Por Ana Lucia G. de Souza
Há 73 anos na fazenda Angico pertencente ao então município de Porto da Folha, Estado de Sergipe, ocorreu o duro massacre em que Virgulino Ferreira da Silva, Maria Gomes de Oliveira e mais nove cangaceiros, tombaram sem vida naquela manhã chuvosa, numa quinta-feira do dia 28 de Julho de 1938.
Capitão Lampião, como preferia ser chamado, recebeu esta falsa patente em Juazeiro do Norte, Ceará, quando convidado a comandar o Batalhão Patriótico para combater a Coluna Prestes, teve uma vida intensa de escaramuças, agitações, desassossegos, perambulando de valhacoutos em valhacoutos fugindo das volantes, praticando seus atos de violência e ao mesmo tempo um pouco de paz. Lampião era um homem extremamente inteligente, estrategista, sabia usar muito bem de sua astúcia e traquejo social para conseguir auxílio de pessoas influentes da sociedade, de muitos sertanejos, coronéis, políticos da região e de outros Estados em que ele atuava que, mediante troca de favores, obtinha o que quisesse inclusive armas e munições para manter o grupo.
Nessa troca de favores e serviços, a figura do coiteiro, indivíduo importantíssimo em que Lampião depositava toda confiança e ao mesmo tempo desconfiança, era o que mais se valia. O coiteiro era quem levava e trazia mensagens, abastecia o grupo de alimentos, bebidas, pequenos objetos, dava notícias das movimentações das volantes, ou seja, era uma pessoa que prestava diversos serviços mediante um bom pagamento. Lampião e seus sequazes percorreram por sete Estados nordestinos e por todos esses Estados, era necessário e indispensável os serviços de um coiteiro para sua própria sobrevivência, Mas a traição de um deles, levou o fim do Rei do Cangaço.
Os Estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Paraíba, foram os que mais sofreram com as investidas, saques, depredações e mortes praticadas por este bandoleiro e os Interventores e volantes com seus planos e táticas tentando aniquilar incansavelmente este grupo e subgrupo de cangaceiros tão bem municiado e atuante.
Nessa trajetória de combates, recuos e inatividades, Lampião teve muitas mortes anunciadas pelo governo de forma precipitada, afinal, o grande chefe e seu grupo sabiam misteriosamente desaparecer e aparecer quando queriam e sua morte foi cercada por muitos mistérios. Mistério com várias versões colocadas, afirmadas e contestadas como a versão do envenenamento, por exemplo, aceitada por muitos e descartadas por outros. Mas a versão que prevalece e indubitavelmente mais aceita como oficial, é o massacre ocorrido no fatídico dia 28 de Julho de 1938 em que 11 cangaceiros foram mortos a tiros, suas cabeças cortadas e colocadas em latas de querosene com álcool e sal para serem desfiladas nas cidades por onde eles praticaram todos os atos de violência, com também mostrar a população que Lampião finalmente foi pego e morto com o seu bando. Seus corpos foram deixados no local, vilipendiados, seus pertences disputados como troféus, um horror. Este massacre ocorreu na Grota, grota de Angico e não gruta como muitos relatam. Um lugar inóspito, cercado de espinhos, de pedras e com uma única saída.
Quem matou Lampião, Maria Bonita e seus companheiros? Foi o dinheiro deles!!!! diziam as volantes. Na verdade, muitos fatores contribuíram para que sua morte fosse apressada: Getúlio Vargas irritou-se com a divulgação e projeção do filme feita pelo mascate libanês em 1936 mostrando o cotidiano deste bandoleiro que posava despreocupadamente com seu poder de liderança perante a polícia e os poderosos do sertão. Então como moldar um Estado Novo com um homem que se dizia “governador do sertão” e desafiava o Governo Federal?
Benjamin Abraão, Maria Bonita e Lampião
O próprio Benjamim Abraão Calil Boto, o produtor do filme e imagens fotográficas, contribuiu indiretamente para a morte de Lampião filmando e fotografando o bandido de todas as formas. Seu nome era manchete diária em jornais e revistas da época mostrando suas peripécias e sagacidade em tudo que fazia.
O primeiro tiro dado pelo soldado Abdon Cosmo, iniciou o fim do reinado de Virgulino Ferreira. O Lampião se apagou. O líder e comandante das caatingas morreu. Foram quase vinte anos no comando sendo respeitado e admirado por todos. Passou para a História como um dos homens mais biografados do mundo. Virou lenda, virou mito. Foi um grande personagem da História do Brasil.
Ana Lucia G. de Sousa é historiadora e pesquisadora.
Publicado em 2011