Cajazeira era uma homem de posses, seu pai era um rico fazendeiro de Poço
Redondo/Se., tinham muitas terras e rebanhos, e por conta disto eram
constantemente explorados e extorquidos pelas volantes, que lhe pilhavam
dinheiro, bens e animais, sob o pretexto da campanha contra o cangaço. Ele era
casado, na igreja e no “papel passado” com a jovem e bela Enedina. Certo dia,
quando estava num bar, soube da aproximação de uma volante que se dirigia à sua
procura para mais uma extorsão e numa atitude impulsiva e de revolta, pois já
se encontrava saturado com aquela situação, se esquiva da iminente extorsão e
segue sertão adentro à procura do Bando de Lampião para se refugiar,
localizando-o e sendo aceito no Cangaço. Sua Esposa Enedina, logo após, vai ao
encontro de seu marido, juntando-se à ele no cangaço, onde passaram a viver.
Enedina
Enedina era conhecida por sua simpatia e alegria e Cajazeira por sua valentia,
educação e bons modos, sendo presenças agradáveis no cangaço. Em 1938, estavam
acampados na Grota de Angico, junto com Lampião e bando, quando foram atacados
pelas volantes. Na fuga, Enedina correu junto com Sila e Dulce, mas foi
acertada por uma rajada de metralhadora na cabeça, que a esfacelou jorrando
pedaços de miolos em suas companheiras ao lado, que seguiram em fuga. Enedina
ficou caída e teve sua cabeça cortada e exposta juntamente com as cabeças de
Lampião, Maria Bonita e mais oito cangaceiros, numa exposição macabra de onze
cabeças decepadas.
Cajazeira fugiu e sobreviveu, ficou foragido algum tempo,
retornou à sua cidade e casou-se, novamente, com sua cunhada, irmã de Enedina,
com quem se mudou para o Rio de Janeiro onde foi bem sucedido no trabalho no
ramo da construção civil.
Alguns anos depois retornou à sua cidade natal de
Poço Redondo/Se e retomou a administração das terras e negócios de seu pai,
entrou na política, concorreu a prefeitura como Zé de Julião, se envolveu em
brigas e disputas políticas e foi assassinado em 1961 por adversários
políticos.
João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce., 19/02/2020.
Clerisvaldo B. Chagas, 19 a 21 de fevereiro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2. 265
Muito bem feita, merecendo prêmio, a longa reportagem dojornal Tribuna Hoje, sobre a “Terra da Laranja Lima” e a bravura das mulheres quilombolas. Sendo o maior produtor de laranja lima do Brasil, Santana do Mundaú, Alagoas, a cerca de 100 km de Maceió, teve seus laranjais invadidos pela praga da mosca negra que reduziu sua produção em mais de 40%. Isso aconteceu há três anos quando a praga atingiu quase 100% dos laranjais, prejudicando 2.000 agricultores familiares, entre eles, o de três comunidades remanescentes quilombolas. Foi quando 20 mulheres das comunidades Filuz, Jussara e Mariana reagiram à situação e foram à luta. Guiadas pela ideia da Gerência de Articulação Social do Gabinete Civil do Estado de Alagoas, foram bater à porta da Cooperativa Pindorama, em Coruripe.
(CRÉDITO: ANDRÉ PALMEIRA/AGÊNCIA ALAGOAS).
A Pindorama, uma das mais organizadas cooperativas do Brasil e com mais de 60 anos de fundação, passou lições importantes para as guerreiras mulheres quilombolas, inclusive como gerenciar uma cooperativa e como diversificar os seus produtos. As empreendedoras, então, fundaram uma cooperativa há dois anos e mais o “Instituto Irmãos Quilombolas”. Hoje as comunidades diversificaram a produção que além dos cítricos, cujo carro chefe é laranja lima, produz, jaca, banana, laranja, tangerina e outras frutas, hortaliças e guloseimas como pé de moleque, bolo de massa puba e macaxeira, tapioca, beiju e outras delícias. Os produtos da Agricultura Familiar são todos orgânicos e vendidos na própria região.
