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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Uma Estória de Cangaceiros


A arte de Eduardo Schloesser

ESCOLHA MALDITA foi a segunda hq que criei neste período. Sempre quis fazer uma história de cangaço, acho o tema fascinante mas nunca tinha tido oportunidade. Como eu cuidava também do argumento "viajei" na idéia. O Capitão Setembrino invadia o sítio de um cara que o dedurara para a polícia intentando uma vendetta. Roteiro simples e básico, no meio eu daria um jeito de encaixar as cenas de sexo. Algo que, devo admitir, empobrecia a trama, mas fazer o quê?

Nesta época eu morava numa quitinete na 202 Norte em Brasília, o irmão caçula de minha esposa morava conosco, na época ele tinha 8 anos; resultado, eu tinha que trabalhar quando ele estava no colégio ou quando dormia. Noutros momentos eu me trancava no banheirinho e desenhava apoiado na máquina de lavar.

O Guaberto Costa acha que é uma história genial, exagero dele, ela tem muitos problemas, não me preocupei com a anatomia ou cenários, levo em conta também o tempo para entrega, caprichei mais nas cenas de sexo, porque afinal, o público alvo tinha que ser atingido.


Ela foi publicada num "Jumbo", ao lado de feras como Rodval Matias, Mozart Couto, Watson Portela entre outros. Parece que vendeu bem e ouvi que aquele que possui um exemplar tem um item raro nas mãos.

Cheguei a criar outras histórias mas este gênero de BD chegava ao seu ocaso. Minha teoria é que a internet contribuiu pra isto, mas é tema talvez pra uma futura postagem.





por Eduardo Schloess
Pescado no  Blog do artista

http://lampiaoaceso.blogspot.com



Livros sobre "Cangaço"

Lampião Contra o Mata Sete

Autor: Archimedes Marques


Preço: R$ 50,00
BANCO DO BRASIL
Agência: 3088-0
Conta: 33384.0
Em nome de Elane Lima
Marques (Minha esposa).
E-mail
archimedes-marques@bol.com.br 

1938 - Angico


Autor: Paulo Medeiros Gastão



Lampião de A a Z


Os livros 1938 - Angico e Lampião de A a Z podem ser 
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A outra face do cangaço 


Autor: Antonio Vilela de Sousa

 
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A presente obra custa R$ 20,00 (Vinte reais) + frete a consultar. Tem 102 páginas, fotos inéditas e está sendo comercializado exclusivamente pelo autor
Via e-mail:
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ou telefones: (87) 3763 - 5947 / 8811 - 1499/ 9944 - 8888 (Tim)

Ivanildo Alves da Silveira
Natal-Rn

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O Combate de Abóboras - Relatório do tenente Odhonel

Material do acervo do pesquisador  Rubens Antonio

O Relatorio do Tenente Odhonel

"No dia 7 parti ás 5 horas com destino á fazenda Arapuá, onde, no dia anterior, o bandido com o respectivo grupo havia deixado a cavalhada em que viajava e tomado outra. Convem salientar que depois da morte do sargento Miranda o perigoso grupo não viajou mais a pé.

Da fazenda Arapuá segui para o povoado de Abobora em cujas proximidades cheguei ás 9 horas com 8 praças, inclusive o sargento, por terem as outras se atrazado. Ainda encobertos pela caatinga, apeiamos amarramos os animaes, e, como de costume, mandei fazer o serviço de reconhecimento, designando para isto o sargento e o soldado Octacilio José de Senna, e com as demais praças fui seguindo na mesma direcção.

Pouco depois retorna o soldado Octacilio pedindo-me, da parte do sargento, mais dois homens que mandei, acompanhando-os, com o restante, á pouca distância. Ao sahirmos na esplanada, em cujo centro se acha o cemiterio, isto junto ao povoado, descobri o sargento amparado no muro do referido cemiterio, observando. Pergunto-lhe o que ha, e elle me responde:

- “Lampeão está na terra”.


Neste momento e á nossa vista, certamente prevendo combate, a feira que alli então se realizava debanda em formidavel correria e ao mesmo tempo os bandidos nos alvejam.

Deitamo-nos e entramos em acção. O solo descampado e plano não offerecia o menor abrigo. Depois de alguns instantes de fogo, 4 dos bandidos atrevidamente se levantam sempre atirando e procuram nos contornar, dois por um flanco, dois pelo outro.

