Do alto da serra, imediações do povoado de Alagadiço-SE, o famigerado
cangaceiro ZÉ BAIANO, o ferrador de mulheres, tinha uma visão privilegiada de
todo o vale ao seu redor.
Ali, na Toca da Onça ele guardava, víveres, armas,
munições etc.
Quando o mundo
acabou numa sexta-feira de 2088, Poço Redondo foi o único lugar da terra que
foi preservado da catástrofe final. Tudo se transformou em pó, enquanto a
cidade do sertão sergipano permaneceu intacta. E tão intacta como há 20 anos,
no calendário de agora. O que significa dizer que em 2088 tudo continuava com a
mesma feição que se tem agora nas ruas, praças e avenidas.
E foi por isso
mesmo que Poço Redondo continuou existindo quando o mundo acabou. Deus disse
que um povo já sofrido demais não merecia sucumbir sem que algum dia uma só
felicidade lhe batesse a porta. E assim por que dia após dia, ano após ano, e o
povo na desvalia de tudo.
E havia
chegado em 2088 do mesmo jeito: uma cidade abandonada, feia e triste. Contudo,
o real motivo da preservação do fim foi um equívoco divino: achava-se que Poço
Redondo já havia acabado e, por isso mesmo, não precisava mais ser exterminada.
Foi a sorte dos que aqui estavam.
No dia
seguinte ao fim do mundo por onde o mundo acabou, Zé Veinho - que nessa época
já contava com cento e tantos anos - abriu a porta para se certificar de que
tudo estava mesmo em pé. Olhou de canto a outro e avistou resto de coco pelos
arredores da praça, garrafas e copos por cima de canteiros sem gramas nem
flores, praças que mais pareciam mausoléus em cemitérios abandonados. Este é
mesmo Poço Redondo, confirmou o velho Zé Veinho satisfeito.
Nesse ano de
2088, já não havia mais cerveja em garrafa, pois somente em pó. Então Zé Veinho
foi até um barzinho e pediu um quilo de pó de cerveja e uma colher. Ali sentou
recordando de um tal de Roberto Carlos que havia existido há muitos anos,
quando viu um amigo se aproximar. Ofereceu uma colherada, mas o amigo respondeu
que preferia trezentos gramas de aguardente. Sentados os dois na mesma mesa,
começaram a conversar.
O velho Zé
Veinho sabia de tudo, mais parecendo uma enciclopédia de museu. E foi dizendo
que da próxima vez que o mundo fosse acabar, dali a duzentos anos ou mais, não
tinha dúvida que Poço Redondo estaria do mesmo jeitinho. Basta ver o que mudou
de lá pra cá, desde quando tudo começou até aquela data. Nada ou quase nada. E
o mais interessante é que enquanto os outros lugares foram se desenvolvendo,
com Poço Redondo aconteceu o contrário.
Zé Veinho
falava e o amigo ouvia, e este de vez em quanto pedia mais algumas gramas de
aguardente. E o Veinho prosseguia: Hoje já estamos em 2088 e está quase tudo
igual ao final dos anos noventa do século passado. Foi a partir de então que a
pujança que era Poço Redondo passou a esmorecer. Para se ter ideia, a vida era
melhor naqueles tempos do que depois e muito depois. O povo era pobre, mas
quase todo pai de família possuía sua terrinha.
“Traga mais um
quilo de pó de cerveja”, gritou Veinho ao dono do bar. E prosseguiu. Sabe o que
era uma cidade de paz, de respeito, amigueira, era Poço Redondo. Em noite
calorenta, qualquer um podia estender uma esteira na calçada e dormir
tranquilo. Ninguém sequer ouvia falar em coisa de droga, de roubo, de safadeza
pela safadeza.
E o pior de
tudo - prosseguiu Zé Veinho - foi que de repente tudo de bom que havia em Poço
Redondo pareceu acabar. Nunca mais se viu um baile bom de festa de agosto,
nunca mais se ouviu um sanfoneiro bom animando uma festança qualquer. O que
começou a aparecer foi música de safadeza e tudo o que não presta. E a cidade,
como ainda se vê, continua a mesma de muitos e muitos anos atrás. Não tá vendo
aquela praça feia ali, desse mesmo já existia em 2017. E por que o mundo acabar
Poço Redondo se tudo já está acabado mesmo.
