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segunda-feira, 25 de julho de 2016

O REDEMOINHO

*Rangel Alves da Costa

Pequenos problemas, mas que acabam se avolumando porque não resolvidos. Coisas simples de serem solucionadas, mas quando postergadas provocam consequências as mais danosas e desgastantes possíveis.

“E lá na distância apenas uma aspecto diferente no ar. Parecendo formação um pouco mais espessa de poeira, como um pequeno torvelinho localizado, nada parece assustar, senão pela sua aparência de crescimento e movimento...”.

As perdas, as distâncias, tudo isso causa muito sofrimento e dor. Mas não que se assentem na alma para o restante do viver. Ninguém pode fugir aos instantes de tristeza, de aflição e melancolia, porém não se deve abraçar o punhal que fere como melhor conforto.

“Ainda está muito distante. Contudo, pelo que se avista, o chão arenoso parece subir em cone pelo ar e depois girar em se mesmo, mais forte, com força maior cada vez mais. De repente, o espesso funil começa a se arrastar e vai avançando em açoite feroz...”.

Os dias amanhecem sombrios, por vezes. No coração, um desalento danado. Nada fez para despertar assim, nenhum motivo aparente para que assim aconteça. Uma vontade de chorar, uma vontade de soluçar embaixo dos travesseiros, uma vontade até de sumir. Mas vale a pena alimentar o dia com esta gota de veneno do alvorecer?

“Ao longe, apenas uma ventania forte, porém localizada. No seu centro, um turbilhão, e uma nuvem de poeira pelos arredores. Parece ter vida própria, pois se alonga, se alastra, vai rapidamente seguindo e levando consigo tudo o que pela frente encontrar...”.

Um adeus inesperado, uma perda tida como irreparável. Nunca se compreende    que a vida é destino e fim, é um chegar e partir, é um sorriso e uma despedida. E faz da lágrima a vida, e faz da dor a existência, e consumindo se vai até não mais ter forças para reagir. Como folha ao vento, vai se deixando levar no que lhe resta viver.


“Sua proximidade já é visível, sentida, inafastável. O que se imaginou apenas uma formação de areia, agora se mostra verdadeira ameaça. É areia, é vento, é sopro, é força, é avidez de destruição. Vai levantando pedra por onde passa, vai derrubando tudo no seu caminho...”.

Sim, uma simples saudade. Saudade boa, pois amorosa, de vontade e desejo de reencontrar. Mas o tempo passa, nada de reencontro, nada de retorno, nada de abraços e palavras. O que aconteceu? Imagina-se que tudo acabou sem um fim. Então a saudade se transforma em tormento, o tormento em desespero, o desespero em loucura...

“Nada fica em pé no seu caminho, a não ser seu próprio cone que, cada vez mais forte e voraz, avança cada vez mais rápido. Destroços são avistados ao fundo, pelo ar são divisadas nuvens empoeiradas. Sem destino certo, arremete ziguezagueando, cobra feroz levantada no ar...”.

Poucos compreendem a esperança como caminho de salvação. Alguns, por já terem esperando tanto, acabam desistindo dos sonhos e planos. Outros, já descrentes nas suas possibilidades, se entregam aos desconsolos e aflições. Em pessoas assim, de alma e espírito fragilizados, qualquer sopro de ventania se afeiçoa a redemoinho.

“Sim, é um redemoinho. É um turbilhão. Uma ventania que se forma fina e localizada, mas que, num crescente, vai alcançando poder de destruição sem igual. A tudo leva, a tudo arrasta, a tudo destrói. E quase não há proteção contra sua chegada, quase não há saída quando se aproxima...”.

Assim também os redemoinhos na vida, fatos, coisas e situações que nascem simples, mas que, quando não domadas na sua raiz, acabam provocando consequências devastadoras. Quando se imagina que se está adiante de apenas uma situação desconfortável e que possa ser resolvida a qualquer instante, surge então o doloroso reconhecimento do total descontrole, eis que sua voracidade já corroendo por dentro.