Neste momento fui ao flanco esquerdo trocar o mosquetão que trazia por um fuzil. Voltei ao ponto em que estava. Como os bandidos cada vez mais se approximassem fui, de novo, ao flanco esquerdo, e então me diz o sargento não poder mais combater por estar ferido, em condições de não suster a arma; quando isto ouvia sou também ferido. Continuo no entretanto a combater e a encorajar os meus commandados. O sargento se retira em direção á caatinga e 3 soldados o acompanham. fiquei com o soldado Octacilio e mais duas praças. era o momento culminante. Os bandidos se aproximam mais e mais e o soldado Octacilio recebe um ferimento na cabeça e atordoado se retira.

Vou concitar os 2 restantes á resistência e os encontro mortos. Esta, portanto, só.

Amparo-me no muro do cemitério e eis que deparo num angulo do mesmo muro com um dos bandidos e alvejo-o: este cae ou se deita.

Contorno o muro e, no outro angulo deparo com outro bandido: alvejo-o e elle cae parecendo morto. Os demais bandidos investem sempre. Recuo um pouco e tomo posição atraz de um tronco e resisto alguns minutos. era, porém, impossivel continuar. Levanto-me e penetro na caatinga, onde fui acomettido de uma tontura que me prostrou certamente devido à perda de sangue. Quando púde me levantar encontrei pouco adiante o soldado Octacilio, depois os outros e finalmente os demais que se aproximavam.

Acolhemo-nos em uma casa onde, passado algum tempo, compareceu um velho dizendo haver recolhido o sargento ferido. Mandei buscal-o. Pouco depois fomos até o povoado e no respectivo cemiterio enterramos os dois companheiros mortos. Soube no povoado ter um dos bandidos passado por alli, morto e carregado nos braços pelos demais: crio tratar-se do 2, que alvejei no angulo do muro.

Ás 15 horas deste mesmo dia seguimos para a estação de Barrinha onde chegamos ás 23 horas, tendo, no dia seguinte, ás 8 horas, seguido com as praças do meu comando para Bomfim em caminhão que fora para isso designado. Ahi, eu e os dois soldados feridos recebemos os primeiros curativos pelo dr. Antonio Gonçalves.

Na manhã de 10 do corrente cheguei a esta capital pelo trem do horario. Terminando, devo dizer a V.Ex. que o procedimento do sargento Manoel dos Santos, do soldado Octacilio José de Senna e dos dois fallecidos é digno de franco elogios. Souberam cumprir seu dever."

Enviado pwlo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio

http://cangaconabahia.blogspot.com

Solicitação de leitor: Depoimento básico sobre o envenenamento

O cangaceiro Paturi

O autor deste trabalho, nomeado apenas por vigá­rio de Tacaratu de 1942 a 1945, percorrendo aquela região toda, de Itacuruba ao vale do Ipanema, das caatingas do Navio e Moxotó às ribeirinhas cidades de Piranhas, Pão de Açúcar, Traipu e Própria, dos vastos sertões baianos, a começar de Juazeiro, passando por Curaçá, Chorrochó, Jeremoabo e Glória, ao pequeno sertão sergipano — não encontrou outra opinião senão esta: — "Lampião morreu envenenado!".

Um testemunho de máxima importância no ato supremo da tragédia de Angico.

Suficiente por si só, caso não bastasse os outros, que urdiram o texto deste capítulo, o mais intrincado e difícil de escrever, e os vinte e um argumentos anteriores em prol do envenenamento (Adendo II).

Os cangaceiros do coito sobreviventes, distantes do local onde tombaram as vítimas, na surpresa e confusão do momento, quase nada sabem dizer.
Conseguiu o autor anotar o depoimento, abaixo fielmente tras­ladado, mediante compromisso de não comprometer o declarante. Agora, trinta anos depois, com a prescrição legal, quase tudo pode ser revelado.

Do padre Magalhães, vigário de Geremoabo, esta declaração pessoal ao autor: — "Posso afirmar ex-fide que Lampião morreu envenenado". Ex-fide, expressão jurídico-canônica ajuramentária, como se dissesse: "Juro diante de Deus", diferente do sentido jurídico-civil, que é apenas atestatório.

O mesmo pode dizer o autor a respeito do presente depoimento. As circunstâncias de ordem psicológica e sacramentai confe­rem ao depoimento valor incontestável, dir-se-ia absoluto, e in­validam o princípio jurídico do testis unius. Tão impressionante depoimento tornou-se o ponto de partida determinante do interesse das pesquisas do autor sobre Lampião.


