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domingo, 4 de agosto de 2024

VISITA À RÉPLICA DA CASA DE DONA JACOZA, AVÓ DE LAMPIÃO.

Por Cangaçologia
https://www.youtube.com/watch?v=ozggVKj0D6I

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Estivemos recentemente no Sítio Passagem das Pedras no município pernambucano de Serra Talhada e fizemos uma visita à réplica da antiga casa que pertenceu a dona Jacoza, avó de Lampião. Local onde Virgolino Ferreira da Silva “Lampião” foi criado e passou grande parte de sua infância e adolescência.

A casa que foi reconstruída a partir das características da época é um espetáculo para quem visita. Nela o visitante pode conhecer móveis e objetos da época e contemplar o piso original da antiga casa e uma antiga cama que pertenceu a dona Jacoza.

Uma história contada pelo zelador da casa (Sr. José Carlos) me intrigou, mas esse é um assunto para outro vídeo do canal.
Assistam e vejam com seus próprios olhos. Ao final deixem seus comentários, críticas e sugestões. INSCREVAM-SE no canal e ATIVEM O SINO para receber todas as nossas atualizações. Forte abraço... Cabroeira! Atenciosamente:
Geraldo Antônio de Souza Júnior – Criador e administrador do canal.

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O CANGAÇO ALÉM DO TEMPO E DO TERRITÓRIO É FONTE DE INSPIRAÇÃO

Por Sílvio Oliveira

Indumentárias utilizadas têm representatividade, símbolos e são base de fonte para a MODA. Foto: Silvio Oliveira.

Quando 28 de julho chega, a família Ferreira, os descendentes do movimento do Cangaço, pesquisadores de todo o país, estudantes e a comunidade do Baixo São Francisco e Alto Sertão convergem como num ritual para a Grota do Angico, com o intuito de lembrar os anos de morte do Rei do Cangaço, da sua Maria Bonita e seus integrantes, ceifados em uma emboscada na Fazenda Angico, então pertencente ao município de Porto da Folha e hoje território de Poço Redondo (SE). O Cangaço além do tempo e do território é fonte inesgotável para a moda, a gastronomia, o universo das artes, da liturgia, da música, do cinema.

Neste ano, a 27º Missa do Cangaço lembrou os 86 anos de morte como de costume, e habitualmente levantou a questão que traz o Cangaço para além das discussões do bom ou mal, do herói ou vilão: o legado que perpassa gerações, territórios e por que não dizer, materialidade, tempo e espaço!

Anéis e adornos
Foto: Adriana Hagenbeck
Cartucheiras, lenços, adornos
Foto: Adriana Hagenbeck

A sanfona ecoou no local emblemático de morte dos Cangaceiros e no ritmo do xaxado, quer fizesse chuva ou sol, a terra árida da Caatinga se mostrou colorida com a presença dos bornais de couro pitados a mão, dos adornos com bainhas coloridas e cabaças penduradas, das sandálias de couro, das jaquetas presentes no sertão de Sergipe e, por vezes, carregadas compassadamente por artistas e modelos em passarelas da moda pelo país e pelo mundo. Ah, e os chapéus encontrados em todo o país que significam imaginariamente resistência e força? As alpercatas em couro que calça gerações em todo o mundo?  A arte imita a vida e transcende a linha do tempo para dizer que o Cangaço está vivo e é MODA. O Cangaço além do tempo e do território é fonte inesgotável de inspiração.

O cordel continua a girar as crenças como de costume na galeria das ARTES, feito um Hino de Glória, para marcar que Cangaço é LEITURA, LITERATURA, LITURGIA E PESQUISA. Sim, o Cangaço é um dos movimentos mais pesquisados pelo mundo e por vezes esquecido nas escolas brasileiras. São contabilizados somente no Brasil mais de 48 filmes nos últimos tempos com a temática nordestina. É impossível identificar quantas citações, pesquisas ou textos, tamanha a quantidade, mas sabe-se que as palavras cangaço, Lampião, Maria Bonita, cada uma delas digitadas em fontes de pesquisas na internet vai ofertar mais de 4 milhões de resultados, tamanho é o interesse por essa temática.