Mas o amigo
perguntou: E os prefeitos de lá pra cá, que fizeram? Então Zé Veinho respondeu
na hora que era melhor falar sobre Roberto Carlos.
Vejam bem, Mossoró já acolheu e recebeu em seus belos clubes pessoas famosas de todos os cantos do país, uma delas, foi a famosa "Miss Brasil" e atriz "Vera Fischer" no ano de 1969.
O casal de
cangaceiros Lampião e Maria Bonita em momento de carinho e intimidade. Até em
um ambiente hostil e violento como o do Cangaço houve espaço para o amor, para
o carinho. Maria seguiu Lampião na vida errante e perigosa do Cangaço.
Juntos, dividiram alegrias, tristezas, medos e permaneceram juntos no fatídico dia,
naquele 28 de julho de 1938 onde tiveram suas vidas ceifadas e esse amor
encerrado.
Amor esse que permanece vivo nos cordéis, na arte, na literatura e
no imaginário popular. Onde o rei e a rainha do Cangaço permanecem eternizados.
Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.
Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.
O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.
E-mail:
franpelima@bol.com.br
Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.
Naquele tempo,
vários proprietários de terras tinham uma complicação a mais. Eram as ‘visitas’
quase que constantes das volantes e dos grupos de cangaceiros. Aquele dono de
terras que tinha ‘jogo de cintura’ sabia agradar as duas partes. Mesmo assim
era muito incômodo, pois estando um grupo, poderia, de uma hora para outra,
aparecer outro e a bagaceira estava completa.
Muitos dos
agricultores, fazendeiros e catingueiros não ajudavam de livre e espontânea
vontade tanto um como o outro lado. Sempre era um prejuízo alimentar vários
homens sem receber retorno algum de volta. Nesse sentido, os cangaceiros até
que pagavam por sua ‘estadia’ e alimentação, porém, as volantes não andavam com
dinheiro para isso, e aí, era só prejuízo mesmo.
Após a
informação passada de que através dos coiteiros chegariam aos cangaceiros,
muitos sertanejos viveram debaixo da chibata para ‘entregar’, principalmente
Lampião. Alguns sabiam e aguentavam o quanto podiam sem abrirem o ‘bico’.
Outros apanhavam e foram até mortos sem dizerem nada, por nada saberem... Mas,
as torturas em alguns fazia muito efeito e eles além de entregarem, muitas
vezes levavam a tropa até onde estava o bando de cangaceiros, isso de livre
vontade ou debaixo de cacete.
No município de Floresta, PE, havia um cidadão chamado Antônio Novaes, casado
com a senhora Antônia Teodora de Novaes e moravam com seus filhos, que além de
possuir terras era comerciante, além de ter o título de tenente da Guarda
Nacional. Essa ‘patente’ era adquirida por uma espécie de vaidade, já que era
comprada. Sua propriedade rural era denominada fazenda Favela, onde morava com
sua família, e nela, tanto se arranchavam cangaceiros como volantes.
As sombras da
noite já havia coberto o vasto sertão
pernambucano, na noite do dia 10 de novembro de 1926, quando na sede da fazenda
Favela chega Lampião com cerca de 90 homens. O “Rei Vesgo” queria falar com o
Patriarca, porém este estava na sede do município e teve que falar com a
Matriarca, dona Antônia, conhecida por “Dona Aninha”. Avisa o chefe cangaceiro
que necessita de alimentos para sua cabroeira de uma quantia em dinheiro.
PS// a foto da 'cara' de Lampião
foi colorizada, digitalmente, pelo amigo professor rubens antonio.
Para Dona
Aninha aquela visita, de Lampião e seus homens, não era novidade nem a causava
medo. Rapidamente ordena que se faça comida para todos. Os homens enchem a
barriga e aqueles que não foram postos de sentinela, vão procurar algum lugar
em uma das várias casas da fazenda para dormirem. Lampião depois que assumiu o
bando não ficava a noite com todos, sempre ficava junto ao seu Estado Maior.
