes, correspondências, manuscritos, fotografias. Sertão, talvez este seja também outro nome de Alcino.

Tantas realizações não poderiam ficar apenas na memória do seu povo, nas recordações dos amigos. Como filho, desde muito que já escrevia sobre sua obra. Esforcei-me ainda mais depois que as enfermidades lhe acometeram e já tinha ciência do que não demoraria a acontecer. Eis que quando o inevitável foi anunciado, a sua trajetória de vida já estava quase toda escrita. Depois de concluída, escolhi o título mais apropriado: Todo o Sertão num só Coração - Vida e Obra de Alcino Alves Costa.

Com 288 páginas, a obra está dividida segundo as muitas artes ou os muitos afazeres do biografado. Vai desde o nascimento, em 1940, às homenagens póstumas. Daí que aborda o homem sertanejo, o político, o poeta e compositor, o pesquisador e escritor, bem como sua apaixonada e contínua busca pela história nordestina, onde se sobressaem as vinditas de sangue, o mundo cangaceiro e coronelista, as estradas ladeadas por jagunços e fanáticos, toda a saga de um povo. Tais foram os aspectos mais pesquisados e abordados por Alcino na sua literatura.

A biografia é, pois, a história desse grande sertanejo. Do Alcino prefeito por três vezes de seu município; do homem simples que buscou nas raízes sertanejas a motivação para a pesquisa e a escrita; do radialista do programa “Sertão, Viola e Amor”; do escritor da saga cangaceira e de tantos outros livros; do compositor gravado por artistas famosos. Mas principalmente do Alcino que incutiu nas jovens mentes poço-redondenses a importância da valorização de sua história e a preservação de sua cultura.

O livro poderá ser adquirido com o próprio autor na Av. Carlos Bulamarqui, 328, Centro, em Aracaju. Contato através do email: rac3478@hotmail.com

Poeta e cronista
 blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

FOTOS DO CANGACEIRO ANTÔNIO SILVINO NO RIO

Publicado em 10/11/2013 por Rostand Medeiros
 

O ex-cangaceiro Antônio Silvino (marcado na foto) no porto do Rio de Janeiro e chamando muita atenção. Ele desembarcou do navio italiano SS Conte Grande, da empresa de navegação Lloyd Sabaudo Line.

Autor – Rostand Medeiros

Algum tempo após a sua libertação da Casa de Detenção em Recife, o agora ex-cangaceiro Antônio Silvino esteve visitando o Rio de Janeiro, então Capital Federal. Vejam algumas fotos.

O prisioneiro Manuel Baptista de Morais, o Antônio Silvino 
O prisioneiro Manuel Baptista de Morais, o Antônio Silvino

Deixando a detenção em Pernambuco  

Deixando a detenção em Pernambuco

Antônio Silvino prestes a desembarcar 

Antônio Silvino prestes a desembarcar


AS 1938 (8) 

Quando esteve no Rio, houve um encontro entre Antônio Silvino e Getúlio Vargas, onde o ex-cangaceiro pediu um emprego. 

Quando esteve no Rio, houve um encontro entre Antônio Silvino e Getúlio Vargas, onde o ex-cangaceiro pediu um emprego.

Quando foi entrevistado pelos jornalistas cariocas, o velho cangaceiro contou como realizou uma interessante mudança urbanística na pequena vila potiguar de Jardim de Piranhas. Vejam a íntegra da notícia.  

Quando foi entrevistado pelos jornalistas cariocas, o velho cangaceiro contou como realizou uma interessante mudança urbanística na pequena vila potiguar de Jardim de Piranhas. Vejam a íntegra da notícia.

Antônio Silvino faleceu em 1944, em Campina Grande 

Antônio Silvino faleceu em 1944, em Campina Grande


Todos os direitos reservados


É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros 

http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/11/10/fotos-do-cangaceiro-antonio-silvino-no-rio/

O deleite de Volta Seca - O Pasquim encosta na parede O "Jésse James" do nordeste . Parte I


Quando a estrada chegou ao Sertão um tipo de banditismo e rebelião estava fadado a desaparecer. O cangaço morreu de morte natural, substituído por outros tipos mais sofisticados de rebelião e assim vai a vida e assim todo o mundo e a Lusitânia. Alguns homens, poucos, sobraram para contar a história. Entre eles a figura pequena, frágil e ainda perplexa de Volta Seca, que matou pela primeira vez aos 10 anos, entrou para o bando de Lampião aos 11 e foi preso e condenado à prisão perpétua (minto, há 145 anos) aos 14. Aqui está ele, entrevistado pelos cabras D'o pasquim, lembrando a dor, a injustiça, a luta contra a morte dia a dia, revivendo as angústias do Sertão na paz de uma casa em Santa Cruz (zona rural do Rio), cercado pela mulher e pelos 13 filhos. (Millôr) 

Millôr - Nós estamos aqui com o maior entusiasmo para entrevistar Volta Seca, uma das figuras históricas do movimento de rebeldia do início do século, no Norte do País. Volta Seca, você nasceu no Sergipe, em que ano, hein?