“Não se sabe ao certo se tormenta, se furação, se tornado, se tufão ou qualquer outro fenômeno devastador da natureza. Sabe-se apenas que nasceu como simples grãos de areia se movendo, que transformados em poeira em pó, como redemoinho foi caminhando. E por onde passou deixou somente restos, destruição e medo...”.

Então olhe pela janela da alma e veja como está o seu deserto ou sua praia de brancura na areia. Sinta se o vento se levanta dentro de si, sinta se o seu espírito não está propenso a tempestades. Tudo faça para que somente a brisa sopre pelos quadrantes, mas sempre temendo acaso aviste uma folha seca passando diante do olhar.

Escritor
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RECÉM-NASCIDO FOI BALEADO PELO BANDO DE LAMPIÃO


No dia 25 de novembro de 1926, um dia antes da Batalha da Serra Grande, o bando de Lampião chegou à fazenda Varzinha, no município de Serra Talhada, para um acerto de contas com José de Esperidião. 

O grupo comandado por Antônio Ferreira, cercou a residência e intimou José a sair de dentro de casa. O homem estava bem municiado e reagiu: 

- Nem eu saio, nem vocês entram!" 

E começou os disparos. 

No meio do tiroteio, Rosa Cariri, esposa de José de Esperidião, abriu a porta da frente e, chorando apresentou seu filho, José Pereira de Lima (Cazuza), com os pés baleados. Cazuza tinha apenas 7 dias de nascido.

Foto de: Jose Pereira de Lima (Cazuza) - Cedida pela família.

No momento do tiroteio ele estava deitado em uma rede na sala com as pernas cruzadas, a bala atingiu os dois pés da criança. Antônio Ferreira ordenou cessar fogo para deixar a mulher ir embora com o filho. O tiroteio durou a tarde inteira. 

Segundo o historiador João Gomes de Lira, a polícia que já vinha no encalço do bando, ainda ouviu os últimos disparos. Com o cair da tarde, o bando resolveu botar fogo na residência, para isso, os cabras arrancaram toda madeira do curral e juntaram ao redor da casa. Depois, atearam fogo. As labaredas subiram e se alastraram, queimando as paredes e arriando o telhado. 

José de Esperidião resistiu bravamente até a munição se esgotar, morreu dentro de casa asfixiado pela fumaça. 

O bando seguiu viagem pelas margens do riacho grande, um afluente do rio Pajeú, chegaram na casa de Tiburtino Serafim, no sítio Tamboril, município de Calumbi, onde mandaram preparar um jantar e pediram duas redes para conduzir dois cangaceiros que foram baleados no tiroteio com José de Esperidião. 

Na casa de Tiburtino Serafim havia uma mulher de resguardo pós parto, quando ela viu o bando, tomou um susto, quebrou o resguardo, ficou doente e em poucos dias faleceu.

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CANGACEIROS - GUERREIROS EXTRAVIADOS NO TEMPO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Foi no início da década de 1970 que conheci pessoalmente Frederico Pernambucano de Mello e travei contato com os primeiros resultados de suas pesquisas e reflexões sobre o Cangaço — tema que nos fascina a ambos e que é, a meu ver, o maior responsável pela sedução que o Sertão nordestino vem exercendo, por motivos diversos e desde o início do século XX, sobre várias gerações de escritores, sociólogos, historiadores e artistas brasileiros, de todas as regiões do País.

Em 1973, em um artigo que publiquei no extinto Jornal da Semana, do Recife, a propósito do romance Sem lei nem rei, de Maximiano Campos — escritor nascido no Recife, de estirpe da Zona da Mata pernambucana e das casas de engenho, mas cujo romance gira em torno do Cangaço, da caatinga e das casas de fazendas sertanejas — fiz referência ao trabalho de Frederico Pernambucano nos seguintes termos: "Ao tempo cm que apareceu Sem lei nem rei, eu ainda não conhecia Frederico Pernambucano, um dos maiores conhecedores do Cangaço com quem já tive oportunidade de conversar. Não conhecia, portanto, sua teoria a respeito da personalidade dos cangaceiros, teoria que procura explicar a psicologia desse nosso herói extraviado através de dois polos principais: o orgulho e aquilo que Frederico Pernambucano chama de 'o escudo ético'. 