Cerca de 120 famílias quilombolas foram beneficiadas e ainda implantaram uma feira livre própria que garante o escoamento da produção. Graças a força de vontade dessas 20 mulheres empreendedoras essa região do Vale do Mundaú, passou a viver outra realidade que não respeita essa tal de mosca negra.
Santana do Mundaú, na Zona da Mata, é banhada pelo rio Mundaú, tem como padroeira Senhora Santana e conta com cerca de 11.000 habitantes.
Bem que bateu à vontade de conhecer de perto as heroínas quilombolas.
AINDA VIVE O HOME M QUE EM 1921 SEPULTOU O PAI DE LAMPIÃO
Diário de Pernambuco, 29 de março de 1973, Terceiro Caderno, Página 3.
Pesquisa – Tadeu Rocha / Fotos José Valdério
Num velho casarão alpendrado de uma fazenda sertaneja, em plena caatinga pernambucana do Município de Itaíba reside o ancião Maurício Vieira de Barros, que em maio de 1921 sepultou o pai de Lampião, morto por uma força volante da Policia alagoana. Nos seus bem vividos e muito sofridos 86 anos de idade, ele viu e também fez muita coisa, por esse Nordeste das caatingas e das secas, dos beatos e dos cangaceiros, dos soldados de verdade e dos coronéis da extinta Guarda Nacional.
O Sr. Maurício Vieira de Barros nasceu em 2 de abril de 1886, Na casa dos seus 30 anos, foi Subcomissário de Polícia no Estado de Alagoas e, na dos 40, chegou ao posto de Sargento na Polícia Militar de Pernambuco. Depois, respondeu a dois júris por excesso de autoridade e, desde 1955, está vivendo uma velhice descansada no Sítio dos Meios, em companhia de sua filha Dona Jocelina Cavalcanti de Barros Freire.
Se não fossem as ouças, que já estão fracas, o velho Maurício não aparentaria os seus quase 87 anos, pois ainda caminha com passo firme e guarda boa lembrança dos fatos de sua mocidade e maturidade. Ele é, agora, a derradeira testemunha viva do início de uma tragédia sertaneja: a transformação do cangaceiro manso Virgulino Ferreira em bandido profissional que convulsionaria os sertões nordestinos durante 17 anos.
UM ATOR NO PROSCÊNIO
A primeira indicação do Sr. Maurício Vieira de Barros como a autoridade policial que sepultou o pai de Lampião nos foi dada, há mais de 20 anos, pelo Major Optato Gueiros, no segundo capítulo do seu livro sobre Virgulino Ferreira. O autor das “Memórias de um oficial ex-comandante de forças volantes” ouviu o relato da morte de José Ferreira da boca do próprio Virgulino, nos começos da década de 1920, quando Lampião ainda era um simples cabra de Sinhô Pereira. Optato Gueiros também informa que, anos mais tarde, Lampião poupou a vida de Maurício, no povoado de Mariana, em gratidão pelo sepultamento de seu pai.
Nos meados de dezembro do ano passado, após concluirmos que não foi feito, absolutamente, o registro dos óbitos de Sinhô Fragoso e do pai de Lampião (mortos na primeira “diligência” da volante do Tenente Lucena), julgamos necessário ouvir o Sr. Maurício Vieira de Barros, que nos constou ainda estar vivo e residir para os lados das cidades de Águas Belas ou Buíque. Somente o antigo policial que sepultou os dois cadáveres poderia revelar-nos a data precisa da morte de José Ferreira.
NO RASTO DA TESTEMUNHA
Após consultarmos inúmeras pessoas sobre o paradeiro do ancião Maurício de Barros, afinal soubemos do Sr. Audálio Tenório de Albuquerque que esse seu compadre estava morando na fazenda Sítio dos Meios, no Município de Itaíba. Rumando para Águas Belas, entramos em contato com os nossos parentes do clã dos Cardosos, entre os quais fomos encontrar o jovem veterinário Ricardo Gueiros Cavalcanti, neto do velho Maurício, por parte de pai.