Naquela noite, na fazenda Favela, estavam junto ao “Rei dos Cangaceiros”, a
nata dos famosos cangaceiros como Esperança, Corisco, Sabino, Luiz Pedro,
Jararaca... E por aí vai.
Após receber a
patente de terceiro sargento, Zé Saturnino inverte as coisas e em vez de ser
caça, vira caçador. Pega seus homens e sai pelas quebradas do sertão no rastro
de Lampião. Nessa ocasião, estavam juntas as volantes do Anspeçada Manoel Neto
e do primeiro inimigo de Virgolino, que chegavam a oitenta ou noventa homens, e
seguiam exatamente os rastros do bando que estava na fazenda do tenente da
Guarda Nacional.
Seguindo os sinais deixados, em determinado caminho, a volante encontra um já
conhecido ‘colaborador’ de Lampião chamado Emiliano Novaes. Conversa pra’ quí. arrocho
pra’colá, Emiliano se desvencilha das perguntas e nada diz sobre o paradeiro do
chefe mor do cangaço.
O sargento
Saturnino convence seu superior a liberar Emiliano. Assim acontece. ‘Raposa
Velha’, Mané Fumaça sabe que Lampião saberá em breve de quem estava em seu
encalço. Previne a tropa de que em toda moita pode estar uma emboscada
preparada por Virgolino.
Não podendo
mais seguir seu caminho. Emiliano Novaes retorna para sua casa e manda um
recado para seu protegido de que se prevenisse que uma poderosa volante estava
indo em sua direção. Lampião, como grande estrategista que era, reuniu seus
homens e passou para eles o que tinha planejado.
Nessa altura
dos acontecimentos, os militares já sabiam de onde esteva acampado Virgolino e
sua cabroeira. No romper da aurora do dia 11, já em terras da fazenda Favela,
os comandantes dividem sua tropa e começam a avançarem em direção a sede.
Estando Zé Saturnino e seus homens em cima do paredão do açude, notam que uma
pessoa estava dentro do curral do gado tirando leite. Não esperaram por mais
nada, abriram fogo. A pessoa largou o que estava fazendo e correu no rumo da
casa mais próximo em busca de salvar-se. Quem estava no curral era um filho do
dono da fazenda chamado Totonho Novaes.
O rapaz, na
carreira que ia, notou uma janela aberta e partiu para pulá-la. Nesse momento
Lampião diz:
“-Entra
menino, pra dentro de casa, que nós tamo cercado pelos macacos! ("AS
CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta – PE” – SÁ, (Marcos De Carmelita
Carmelita) Marcos Antônio de. E FERRAZ, (Cristiano Ferraz)
Cristiano Luiz Feitosa. 1ª Edição. Floresta, PE. 2016)
A partir daí o
mundo se fechou para aquelas bandas. Os soldados atacavam e os cangaceiros se
defendiam. Mesmo estando preocupado com a luta, Lampião lembra-se da Matriarca,
e dar-lhe o seguinte conselho:
“- Dona
Aninha, bote as banheira na cabeça pra num furar a cabeça da senhora, que
macaco num tem o prazer de encostar aqui não.” (Ob. Ct.)
Havia várias
casas em volta da casa sede, inclusive uma nova. Mané Neto achando que Lampião
encontrava-se dentro dela chega e bate na porta. De dentro da casa uma voz
masculina pergunta quem bate e ele se identifica. Nesse momento uma saraivada
de balas parte de dentro da casa em direção a porta e janelas. Nessa hora
tombam dois bravos guerreiros, inclusive um que tinha apenas 17 anos de idade.
Além dessas mortes, outros foram baleados.
De uma outra
casa, os cangaceiros estão em fogo cerrado contra os homens de Zé Saturnino.
Lampião tinha ordenado ao cangaceiro Sabino Gomes que fosse para dentro do mato
com parte da cabroeira e nada fizessem no início. Deixa-se a volante atacar e
chegar o mais próximo possível de onde estavam. Esses entram no combate e caem
em cima dos homens comandados pelo sargento Saturnino. De cara tombam quatro
militares e outros ficam feridos.