- Eu nasci em 1918, dia 13 de março.  

Millôr - Você entrou para o bando de Lampião com que idade?
- 11 anos.
 

Millôr - Qual foi o motivo principal que levou você a entrar no bando de Lampião?

- Foi quando eu perdi minha mãe. Meu pai, depois de uns seis meses, mais ou menos, arranjou ama dona e botou dentro de casa. E essa dona, então, queria maltratar as minhas irmãs... 

Jaguar - Vocês eram quantos em casa?

- Nós, em casa, era doze.   

Ziraldo - Então você ganhou de seu pai.

- Ganhei!?  

Ziraldo - Você tem 13 filhos. né? Quer dizer que você ganhou de seu pai de 13 a 12, né?

- Ganhei, então. Bom, eu achei que aquilo não estava correndo ama coisa certa. Porque, para bater nos filhos, só mesmo os pais... Ela pegou um tamanco e jogou na cara da minha irmã. Eu não gostei. Aí, eu fui pra falar com ela e ela achou que tava ruim. Aí eu peguei o tamanco e joguei na cara dela também. E daí eu dei o fora. 

Ziraldo - Sua mãe morreu de quê?

- Minha mãe morreu doente na cama mesmo.

 Millôr - Que profissão tinha o seu pai?

- Meu pai era lavrador.

Millôr - Ele tinha alguma terra?

- Tinha muita terra, tinha muita terra, mas foi indo... homem casado duas vezes, né? Então... ele também morreu, já bem velhinho. 

Millôr - Vocês viviam bem enquanto ele estava vivo?

- Bem, multo bem. Nós vivia bem mesmo. Nunca passamos necessidade nenhuma. Mas no dia que a minha mãe morreu... Desse dia, acabou tudo...

Millôr - Você já tinha escola com 11 anos?

- Nunca tive nada. Nada... 

Millôr - Você hoje sabe ler e escrever?

Não. O que eu sei apenas é assinar meu nome. E alguma bobagenzinha assim... 

Jaguar - Fazer conta, cê sabe?

- Conta? Ora, com efeito. 

Millôr - Aí você saiu pelo mundo e foi para onde? Pra Aracaju?

Não, eu saí pelo mundo sem destino. 

Ziraldo - Você fugiu de casa?

- Perfeito. 

Millôr - Você morava a que distância de Aracaju?

- A seis léguas. Em Itabaiana Grande. 

Millôr - Você saiu a pé, levou algum dinheiro, alguma coisa?

- Nada, nada. Só a roupa do corpo. 

Millôr - E comia, e vivia, como?

- Eu chegava naquelas fazendas e eles me davam comida. Eu procurava um dia de trabalho, ia trabalhar. Mas o trabalho era muito pesado, num dava pra mim. Eles arrumavam pra eu vender doce. No fim não me pagavam também, dizia que o trabalho que eu fazia de vender doce era somente pra comida. Adespois, eu saí pelo mundo sem destino. porque não tinha ninguém por mim. Só Deus. O velho, depois, mesmo cansado, viu que tava errado e foi em busca de mim. Mas, eu nem quis voltar mais. 

Ziraldo - O seu pai chegou a te chamar, a conversar com você?

- Uns dois anos depois ele me achou. Eu estava em Cemandiase. 

Jaguar - Ainda tava trabalhando de biscates?

- Não, eu já andava carregando água em animal, para me manter. Ganhava dois tostões por dia, três tostões. E sempre me virando. 

Ziraldo - Você ai, tinha onze anos.

- Não, ai eu tinha menos. Eu saí de casa quando tinha nove anos. 

Millôr - Você entrou para o bando em 1929. Lampião já era famoso, tinha mais de 10 anos de cangaço, e já era o terror de todo aquele lugar.

- Ele era conhecido por todo mundo. Mas eu mesmo não conhecia ele.  

Millôr - Mas você já tinha ouvido falar, né?

- Ouvia falar que existia aquele homem e tal, com aquela turma toda...
Millôr - O lugar em que você vivia, não era aterrorizado por Lampião?


- Não. Nem nunca foi lá; Eles não sabia, de nada disso. 

Na próxima postagem: "Irmã de Volta Seca é abusada sexualmente e  Volta Seca vinga".

Um abraço a todos, e valeu pela atenção

Ivanildo Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC


http://lampiaoaceso.blogspot.com.br
http://blogdomendesemendes.blogspot.com