O sono de Lampião

Lampião nunca dormia com o grupo. Desconfiado por natureza, ficava separado, sozinho. Um dos cabras de sua inteira confiança, muitas vezes escolhido na hora, chamado por ele de "sentinela-do-sono", lhe montava guarda. Perigos de fora e, pior ainda, de dentro havia, se se oferecesse fácil ocasião. Espreitavam-lhe a ambição de lhe tomar a chefia geral do cangaço, a glória de ser seu matador, o prêmio de... contos de réis oferecido por sua cabeça... Numa comunidade humana tudo pode acontecer. A vigilância teria de ser "eterna".

Aliás, o bando não dormia todo junto, não. Por ordem tática de Lampião, formavam-se grupos de dois ou três, espalhados, não longe uns dos outros. Assim, difícil o aniquilamento sob um ataque de surpresa. Em desde Maria Bonita, quando o can­gaço foi aberto às mulheres, essas normas se tornaram mais severas, principalmente quanto aos casais. Nenhuma promiscui­dade. A moral era rigorosíssima

O começo

Quando ele se apresentou era moço ainda, mas de cenho fechado no apardavasco da pele e com ar de espanto. No antes, porém, era "menino saído". De família humilde, mas honrada, vivendo dos roçados e de umas poucas de criações, além da vaquinha amojada com bezerrinho, e do cavalo de fazer feira. Os irmãos, antes e depois dele, não vingaram sequer um mês. Apenas lhe fazia par a irmãzinha, mais nova do que ele, então na adolescência. Um dia, desses que surgem repe­tindo a mesma história, um triste acontecido virou o juízo e a pacatez do moço. Na ocasião em que a menina se achava so­zinha em casa, veio, sorrateiro, um tarado soldado da polícia e boliu com ela, à força. Acobertado pela farda e pela justiça, nem um padrenosso teve de penitência, continuando nas suas funções e maldades. Pouco depois, o irmão vingava a honra da família, esfaqueando o miserável cujo nos braços de u'a mulher separada. Agora sim, a justiça enxergou e descobriu o crimi­noso — ele! E dos piores, porque matara uma "autoridade"! Caçado pela polícia, foi recebido por Lampião, que lhe trocou o nome por um de guerra — "PATURI", a fim de evitar perseguições à sua família e forjou-o cangaceiro de sua confiança.

O relato

Eis o seu depoimento, aliás, muito cru, tomado naqueles idos de 1942, quatro anos da morte de Lampião fazendo. Foram eliminadas repetições inúteis e difressões supérfluas. O linguajar, fonético e sintático, corrigido, deixa, entretanto, transparecer, raramente entre aspas, palavras e expressões conuns no sertão.

Pausadamente e,  por vezes, angustiado assim falou:

"Naquela derradeira noite do Capitão, eu fui escolhido para sentinela-do-sono. Tarde da noite, o Capitão e Maria Bonita, que estavam nas melodias, assopraram o candeeiro para dormir. Noite fria, serenando, estiando, serenando, assim..."


Quando foi de madrugada, ainda escuro, Maria Bonita saiu da barraca, acendeu o fogo para ferver água na panela de barro. Botou dentro pó de café e pequenos tacos de rapadura. Logo o Capitão apareceu, de manga de camisa, escovando os dentes, de junto de uma pedra grande defronte da barraca. Alguns cangaceiros foram se achegando, sem armas, caneco na mão, para o café ali fumaçando. Devia começar primeiro pelo Capitão, era o chefe. Ele encheu o caneco e bebeu ligeiro, sem carne assada e farinha, sem nada, puro. Adespois os outros foram fazendo o mesmo. A gente tinha de viajar logo.

A hora do café...

De repente, o Capitão soltou o caneco no chão. Parece que sentiu gastura, porque passou a mão rodando pela barriga. Deu uns passos largos, sem prumo e caiu na rede ainda armada na barraca. Deitou só o corpo, as pernas caídas do lado de fora. Eu ajutorando Maria Bonita a juntar os troços, que a gente ia sair cedo, vi tudo. Ela se queixava de dor de cabeça e os beiços queimando. Dizia que foi adepois que 'exprementou' o café para ver se estava bom de doce, um tiquinho de nada mo­lhado e 'ponido' na palma da mão para lamber. Aí, eu avisei a Maria Bonita. Ela, deixando a bacia, correu para ver. Eu corri também. Chegou logo Luiz Pedro e Vila Nova.

