Por: Archimedes Marques
Caricatura
do autor Archimedes Marques criada por ele próprio.
A luta da mulher pela igualdade de direitos sempre foi
constante na história da humanidade, vez que desde os primórdios, perdurando
por séculos e séculos era considerada como se objeto fosse, um ser inferior de
sexo frágil sempre dominada pelo chamado sexo forte. Na década de 30 do século
passado, enquanto nos grandes centros mundiais e principais cidades do Brasil,
movimentos de mudança em prol da mulher se sucediam e se multiplicavam, no
nosso sertão nordestino tudo continuava como dantes, sem mudança de
comportamento algum. Entretanto, mesmo sem saber que estava fazendo verdadeira
revolução, a brava sertaneja ao largar tudo para seguir o cangaceiro em vida
perigosa e sem futuro serviu de exemplo de força, coragem e determinação para
outras mulheres do país, além, de certa forma mudar a história do cangaço,
separando assim tal movimento em duas fases, fazendo também que nessa segunda
fase houvesse menos selvageria e até aparecesse a figura do amor entre aqueles
rudes e ignorantes personagens.
João de Sousa Lima
Tomando emprestadas as palavras do amigo João de Sousa Lima: “A mulher, na expressão primordial da palavra, amenizou as marcas das pegadas ferradas das sandálias de couro do cangaço e em seus rastros gravou sua passagem, nos confins do solo sagrado de uma nação chamada Nordeste”.
Buscando o fato motivador dessa inusitada atitude feminina como tipo de
amor arrebatador ou mesmo como falta de uma melhor opção de vida diz o citado
historiador: “Várias histórias povoam esse estranho mundo feminino. Mulheres
viam nas passagens dos cangaceiros, em suas roupas coloridas e seus apetrechos
brilhantes, uma forma diferenciada de vida e, no entanto, como uma armadilha,
se envolveram em um mundo recheado de tiroteios, mortes, sangue, fugas
alucinadas e escapadas perigosas”.
A mulher cangaceira não foi uma mulher submissa, não foi uma mulher escrava, caseira, muito pelo contrário, foi uma mulher “paparicada”, respeitada e até tratada com amor pelo seu companheiro e pelos demais componentes do bando dentro das reais possibilidades que a dura vida assim exigia, com raras exceções é evidente, pois as traições amorosas femininas não eram admitidas em hipótese alguma.
Então, de
volta a nossa realidade, cumprindo um cronograma organizado
pela Cyntilante Produções que realizou a turnê “Lampiãozinho e Maria
Bonitinha”, uma peça teatral de grande sucesso cuja produção vencedora de 19
prêmios é uma das criações de
Fernando Bustamente, um carioca radicalizado em
Belo Horizonte, homem da arte e da cultura que também preserva com tal peça as
raízes cangaceiras do nosso querido Nordeste brasileiro, de igual modo, de tudo
foi acompanhado de 13 a 23 do corrente mês e ano, em excelentes e bem
explicativas palestras com o tema AS MULHERES NO CANGAÇO, pelo nosso estimado
escritor e amigo João de Sousa Lima.
Assim
inteligentemente foi unido o útil ao agradável, pois nada melhor para a peça
“Lampiãozinho e Maria Bonitinha” do que estar acompanhado de um nordestino
nato, um “cabra macho” pernambucano radicalizado na aprazível Paulo Afonso, um
pesquisador, estudioso, escritor que sabe tudo e muito mais a respeito do
cangaço, um verdadeiro “Sherlock Holmes” das caatingas que esmiúça, investiga e
descobre personalidades que vivenciaram aquela época de sangue e lágrimas (mas
também de amor) e, porque não dizer, um historiador que desvenda verdadeiras
histórias então escondidas, destarte para a trajetória de vida dos
ex-cangaceiros
Moreno e Durvalina
Moreno e Durvinha, incógnitas e submersos nas Minas Gerais por
sete décadas, mas trazidos à tona anos atrás graças a interferência direta de
João de Sousa Lima.
Sem
dúvida alguma, aquelas pessoas que tiveram o privilégio de assistir alguma das seis
palestras de João de Sousa Lima – como tivemos no último dia 22 aqui em Aracaju
– além de viajarem de volta ao cangaço, aprenderam muito com os ensinamentos
desse grande e obstinado historiador.