O cangaceiro
“Esperança”, Antônio Ferreira irmão de Virgolino, vendo a tropa de Mané Fumaça
atacar a casa ‘nova’, chama alguns cabras
para saírem de onde estavam e irem combater de peito aberto. Nenhum dos
cangaceiros que lá estavam tiveram coragem de sair. "Esperança"
saltou para o terreiro, começou a entoar uma canção e começa a atirar em
direção a Manoel Neto.
(...)Totonho Novaes viu quando o bandido, colocou o chapéu no braço, à altura
do cotovelo, e pulou para fora com o fuzil, indo na direção de Manoel Neto.
Antônio atirava e cantava a oração de Santa Madalena(...).” ( Ob. Ct.)
Com várias
horas de combate, os militares se veem em uma situação difícil. Eram muitos os
pontos que tinham que cobrir, várias casas e os homens de Sabino, e resolveram
retirarem-se para evitar maiores baixas desnecessárias.
Esse combate
tem um saldo de muitas mortes. Da parte dos militares foram seis mortos e dos
cangaceiros, de imediatos três, sendo que outro corpo é encontrado já em
putrefação, dias depois, dentro da mata. Dentre os primeiros três tombados da
parte dos cangaceiros, encontra-se o cangaceiro “Sabonete”, que na verdade era
Pedro Celestino, por alguns, conhecido por Pedro de Ramiro... Nas quebradas do
Pajeú das Flores.
Fonte "AS
CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta – PE” – SÁ, (Marcos De
Carmelita Carmelita) Antônio de. E FERRAZ, (Cristiano Ferraz) Cristiano Luiz
Feitosa. 1ª Edição. Floresta, PE. 2016
Cinco anos de
seca no Nordeste vêm trazendo efeitos devastadores para seus Estados. Perdas
das lavouras e animais dos agricultores, impacto negativo na economia dos
municípios, desemprego, aumento dos preços dos alimentos, racionamento de água
em várias cidades e etc. Isso trouxe, novamente, o nordeste e seu problema da
seca para a mídia, sendo alvo de várias reportagens e matérias. No entanto,
muitas dessas reportagens enfatizam mais os problemas que a região passa do que
as possíveis soluções, exploram os efeitos da seca, na maioria das vezes, de
forma sensacionalista do que com seriedade, e finalmente, dão aparência
que o nordeste é um cadáver moribundo que só traz gastos para o resto do país.
Segundo a
mídia tradicional, todos os motivos para a falta de desenvolvimento do Nordeste
são apenas ligados à falta de água. Infelizmente esse pensamento é amplamente
difundido e aceito entre as autoridades políticas do Nordeste, do Brasil e
pelos agricultores que esperam ansiosos todos os anos pela chuva. Esse
pensamento vem a bastante tempo guiando as ações de intervenção do governo no Nordeste,
a famosa política do ‘’ combate à seca’’.
Vários
trabalhos acadêmicos e técnicos questionam a eficiência e os impactos positivos
dessa política. O combate a seca teve maior enfoque na criação dos perímetros
irrigados como os de Acaraú e Jaguaribe (CE) e Açu e Apodi (RN),
Petrolina-Juazeiro (PE) e (BA). A construção desses perímetros ao longo dos
anos, infelizmente, não foi capaz de transformar a realidade do Nordeste.
Inúmeros pontos negativos causados por esses perímetros podem ser discutidos,
entre eles, a imposição antidemocrática de muitos projetos de colonização,
desvio do debate sobre a reforma agrária, concentração de terras, falta de estudos
técnicos sobre culturas e solos agrícolas o que acarretou impactos ambientais
como salinização do solo em Sousa (PB), entre outras.
Um dos pontos
mais controversos dos perímetros irrigados, está sua larga utilização pelo
setor privado com intuito de enriquecimento individual e não dos pequenos e
médios produtores como forma de desenvolvimento regional. Nos anos 2000, o
Brasil possui cerca de 3,5 milhões de hectares irrigados, sendo 500 mil
inseridos na região semiárido. Dentre os 500 mil, cerca de 140 mil hectares
estão localizados em áreas públicas na forma de assentamento e cerca de 360 mil
em propriedades e empresas de domínio privado (1).
