Por Rostand Medeiros
O responsável
pelo TOK DE HISTÓRIA, junto com o Sr. João Gambarra, no monumento aos
combatentes brasileiros da Segunda Guerra Mundial em Santa Luzia,
Paraíba-CLIQUE PARA AMPLIAR AS FOTOS.
Um
ex-combatente de 96 anos, que mantém vivo no sertão a memória dos paraibanos
que lutaram na Segunda Guerra Mundial.
Junto a Rudolf
Thales Diniz Lourenço e German Zaunseder, bons amigos que gostam de história,
estivemos recentemente no sertão da Paraíba, mais precisamente na cidade de
Santa Luzia, também conhecida tradicionalmente como Santa Luzia do Sabugy, onde
conhecemos um ser humano muito especial.
Através da
minha querida prima Fátima Cavalcanti, respeitada odontóloga que residente em
João Pessoa, conseguimos chegar ao Senhor João Bezerra da Nóbrega Gambarra, um
odontólogo aposentado, muito respeitado profissionalmente na sua terra e
nascido no longínquo ano de 1919.
Rostand
Medeiros, Seu João e Dona Dagmar
Verdadeira
memória da viva da sua região, tivemos o privilégio e a honra de sermos muito
bem recebidos em sua casa, onde ele e sua esposa, Dona Dagmar, foram de extrema
cortesia e atenção.
Junto a Seu
João conversamos algumas horas sobre a história do nosso sertão nordestino, o
cangaço na Paraíba, as antigas revoluções ocorridas na primeira metade do
século XX e a Segunda Guerra Mundial.
O interessante
foi que descobri que seu pai, o vaqueiro José Alves Bezerra, no início do
século XX negociava gado entre a Paraíba e a região do Seridó Potiguar (Santa
Luzia é próxima a fronteira do Rio Grande do Norte). José Alves também trazia
gado do distante Piauí, percorrendo antigos caminhos coloniais, aonde seus
negócios chegavam a alcançar a região da Serra da Rajada, próximo ao Rio
Carnaúba e da pequena vila homônima ao rio. Ali mantinha negócios e tinha
amizade com o fazendeiro Joaquim Paulino de Medeiros, conhecido como coronel
Quincó da Ramada e meu bisavô. Através de Seu João soube interessantes detalhes
do ataque que a minha família sofreu de cangaceiros supostamente comandados por
Chico Pereira, no dia 1 de fevereiro de 1927, na Fazenda Rajada, município de
Acari. O papo rolou solto!
O amigo German
Zaunseder, argentino de Buenos Aires e descendente de alemães, conhecendo o
sertão potiguar. Ao fundo a Serra da Rajada.
Já em relação
a segunda Guerra Mundial Seu João contou que foi o terceiro sargento Gambarra,
lotado entre os anos de 1942 e 1945 no 20º Batalhão de Caçadores da cidade de
Campina Grande. Ele não seguiu para a Itália com a FEB – Força Expedicionária
Brasileira, mas vivenciou a partida de amigos e a tristeza da perda de alguns
deles em combate. Esteve vigilante nas nossas praias, patrulhando extensas
faixas do então praticamente deserto litoral paraibano.
Mas o fato
mais intenso e relevante da nossa visita foi quando Seu João, com extremo
orgulho e satisfação, levou os três amantes da história vindos de Natal até o
monumento existente em sua cidade para honrar a memória dos ex-combatentes
paraibanos que participaram da Segunda Guerra Mundial.
Localizado as
margens da BR-230, que corta toda Paraíba de lesta a oeste, o monumento
impressiona bela beleza e singeleza. Encimado por três grandes pilares
retangulares que sustentam uma grande coluna, possui no alto uma estátua que
representa um combatente brasileiro da Segunda Guerra. Nos três pilares que
servem de base estão os nomes dos paraibanos que seguiram para a Itália e dos
que protegeram nosso litoral, além dos símbolos da FEB e do 5º Exército dos
Estados Unidos. Não faltam os nomes daqueles que participaram do conselho
gestor para a existência deste monumento, entre eles está o nome de João
Gambarra. Foi uma visita muito especial.
German, Rudolf
e Seu João no monumento de Santa Luzia
Após o fim da
guerra Seu João estudou em Recife, onde se formou em odontologia. Foi amigo de
turma do respeitado odontólogo potiguar Sólon Galvão.
O Seu João
Gambarra é sempre prestigiado pelo Exército Brasileiro
Seu João é um
homem que possui uma lucidez, uma vitalidade e um prazer pela vida que são
fantásticos!
Rijo, lúcido,
ativo, seus olhos brilham ao relembrar o passado. Ao lembrar-se do velho sertão
que não existe mais, da época da guerra e dos que partiram. Mas Seu João vive a
vida cada momento intensamente, onde memorizar este passado não é um peso, mas
uma satisfação. Uma satisfação que ele faz questão de dividir, principalmente
com os mais jovens. Mas ele se entristece ao comentar que atualmente poucos se
interessam pela história.
Rudolf junto
ao AT-26 Xavante da FAB, espetado em Parelhas, Rio Grande do Norte, ao lado da
Igreja de São Sebastião
Espero na
minha vida poder encontrar outras pessoas como João Gambarra.
Um encontro
destes não seria tão especial se não tivesse ao meu lado amigos que também
gostam de história. Rudolf Lourenço é paraibano de Campina Grande, radicado em
Natal, estudou economia na UFRN, é casado com a minha amiga Erika Leite e
possui um grande interesse na história Segunda Guerra por influência de seu pai
Josemar Lourenço da Silva, tenente da reserva da FAB.
Já German
Zaunseder é argentino de Buenos Aires, estudou direito na Universadad Federal
de Buenos Aires, reside em Natal há seis anos, é casado com uma potiguar, tem
um filho de quatro anos e um grande interesse na história da Segunda Guerra
Mundial por razões pessoais. Sua família é originária da Bavária, mas emigrou
para a cidade de Duseldorff, onde nasceu seu tataravô Siegfredo.
Por uma razão
que German desconhece, seu tataravô colocou em um dos seus filhos o nome muito
pouco germânico de Antônio Zaunseder, avô do nosso amigo. Fugindo da crise que
se abateu sobre a Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, a família Zaunseder
emigrou para a Argentina no início da década de 1920. Mas em 1939 os homens em idade
de servirem as forças armadas de Hitler retornaram ao país de origem para lutar
na guerra. Segundo German os irmãos do seu avô morreram em combate, mas Antônio
sobreviveu, falecendo na Alemanha em 1954. Entretanto nosso amigo desconhece
como foi a história do seu avô na Wehrmacht.
Do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.com.br/2015/03/01/joao-gambarra-e-a-luta-pela-memoria-dos-que-lutaram/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com