As
eloquentes explicações em analises das diversas fotografias relacionadas às
personagens do cangaço apresentadas por João de Sousa Lima foi iniciada na cidade
de Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, terra adotada pelo amado e imortal
“Padim Ciço”.
Padre Cícero - coisadecearense.blogspot.com
Ingressar para falar agora sobre o fantástico mundo de Juazeiro,
sua sedição, suas lutas, suas glórias, seus heróis, seu misticismo, seu
messianismo, sua religiosidade, seu povo em verdadeira adoração ao Padre Cícero
Romão Batista e este por sua vez em suposto apoio a Lampião e ao cangaço é debruçar
em “montanhas” de escritos e opiniões diversas, por isso é melhor que fiquemos
somente neste parágrafo que bem traduz a irreverência do citado palestrante que
sem dúvida ensinou e também mais aprendeu com a interessada assistência que lotou
a Escola Iva Emidio Gondin naquele memorável dia 14/09/2012.
Serra
Talhada foi a segunda estada do citado grupo. Justamente a área inicial de
conflito dos eternos inimigos
Lampião e seu inimigo nº 1 - Zé Saturnino
“Virgulino Ferreira da Silva e Zé Saturnino” e
que de todo o conflito deu origem a era “Lampiônica”, trocando em miúdos, ao
cangaço de Lampião que ganhou fama não somente no Nordeste, mas também no
Brasil e porque não dizer, mundo afora. Terras circunvizinhas que também deram
tantos outros componentes dessa história de sangue e barbárie, a exemplo de
Nazaré do Pico, um pequeno povoado encravado no sertão de Pernambuco, cujo lugarejo
localizado nas proximidades de Serra Talhada, mas pertencente ao município de
Floresta, saíram os mais ferrenhos perseguidores de Lampião, dentre eles:
Odilon Flor, Euclides Flor, Gomes Jurubeba, João Gomes Jurubeba, Davi Jurubeba,
Enoque Menezes, João Gomes de Lira e o mais famoso deles, o incansável Manoel Neto,
que chegou ao posto de Coronel da brava policia pernambucana.
Manoel de Sousa Neto
Serra
Talhada é hoje a mais importante cidade do sertão pernambucano e é considerada
a capital do xaxado, justamente em alusão a dança mais usada, ou mesmo
inventada pelos cangaceiros. Essa terra de cabras valentes é também destaque
cultural e teatral com o
carlosbritto.com
“Grupo de Xaxado Cabras de Lampião” bem administrado pelo amigo escritor
e pesquisador
Cleonice
Maria, Ivanildo Silveira e Anildomá Willians
Anildomá Willians de Souza e sua esposa Cleonice, dentre
outros grupos da região circunvizinha que encantam todos aqueles que assistem a
tais espetáculos. Nessa cidade a peça teatral “Lampiãozinho e Maria Bonitinha” se
destacou igualmente também ao sucesso da palestra “As mulheres no Cangaço” que
encantou os estudantes e professores do Colégio Cônego Torres em inesquecível e
marcante dia 17/09/2012.
Cedida gentilmente pelo escritor João de Sousa Lima
A
sua terceira apresentação ocorreu em Água Branca nas Alagoas região da famosa Baronesa
Joana Vieira Sandes de Siqueira Torres, viúva do Barão Joaquim Antônio de
Siqueira Torres, cujo assalto a essa cidade em 1922, deu a Lampião,
recém "nomeado" líder do bando de
Sinhô Pereira
Sinhô Pereira, início de sua fama
de audaz bandoleiro, sem esquecer que naquelas paragens também nasceu um dos mais destacados cangaceiros da história, Cristino
Gomes da Silva Cleto, mais conhecido como Corisco o Diabo Louro.
Os cangaceiros: Corisco e Dadá
Consta
que do inteligente e bem arquitetado crime de roubo realizado nessa cidade
pelos cangaceiros, mais de perto, na mansão da Baronesa de Água Branca, anos
depois, já na segunda fase do cangaço, mais de perto a partir de 1929, por muito tempo as jóias roubadas dessa famosa senhora
ornaram e embelezaram ainda mais a figura de Maria Bonita até que se perderam
nas mãos dos policiais volantes que a decapitaram em 1938.