Os perímetros
irrigados nas mãos do setor privado se concentram mais na exploração de
fruteiras irrigadas para exportação do que no desenvolvimento do mercado
regional interno e auto suficiência alimentar dos municípios. Essa lógica, exclusivamente
mercadológica, vem causando, indiretamente, exclusão de grande parte dos
pequenos produtores descapitalizados, concentração fundiária, êxodo rural, etc.
Assim podemos nos perguntar: a inviabilidade da política de combate a seca e os
diversos pontos negativos relacionados à construção de perímetros irrigados em
todo nordeste podem colocar em cheque o projeto, em andamento, da transposição
do Rio São Francisco? Sim e não.
Se a lógica
for apenas a disponibilidade de água como catalisador de desenvolvimento, o
projeto estará fadado ao fracasso. Assim como a política de reforma agrária
distributiva e de colonização, apenas a disponibilidade de água e alguns
projetos de irrigação não são suficientes para gerar desenvolvimento para o
nordeste, muito menos contribuir com a erradicação da pobreza. Se essa lógica
vier com o projeto de transposição, com exceção de melhorias ao acesso à água
para consumo humano e animal, pouco se mudará no estagnado desenvolvimento
nordestino como um todo.
Também
vale lembrar que o grande projeto vem com enormes custos econômicos para o
Brasil, e se não for orientado de forma correta também trará enormes custos
sociais como: especulações nas terras favorecidas pela transposição,
concentração fundiária, desemprego, impactos ambientais entre outros.
A transposição
para ser positiva terá que ter o foco em projetos de irrigação, não só para
produzir fruteiras visando o mercado externo, mas também para a produção de
alimentos essenciais para a cesta básica. Com a produção de alimentos voltado
para os mercados regionais, os preços dos mesmos diminuirão proporcionando
segurança alimentar e gerando possibilidades de transferências de renda, que
antes eram destinadas apenas para alimentação e para outros setores comercias
gerando mais desenvolvimento na região.
Também temos
que levar em consideração às áreas do semiárido nordestino, que em sua grande
maioria, não são e não se encontram próximas às áreas úmidas que serão
beneficiadas pela transposição do rio. Nessas áreas, é necessário que se
invista na chamada irrigação de pequeno porte, ou seja, uma irrigação de baixo
custo. A pequena irrigação são várias técnicas de captação e conservação de
água no solo que visa o racionamento e o uso racional das águas nos períodos de
estiagem.
Uma combinação
muito eficiente dessas técnicas é a construção de barragens subterrâneas em
riachos, associada à perfuração do poço amazonas, barramentos com pneus,
conhecidas como BAPUCOSA e uso de terraceamento com tiras de pneus (TETIP) (2).
Outras técnicas também importantes são as de captação de água em cisternas
convencionais e do tipo calçadão e enxurradas, além de sistemas de
reaproveitamento de águas domésticas para serem utilizadas em pequenas hortas.
Nas áreas com
pouco acesso às águas, os sistemas agrícolas e pecuários também necessitam de
mudanças. Nos agrícolas, o uso de culturas de ciclo curto ou com
características de baixa demanda hídricas ou melhoradas geneticamente para esse
fim é mais que uma necessidade. Citando algumas plantas com melhores
desempenhos sobre estresse hídrico, temos: Caju (Anacardiumoccidentale), mamona
(RicinusComunis), sorgo (Sorghurn bicolor), mandioca (Manihotesculenta), além
de espécies nativas como o umbuzeiro (Spondias tuberosa), oiticica (Licania
rígida) e exóticas como algaroba (Prosopisjuliflora) e leucena
(Leucaenaleucocephala.).
Do ponto de
vista da pecuária, é necessário que se tenha um trabalho de conscientização dos
pequenos pecuaristas para migrarem, pelo menos, parcialmente, para a criação de
um animal de porte menor ou mais adaptado às condições das secas. Ovinos e
caprinos não só consomem menos forragem como possuem uma maior reprodução e são
mais resistentes aos períodos de seca. Enquanto os bovinos consomem em média 45
L de água por dia, os ovinos, em clima quente, consomem na média de 5-6 L por
dia, já os caprinos se enquadram na média do consumo de água dos ovinos,
contudo, possuem uma maior capacidade de retenção corporal de água, além de
possuir espécies que bebem água uma vez a cada quatro dias (3).
