Por: Claudio Bojunga
Diz Eufrázio,
82 anos, coiteiro de Lampião - Foto:
Josenildo Tenório
“Acoitar”, na linguagem sertaneja, significa “proteger participando”. Não é só
calar a boca, fechar os olhos à passagem de algum bandido ou dar pistas falsas
à polícia. O coiteiro também servia de moleque de recados e era ele quem
abastecia de roupas e alimentos os grupos de cangaceiros.
Mas talvez a melhor definição de coiteiro tenha sido dada por um deles, Eufrázio
Carlos do Amazonas, 82 anos, homem que nunca levou um empurrão, nem da polícia
nem de cangaceiro.
- Coiteiro
– diz ele rindo – é um homem como eu, que não morre.
Eufrázio, que nem apelido recebeu durante a primeira fase do cangaço, a mais
violenta, de 1914 a 1928, quando Lampião se mudou para a Bahia, orgulha-se de
sua intimidade com Virgulino Ferreira, com todos os fazendeiros do Pajéu e se
diz amigo íntimo dos mais famosos caçadores de cangaceiros da primeira fase: os
tenentes Mané Neto e Higino.
Um homem virava coiteiro, naquela época, por cinco razões básicas: medo de
morrer; vingança (usar o cangaceiro para vingar algum parente morto pela
polícia); gratidão (recebia favores e dinheiro dos cabras, e tinha de pagar);
interesse comercial (cangaceiro não dava muito valor a dinheiro) ou polícia
(como enviado especial de algum fazendeiro ou chefe político esperto).
O negro Eufrázio, gordo, risonho, deve ter usado todas essas razões. Segundo
ele, nunca viu ninguém morrer.
- E eu vou dar
gosto de ver coisa feia?
Créditos para Antônio Correia Sobrinho
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