Maria Bonita
O Ponto de Cultura Engenho da Serra na cidade de
Água Branca ao lotar suas galerias em 18/09/2012 viveu dos seus maiores
momentos de glória com as falas de João de Sousa Lima e a linda apresentação
teatral que com certeza não se perderão no tempo e no espaço.
Como não poderia deixar de ser, o grupo chegou
para a sua quarta apresentação na simpática e aprazível cidade de Paulo Afonso.
Por sinal o município que deu a personagem feminina maior dessa história
nordestina, Maria Bonita, a inesquecível mulata da terra do condor que sem
sombra de dúvida dominava uma fera perigosa, uma morena trigueira que sabia
fazer o rei do cangaço gemer sem sentir dor, como bem diz o grande poeta Zé Ramalho em uma das suas mais lindas canções.
Zé Ramalho
Das terras da Malhada da Caiçara
saiu o único e verdadeiro amor de Lampião. De Paulo Afonso a segunda fase do
cangaço se fez maior, como já dito, “mais humana”, pois onde existe mulher
existe o amor.
Nunca é demais falar que Paulo Afonso foi o município brasileiro
que mais ofereceu componentes para o cangaço, chegando, pelas pesquisas
efetuadas por João de Sousa Lima e outros historiadores ao número de 47
cangaceiros, entre homens e mulheres, que se embrenharam naquela dura vida
bandida das caatingas.
Sem citar os homens, entre as mais famosas cangaceiras que saíram da
região de Paulo Afonso, estão: Maria Gomes de
Oliveira, a Maria
Bonita, do povoado Malhada da Caiçara; Lídia Pereira de Souza, do Povoado
Salgadinho (citada por todos os cangaceiros sobreviventes como sendo a mais
bela de todas as cangaceiras. Assassinada covarde e brutalmente a pauladas pelo
seu companheiro
Zé Baiano em decorrência de uma traição amorosa);
Nenê, Luiz Pedro e Maria Bonita
Nenê (a
carinhosa Nenê, companheira de Luis Pedro), também do povoado Salgadinho; Otília
Maria de Jesus (Otília, companheira de Mariano), do povoado Poços;
Inacinha e Gato
Inácia Maria
das Dores (Inacinha, companheira do feroz cangaceiro Gato, por sinal ambos
índios da tribo Pankararé), do Brejo do Burgo; Catarina Maria da Conceição
(Catarina, companheira do cangaceiro Nevoeiro, também uma índia da tribo
Pankararé), igualmente do Brejo do Burgo;
Grupo do cangaceiro Virgínio
Durvalina Gomes de Sá, (Durvinha, companheira
apaixonada pelo cangaceiro Virgínio e após a morte deste, eterna mulher do
cangaceiro Moreno), nascida no povoado Arrasta-Pé.
Das
terras baianas o grupo teatral e nosso homenageado João de Sousa Lima,
aportaram em Porto da Folha no nosso querido Estado de Sergipe, para a sua
quinta e penúltima apresentação. Da chamada terra dos “buraqueiros”, há se
ressaltar que nenhum outro município da região tem uma história cultural tão
grande quanto Porto da Folha, pois em verdade os municípios de Canindé do São
Francisco e Poço Redondo também faziam parte das suas terras até que ganharam
suas emancipações políticas e administrativas posteriormente. Assim, Poço
Redondo desponta hoje como sendo o segundo município nordestino a mais fornecer
membros para o cangaço, ou seja, foram 34 filhos desse então povoado de Porto
da Folha que acompanharam o bando de cangaceiros, sem esquecer do marco maior
dessa história, ou seja, o local onde ocorreu o combate final de Lampião. Foi
na gruta de Angico, que em 28/07/1938 Lampião e Maria Bonita, juntos com outros
nove cangaceiros, foram mortos pela volante alagoana comandada pelo Tenente
João Bezerra.
João Bezerra - o matador de Lampião
Com efeito, como diz o amigo escritor e poeta Rangel Alves da Costa: “Um dos fenômenos mais marcantes da história de Poço Redondo diz respeito ao banditismo social, na sua vertente cangaço, que brotou no lugar numa profusão de raízes e frutificou impressionantes consequencias.
Escritor e poeta Rangel Alves da Costa
Mesmo tendo surgido em outros rincões
nordestinos, foi na aridez poço-redondense que o cangaceirismo mostrou sua
feição mais nítida, mais acabada, mais cruel e também a mais romântica”. Foi
justamente no reinado de Lampião em Sergipe que Poço Redondo experimentou a
convivência e o medo com as ações cangaceiras.
