Uma figura importante que foi em Mossoró, Francisco Celeste Guimarães. Um grande e respeitado sindicalista. Por alguns anos, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Mossoró. Um homem que tinha consideração aos seus amigos.
Por duas vezes, ele e eu, fomos ao sítio São francisco que pertence ao meu pai Pedro Nél Pereira, na intenção de rever seu velho amigo Nilton Mendes (meu irmão), que por alguns anos, haviam trabalhados juntos, na mesma empresa.
Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.
Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.
O autor José Bezerra Lima Irmão
Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.
Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.
Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.
Destaca os principais precursores de Lampião. Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.
Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados. O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:
Água Branca é
uma pequena localidade do Estado de Alagoas, situada perto do rio Moxotó. A
principal moradora do município, no ano de 1922, era a Dona Joana Vieira Sandes
de Siqueira Torres, a Baronesa de Água Branca. Virgulino Lampião há tempos
vivia pedindo dinheiro à Baronesa, e esta de pronto respondia: "Tenho
vinte contos, mas é para comprar de munição para o couro dele!".
Diante da
negativa da Baronesa, Lampião planejou um assalto à cidade de Água Branca.
Claro, ele esperou um ano depois da resposta da Baronesa, pois ela havia
enchido as ruas de policiais, temendo alguma ação do cangaceiro. Desfeita a
tensão, Virgulino enviou um espião à feira de Água Branca, a fim de verificar
as forças policiais. Enquanto isso, Lampião esperava as notícias em Bom
Conselho de Papacaça. Depois de ficar informado sobre a situação de Água Branca,
Lampião rumou em direção ao município. Foram quatro noites de viagem, sendo que
os dias serviam para o descanso de Lampião. Na tarde do dia 27 de junho de
1922, o cangaceiro tomou um sítio não muito longe de Água Branca e obrigou o
dono a fazer compras na cidade.
Deu-lhe
dinheiro e uma lista, que continha cigarros, fósforos, esteiras de pipiri, duas
redes brancas e uma lata de tinta vermelha. Para ter certeza que o dono do
sítio ficasse em silêncio, Lampião manteve a família dele como refém. Caso
abrisse o bico, Lampião prometeu judiar e até mesmo matar todos os familiares.
Lampião
dividiu seu bando estrategicamente. Quatro duplas se formaram para fazer o
bloqueio das entradas da cidade e ali ficarem até o término do assalto. Os
outros dez cangaceiros encheram as duas redes compradas no comércio com armas e
munições.
A lata de
tinta vermelha serviu para pintar as redes, dando assim a impressão de sangue
de morto. Ao amanhecer do dia 28, os dez cangaceiros entraram em Água Branca,
carregando as redes com os dois 'defuntos'. Estacionaram em frente ao quartel
da cidade e avisaram ao soldado de vigia: "isto foi dois que nós achou
morto e truxemo para fazer o corpo delito".
O vigia os
convidou para entrar e esperar, enquanto ele iria acordar um outro soldado numa
casa vizinha. Quando o vigia saiu atrás de ajuda, os cangaceiros trataram de
pegar as armas escondidas dentro das redes e esperam a volta para dar o bote.
Quando os
guardas voltaram, Lampião mostrou as armas e disse: "o defunto é esse,
visse?". Lampião soltou vinte presos e no lugar deles prendeu todos os
guardas. Obrigou ainda ao corneteiro dar toque de reunir. Ao todo, Lampião
enjaulou mais de trinta soldados e roubou todas as armas e munições, que logo
foram distribuídas entre os ex-prisioneiros.
Agora Lampião
contava com trinta homens armados prontos para o assalto. Os cangaceiros
tomaram as ruas e acordaram os moradores com tiros. As casas e as lojas dos
mais ricos foram sendo saqueadas uma por uma. A Baronesa foi a que sofreu o
maior prejuízo: trinta contos de réis em dinheiro, ouro, jóias, roupas e vinte
e cinco cabras leiteiras. Após o saque, a Baronesa ainda seria humilhada a
passear de braço dado com Lampião pelo meio das ruas da cidade. Água Branca foi
a primeira vez em que os cangaceiros, vibrantes e entusiasmados pela vitória,
cantaram o hino de guerra "Mulher Rendeira", um xaxado ritmado pela
batida forte dos rifles batendo no chão: "Olê mulé rendeira/ olê mulé
rendá/ tu me ensina a fazer renda/ que eu te ensino a namorar".
Maria dos Anjos, uma mocinha
com pouco mais de 16 anos. Moreno claro, de olhos negros, cabelos longos e pretos. Era uma verdadeira "Iracema". Ninguém resistia
ao seu olhar atraente, já imaginava coisas... Além do mais,
tinha umas lindas coxas. Coisa de menina bonita. Nem parecia ser filha de um
homem feioso, magro, cabeça de coco, poucos dentes naturais, e alguns havia
adquirido no protético prático do bairro. Totalmente desajeitado, como era
o seu pai, o Elesbão.
https://br.pinterest.com/pin/388013324151918479/
Certo dia, chegou do Rio de Janeiro um militar, o João Prado, todo enfiado
num uniforme do exército brasileiro. Era cearense da gema, mas desde menino que
veio para Mossoró, em companhia dos pais. Aqui cresceu, e daqui foi servir o
exército no Rio de Janeiro. Ao ver a linda mocinha, que não havia presenciado a
rápida mudança em seu corpo, a desejou de corpo e alma.