Na Missa do Cangaço, não faltou MÚSICA que ecoou vivíssima no compasso do sanfona, do triangulo e da zabumba em xotes e o xaxados, típico da dança cangaceira. É possível que os gritos de guerra presentes na dança sejam traços de Virgulino e seus companheiros. Os atos litúrgicos católicos intrínsecos de espiritualidades fazem perpetuar o Cangaço como mito e não é da conta de ninguém. FÉ é pessoal.

Alpercatas é vendida em todo o país e por vezes já pisou em passarelas de todo o mundo. Foto: Silvio Oliveira
O Cangaço além do tempo e do território é fonte de inspiração. Óculos redondo e chapéu até hoje são símbolos. Foto: Silvio Oliveira

Só sei que quando a Missa termina, o cangaço continua presente no famoso ensopado de bode do sertão, nos embutidos de carneiro, na buchada, no sarapatel e até na carne seca ao sol acompanhada de raiz. O cangaço é certamente fonte de tradição para a GASTRONOMIA e, sendo gosto, cheiro, cores e tradições, nada melhor que influenciar criação de museus, de espaços, de memoriais, de rotas, de circuitos.  A Rota do Cangaço está presente interrestadualmente para lembrar que cangaço é TURISMO.

Por representar um importante fenômeno social e cultural da história brasileira, mais fortemente nos anos 20 e 30, constitui-se uma fonte inesgotável e presente no imaginário popular brasileiro. O Cangaço além do tempo e do território é fonte inesgotável de inspiração. Lampião e Maria Bonita vivem na devoção do sertanejo, nas cores da moda dos grandes centros, nas histórias de pesquisadores e estudantes e nos seus seguidores por todo o Brasil e Mundo. Um dos mais pesquisados e biografados brasileiro, será sempre fonte inesgotável.

https://infonet.com.br/blogs/silviooliveira/o-cangaco-alem-do-tempo-e-do-territorio-e-fonte-de-inspiracao/

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ACORDA MARIA BONITA, LEVANTA VEM FAZER CAFÉ...

 Por Wanessa Campos

“Acorda, Maria Bonita, levanta e vem fazer café…” Escutava com assiduidade a musiquinha na minha meninice em Triunfo, Sertão de Pernambuco, a minha cidade. E, diante da curiosidade infantil, ficava a perguntar a mim mesma quem era essa Maria dorminhoca que precisava ser despertada para fazer o café. Mais adiante, ainda menina, ouvindo as histórias do Cangaço, fiquei sabendo que a Bonita era a mulher de Lampião. Entendi a história pelo meio, ficou faltando um pedaço.

Maria Bonita

Já adulta, formada em jornalismo e morando em Recife, fui trabalhar exatamente numa editoria regional e fatalmente iria me deparar com fatos nordestinos. Cangaço, certamente, não seria uma notícia fora do contexto. Em 1991, houve um plebiscito em Serra Talhada, terra de Virgolino Ferreira, em torno de uma pergunta: Lampião era herói ou bandido? Dependendo do resultado, ele teria uma estátua de 30 metros de altura na sua cidade. A maioria votou que ele teria sido um herói, mas a estátua ainda não foi erguida. E ele não foi herói nem bandido, mas sim, história.

Diante de tão importante acontecimento, comecei a ler mais sobre o Cangaço. Fiquei tão deslumbrada que me apaixonei pelo tema. Fiz inúmeras reportagens, e Maria Bonita passou a ser uma figura de minha admiração. Com a proximidade do seu centenário de nascimento, decidi escrever sobre essa mulher tão corajosa, tão desafiadora no seu tempo, que rompeu paradigmas, virou musa, mito e fonte de inspiração até hoje.