Na tarde quente do dia 17 de janeiro, em companhia do veterinário Ricardo Gueiros Cavalcanti, do fotógrafo José Valdério e do jovem estudante Bruno Rocha, deixamos a cidade de Águas Belas pela rodovia PE—300, na direção de Itaíba. Após cruzarmos o rio Ipanema e o riacho Craíbas. Pegamos uma estrada vicinal, por onde atingimos, dificilmente, o Sítio dos Meios, a uns 2.5 km de Águas Belas, a outros tantos de Itaíba e a 9 da cidade alagoana de Ouro Branco.
Fomos encontrar o velho Maurício no alpendre do casarão da fazenda de sua filha, jovialmente vestido de blusão de mangas compridas c calçado com sandálias havaianas. A presença do seu neto Ricardo e a delicadeza de sua filha Dona Jocelina permitiram-nos conversar longamente com o Sr. Maurício Vieira de Barros. O fotógrafo Jose Valdério documentou a nossa visita e o estudante Bruno Rocha gravou a nossa conversa.
SUBCOMISSÁRIO SEPULTA DOIS MORTOS
O Sr. Maurício Vieira de Barros já exercia o cargo de Subcomissário de Polícia da cidade de Mata Grande, em maio de 1921, quando o Bacharel Augusto Galvão, Secretário do Interior e Justiça de Alagoas na segunda administração do Governador Fernandes Lima, enviou ao sertão uma força volante da Polícia, sob o comando do 2º Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, a fim de dar combate ao banditismo. Antes que essa força chegasse ao sertão, os cangaceiros saquearam o povoado de Pariconha, na tarde de 9 de maio. Logo que a volante do Tenente Lucena atingiu seu destino, cuidou de prender os participantes desse saque, entre os quais estavam os irmãos Fragoso e os irmãos Ferreira, residentes no lugar Engenho Velho. A volante cercou a casa dos Fragoso e do tiroteio resultou a morte de José Ferreira e Sinhô Fragoso, ficando baleado Zeca Fragoso e saindo ileso Luís Fragoso.
Avisado em Mata Grande das mortes ocorridas no Engenho Velho, o Subcomissário Maurício de Barros dirigiu-se a esse lugar e fez transportar, em redes, os dois cadáveres para a povoação de Santa Cruz do Deserto, em cujo o cemitério os sepultou. O fato de José Ferreira e Sinhô Fragoso terem sidos deixados mortos por uma “diligência” da Polícia Militar de Alagoas levou o Subcomissário de Mata Grande a enterrá-los no cemitério mais próximo.
DATA DA MORTE DO PAI DE LAMPIÃO
Na breve história de 17 anos, qual foi a do cangaceiro Virgulino Ferreira (que se fez bandido profissional em 1921 e foi eliminado em 1938), existem erros de datas de mais de um ano, como no caso da morte de seu pai pela volante do Tenente Lucena. Tem-se escrito que esse fato aconteceu em abril de 1920, o que não corresponde, em absoluto, à verdade histórica.
Ao que apuramos no Arquivo Público e Instituto Histórico de Alagoas, 2º Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão foi nomeado Comissário de Polícia da cidade alagoana de Viçosa em 10 de abril de 1920, assumiu o exercício do cargo logo no dia 15 e permaneceu nessa comissão até princípios de maio do ano seguinte. Ele ainda assinou ofício na qualidade de Comissário de Viçosa em 28 de abril de 1921. No dia 4 de maio esteve no Palácio do Governo, em Maceió. E no dia 10 desse mês, deixava Palmeira dos índios “com destino ao sertão”, estando “acompanhado de um contingente de 24 praças”, conforme registrou o seminário palmeirense O Índio, de 15 de maio, em seu número 16, página 3.