Com a franqueza e a ausência de inveja com que procuro me pautar, digo que, sem sombra de dúvida, a teoria de Frederico Pernambucano — que eu espero ver um dia colocada por ele em livro — foi a única que, até o dia de hoje, me pareceu convincente: foi a única que explicou a mim próprio os sentimentos contraditórios de admiração e repulsa que sinto diante dos cangaceiros". (jornal da Semana, Recife, 24 a 30 de junho de 1973).

O meu desejo de ver a teoria de Frederico Pernambucano em livro se realizaria em 1985, com a publicação do seu admirável Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil, livro que se tornou um clássico da historiografia do Cangaço. Trata-se, de fato, de um livro de qualidades incomuns, ao qual tenho voltado de vez em quando para relê-lo e sentir o mesmo impacto, a mesma força que ele me transmitiu na primeira leitura — sem que eu tenha até hoje compreendido bem, diga-se de passagem e sem desrespeito, à memória de Gilberto Freyre, a afirmação que este faz em seu erudito prefácio, quando aponta as "lições" que Frederico teria aprendido com os "romancistas ingleses". 

Tendo passado toda a minha infância e parte da adolescência no Sertão da Paraíba, entre os anos de 1928 e 1942, foi desde cedo que entrei em contato com "o mundo estranho dos cangaceiros", para fazer-me valer da expressão de Estácio de Lima. Menino ainda, antes mesmo de ter aprendido a ler, ouvia casos e histórias envolvendo os cangaceiros, suas incursões pelas vilas e fazendas e seus atos de heroísmo e crueldade, narrados por meus familiares e pelo povo sertanejo, por agregados e trabalhadores das fazendas do meu Pai e dos meus tios. 

Depois, na feira de Taperoá, entrava em contato com os cantadores e poetas populares, através dos quais muitas daquelas histórias reais eram transfiguradas na primeira poesia de natureza épica que conheci em minha vida. Com o passar do tempo, naturalmente, à medida que eu crescia e abria os olhos para o mundo, tudo aquilo foi se identificando com o meu universo familiar e pessoal. Eu tomava consciência, por exem-plo, de que meu Pai, João Suassuna, que governara a Paraíba de 1924 a 1928, e que, então Deputado Federal, tombara assassinado em 1930, numa rua movimentada do centro do Rio de Janeiro, naquele que até mesmo um dos seus adversários políticos — José Américo de Almeida — considerou "o mais monstruoso dos atentados", foi, ao longo do seu mandato de Governador — ou de "Presidente", como se dizia no tempo —, incansável na luta contra o Cangaço, tendo sido o grande responsável pelo fim dos ataques e incursões dos bandoleiros em terras paraibanas. Com o aumento considerável no efetivo da força policial, reforço no armamento, adoção de uniforme mais condizente com as condições ecológicas da caatinga e a criação de tropas "fora de linha", a Paraíba, durante o governo de João Suassuna — que contava com o apoio incondicional do Coronel José Pereira, seu correligionário e líder político da cidade de Princesa — passou inclusive a colaborar de modo efetivo com outros estados nordestinos na luta contra o Cangaço, tendo as volantes paraibanas ido em auxílio de municípios de Pernambuco, do Ceará e de Alagoas. 

Foi, aliás, no município de Flores, em Pernambuco, lutando contra uma volante da Paraíba, que o bando de Lampião sofreu, em 1925, uma de suas maiores baixas — a morte de Levino Ferreira, um dos irmãos do chefe. De maneira que é com imenso orgulho que ouço, ainda hoje, o repente popular:

Lampião acovardou-se 
com a sua cabroeira. 
Não entra na Paraíba 
com medo de Zé Pereira: 
o doutor João Suassuna 
mandou dar-lhe uma carreira.

Que se entenda, então, que quando afirmo a minha admiração pelos cangaceiros, fazendo a sua exaltação enquanto figuras romanescas e de expressão do Nordeste, ou reconhecendo a coragem da sua vida épica e desgarrada, não estou, de maneira nenhuma, fechando os olhos para o fato de que eram também bandidos impiedosos, que sacrificavam vidas de pes-soas indefesas e pacatas da forma a mais brutal possível — e creio que isso tenha ficado claro naquele artigo há pouco citado, quando falo num sentimento contraditório de admiração e repulsa. 