Pesquisar sobre a mulher do Capitão talvez tenha sido a minha maior dificuldade profissional. As imprecisões, as contradições da sua vida passaram a ser um desafio. Como “sequenciar” a vida dessa Maria sobre quem pouco se sabe? Foram dois anos e meio de pesquisas, viagens, entrevistas, consultas em livros e jornais da época. O resultado está no livro “A Dona de Lampião” e continua aqui nesse blog com outras Marias. Outras “Mulheres do Cangaço”.

Veja se encontra este livro acima com o professor Pereira, através deste e-mail - franpelima@bol.com.br

https://mulheresdocangaco.com.br/sobre-2/

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SEBOEIRO/SEBO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de agosto de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.080

Um dos fundadores de Santana do Ipanema, o padre Francisco Correia, nasceu em Penedo no Bairro do Seboeiro e estudou em Portugal. Era visionário, milagreiro e orador vigoroso. O nome desse bairro antigo faz-nos lembrar de uma pessoa que usava sebo de boi. E naqueles tempos o sabão era feito de sebo de boi, entretanto, não sabemos a história do bairro penedense e também se ele ainda existe com essa denominação no Século XXI. Por coincidência, em Santana do Ipanema também havia uma rua que tanto era chamada “Rua da Cadeia Velha” quanto “Rua do Sebo”.  Algumas mulheres usavam o sebo de boi para fazer sabão e, montes de sebo estavam sempre à porta de casa, expostos. Daí a segunda denominação de Rua de Sebo e que foi a primeira rua de Santana após o quadro comercial. A Cadeia Velhas foi erguida antes da formação da rua.

CROQUI DA CADEIA VELHA NA MEMÓRIA DE BILL PINTOR. (LIVRO 230, ICONOGRÁFICO AOS 230 ANOS DE SANTANA DO IPANEMA.

A histórica Rua do Sebo ou da Cadeia Velha, somente ganhou nome oficial na Revolução dos anos 30, quando revolucionários – sob protestos do povo – aplicaram ali uma placa com o nome Cleto Campelo em homenagem a um dos cabeças da revolução. Tempos depois, essa via recebeu o nome de Antônio Tavares, também oficialmente e que perdura até o presente momento. Na Rua do Sebo nasceram os escritores Oscar Silva e Clerisvaldo B. Chagas, uma casa defronte a outra, porém não foram contemporâneos, em relação a nascimentos. É o próprio Oscar Silva quem registra o fato da mudança de nome popular da rua para Cleto Campelo. Inúmeras crônicas de ambos os escritores, imortalizaram a antiga Rua do Sebo.

Queríamos apenas chamar atenção para a coincidência de sebo em bairro de Penedo e em rua de Santana. O curto trecho onde ficava a Cadeia Velha, recebeu depois nome independente ficando desmembrada politicamente recebendo o título de Nilo Peçanha. Atualmente não existe mais vestígio da Cadeia Velha, demolida e transformada em casa comercial. Entretanto, nunca soubemos porque era chamada Cadeia Velha se não havia nenhuma cadeia nova. Só pode ter sido por causa da idade, pois fora erguida ainda no Século XIX.  (Ver no Boi, a Bota e a Batina, História completa de Santana do Ipanema).

Orgulho da “Rainha do Sertão!”

Orgulho em ser sertanejo, nordestino alagoano!