Viajando a pé, a volante do Tenente Lucena só alcançou o sertão ocidental de Alagoas uma semana mais tarde. Por isso mesmo, sua “diligência” no Engenho Velho somente pode ter ocorrido nos começos da segunda quinzena de maio de 1921. O Sr. Mauricio de Barros não se recorda mais da data do sepultamento dos mortos pela “diligência” no Engenho Velho. Lembra-se, porém, que foi numa quinta-feira. Ora, a primeira quinta-feira da segunda quinzena de maio de 1921 caiu no dia 19, o que permitiu ao Correio da Tarde, de Maceió, publicar no fim desse mês uma carta de Mata Grande, sobre os acontecimentos do Engenho Velho. A esse tempo, os estafetas do Correi levavam, a cavalo, três dias entre as cidades de Mata Grande e Quebrangulo, de onde as malas postais seguiam de trem para Maceió.
EPISÓDIO MUITO CONTROVERTIDO
Sempre foram muito controvertidas as circunstancias da morte do pai de Lampião. Na primeira entrevista que concedeu a um jornal (o recifense Diário da Noite, de 3 de agosto de 1953), o Sr. João Ferreira, irmão de Virgulino, declarou o seguinte sobre a morte de seu pai: “Findo o tiroteio, seguido pelo abandono do local pela tropa, eu o fui encontrar sem vida, caído sobre um cesto, tendo às mãos uma espiga de milho, que estava debulhando, ao morrer”.
Por seu turno, parentes e amigos do Cel. José Lucena de Albuquerque Maranhão costumam dizer que o velho José Ferreira resistiu à Polícia, atirando de dentro da casa dos Fragoso. Parece-nos que há engano em ambas as versões, pois o Sr. Maurício Vieira de Barros nos disse que encontrou o cadáver do pai de Lampião no terreiro da casa dos Fragosos.
Este depoimento se harmoniza com o informe que nos deu o Sargento reformado Euclides Calu, residente em Mata Grande, e a história que contava o velho Manoel Paulo dos Santos, Inspetor de Quarteirão no Engenho Velho, ao tempo da morte do pai de Lampião. História que nos foi transmitida por seu filho Gabriel Paulo dos Santos e pelo magistrado alagoano Dr. Dumouriez Monteiro Amaral.
O informe do velho Calu e a história contada pelo velho Manoel Paulo referem que José Ferreira foi morto durante o tiroteio do Engenho Velho, quando ia tirar leite em um curral. De fato, o cerco da casa da casa dos Fragosos foi feito ao amanhecer do dia 19 de maio de 1921. E o tiroteio que se seguiu e vitimou José Ferreira ocorreu “antes do café da manhã de um dia muito chuvoso”, como declarou, textualmente, João Ferreira, na citada entrevista a um jornal recifense. E não há dúvida que o Inspetor de Quarteirão Manoel Paulo dos Santos foi a testemunha mais isenta de paixões no episódio da morte do pai de Lampião.
Em 17 de fevereiro de 1926, estava Antônio Gomes Jurubeba em sua Fazenda Genipapo , quando o primo Fortunato Ferraz Nogueira (Fortunato do Pico) chegou apressado numa burra para dizer-lhe que os Revoltosos haviam atacado a cidade de Betania-PE. O velho Gomes tomou a providencia de tirar objetos de valor de dentro de casa e esconder no mato, como também transferir a família para a casa do amigo Antônio Lorota, que era um pouco mais afastada da sua. Depois, Gomes Jububera se dirigiu ao povoado de Nazare do Pico acompanhado do filho Manoel Gomes de Lira e o genro Abel Thomaz Ferraz Nogueira. "Ali chegando, Gomes ficou seriamente preocupado, por não ter encontrado a guarnição em defesa do povoado", lembrou o filho dele, João Gomes de Lira. Estando ele no povoado, o terror foi ainda maior quando João Lopes de Souza Ferraz (primo legitimo do coronel Luiz Gonzaga, assassinado em São José do Belmonte) avisou que a Coluna Prestes vinha acompanhada do bando de Lampião. Todos abandonaram o povoado. Mulheres correram com crianças em plena caatinga e alguns homens preocupados foram atrás de encontrá-las, ficando assim o povoado abandonado.