Mas, de fato, não há como negar o fato de que o cangaceiro não era um bandido comum. Sem entrar em detalhes que identificariam "tipos de Cangaço" dentro do Cangaço, o cangaceiro era um guerreiro extraviado no tempo, com sentimentos de honra e lealdade fora dos padrões normais, às vezes somente compreendidos no seio do seu próprio grupo. Como já afirmei em outra oportunidade, creio sim que somente quem estuda o fenômeno do Cangaço com espírito sectário pode se extremar na admiração sem reservas ou na condenação total dos cangaceiros, vendo-os ora como reivindicadores sociais, por um lado, ora como simples bandidos, no sentido estritamente jurídico do termo, por outro. 

A aura de epopeia que indiscutivelmente o envolve tem feito do Cangaço, ao longo do tempo, fonte inesgotável de inspiração para artistas dos mais diversos gêneros — da Literatura ao Cinema, do Teatro às Artes Plásticas — tanto na vertente erudita quanto na popular. E se há no Cangaço um elemento épico, este é ainda exacerbado pelos trajes e equipagem dos cangaceiros, com os seus anéis e medalhas, seus lenços coloridos, seus bornais cheios de bordaduras, os chapéus de couro enfeitados com estrelas e moedas — tudo isso que se coaduna perfeitamente com o espírito dionisíaco de dança e de festa dos nossos espetáculos populares e compõe uma estética peculiar, rica e original, agora minuciosamente estudada por Frederico Pernambucano neste seu novo trabalho, que tenho a honra de prefaciar. 

Como bem afirmou Carlos Newton Júnior, em um dos poemas do seu livro Canudos, trata-se, de fato, de uma

Estética orgânica, 
estética de organismo, de vida. 
com a sua cabroeira. 
Não entra na Paraíba 
com medo de Zé Pereira: 
o doutor João Suassuna 
mandou dar-lhe uma carreira.

Que se entenda, então, que quando afirmo a minha admiração pelos cangaceiros, fazendo a sua exaltação enquanto figuras romanescas e de expressão do Nordeste, ou reconhecendo a coragem da sua vida épica e desgarrada, não estou, de maneira nenhuma, fechando os olhos para o fato de que eram também bandidos impiedosos, que sacrificavam vidas de pes-soas indefesas e pacatas da forma a mais brutal possível — e creio que isso tenha ficado claro naquele artigo há pouco citado, quando falo num sentimento contraditório de admiração e repulsa. 

Mas, de fato, não há como negar o fato de que o cangaceiro não era um bandido comum. Sem entrar em detalhes que identificariam "tipos de Cangaço" dentro do Cangaço, o cangaceiro era um guerreiro extraviado no tempo, com sentimentos de honra e lealdade fora dos padrões normais, às vezes somente compreendidos no seio do seu próprio grupo. Como já afirmei em outra oportunidade, creio sim que somente quem estuda o fenômeno do Cangaço com espírito sectário pode se extremar na admiração sem reservas ou na condenação total dos cangaceiros, vendo-os ora como reivindicadores sociais, por um lado, ora como simples bandidos, no sentido estritamente jurídico do termo, por outro. 

A aura de epopeia que indiscutivelmente o envolve tem feito do Cangaço, ao longo do tempo, fonte inesgotável de inspiração para artistas dos mais diversos gêneros — da Literatura ao Cinema, do Teatro às Artes Plásticas — tanto na vertente erudita quanto na popular. E se há no Cangaço um elemento épico, este é ainda exacerbado pelos trajes e equipagem dos cangaceiros, com os seus anéis e medalhas, seus lenços coloridos, seus bornais cheios de bordaduras, os chapéus de couro enfeitados com estrelas e moedas — tudo isso que se coaduna perfeitamente com o espírito dionisíaco de dança e de festa dos nossos espetáculos populares e compõe uma estética peculiar, rica e original, agora minuciosamente estudada por Frederico Pernambucano neste seu novo trabalho, que tenho a honra de prefaciar. 

