Por Roberto Almeida
Neste mês de
janeiro de 2017 completa 100 anos que ocorreu a hecatombe de Garanhuns.
Uma página
triste da história do município, quando mais de duas dezenas de pessoas foram
assassinadas em função de atitudes intempestivas, equívocos, brigas políticas e
por vingança.
A ORIGEM DO
CONFLITO - Do fim do século XIX até 1912 a família Jardim deteve o poder
em Garanhuns. A partir desse ano a política passou a ser comandada pelo coronel
Júlio Brasileiro.
Foto
- terradomagano.blog.spot.com
A rivalidade
entre essas duas facções políticas era grande e envolvia também a família
Miranda, aliada dos Jardins.
Em 1916 é
formado um forte grupo de dissidentes, com a participação da família Jardim,
para concorrer à prefeitura, tendo candidato o Dr. José da Rocha Carvalho.
O grupo tinha
o apoio de nomes de prestígio na época, como o major Sátiro Ivo, os médicos
Rocha Júnior e Borba de Carvalho e do próprio prefeito da época, Francisco
Vieira dos Santos, que foi eleito pelo grupo do coronel, mas rompeu com este.
Os
situacionistas, então, para não perder o poder lançaram a candidatura do
deputado Júlio Brasileiro ao Governo Municipal e este obteve uma vitória
expressiva.
A eleição foi
anulada por conta de denúncias de irregularidades, o povo teve de voltar às
urnas e Júlio, sem concorrentes, ganhou outra vez. Não chegou a assumir por
conta da tragédia do ano seguinte.
Segundo os
historiadores o coronel era um “fidalgo rural educado”, que fazia amigos com
facilidade. Ele não era violento, mas tolerava abusos de seus correligionários.
Foram os
familiares do coronel, principalmente seu irmão mais novo, Eutíquio, que
precipitaram a tragédia.
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SALES VILA
NOVA – O capitão Sales Vila Nova era amigo e compadre de Júlio Brasileiro.
Tinha, no entanto, um caráter irrequieto e mania de ser do contra. Começou a
denunciar, através de artigos de jornais, abusos praticados pelo grupo que
estava no poder.
Eutíquio
então, contratou seis homens para dar uma surra de cipó de boi no
Capitão.
Embora fosse
pacato - ninguém podia julgar que pudesse matar alguém - Vila Nova não suportou
a humilhação. Pegou um trem para o Recife, foi até o Café Chile, que era
vizinho ao Diário de Pernambuco, e neste local, encontrando o coronel Júlio
Brasileiro disparou vários tiros e matou o líder político garanhuense.
Quando a
notícia do assassinato chegou a Garanhuns a viúva do coronel, Ana
Duperon, exigiu vingança.
Disse que não
derramaria uma lágrima pelo marido enquanto ele não fosse vingado.
Vila Nova agiu
por conta própria, tendo matado Júlio Brasileiro como forma de se vingar da
surra que lhe fora dada. Mas a família do coronel botou na cabeça que tudo
tinha sido uma trama envolvendo a oposição, à frente as famílias Jardim e
Miranda.
Houve então
como que um complô, envolvendo Ana Duperon, o delegado e tenente Antônio de
Pádua, o juiz José Pedro de Abreu, o oficial reformado Antônio Padilha e
diversos correligionários de Júlio Brasileiro, para assassinar os considerados
responsáveis pela morte do deputado.
Foi formulado
um plano para levar os inimigos para a cadeia pública, sob o pretexto
de dar-lhes segurança.
Tudo não
passou de uma armadilha e os que foram detidos foram mortos dentro do prédio
público, sem nenhuma chance de defesa.
Padre Benigno
Lira ainda tentou evitar a tragédia chamando os Brasileiro à razão. Não
conseguiu.
Cadeia
Pública na época da Hecatombe - Site da Universidade Federal da Paraíba.
A cadeia foi
invadida, o Cabo Cobrinha tombou defendendo a vida dos que estavam sob a sua
guarda e a chacina foi praticada covardemente.