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LIVRO - O DIA EM QUE GRACILIANO RAMOS ENTREVISTOU LAMPIÃO

 "Cangaços" traz textos do escritor sobre o banditismo que aterrorizou o Nordeste no início do século passado e inclui uma conversa imaginária com Virgulino Ferreira, editada pela primeira vez em livro


"Aqui no sertão, quando um camarada tem raiva de outro, toca fogo nele. É a justiça mais usada e não falha. Temos também a dos autos, demorada, mas que não é má, porque os promotores se enrascam sempre e os jurados são bons rapazes.” Essa declaração poderia ter sido dita hoje, quando a justiça com as próprias mãos é praticada como decorrência de uma percepção errada das leis e da ação do Estado. Mas veio à luz há 83 anos, numa entrevista imaginária entre o escritor Graciliano Ramos e o cangaceiro Lampião, publicada no dia 16 de maio de 1931. Uma conversa fictícia? Exatamente – e aí está toda a diferença. Além de iluminar o processo criativo do autor de “Vidas Secas” e “São Bernardo”, o curioso texto encomendado pela revista alagoana “Novidade” surpreende pelo artifício utilizado. Entrevistas forjadas são muito comuns atualmente, mas na juventude de Graciliano eram uma ousadia. O bate-papo é um dos escritos inéditos do livro “Cangaços” (Record), que reúne ensaios e crônicas veiculados na imprensa, nos quais o escritor tratou do banditismo sertanejo.

 CRONISTA
Graciliano escreveu artigos para jornais e revistas de
Maceió e do Rio de Janeiro entre 1931 e 1941.

Haviam causado furor as duas “entrevistas reais”, concedidas por Lampião ao jornalista Otacílio Macedo, em março de 1926. Ao imaginar um diálogo por telepatia, Graciliano ataca a imprensa sensacionalista e, com ironia e tom jocoso, questiona o salteador sobre temas gerais. “Quais são as suas ideias a respeito da propriedade?”, pergunta. E o cabra macho: “Isso por aqui é nosso: gado, cachaça, mulher, tudo. É de quem passar a mão, entende?”. Sobre a família: “Pra dizer a verdade, nunca pensei nisso. E o senhor é danado de fuxiqueiro. Quanto à mulher, hoje a gente pega uma, larga amanhã, arranja outra, casa aqui, descasa acolá, e assim vamos indo.” Segundo o professor de editoração da Universidade de São Paulo (USP), Thiago Mio Salla, que organizou o livro ao lado da doutora em literatura brasileira Ieda Lebensztayn, mais que o estilo é a atualidade que surpreende nos 14 textos (foram acrescentados ainda dois capítulos de “Vidas Secas”, que ajudam a dar corpo ao conjunto de escritos reunidos pela primeira vez nessa perspectiva). “Mudam-se os atores, mas a violência é a mesma, estruturante”, diz Salla, acenando para os linchamentos, execuções e desmandos policiais recentes como exemplo de persistência de uma situação que parece estar no DNA nacional.

Ieda chama a atenção para o fato de essa produção, que durou uma década a partir de 1931, só agora ter sido classificada segundo a cronologia, o que possibilita saber o que veio à luz antes e depois da prisão do autor, em 1936, acusado de comunista. “Antonio Silvino”, por exemplo, é de 1938.
 


 NA MIRA
Lampião e seu irmão Antonio, [em Juazeiro do Norte]: morte prevista
pelo escritor seis meses antes de ser eliminado.

Se não falou realmente com Lampião, a conversa que teve com esse cangaceiro, cujo nome de batismo era Manoel Batista de Moraes, aconteceu de verdade. Silvino entrara para o crime aos 21 anos, após o assassinato do pai, e até os 37 realizou saques e matou muitos. Graciliano encontra-o na cadeia no primeiro ano de sua pena de duas décadas – vai ao presídio junto com José Lins do Rego, que o retrata em cinco livros. É descrito como “um desses pobres-diabos que morrem no eito e não fazem grande falta, aguentam facão de soldado nas feiras das vilas e não se queixam”. Aceitar a opressão sem reclame está, segundo o autor, na origem do conformismo que só precisa de uma coronhada no pé para explodir em revolta cega. Sentimento recorrente, expresso na frase “apanhar do governo não é desfeita”, dita por Fabiano, o retirante preso injustamente em “Vidas Secas”. Na crônica citada acima, o escritor mostra-se aberto à complexidade do que chama de “lampionismo”, já definido em texto anterior como o molde de onde saem sucedâneos em coragem e desventura: “o que transformou Lampião em besta-fera foi a necessidade de viver”, afirma. Como ressalva, registre-se que o autor mais uma vez incorre no preconceito racial ao apresentar Silvino como homem branco não “representante das raças inferiores”.