Como bem afirmou Carlos Newton Júnior, em um dos poemas do seu livro Canudos, trata-se, de fato, de uma

Estética orgânica, 
Estética de organismo, de vida. 
Estética orgânica, 
Estética de organismo, de vida. 
Contrária ao branco, ao cinza, 
À morte descolorida.

Ora: se todo prefaciador é de certo modo suspeito em seus elogios, devo confessar que, no meu caso, a suspeição aumenta ainda mais, pois vejo que eu e Frederico Pernambucano concordamos em quase tudo o que diz respeito ao Cangaço. Além disso, Frederico encontra frases e expressões precisas e de grande efeito poético para definir as suas ideias, sempre ricas e cheias de sugestões. 

Para dizer, por exemplo, aquilo que afirmei há pouco, no tocante ao fato de que os cangaceiros não eram bandidos comuns, afirma Frederico que eles eram "criminosos na epiderme e irredentos no mais fundo da carne". Outra expressão muito bem conseguida é a "blindagem mística" que Frederico identifica a certa funcionalidade dos trajes dos cangaceiros, pela profusão de signos de defesa e rebate que eles usavam como adornos. De maneira que, se tivessem sido outras as minhas inclinações no campo das Letras; se o destino e a vida tivessem me direcionado, em algum momento, não para a Beleza da Literatura, mas para a Verdade das ciências — da História, da Sociologia ou da Antropologia; se a enigmática roda da Fortuna tivesse me lançado em outro palco que não o do Picadeiro-de-Circo onde exerço, até hoje, ainda animoso e cheio de esperanças, as minhas artes de Palhaço frustrado, de Cantador sem repentes e de Professor; não seria outro, senão este Estrelas de Couro, de Frederico Pernambucano de Mello, o livro que eu gostaria de ter escrito.


Ariano Suassuna Recife, 15 de março de 2010

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/07/cangaceiros-guerreiros-extraviados-no.html

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DIA DO ESCRITOR


Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes

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ÚLTIMO CHAPÉU USADO POR LAMPIÃO

Material do acervo do pesquisador do cangaço Pedro R. Melo
Acervo: Instituto Histórico e geográfico de Alagoas - Foto: Fred Jordão

Segundo os pesquisadores este chapéu foi o último usado por Virgulino Ferreira da Silva, o famoso e sanguinário capitão Lampião. Foi confeccionado com Couro de Veado, vaqueta, verniz e ouro, 1938.

A fotografia foi gentilmente enviada pelo pesquisador do cangaço Pedro R. Melo.

Fonte: facebook
Página: Pedro R. Melo
Grupo: Pedro R. Melo
Link: 
https://www.facebook.com/profile.php?id=100009404264951

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SEVERINO DE SOUSA SILVA – BIRÓ DE BERADEIRO

Por Jerdivan Nobrega de Araújo

Severino de Sousa Silva,o “Biró de Beradeiro”,nasceu em 15 de novembro de l923, no sítio Jurema, município de Pombal, para onde veio em l953. Era casado com D. Maria de Almeida da Silva, pai de quatro filhos: Severino de Sousa Silva Filho. Francisco Sales Almeida Silva, Cláudio de Sousa Silva e José Araújo Filho.


Oriundo de uma numerosa família composta de oito irmãos e tendo como pais, Maria Próspera de Araújo e João Correia da Silva. Biró não carrega o sobrenome da família porque resolveu depois de adulto homenagear seu bisavô. Aos 18 anos foi ao cartório,conseguindo modificar o nome que era Severino Correia de Sousa para o que respondeu pelos resto da sua vida.

Em 1953, inicia-se na carreira de repentista e animador das campanhas políticas em Pombal, sendo interrompida em 1964, quando Biró migra com a família para Brasília, só retornando em 1969, ocasião em que se estabelece no comércio local com um restaurante, que funcionou por muito tempo na esquina leste do Mercado Público. Lembro-me dele, numa velha cadeira de balançar, soltando pilhérias e rindo de quem passava nas imediações, ou fazendo poesias para o deleito dosque ali frequentavam.