Os pais do João Prado eram vizinhos dos pais da Maria dos Anjos,
mas as amizades entre eles eram restritas, apenas algumas vezes faziam
reuniões nas calçadas.
Nesse dia, o João Prado chegou a prosear com dona Isabel, a mãe da Maria
dos Anjos, sobre a beleza da sua filha, chegando
a mandar-lhe um recado, que fosse se arrumando que iria levá-la para
Copacabana.
Nos anos setenta, em Mossoró, existiam várias casas de prostituição no chamado "Alto do Louvor" como: Coimbra, Brasília, Pernambucana, Casablanca, Ideal, Las Vegas, Brahma, Arpege e Diacuí – todos nomes com referências a lugares, filmes, bebidas, sinônimos, na época, de atualidade e sofisticação, e uma das boates mais faladas em Mossoró, era Copacabana com o seu sofisticado aparato à clientela.
Alto do Louvor - https://www.omossoroense.com.br/alto-do-louvor-em-mossoro-para-uma-historiografia-da-zona-mossoroense/
Assim que dona Isabel chegou em casa, participou a Elesbão, a brincadeira
que o João Prado dissera com sua filha, que fosse se arrumando, que iria
levá-la para "Copacabana", e lá, ambos, iriam viver um belo
romance.
Elesbão ao ouvir a brincadeira do João Prado, contada pela sua esposa, a Isabel,
não disse nada, ficou calado, apenas tentando engolir o ódio que
atravessava em sua garganta, sobre o desrespeito do João Prado com a sua
filha. Ficou a imaginar que aquele sujeito metido a
galã, estava pensando que iria passar a perna sobre sua mocinha. Ele estava
totalmente enganado. Sim Senhor! Aquela menina era criada com carinho, única e nada lhe faltava. Era pobre, mas filha de um senhor honrado e
trabalhador.
Várias e várias vezes saíra de casa ao clarear do dia para o seu sofrido emprego, lá na Avenida Alberto Maranhão, no Alto da Conceição, e se internar o dia inteiro na fábrica de óleo do Aderaldo, só para dar a sua filha o que ele não tivera quando em companhia do seu velho pai.
Aquele sujeito só porque estava de uniforme do afamado exército brasileiro, agora se sentia como se fosse um galã de cinema, o Jiuliano Gemma, um dos melhores artistas de cinema em décadas passadas.
Ou o velho Antonio Stefeni, com o seu maravilhoso filme "Um Homem Chamado Django", que fez bastante sucesso no passado do século XX, ou ainda um jovem querendo imitar o famoso Matt Damon, no seu romântico filme "Dio, Come Ti Amo". Mas ele se enganara por completo. Sua amada
filha tinha um pai para protegê-la.
Ao anoitecer, Elesbão foi até à bodega do Valentim, também próxima ao Alto do
Louvor; tomou umas quatro ou dez cachaças, não sei, e já meio tonto, foi em
casa, pegou uma faca, mais uma ponta de mangueira grossa, enviou-as na cintura, e foi ao encontro do João Prado, que no momento, palestrava em uma
das casas amigas.
Ao
chegar, perguntou ao dono da casa, o Tiago das Oiticicas, como era chamado
no bairro:
- João Prado
está aí, seu Tiago?
- Está -
respondeu Tiago das Oiticicas.
- Chame ele
por favor!
- João Prado,
Elesbão quer falar com você! - Gritou seu Tiago lá pra dentro da
casa.
E lá se veio
inocentemente o João Prado.
- O que deseja,
Seu Elesbão?
- João Padro,
eu vim aqui porque você mandou um recado pela Isabel, para minha filha Maria dos Anjos, que fosse se arrumando que iria levá-la para o
Copacabana. Como ela não pode vir, então eu vim para ir junto
com você ao Copacabana.
E sem mais
pensar, tirou o pedaço de mangueira da cintura, mais a faca e enfiou-se atrás
do João Prado, descendo a ladeira do Alto do Louvor. E tome mangueira, e
tome peia, e tome peia. Na carreira, as passadas do João Prado atingiram
dois metros de distância, igualando as do seu agressor. Mas à frente,
depararam-se com um muro de dois metros. Mas o agredido não contou conversa,
saltando-o de uma vez só. Nem precisou colocar as mãos sobre ele
para se apoiar e facilitar o impulso. Foi aí que Elesbão
resolveu não arriscar pular o alto muro.
Enquanto o
Elesbão perseguia o João Prado, os amigos do Elesbão corriam atrás
dele, para que não realizasse o assassinato. E gritavam assustadoramente:
- Não faça
isso, Elesbão! Não faça isso..., pelo amor de Deus, homem de Deus!!!
Dias depois, o
João Prado retornou às pressas para o Rio de Janeiro, e nunca mais botou
os pés em Mossoró.
O Elesbão não
sabia que o Copacabana que o João Prado se referia é uma praia no Rio de
Janeiro. Ele pensava que o rapaz estava desconsiderando a sua
filha, querendo levá-la para o meio da prostituição, no cassino de
Mossoró, "Copacabana".
Minhas simples
histórias
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