Escritor Alcino Alves Costa
Falar
em Poço Redondo sobre o cangaço e não falar do grande amigo escritor Alcino
Alves Costa é a mesma coisa do cidadão ir a Roma e não ver o Papa, assim, relembrando
fatos importantes, de acordo como “Caipira de Poço Redondo”, dois
acontecimentos do cangaço marcaram profundamente a vida dos habitantes desse
município: “Nenhum lugar, na vastidão dos campos sertanejos, viveu agonia tão
grande e provações tão gigantescas como o pequenino núcleo das brenhas do
Riacho Jacaré”. Por duas vezes, toda a população do então povoado Poço Redondo
abandonou suas casas com medo da violência dos cangaceiros e da volante. Esses
acontecimentos ficaram conhecidos como “As Carreiras”. Aquela vidinha sem
novidades e aborrecimentos tinha se acabado com a chegada de Lampião em
Sergipe, mais de perto, naquelas cercanias. Todas as desgraças e horrores
começaram a aparecer, atingindo cruelmente as famílias e habitantes daquele
abandonado pedaço do nosso pequenino Estado. O primeiro assassinato em Poço
Redondo aconteceu em 1932. O cidadão conhecido por Santo da Mandassaia foi
morto cruelmente por Corisco. Assustados, todos os moradores do povoado
deixaram suas casas e foram morar em Curralinho, um povoado à beira do Rio São
Francisco. Em Poço Redondo não ficou um só morador, daí os militares decidiram
que a povoação abandonada seria um ponto estratégico para o combate ao cangaço. Uma guarnição de dez soldados, comandados pelo sargento Alfredo, se estabeleceu
no local e, sabendo disso, a população que havia se mudado para Curralinho resolveu
voltar para suas casas, entretanto, mesmo com a presença dos militares, os
moradores de Poço Redondo continuaram sofrendo todas as represálias e
malvadezas dos cangaceiros, além de sentirem na pele os seus filhos abandonarem
tudo para ingressarem no cangaço. Mais adiante, em 1937, revoltados porque os
soldados mataram o cangaceiro Pau Ferro, os bandoleiros assassinaram os
soldados Tonho Vicente e Sisi e ainda mandaram um recado garantindo que iriam invadir
a vila de Poço Redondo. O pavor tomou conta de todos. A tropa que guarnecia o
povoado estranhamente teve que se apresentar ao Quartel em Propriá e novamente
a população ficou órfã, sem segurança alguma. A solução foi se mudar novamente
para o Curralinho, situação que perdurou até a chacina de Angico com a
consequente morte de Lampião, oportunidade em que aliviados e sem nada mais
temer o povo voltou para Poço Redondo.
Peça
Teatral Lampiãozinho e Maria Bonitinha
Da história consta que a instalação do município de Poço Redondo, desligando-se política e administrativamente de Porto da Folha somente ocorreu em 6 de fevereiro de 1956, ou seja, 16 anos após o termino oficial do cangaço, com a morte de Corisco em 25 de maio de 1940.
Ainda
relacionado às terras de Porto da Folha na época do cangaço, hoje pertencentes
a Poço Redondo há também de se destacar o ferrenho combate denominado “Fogo da
Maranduba”, ocorrido no dia 9 de janeiro de 1932, na Fazenda Maranduba, cujo
intenso e sangrento tiroteio é considerado um dos três maiores enfrentamentos
entre cangaceiros e policiais volantes na história do cangaço. Dizem os
pesquisadores e historiadores que esse combate só é comparado à sangrenta
batalha de Serra Grande, em Pernambuco e ao não menos cruento embate de Serrote
Preto, nas Alagoas. As baixas em Maranduba foram muitas e das polícias volantes
comandadas pelos audazes combatentes perseguidores Tenente Manuel Neto da força
pernambucana, do Capitão do Exército Liberato com a ajuda do Tenente Zé
Rufino da polícia baiana, contabilizaram-se oito mortos e diversos feridos,
enquanto que, por parte dos perseguidos cangaceiros somente três mortos e um
ferido. Sem dúvida, uma estupenda vitória de Lampião que contava no confronto
com um número de componentes inferior a três vezes ao da força policial.