Foi preciso
vir um trem do Recife com reforço policial para acalmar os ânimos em Garanhuns.
Depois dos crimes praticados na cadeia, outras mortes aconteceram, de modo que
o gesto tresloucado de Sales Vila Nova resultou no final das contas em mais de
20 pessoas mortas, entre familiares dos Brasileiro, dos Jardim, dos Miranda,
além de bandidos contratados para a matança que também tombaram.
LIVROS –
Os acontecimentos de 1917 foram noticiados por toda a imprensa da capital e
jornais do Centro Sul. O assunto foi abordado também em livros como “A Anatomia
de Uma Tragédia – A Hecatombe de Garanhuns”, do juiz Mário Márcio de Almeida e
"História de Garanhuns", do historiador Alfredo Leite.
Mais
recentemente, o professor Cláudio Gonçalves de Lima publicou “Os Sitiados”, em
que narra a história da hecatombe usando técnicas de romancista.
Desde o ano
passado foi criada uma Comissão do Centenário da Hecatombe de Garanhuns. Esta
organizou, de 5 a 15 de janeiro de 2017 uma significativa programação para
marcar os 100 anos da tragédia que aconteceu no município.
“O fato
histórico completará 100 anos no próximo dia 15 de janeiro e será lembrado com
uma exposição, palestras, culto de ação de graça e missa”, informam os que
integram a Comissão.
Haverá também
sessão solene na Câmara de Vereadores, caminhada e uma placa alusiva a data que
será fixada no prédio da Compesa, na Praça Irmãos Miranda, local onde ocorreu a
chacina. Naquela época, no local, funcionava uma delegacia e a cadeia pública
da cidade.
CONFIRA A
PROGRAMAÇÃO:
05 a 30/01 –
Exposição do Memorial da Hecatombe de Garanhuns. Local: Instituto Histórico e
Geográfico de Garanhuns - Praça Dom Moura, 44 - Centro - Horário: 08:00
às 17:00 horas.
10/01
– Apresentação
dos trabalhos da Comissão da Hecatombe – Vereador Audálio Ramos Machado Filho.
Local: Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns. Horário: 19:30 horas.
11/01
– Palestra: “O
Cangaço no Agreste Meridional” – Professor e escritor Antônio Vilela. Local:
Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns. Horário: 19:30 horas.
12/01
- Palestra:
“Hecatombe de Garanhuns – Interpretação Baseada na Política Salvacionista” –
Professor e Escritor José Cláudio Gonçalves de Lima. Local: Academia de Letras
de Garanhuns. Horário: 19:30 horas.
13/01
– Sessão
Solene Câmara de Vereadores de Garanhuns – Homenagem do 9º BPM ao Cabo Cobrinha
e aos soldados mortos na Hecatombe de Garanhuns e palestra: O jovem Tenente
Theophanes Ferraz Torres e suas enérgicas providências na Hecatombe de
Garanhuns - Escritor Geraldo Ferraz – Horário: 19:30 horas.
15/01
– Caminhada da
Paz “Caminhantes do Parque”– Saída ás 07:00 horas do Parque Euclides Dourado.
- Fixação de
placa na Loja de Atendimento da Compesa (antiga cadeia). Local: Praça irmãos
Miranda. Horário: 09:00 horas.
- Culto
na Igreja Presbiteriana Central. Horário: 10:00 horas.
- Missa na
Catedral de Santo Antônio. Horário: 19:30 horas.
Apoio: Prefeitura
Municipal de Garanhuns, Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns, Academia
de Letras de Garanhuns, Compesa, 9º BPM, CDL, Caminhantes do Parque, Igreja
Presbiteriana Central, Diocese de Garanhuns e SESC Garanhuns.
Cadeia Pública
na época da Hecatombe
ROBERTO ALMEIDA - Um jornalista a
serviço de Garanhuns e do Agreste
http://robertoalmeidacsc.blogspot.com.br/2017/01/cem-anos-da-grande-tragedia-em-garanhuns.html
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