Como bem lembrou Wertevan, Biró era um homem do seu tempo e deve ser entendido dentro do contexto em que foi protagonista, atuando como agente transformador de opiniões populares, fruto de uma elaboração coletiva criada nas lutas políticas, engendradas pelas oligarquias locais...

Fez inúmeras campanhas políticas em Pombal.Com aptidão para a rima do tipo literatura de cordel, criou jargões, inventou tipos e caricaturas, compôs versos rimados, fez dezenas de paródias, que são imitações burlescas de outras composições. A cada eleição, Biró, leal ao estilo do cordel, fazia suas composições para animar a plateia e eleitores do seu partido e assim, muitas vezes, enfureceu seus adversários, mas que, ao passar do tempo se fez amigo daqueles com quem manteve contendas no calor das campanhas eleitorais. 

Sua primeira participação em campanhas foi em 1955 quando Dr. Avelino foi candidato a Prefeito contra Elry Medeiros, mas, as paródias só vieram a partir de 1963 desta feita era candidato Dr. Avelino contra Paulo Pereira Vieira.

Duas das mais lembradas são estas de 1963:


AVELINO VEM AÍ: (Paródia do frevo Gagárim)

Avelino é candidato de conceito.
Com Nelito vão marchar para a vitória.
O povo já lhes consideram eleitos.
Vai ser o nosso Prefeito
Que vai ficar na história

Pombal agora
Vai dar um passo à frente.
Duas figuras decentes.
Vão governar sem demora.
É Avelino e Nelito que o povo quer.
Vai ser nosso Prefeito
Em Pombal se Deus quiser


VAMOS PRA VITÓRIA (Na música Morena)

Para Pombal tomar jeito 
Eu vou, eu vou votar..
Em Avelino pra Prefeito 
Eu vou , eu vou votar. 
Eu vou, eu vou votar.
Junto a Nelito.
Vai se eleger.
Trabalhar pra nossa terra
Vou mostrar que vão fazer


O BOLINHA (Frevo)

Esse bolinha é parada 
É bem bolado, é genial.
Vai ser prefeito da cidade.
Vai governar esse meu Pombal.
Vai vaivaivaivaivai.

Vai vaivaivaivai.
Vai governar esse meu Pombal.
Vai vaivaivai.
Vai vaivaivaivai.
Vai governar esse meu Pombal.


Biró foi eleito vereador por duas vezes( 1973 a 1982). A primeira com um mandato de quatro anos e a segunda, de seis anos. Em l976, os mandatos de vereadores e Prefeitos foram prorrogados por mais dois anos, por isso na segunda legislatura, esse mandato de seis anos. Entre 1982 e 1988 foi vice prefeito de Pombal na chapa encabeçada por Levi Olinto.

Já no final da sua vida foi definitivamente eternizado pelo escritor e historiador pombalense Wertevan Fernandes que publicou o Livro “ A vida de Biró”, com duas edições editadas.

Biró faleceu no dia 08 de setembro de 2009 aos 80 anos de idade, três dias depois da Câmara Municipal de Pombal ter-lhe prestado homenagens por sua contribuição a história da cidade.

*Fonte: o livro a “ A vida de Biró” do Professor Wertevan Fernandes

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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FAZENDA JARAMATAIA


VAMOS VOLTAR AO LONGÍNQUO ANO DE 1929. VAMOS LÁ PARA A FAZENDA JARAMATAIA QUE FICA LOCALIZADA NAS IMEDIAÇÕES DO PEQUENO MUNICÍPIO SERGIPANO DE GARARU, PERTENCENTE AO DR. HERONILDES DE CARVALHO FILHO DO FAMOSO CORONEL ANTÔNIO CAIXEIRO.

Nesse cenário encontraremos Lampião e seus homens arranchados e sob a proteção do Capitão/Médico do Exército, Dr. Heronildes de Carvalho, uma das pessoas mais influentes e politicamente poderosas, que veio a se tornar, inclusive, Intervetor (Governador), daquele estado durante a gestão presidencial de Getúlio Vargas.