Publicado originalmente em Revista Istoé

http://lampiaoaceso.blogspot.com

O FOGO DAS GUARIBAS E O TRISTE FIM DO NÊGO MARROCOS.

 Por Bruno Yacub

Herlon Fernandes e Bruno Yacub

Em 1927, Macapá, hoje Jati, era distrito de Jardim, que ainda englobava Baixio do Couro, hoje Penaforte. Assim, Jardim era um município de extensa área territorial. Havia em Macapá um jovem cobrador de impostos da renda estadual, muito popular, liderança emergente no Município, já incômodo para as velhas raposas políticas de Jardim: seu nome era Antônio Marrocos de Carvalho.
As circunstancias do assassinato do líder político Antônio Marrocos de Carvalho caracterizavam, a exemplo de tantas outras ocorrências funestas, a época sombria do apogeu do coronelismo. A morte comovente desse cidadão, concomitante à chacina dos homens do Salvaterra e o cerco a Chico Chicote, mostrava como o regime de dominação dos poderosos sul-cearenses, nos derradeiros anos da década de 1920, prosseguia desenvolto, alardeando o prestígio soberbo do bacamarte, que se disparava pelo banditismo político, da polícia e o banditismo dos homens do cangaço.
Àquele tempo, o mais torvo plano foi concertado entre potentados do extremo sul cearense e a polícia militar, para a eliminação de vidas humanas. O desgraçado projeto resultaria, realmente, em várias mortes. E a polícia militar far-se-ia, marcadamente, responsável por um dos capítulos mais sombrios da sua crônica e escreveria uma das páginas mais negras da história do banditismo nos sertões nordestinos.

Os dias eram para o Ceará, principalmente para o Cariri, de perseguições políticas, insegurança e intranquilidade.


Antônio Marrocos

Antônio Marrocos foi surpreendido, certa noite, pela visita de Lampião, levado à sua casa por Manuel (Né) Pereira, que exercia cargo de subdelegado daquele povoado. Como é sabido, Lampião era ligado à família Pereira por forte amizade. Fiel à tradição sertaneja e por ser parente e amigo de Né Pereira, Marrocos recebeu a visita com bastante cordialidade. A partir de então, tendo fracassado em duas emboscadas contra Marrocos, no caminho entre Macapá e Jardim, os seus adversários políticos denunciaram-no ao Chefe de Polícia como coiteiro de Lampião, razão pela qual ele passou a ser fortemente perseguido.
Meses depois, novamente à meia-noite, Né Pereira bateu à porta de Marrocos. Ao abri-la, verificou a presença de Virgulino. Sem convidá-los a entrar, Marrocos explicou-lhes o que lhe vinha ocorrendo. A seguir, dirigindo-se a Lampião, sugeriu-lhe que, embora contasse com sua atenção, não voltasse a visitá-lo, afim de não confirmar as acusações que lhe estavam sendo feitas pelos chefes situacionistas de Jardim.
Em resposta, Lampião pediu-lhe que telegrafasse ao Chefe de Polícia comunicando que ele, naquela noite, passava em Macapá com destino ao Cariri. Tal sugestão foi ratificada na manhã do dia seguinte, quando Marrocos, dirigindo-se a Brejo dos Santos (atual Brejo Santo), de onde enviaria o despacho, passou pelo grupo estacionado no local Barra-de-Aço, a 01 km de Macapá.
Apesar de tudo isso, quando o tenente José Bezerra chegou a Macapá, no rumo de Brejo dos Santos, foi à casa de Antônio Marrocos e sugeriu-lhe que, para desmentir as acusações de que estava sendo alvo, deveria unir-se à sua tropa na perseguição ao bando de Virgulino.

