By Rostand Medeiros
A peça aqui apresentada foi realizada pelo grande mestre ceramista Vitalino Pereira dos Santos (1909 – 1963), mais conhecido popularmente como Mestre Vitalino.
Foto obtida a partir do exemplar do jornal "A Gazeta", edição de sábado, 6 de janeiro de 1962, São Paulo-SP - Fonte - Coleção do autor
Filho de humildes lavradores, Vitalino passou a desenvolver a partir dos 6 anos de idade a modelagem de bonecos de barro de pequenos animais para servirem como seus brinquedos. Utilizava como matéria prima as sobras do barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos como panelas, recipientes e pratos, que eram vendidos na feira de Caruaru.
Com o tempo passou a representar o meio em que vivia, o modo de vida do nordestino que vivia no interior de Pernambuco e as suas manifestações folclóricas. Este tipo de retratação é conhecida como arte figurativa.
Certamente o jovem Vitalino ouviu muitas histórias de acontecimentos relativos a passagens dos bandos pela sua região, principalmente as ligadas a figura de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.
Não sei se vivendo próximo a Caruaru, ouve alguma oportunidade de Vitalino ficar frente a frente de algum grupo cangaceiro, ou se teve oportunidade de conhecer o “Rei do Cangaço”. Mas como Lampião adorava ser fotografado, certamente Vitalino teve oportunidade de visualizar a sinistra figura e criar um boneco deste cangaceiro através de sua peculiar arte, como o apresentado aqui nesta foto.
Mestre Vitalino - Fonte - http://www.nordesteweb.com/
Não sei maiores detalhes da peça apresentada na primeira foto do artigo, nem onde a mesma se encontra, mas percebo que ela é bem distinta de outras peças do Mestre Vitalino que retratam o cangaceiro Lampião.
Mas Vitalino não era apenas ceramista, na década de 1920, a banda Zabumba Vitalino, da qual é o tocador de pífano principal.
Depois muda-se para o povoado Alto do Moura, para ficar mais próximo ao centro de Caruaru. Ele mesmo ensinava as técnicas aos seus amigos “bonequeiros”, como se auto denominavam. Mostrava como escolher o barro, socar, peneirar, secar , queimar no fogo à lenha e a como modelar.
Vitalino fotografado pelo francês Pierre Verger - Fonte - http://www.hak.com.br/
Oferecendo seu trabalho na feira de Caruaru, sua atividade como ceramista permanece desconhecida do grande público até 1947, quando o desenhista e educador Augusto Rodrigues (1913 – 1993) organiza no Rio de Janeiro a 1ª Exposição de Cerâmica Pernambucana, com diversas obras suas. Segue-se uma série de eventos que contribuem para torná-lo conhecido nacionalmente e são publicadas diversas reportagens sobre o artista, como a editada pelo Jornal de Letras em 1953, com textos de José Condé, e na Revista Esso, em 1959.
Em 1955, integra a exposição Arte Primitiva e Moderna Brasileiras, em Neuchatel, Suíça. O Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais e a Prefeitura de Caruaru editam o livroVitalino, com texto do antropólogo René Ribeiro e fotografias de Marcel Gautherot (1910-1996) e Cecil Ayres. Nessa época, conhece Abelardo Rodrigues, arquiteto e colecionador, que forma um significativo acervo de peças do artista, mais tarde doadas para o Museu de Arte Popular, atual Museu do Barro de Caruaru.
Mestre Vitalino, em 1960, realiza viagem ao Rio de Janeiro e participa da Noite de Caruaru, organizada por intelectuais como os irmãos João Condé e José Condé, ocasião em que suas peças são leiloadas em benefício da construção do Museu de Arte Popular de Caruaru. Participa de programas de televisão e exibições musicais, comparece a eventos e recebe diversas homenagens, como Medalha Sílvio Romero. Nessa ocasião, a Rádio MEC realiza a gravação de seis músicas da banda de Vitalino, lançadas em disco pela Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro na década de 1970. Em 1961, atendendo a pedido da Prefeitura de Caruaru, doa cerca de 250 peças ao Museu de Arte Popular, inaugurado nesse ano.
Lampião de Mestre Vitalino, exposta no Museu de História e Artes do Estado do Rio de Janeiro - Fonte - http://www.hak.com.br/
Sua obra principal compreende mais de cem peças de diversos tamanhos feitas de massapé, extraído do rio Ipojuca, que se encontram nos principais museus do país. Destacam-se Casa de Farinha, Zabumba, Lampião e Vaquejada. Assina, a partir de 1949, peças marcadas com o carimbo VPS.
Em 1971, é inaugurada no Alto do Moura, no local onde o artista residiu, a Casa Museu Mestre Vitalino. No espaço, administrado pela família, estão expostas suas principais obras, além de objetos de uso pessoal, ferramentas de trabalho e o rústico forno a lenha em que fazia suas queimas.
Algumas de suas peças estão expostas no Museu de Arte Popular de Caruaru, Casa Museu Mestre Vitalino, no Alto do Moura, na casa onde viveu, no acervo do Museu do Homem do Nordeste da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife e até no Museu do Louvre, em Paris.
Outra de Lampião a cavalo, exposta nos Museus Castro Maya, Rio de Janeiro - Fonte - http://www.itaucultural.org.br/
Após sua morte, em 20 de Janeiro de 1963, suas peças continuaram sendo produzidas pelos filhos, netos e outros ceramistas da região.
FONTE DE PARTE DO TEXTO AQUI APRESENTADO - http://www.itaucultural.org.br
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Extraído do blog: Tok de História do historiógrafo Rostand Medeiros