No ano de 1929 durante a passagem de Lampião e seus comandados por suas terras, Heronildes de Carvalho que gozava da mais profunda confiança do cangaceiro-mor, aproveitou para realizar o registro fotográfico do mais famoso bando cangaceiro do Nordeste, e o resultado dessa iniciativa vocês podem conferir em uma das fotografias que foram registradas como essa abaixo em que aparecem Ezequiel Ferreira da Silva “Ponto Fino” irmão mais novo de Lampião e Virgínio Fortunato da Silva “Moderno”, viúvo de Angélica Ferreira irmã de Lampião.

Em breve apresentaremos outras fotografias que foram registradas pelo Dr. Heronildes de Carvalho nessa mesma ocasião.

ANDEM DEVAGAR... NÃO TENHAM PRESSA... POIS O FIM DA VIDA É A LINHA DE CHEGADA.

Fica o conselho do Capitão.
TENHAM TODOS (AS) UM EXCELENTE DIA.
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo)

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REPORTAGEM SOBRE O ASSASSINATO DE BENJAMIN ABRAÃO BOTTO

Por Cap Cangaceiro

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CASA DE ZÉ SATURNINO


José Saturnino (Sentado à direita), maior inimigo de Lampião, em frente à sua casa, perto da Serra Vermelha em 1975.

À esquerda da casa fica o pasto, onde, em 1916, ele e os irmãos “Ferreiras” trocaram seus primeiros tiros.

Foto: Billy Jaines Chandler
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do grupo O Cangaço)

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FOTO TIRADA EM 1906.

Por Verneck Abrantes de Sousa

1 -Capitão Vicente de Sousa Nazaré – Cunhado de João Fontes. 

2 – Coronel João Queiroga – Pai de Epitácio e Joquinha. 
3 – Coronel Antônio Ferreira Lima – Pai de Padre Assis. 
4 – Monsenhor Valeriano. 
5 - Coronel João Leite Ferreira Primo – Avô de Mario Leite. 
6 - João Pereira Fontes – Pai de Cláudia Fontes. 
7 – Antônio Fernandes Vieira – Irmão de Dona Neca. 
8 – Manoel Honório – Pai de Deca. 
9 – Teodorico Correia Vital. 
10 – Caetano Coelho-Buá. 
11 – Filemon Benigno de Sousa – Pai de José Benigno – Lelé. 
12 – Evidio Limeira. 
13 – Guilhermino Santana – Pai de Zezinho e Saturnino Santana. 
14 – Manoel de Severino – Pai de José de Júlia. 
15 – João Correia – Pai de Maria Júlia. 
16 – Onofre – Pai de Cora. 
17 – Chagas Vital – Pai de Raimunda, que morou na casa de Leó. 
18 – José Menandro da Cruz. 
19 – Alfredo de Castro – Pai de Georgina. 
20 – Capitão José Irineia – Casado com a tia de Major Salgado. 
21 – José da Silva.

Verneck Abrantes de Sousa. Agrônomo. Escritor. Natural de Pombal/PB

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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A DEVOÇÃO CANGACEIRA OU LAMPIÃO SANTIFICADO

*Rangel Alves da Costa

Difícil de acreditar, mas aconteceu de verdade. Quando Padre Gerômio chegou ao batente da Velha Titoca carregando Bíblia, um frasco de água benta, uma cruz de madeira e vários outros apetrechos de exorcização, ouviu da dona da casa que se desse um passo adiante ela tacaria o cabo de vassoura nas fuças.

O sacerdote recuou indignado, escandalizado com a reação da mulher diante de um representante divino na terra. E ele que estava em missão das mais importantes, pois havia chegado aos seus ouvidos, em segredo na sacristia, que a velha senhora mantinha no oratório, ao lado de figuras sacras, uma imagem feita de barro de Lampião.


Esse mesmo, Lampião, batizado Virgulino Ferreira da Silva, mas também conhecido por Lampião, Capitão, Rei do Cangaço e muitas outras portentosas alcunhas. Mas um bandido, um verme sanguinário, um bandoleiro cruel, na concepção do Padre Gerômio. Por isso mesmo que estava ali para expulsar esse cangaceiro da companhia dos outros santos. E quem já viu Lampião ser devotado, santificado, adorado, mantido fervorosamente num oratório?