Casa de Abel Thomaz, na Fazenda Jenipapo, incendiada por Lampião
Para reunir os nazarenos de volta ao povoado, Gomes Jurubeba tomou a iniciativa de deflagrar vários tiros de rifle para o alto acompanhados de gritos. Foi pior. Muitos se afastaram ainda mais lamentando no pensamento que 'os Revoltosos e Lampião já estavam queimando Nazaré'. Depois de um tempo, o barulho dos tiros silenciaram. Alguns nazarenos então foram se aproximando para ver o que 'Lampião tinha queimado em Nazaré', mas para surpresa de todos, encontraram foi o velho Gomes Jurubeba com raiva chamando todos de volta. Não demorou e chegaram de volta ao povoado os nazarenos Odilon Flôr, Aureliano Nogueira, Antônio Capistrano, Afonso Nogueira (irmão de Manoel Neto que na ocasião estava ferido em tratamento), João Jurubeba (irmão de David Jurubeba), José Flôr, Eloi Jurubeba, Militão Jose dos Santos (pai de David Jurubeba), Vicente Grande, Aureliano Francisco de Souza, João Terto, entre outros, que ficaram em defesa do povoado.
Luiz Ferraz Filho, Manoel Severo e Ingrid Rebouças em Nazaré do Pico
Nada de Coluna Prestes e nada de Lampião chegar. Dormiram e no dia seguinte (18 de fevereiro), Gomes Jurubeba foi em sua fazenda (5km do povoado) olhar a família, quando chegou o amigo Zé Rosa e avisou que voltasse a Nazaré que os Revoltosos estavam chegando. Retornou e nada deles chegarem. A Coluna Prestes passou com destino a vila de São Francisco, em Serra Talhada-PE, não atacando o povoado.
Casa de Antônio Gomes Jurubeba, na Fazenda Genipapo, incendiada por Lampião
Estava tudo calmo até que de repente começou uns estrondos. O bando de Lampião chegou na Fazenda Genipapo - que estava abandonada sem ninguem - e começou a tocar fogo na casa e matar todo o criatório do terreiro. Foram 48 cabeças de gado, matou bodes, porcos, galinhas e até um papagaio de estimação. Só se salvou o oratório, que Lampião retirou e colocou embaixo de uma quixabeira. Depois queimaram também as casas de Abel Thomaz, de Alexandre Xandú e de Zeca Lopes , três genros de Antônio Gomes Jurubeba. "Lembro-me que, naquele dia, foi um grande suplício, pois eu tinha 13 anos e fui também vitima do episodio, quando ouvir Inês (tia) dizer: - Lampião queimou o Genipapo. Vai-se os anéis e ficam os dedos", relembrou João Gomes de Lira.
Próximo ao povoado na Fazenda Lagoa do Bom Nome, Aureliano Sabino chegou para avisar ao fazendeiro João de Souza Nogueira (João Flôr). Juntou ele a família e veio para a casa das irmãs Izadora e Sérgia Flôr no lugar chamado Boião, menos de 1km para Nazaré.
Odilon Flôr, Euclides Flôr, Manoel Jurubeba e Pedro Thomaz
Diante deste ataque de Lampião, os nazarenos mandaram avisar aos soldados Euclides Flôr e David Jurubeba que estavam em São João dos Leites, 84km de distancia, que ao saberem pediram ao Tenente Optato Gueiros para seguir para a terra natal. Liberados, partiram Euclides Flôr, David Jurubeba, Manoel Jurubeba, João Domingos Ferraz, Hercilio Nogueira e Pedro Gomes de Lira. Foi quase um dia todo de viagem. Somente de noite chegaram na Fazenda Ema, 6km para o povoado, onde ouviram os tiros e a fumaça do incêndio queimando as casas da Fazenda Genipapo.
Depois de queimar todos as casas, Lampião saiu e resolveu ir dormir com seu bando na casa de Pedro Gregório Ferraz Nogueira (pai de Neco de Pautilia), na Fazenda Ipueira, onde passou a noite preparando o ataque ao povoado no dia seguinte. (CONTINUA....)
