Por Sálvio
Siqueira
A História do
Cangaço, Fenômeno Social criado e vivido dentro de outro Fenômeno Social, o
Coronelismo, na Região Nordeste onde chega a estender-se em sete dos nove
Estados é, desde seus primeiros escritos, destorcida por pessoas, escritores e
repórteres.
Já em sua
‘reta final’, por volta de 1918/19, surge o cangaceiro Virgolino Ferreira,
pernambucano do Vale do Pajeú das Flores, micro região semiárida denominada
Sertão, e passa a assombrar por quase vinte anos.
A saga de Virgolino, apesar de ser a mais recente, é bastante destorcida, invertida e publicada meramente com intuito de ‘venda’. Não vemos outra razão devido os meios de comunicação em massa, na época o Jornal escrito e a Revista, publicarem tantos ‘desencontros históricos’.
Em 30 de
outubro de 1966, o ‘Jornal Diário de Pernambuco’, fonte de pesquisa de inúmeros
escritores, publicou em seu terceiro caderno, página 3 a seguinte manchete na
matéria: “ CANGAÇO NORDESTINO TEVE EM MARIA BONITA SUA RAINHA”, mais abaixo
traz como subtítulo a manchete “POR AMOR DE LAMPIÃO, DERRAMOU SEU PRÓPRIO
SANGUE EM FEROZES COMBATES TRAVADOS COM A POLÍCIA”.
Abaixo
transcrevo uma citação do próprio Jornal, blog do Diario de Pernambuco.com, com os seguintes dizeres sobre a reportagem
do jornalista Severino Barbosa em 1966:
“Quando, em
1926, o agora capitão Virgulino desceu do Juazeiro do Padre Cícero, mais de 20
mulheres acompanhavam os bandoleiros. Agora o Rei do Cangaço tinha sua rainha”.
Há 50 anos, o
repórter Severino Barbosa publicava no Diario de Pernambuco um longo texto
sobre a entrada das mulheres no cangaço, destacando o papel de Maria Déa, a
baiana da Fazenda Malhada do Caiçara, em Jeremoabo (terras hoje pertencentes ao
município de Paulo Afonso), que enfeitiçou o pernambucano de Serra Talhada.
Tornou-se a
rainha de um Sertão violento até cair junto com o companheiro no dia 28 de
julho de 1938, na grota de Angicos, em Sergipe. A relação de 12 anos gerou uma
filha – criada em segurança à distância – e ferimentos.
Num ataque de
Lampião à Vila Serrinha, hoje pertencente ao município de Paranatama (Agreste
de Pernambuco), Maria Bonita foi baleada na perna. Saiu do local da luta nas
costas de Virgulino, dentes cerrados para não gemer.
Imortalizada nas imagens de Benjamin Abrahão, o sírio destemido que fez fotos e filmes com o casal posando com cachorros, jornais e armas, Maria Bonita personificou a presença feminina no cangaço. Outras sofreram tanto como ela, vivendo na caatinga, a morte como ameaça constante.
O texto de Severino Barbosa lembra outras cangaceiras e usa o recurso da poesia de cordel para pontuar uma história fabulosa, registrada desde o início pelo Diario de Pernambuco. Como o repórter destaca quase no final: “É o amor vivido nas matas cheias de espinho do Nordeste”.
Republicando a
matéria em fevereiro de 2016 o jornalista Paulo Goethe, no http://blogs.diariodepernambuco.com.br, intitula: “A
princesa encantada que Lampião encontrou”. (diariodepernambuco.com)
Realmente
Virgolino Ferreira, o Lampião, em março de 1926, esteve a convite escrito em
Juazeiro do Norte, CE, junto com seu bando para serem integrados ao contingente
do Batalhão Patriótico instalado naquela cidade e darem combate aos
‘Revoltosos’, a Coluna Prestes.
A coisa
engrossa, entorta completamente os vieses históricos, quando cita que de lá
Lampião retornou com Maria de Déa, como companheira e ‘sua rainha’, juntamente
com mais vinte mulheres fazendo parte do bando de cangaceiros.
Na verdade
Virgolino e Maria só se conhecem depois da sua ida em definitivo para a Bahia.
O chefe cangaceiro faz a travessia no Rio São Francisco no segundo meado de
1928. Lampião só enamora-se com a cabocla baiana em 1929. Só há adesão de
mulheres no bando a partir de 1930. E os pesquisadores/historiadores nos
revelam, através de suas obras literárias, que, apesar de Maria de Déa ter sido
baleada na região glútea, a única cangaceira a usar arma em combate foi a
companheira de Corisco, a cangaceira Dadá, defendendo seu companheiro contra o
soldado volante João Torquato usando uma arma curta, não um fuzil.
Dentre nós
estudantes, alguns amigos dão total valor, credibilidade, o que há nas
publicações dos meios de comunicação da época, Jornais e Revistas.
Particularmente prefiro analisar o conteúdo da imprensa com os das literaturas
e depoimentos de remanescentes. Como jornal e revista são ‘produtos’ de venda,
infelizmente, suas matérias foram parciais, ou para um lado, o das Forças
Militares ou para o lado dos bandos como vemos nessa acima transcrita. Com
isso, com esse ‘tratamento’ inadequado aos fatos, quem perdeu muito foi a
História, consequentemente a perda recai sobre nós estudantes.
Essa de
distorcer os fatos históricos não é exclusividade da imprensa da época, os
escritores também contribuíram bastante colocando em suas entrelinhas coisas
descabidas, distorcidas e inventadas.
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