Do lado de fora, sob a ameaça da vassoura da velha, tentou argumentar a todo custo, afirmando ser uma heresia, um pecado descomunal o que ela havia feito ao colocar um bandido ao lado de santos, até da imagem do Nosso Senhor Jesus Cristo. Se benzendo a todo instante, ainda disse que ou ela o deixava limpar o oratório daquela coisa ruim ou seria impiedosamente excomungada.

E disse mais que até aceitava, por força da religiosidade e misticismo do povo sertanejo, que houvesse devoção ao Padre Cícero Romão Batista e ao Frei Damião, forçadamente reconhecidos como santos por aquele povo, porém era contra todos os princípios da igreja pretender santificar um cangaceiro, um homem que tanta tristeza havia trazido para toda a região nordestina.

Sinhá Titoca baixou a vassoura, mas não sem antes cuspir no chão logo embaixo, afirmando que se passasse dali, se desse ao menos um passo adiante, poderia ser considerado um padre descadeirado, sem poder rezar missa mais nunca. O padre tentou levantar a cruz, porém ela mandou baixar na hora, tirando de dentro do bolso uma pequena Bíblia e dizendo que ali estava escrito o porquê de Lampião ter todo o direito de estar e permanecer dentro do seu oratório.

Mas antes de entrar nas explicações bíblicas, disse que não cabia a nenhum padre ou pastor dizer quem ela deveria devotar ou não. A sua fé e a sua religião competiam somente a ela, que tinha como santo e acreditava somente em quem ela queria. E foi logo dizendo que a história de Lampião não era muito diferente de um monte de homens que foram pecadores, guerreiros, ladrões, tiranos, mas que com o tempo a igreja foi reconhecendo alguns dos seus méritos e santificando-os como verdadeiros mártires.

Em seguida perguntou se Lampião só havia praticado crueldade na vida, se era essa monstruosidade toda que os ignorantes diziam, se era um homem sem fé, sem religião e entregue somente ao mundo do pecado. Pelo que sabia, era um homem normal, como todos os santos da igreja, que um dia foi batizado, era apegado demais às coisas divinas, devoto de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Virgem Maria, temente a Deus acima de tudo, e que sempre rezava fervorosamente ao anoitecer e amanhecer.

E levantando a Bíblia disse que o padre deveria ler melhor suas entrelinhas, os verdadeiros fundamentos de suas palavras. E isto porque estava escrito em Eclesiástico 13,4: “O rico comete uma injustiça e em seguida se põe a gritar; o pobre, ofendido, guarda silêncio”. E Deus queria que Lampião deixasse toda aquela opressão sem resposta, sem esbravejar, sem lutar?

Por isso mesmo que foi perdoado por Deus pelos erros cometidos em nome de uma nobreza maior, que é lutar contra as injustiças. Ademais, está escrito em Hebreus 9.22: “conforme a lei, o sangue é utilizado para quase todas as purificações, e sem derramamento de sangue não há perdão”. Daí, padre, que se Lampião cometeu crime de sangue foi procurando purificar a região da crueldade dos verdadeiros bandidos. E há muito que foi perdoado. Argumentou a velha senhora.

E continuou dizendo que como a igreja havia reconhecido seus mártires e os tornado santos, bem assim ela reconhecia Lampião como um grande mártir do sertão. Lampião sofreu perseguições e tormentos até a morte; se sacrificou em nome daquilo que acreditava, que era ver sua terra sem tantas injustiças sociais; e não se desumanizou, pois morreu com Deus no coração.

E por último disse que como sua casa era sua igreja, daquele momento em diante já não era nem mais igreja, mas sim o Vaticano. E ela a sucessora de Pedro, e nesta condição acabava de promover aquela imagem de barro em santidade, em São Lampião. E se o padre estivesse achando ruim que botasse o pé adiante da porta.

Temeroso, o sacerdote deu a volta e saiu apavorado e sem direção. O pior não foi nem seu insucesso exorcizatório, mas sim o temor de que aquela conversa se alastrasse e parte do povo sertanejo chegasse ali em procissão buscando auxílio aos pés do santo bandoleiro.


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