(FONTE: LIRA, João Gomes de - Memorias de Um Soldado de Volante, Pág. 259-278; NETO, José Malta de Sá - David Jurubeba Um Herói Nazareno, Pág. 143-151)
Na manhã de hoje, vendo as imagens no status das redes sociais da cantora Robertinha do Cajueiro, volto a falar de uma relíquia histórica que está quase na situação de escombros, esquecida e abandonada. É a casa histórica que pertenceu o coiteiro de Lampião Adauto Felix. Aquela casa de Adauto Felix na comunidade ribeirinha do Cajueiro, ali nas margens do Rio São Francisco, em Poço Redondo, é uma relíquia da história do Cangaço em Sergipe e Poço Redondo. Sempre vou ao Cajueiro, não só para saborear as delícias do peixe na mesa e do banho na praia d'água doce, mas olhar um pouco a história do lugar e do seu povo.
Além da Capela de Santa Ana, pintada de azul, misturando-se com a luz do Sol da tarde, ali na Rua da Frente, pertinho das águas do Velho Chico, está, mais para o centro do Povoado Cajueiro, a casa onde o coiteiro de Lampião Adauto Felix morou. A casa de Adauto Félix está ali resistindo no tempo como uma velha testemunha da história do Cangaço e do povo ribeirinho do Sertão do São Francisco.
Infelizmente, poucas pessoas de Poço Redondo conhecem a importância histórica daquela casa e pouco valorizam o nosso patrimônio histórico. Tomara que os nossos governantes tomem a iniciativa de construir uma política de recuperação e conservação do nosso patrimônio histórico.Os de fora conhecem e valorizam muito mais a nossa história e o nosso patrimônio cultural do que nós de Poço Redondo.
Manoel Belarmino, pesquisador e escritor Conselheiro Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE 18 de Fevereiro de 2020
Antônio Vilela em nome do Cariri Cangaço presta homenagem à familia do personagemhistórico do cangaço, Adauto Felix, no grande Cariri Cangaço Poço Redondo em junho de 2018.
Acabo de ler o livro "LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE", e confesso, embora eu já considerasse o autor Archimedes Marques um bom escritor, estou impressionado com a sua capacidade de, em frases e períodos tão longos, mas com clareza e objetividade, num linguajar até certo ponto jornalístico, sem perder de vista a técnica investigativa, fazendo disso, talvez, o maior "inquérito" de sua vida; formular argumentos tão lógicos, utilizando-se, inclusive, de forma constante, da ironia para dizer com humor das suas críticas e censuras aos ditos de Pedro Morais e, principalmente, para impor a este a obrigação de provar as suas acusações, ironia esta que também lhe serve para desvalorizar mais ainda o texto deste senhor. Trata-se de obra equilibrada, parecendo até que foi feita num só instante. Ao mesmo tempo, doutor Archimedes, inteligentemente, divide o ônus desta contestação com as principais vozes da historiografia do Cangaço, sem falar do cuidado para não atingir moralmente a pessoa de Pedro Morais.
Realmente, mesmo considerando a sua vasta experiência como delegado de polícia, a sua paixão pela cultura nordestina, notadamente o Cangaço, associado a um impulso natural que conduz os homens de bem a insurgir-se contra as injustiças, confesso mais uma vez a minha grande e grata surpresa, até porque o autor construiu tudo isso em tão pouco tempo, visto que "Lampião, o Mata-Sete" foi publicado um dia desses. Embora eu não seja um crítico literário, considero o livro "Lampião Contra o Mata Sete" uma obra completa no seu propósito de rebater as mal-intencionadas acusações de Pedro Morais, e tenho certeza de que os leitores estão se deleitando com tão boas explicações e excelentes raciocínios.
"Lampião Contra o Mata Sete", portanto, não apenas contesta de forma robusta e insofismável as aleivosias infundadas de Pedro Morais, mas condena este autor a viver doravante como um natimorto literário. Além do mais, o que é pior, o sentencia a ter que se explicar e ser criticado o resto da vida.
Daqui pra frente, o escritor Archimedes Marques pode considerar-se inscrito nos anais da história do Cangaço, com todos os méritos, não apenas pelo ineditismo da sua obra, mas pela excepcional defesa que fez, em última análise, desse pedaço da história nordestina, o que orgulha e enche de honra todos os sergipanos. Minhas efusivas congratulações.