Logo de início, alegando de tratar-se de uma calúnia já desmentida, Marrocos recusou a sugestão. Mas, após prolongada polêmica, para não demonstrar covardia, ele resolveu incorporar-se à volante. Com isso, no dia 28 de janeiro de 1927, procedente de Jardim, chegava a Brejo dos Santos uma volante policial sob o comando do Primeiro-Tenente José Gonçalves Bezerra, com o objetivo – segundo era comentado e confirmado pelo citado oficial – de perseguir e combater o grupo de Lampião.
Reafirmando sua falsa missão de dar cabo ao Rei do Cangaço, o tenente José Gonçalves Bezerra saiu de Brejo dos Santos na madrugada de terça-feira, 1° de fevereiro de 1927, comandando uma volante com 70 praças, como auxiliar o Sargento-Tenente Veríssimo Alves Gondim e como guia e agregado à tropa, voluntariamente, João Gomes de Lucena, sobrinho de Chico Chicote, filho do então prefeito de Milagres e ex-prefeito de Brejo dos Santos, coronel Manoel Inácio de Lucena e sobrinho do então prefeito de Brejo dos Santos, o coronel Joaquim Inácio de Lucena, conhecido como Quinco Chicote, além de cabras do coronel Nozinho Cardoso.
Logo após a chacina dos homens do Salvaterra e a fim de não provocar reação em Guaribas e concluir o plano elaborado para eliminar Antônio Marrocos, o tenente José Bezerra, antes de lá chegar, manteve longa conversa com Marrocos, manifestando a certa altura, o desejo de conhecer o mencionado sítio e travar relações amistosas com seu proprietário. A seguir, referindo-se à sua missão e expondo razões de ordem tática, pediu-lhe que fizesse um desenho da casa-grande, das habitações vizinhas e das elevações e depressões do terreno em seu redor. E para que Marrocos não pusesse em dúvida suas intenções, afirmou-lhe que deixaria a tropa distante do sítio e somente ele, o tenente Veríssimo, o sargento Antônio Gouveia (Antônio Pereira de Lima) e o corneteiro Louro Galo Velho iriam à residência de Chico Chicote, tendo à frente o próprio Marrocos, a fim de não haver desconfiança e possível reação à sua presença ali.

Ruínas da Casa de Chico Chicote

Amigo de Chico Chicote, de quem havia recebido, uma semana antes, um rifle de presente, que conduzia a tiracolo, Marrocos traçou a lápis, num pedaço de papel de embrulho, um ligeiro croqui de Guaribas. A casa-grande da fazenda Guaribas, município de Porteiras, era uma verdadeira fortaleza, aboletada numa dobra da Serra do Araripe, ao lado do povoado Simão, e meio a uma plantação de café, com muitas fruteiras. As paredes tinham quase meio metro de largura, feitas de tijolos dobrados, com buracos abertos por todos os lados (chamados “torneiras”), por onde os atiradores poderiam mirar e fulminar eventuais invasores. Com efeito, pelas 07 horas da manhã, ao aproximar-se do sítio, a tropa fez alto e Zé Bezerra pôs em execução o que havia planejado com o seu colega Veríssimo (Esses detalhes foram dados pelo cabo Pedro Alves à viúva de Marrocos, Mundinha (Raimunda) Piancó, bem como outros pormenores sobre o seu fuzilamento).Percebida a aproximação do reduzido grupo, umas das mulheres que faziam colheita de café, naturalmente para esclarecer Chico Chicote e outras pessoas que se achavam com ele, disse em voz alta: É o Nêgo Marrocos!
Imediatamente, o tenente Veríssimo disparou um tiro de revolver nas costas de Antônio Marrocos, que tombou de frente, abaixo de um pé-de-café, atingido no pulmão direito, vindo a falecer três horas depois. 