Cruzamentos
interessantes de ovinos e caprinos na obtenção de maior produtividade de carne
por área também se mostram uma vantagem. Entre os ovinos, o cruzamento
das raças Santa Inês com a raça Dorper unifica maior resistência à seca e
rusticidade do primeiro com maior produção de carne do segundo. Já os caprinos,
o cruzamento entre a raça Boer com a raça Anglo Nubiana proporciona maior
produtividade em kg por cabrito produzido por cabras em vários sistemas de
produção, além de definir uma melhor carcaça para esses animais (4).
A produção de
gado não precisa ser extinta, apenas é necessária a escolha da raça certa. Para
o semiárido, a raça de gado Sindi é uma das mais indicadas. Essa raça
originária das regiões áridas do Paquistão, chegou ao Brasil por volta de 1952.
Mostrando rusticidade, resistência a doenças, baixo consumo de alimentos e etc,
logo de destacou como uma grande esperança e alternativa para a pecuária
tropical.
Outras
atividades como a criação de abelhas (apicultura) e de galinha caipira, também
são alternativas para aumentar a diversificação e a renda do produtor sem
grandes gastos no processo produtivo. Assim, essas e outras tecnologias básicas
e não muitos caras já estão disponíveis e esperando para serem colocadas em
práticas para o desenvolvimento do semiárido.
A transposição
do Rio São Francisco a cada dia se aproxima mais do semiárido nordestino
trazendo esperanças e críticas. Os esperançosos falam em desenvolvimento e
abundância de água, os críticos falam que as águas só servirão aos grandes
fazendeiros da região, e que os pequenos agricultores e habitantes dos rincões
secos não utilizarão e nem beberam sequer uma gota dessa água. Na verdade a
transposição do Rio São Francisco é uma caixa preta, que somente o tempo dirá
quem terá razão.
Independente
de rio ou não, o Nordeste tem plenas condições de sair da lógica do combate a
seca e suas políticas limitadas de disponibilidade de água. Inúmeras
estratégias para o desenvolvimento do Nordeste estão disponíveis, mas para isso
é necessária a vontade dos governos da região e um projeto sério de
desenvolvimento que busquem aproveitar as potencialidades e a convivência com
as adversidades do semiárido.
Avalição
de aspectos histórico/geográficos dos estados, projetos agronômicos e
zootécnicos voltados para a região, formação de recursos humanos, pesquisas nas
diversas áreas, extensão rural, preservação e conservação do meio ambiente e
etc, são pontos importantíssimos para projeto. Um processo de reforma agrária
também se faz necessário, mas não uma reforma agrária baseada em outras regiões
ou de forma colonizante, onde se trata, muitas vezes, os assentados como
animais, sendo jogados em qualquer lugar a sua própria sorte. E necessária uma
reforma agrária que traga a terra, mais também cooperativas, agroindústrias,
assistência técnica, crédito, e principalmente, que esteja projetada para as
especificidades do semiárido colocando os assentados em uma lógica produtiva
específica.
Vários
exemplos de convivência de sucesso com a seca são apontados no mundo.
Agricultores americanos produzem toneladas de vários vegetais nos campos áridos
da Califórnia, não reclamam de seu clima, muito menos desistem perante as
adversidades. Agricultores Israelenses possuem apenas cerca de 20% de suas
terras aráveis sobre clima extremamente árido, mesmo assim, conseguem produzir,
através de técnicas modernas de irrigação, toneladas de alimentos para
exportação e para consumi interno.
Produtores
espanhóis da região seca da Múrcia desenvolveram sistemas de drenagens e
irrigação de suas águas de forma muito eficiente, o que lhes garantiram o
protagonismo na produção de frutas e hortaliças em toda Espanha.Australianos
também são conhecidos por suas agriculturas altamente produtivas em pleno
deserto.
Uma nova forma
de pensar o Nordeste precisa ser colocada no limiar desse projeto. Um pensar
otimista e realista, um pensar que procure ver o Nordeste como ele é e não como
gostaríamos que fosse. A seca existe e sempre existirá, é um fenômeno climático
cíclico! Mesmo assim é possível uma convivência viável, só basta se adaptar a
ela e não querer modificá-la em vão. É inadmissível que o governo federal e
estaduais do Nordeste não tracem projetos de desenvolvimento para a região
baseados nessa realidade.