Como
o tema é “As Mulheres no Cangaço” não teceremos maiores detalhes sobre os
homens que abandonaram as suas famílias para seguirem Lampião. Assim, das
terras de Poço Redondo saíram para o cangaço as seguintes mulheres:
Ilda Ribeiro - A Sila
Sila
(mulher de Zé Sereno e irmã de Novo Tempo, Mergulhão e Marinheiro),
lampiaoaceso.blogspot.com
Adília
(mulher de Canário e irmã de Delicado),
Enedina, a primeira da esquerda - e Dadá
Enedina (mulher de Cajazeira, o Zé de
Julião), Dinda (mulher de Delicado), Rosinha (mulher de Mariano), Áurea (mulher
de Mané Moreno) e Adelaide (mulher de Criança, irmã de Rosinha e prima de Áurea),
ou seja, um total de sete mulheres, sete valentes e destemidas guerreiras que
por falta de opção ou mesmo por amor aos seus homens enveredaram na vida
bandida do cangaço.
De
Poço Redondo atual, não podemos deixar de citar e elogiar as ações do Grupo de
Teatro e Xaxado “Na Pisada de Lampião”, criado em Julho de 1997 por Beto
Patriota, Raimundo Cavalcante e Dionízio Cruz, um excelente grupo de abnegadas
pessoas que aparece como mais uma iniciativa em prol de manter vivas as memórias
do cangaço nesse município.
Peça
Teatral Lampiãozinho e Maria Bonitinha
De volta a João de Sousa Lima e ao grupo teatral, os mesmos fecharam com chave de ouro as suas participações nessa turnê, aqui na nossa capital Aracaju. Bem sabido é que de Aracaju não partiu nenhum componente para o cangaço, entretanto, dessa terra, mais de perto, do Palácio do Governo na época do governador
Eronildes de Carvalho e seu pai Antonio Caixeiro
Eronildes de Carvalho, sem dúvida alguma, surgiram muitas estratégias para acobertar o cangaço, pois é fato notório que o “coronel” Antonio Caixeiro, de Canhoba, pai do citado governador, era o mais famoso e importante coiteiro de Lampião em Sergipe. Em Sergipe a polícia fazia de conta que caçava Lampião e esse, por sua vez, fazia de conta que era caçado.
Peça
Teatral Lampiãozinho e Maria Bonitinha
João de Sousa Lima bem sabe enaltecer a forte mulher sertaneja que sem dúvida gerou uma grande referência em toda sociedade da época e deixou registrada sua passagem também nas veredas do cangaço. Todas elas tiveram grande importância no contexto histórico desse tempo. Concordamos com a opinião de que as mulheres cangaceiras vieram aplacar a fúria assassina e o desejo disforme dos seus companheiros que tanto feriram e humilharam as famílias nordestinas. Com a chegada e a permanência feminina no bando, os cangaceiros adquiriram mais respeito para com as indefesas caboclas sertanejas. Os estupros, antes presentes em quase todas as investidas criminosas, com a chegada das mulheres ao cangaço, praticamente deixaram de ocorrer.
Peça
Teatral Lampiãozinho e Maria Bonitinha
Foi assim que eu vi e senti as boas falas do amigo João de Sousa Lima na sua irreverente palestra “As Mulheres no Cangaço”, um sertanejo, um pesquisador, um exímio escritor, um amante da nossa cultura que a despeito de todo bom e verdadeiro nordestino também cultua o grande e imortal Luiz Gonzaga, o nosso símbolo maior, o ser que conseguiu sintetizar os anseios incontidos de um povo através da cadência que intercala os sons da sanfona, do triângulo e da zabumba expressando o mais refinado circuito musical então existente na nossa história.
Privar da
amizade de João de Sousa Lima é um privilégio que enriquece positivamente as
relações de qualquer ser humano. João de Sousa Lima, além de tudo, sem dúvida
alguma, é um cidadão possuidor de grandes virtudes, as quais se encontram
indissociavelmente vinculadas ao código de honra de um povo forte, o povo sertanejo
e nordestino que tanto nos orgulha.
Aracaju,
28 de setembro de 2012.
Archimedes
Marques. (Delegado de Polícia em Sergipe, escritor do livro LAMPIÃO CONTRA O
MATA SETE e eterno estudante dos assuntos relacionados ao cangaço).
Enviado pelo autor: Archimedes Marques