Naquele momento o segundo “acerto” da empreitada seria efetivado (o primeiro acerto foi a chacina de Antônio Gomes Grangeiro, seu sobrinho João Grangeiro (Louro Grangeiro) e dois moradores, Aprígio Temóteo e Barros e Raimundo Madeiro Barros (Mundeiro). Quando foram prepararo sepultamento de Antônio Marrocos, Mundinha Piancó, viúva de Marrocos estranhou que, embora ele estivesse de frente com a casa-grande das Guaribas, o tiro que o vitimou entrou pelas costas.

Monumento a Antonio Gomes Granjeiro

Confirmando as suspeitas sobre a causa de fuzilamento, o coronel Francisco de Sá Roriz, a Mundinha, ao visita-la em Macapá, que os situacionistas de Jardim haviam subornado Veríssimo com Cinco Contos de Réis para eliminar Marrocos. Para termos uma noção hipotética, 01 Conto de Réis (Mil Mirréis), equivale hoje a R$ 123.000,00 (cento e vinte e três mil reais).
Mundinha Piancó ficou viúva aos 26 anos e com 06 filhos para criar. Faleceu aos 92 anos no estado de São Paulo. A perversidade insana dos velhacos tenentes José Gonçalves Bezerra e Veríssimo Alves Gondim estremunharam, mais ainda, a aversão popular à polícia. O tempo, contudo, se encarregaria de revidar, nas pessoas deles, as mortes bárbaras de Antônio Marrocos, Antônio Granjeiro, Chico Chicote e dos demais que foram trucidados covardemente na hecatombe do começo de fevereiro de 1927.
Decorrido um decênio, na verdade, aos 10 de maio de 1937, José Bezerra, já com a patente de Capitão, seria trucidado, no Cariri ou, mais precisamente no sítio Conceição, próximo às comunidades Mata dos Cavalos e Curral do Meio, no município de Crato, por ocasião de luta com fanáticos remanescentes do beato José Lourenço Gomes da Silva, dentre os quais morreram alguns. A golpes de facões, roçadeiras, foices, cacetes e a tiros de espingardas e pistolas, tombaram o sanguinário oficial, um filho (1º Sargento Anacleto Gonçalves Bezerra), um genro e mais dois policiais subalternos. Dentre os comandados, outros saíram feridos. Mesmo assim, à morte do Capitão seguiu-se o bombardeio na Serra do Araripe, autorizado pelo Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra. Entre 700 a 1.000 pessoas foram mortas. E, assim, se findava um dos maiores bandidos-autoridades de que já se teve notícia no Ceará.


Um lustro antes do capitão José Bezerra, já havia embarcado seu comparsa, tenente Veríssimo Alves Gondim. Em Lavras da Mangabeira, metera-se o tenente Veríssimo a afrontar e humilhar o coronel Raimundo Augusto Lima, filho do coronel Gustavo Augusto Lima e neto de Fideralina Augusto Lima, destronado pela Revolução de 30. Lá chegara, inclusive, com ordem de, a todo custo, conduzi-lo, algemado, a Fortaleza. A vingança, porém, não tardaria muito.
Com efeito, aos 26 de junho de 1932, o oficial era alvejado, nas costas, pela arma do coronel, tal como fizera ele próprio a Antônio Marrocos, minutos antes do Fogo das Guaribas, havia cinco anos. Pôde, ainda, o militar moribundo balbuciar: “Que homem falso!” Estas palavras doridas, que tão bem se ajustavam a seu autor, o malogrado tenente Veríssimo, muito antes, poderiam ter sido articuladas pelo desventurado Marrocos, também, no lance derradeiro. E quem sabe se as não teriam pronunciado? Quem sabe?
Bastante comentado, na época, o assassinato do tenente Veríssimo Alves Gondim. Sob os céus de Lavras da Mangabeira, todavia, nada de novo acontecera, senão a repetição da história.
Bruno Yacub Sampaio Cabral
A Munganga Promoção Cultural
O Brejo é Isso!

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