Enquanto esse
novo pensar não chega, a indústria da seca vem lucrando como sempre. As raposas
velhas da política nordestina em conchavos com latifundiários e demais
interessados nessa indústria, como sempre, se utilizam da seca para garantir
seus interesses. Créditos milionários a fundo perdido, perdão de dívidas,
isenções fiscais, construções de açudes em propriedades privadas, especulação
de animais e alimentos, esses são alguns exemplos do uso da seca para ganhos de
alguns perante o flagelo de vários.
Inúmeros casos
podem descrever o que é a indústria da seca e seus propósitos sórdidos. Mas,
talvez um caso pitoresco e recente represente de forma fidedigna o que se
característica tal indústria. No município de Santa Terezinha localizado no
sertão paraibano, a prefeita
eleita nas últimas eleições decidiu fazer uma comemoração um pouco diferente
das de costume, a mesma decidiu realizar um ‘’ superbanho’’ com água de carro
pipa em seus eleitores. O interessante é que a cidade está entre os 196
municípios paraibanos em situação de emergência devido à seca.
*Saul Ramos de
Oliveira é Engenheiro Agrônomo, e Mestrando em Horticultura Tropical, Ambos
pela UFCG.
Referências
(1) VALDES,
Alberto et al. Impactos e externalidades sociais da irrigação no semiárido
brasileiro. Banco Mundial. Brasília/DF, 2004. Disponível em:http://www.pontal.org/docs/benefits3.pdf.
Acesso em 10/01/17.
(4) SOUSA,
W.H.; CÉZAR, M.F.; CUNHA, M.G.G. Estratégias de cruzamento para produção de
caprinos e ovinos de corte: uma experiência da Emepa. In: ENCONTRO NACIONAL DE
PRODUÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS, 1., 2006, Campina Grande. Anais... Campina
Grande, 2006. p.338- 384.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
A voz é o
grande meio de comunicação entre os seres humanos e um dos principais elementos
caracterizadores da pessoa. A voz, que está associada à fala, na realização da
comunicação verbal, varia quanto à intensidade, a altura, a inflexão,
ressonância, articulação, etc.
Observem os
amigos que, não obstante a sua importância, quase nada diz a história sobre a
voz, nem como falavam os homens da história, dos tempos anteriores aos
gravadores de sons, e inclusive de muitos que personagens que viveram já quase
nos nossos dias, sob a gravação sonora em aparelho, como é o caso do famoso
cangaceiro nordestino Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, que até filme
protagonizou, todavia, da sua voz nada sabemos.
Como era a voz
de Lampião? Era do tipo baixo, barítono, tenor, ou seja, ele falava grosso,
médio ou fino? Qual a intensidade, a altura e o timbre de sua voz? Ele falava
devagar ou ligeiro? Ele era gago?
ADENDO - José Mendes Pereira
Grande escritor e pesquisador do cangaço Antonio Corrêa Sobrinho, ainda existe uma luz, mesmo minúscula, mas resistindo aos ventos fortes no final do túnel, e esta luz, poderá saber tudo sobre as suas interrogações. Sabe quem?
Só pode ser a ex-cangaceira "Dulce Menezes" uma das sobreviventes do massacre feito pelas volantes policiais aos cangaceiros na "Grota do Angico", na madrugada de 28 de julho de 1938, em terras do município de "Poço Redondo", no Estado de Sergipe. E acho que tem que ser feito logo estas perguntas a dona "Dulce", que conviveu com o facínora e sanguinário Lampião saberá muito bem defini-lo de todas as maneiras. Aqueles que moram nas imediações da residência de dona "Dulce Menezes" têm que marcar uma entrevista com ela, para que as suas perguntas possam ter respostas arquivadas para os futuros estudiosos do cangaço. Esta é a minha opinião, vez que eu sou apenas um estudante dessa literatura tão admirada que tem sido pelos brasileiros, e por outras nações do nosso planeta. Se eu estiver conversando muito, que me perdoe, cada um de nós tem visão diferente de outros e outros.