Os cangaceiros Luiz Pedro e Vila Nova

Num instante, o Capitão virou a bola do olho para riba, ficando só o branco, e abriu a boca. Uma gosma suja, com escuma, saía escorrendo do canto da boca. Luís Pedro olhou o pulso e o coração e disse: — 'Tá morto!' Chorando, ele tapou com as mãos os olhos do Capitão e apanhou o chapéu dele. Aí eu disse: — 'É veneno!' Maria Bonita, aperriada, sacudiu a cabeça dele e os ombros. E ele sem ação, morto de mesmo. Tive, na hora, o maior des­gosto de minha vida, os olhos chorando. Maria Bonita, coitadinha!, toda agitada e desesperada, gritou: — 'Virgulino morreu!' Eu gritei repetido: — "O Capitão morreu! O Capitão morreu!".

 
Escritor Alcino Alves Costa

"É aí que a história bate com Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico, do escritor Alcindo Alves da Costa, que insiste em dizer que  lá na Grota de Angico, o ataque aos bandidos foi totalmente diferente"

 Este Mergulhão não é o que morreu na Grota de Angico. Coloquei-o nesta postagem só para o leitor saber que existiram dois cangaceiros no bando de Lampião com o nome Mergulhão. Este morreu em 1929, na segunda fase de Lampião.

Mergulhão, que estava deitado no pé da caraibeira, levantou-se todo espantado e perguntou alto: — 'O Capitão morreu?' Aí eu vi logo cangaceiros cair ali, de todo jeito, para frente, para trás, para os lados, de dejunto da panela de café. Maginei comigo mesmo:    — 'O veneno era forte que era danado!'

Eu acho que algum macaco da volante emboscada, com os gritos e os mexidos no coito, passou fogo em Amoroso. Ele tinha ido ver água talvez para o Capitão banhar o rosto. E quaje igual, outro tiro, que pegou Mergulhão. Atrás veio logo uma trovoada de bala! Aquele despotismo que nem deu tempo mais de pensar! Aí era o causo de se salve quem puder, como diz o outro. Assim de surpresa, bala para todo lado e naquele cafus, como era que a gente podia tomar posição e brigar? Aí me so­quei dentro de um buraco comprido e baixo, que eu sabia.


"Angico, artigo do escritor: Paulo Medeiros Gastão, também tem a sua opinião, não concordando com algumas informações de.depoentes".

Ficava no pé do morro, 'próchimo' da gruta e atrás da barraca do Capitão. O buraco só dava para caber o corpo pragatado, a barriga no chão, sem poder se virar mais, muito apertado. Na frente tinha moita de mato tapando. Fiquei aí, os braços inco­modados, não tinha posição para botar eles. Mesmo querendo, eu não podia sair dali. Do lado de fora era bala por todo canto zinindo. Adespois, as pernas ficaram 'drumentes', moles, bambas só mulambo. Fiquei sem mexer. Mexia só os olhos e o baticum do coração. O resto estava morto.Vi a hora das balas me pegarem. Deixa que chegaram a açoi­tar a moita. Foi Deus e a Santíssima Virgem que me livraram. Dali de bem de riba, eu fiquei pombeando tudo pela brecha que fiz na moita. O horror era grande! As balas vinha de magote. Foi torada de bala a rede do Capitão, que caiu com todo o peso no chão. O pano da coberta da barraca avoou, ficando só as varas.

Vi Mergulhão cair. Adespois foi Maria Bonita caindo, as mãos cheias de sangue apertando a barriga. Luís Pedro deu uns tiros, mais arriou logo. Vila Nova correu. Não deu tempo de ninguém brigar. Não teve 'loita', não. Possa ser que mais algum cabra de lá de riba do riacho desse besteira de tiro, sem palpite, à-toa. A gente e o riacho todinho se acabando na bala. Não posso dizer nem o que foi. Era a confusão do inferno! Mas, não de­morou muito tempo, não. Foi ligeiro, ligeiro... coisa de meia hora.

Os macacos, qui nem urubus, deram em riba dos cangaceiros caídos, atrás do saqueio de dinheiro, ouros, jóias, outras coisas mais. Não tinham paciência de tirar os anéis dos dedos, corta­vam logo os dedos.

Sentado numa pedra, o comandante deu a ordem: — 'Cortem as cabeças dos cangaceiros!' Aí foi um alvoroço, todo o mundo gritando: — 'Cortar as cabeças!... Cortar as cabeças!...' Não sei como não morri vendo aquele horror! Parecia um bando de bicho do mato, de feras selvagens, dando gargalhadas e chaman­do toda nação de nome feio. Levantavam as cabeças dos mor­tos, segurando pelos cabelos, botavam o pescoço escanchado numa pedra — ficava uma coisa feia: a boca escancarada, os olhos arregalados! — e metiam o facão. Um macaco furando, furando, de pedacinho, com a ponta da faca no redor do pes­coço de um cabra até separar do corpo. Outro rolou o facão no pescoço e, quando puxou a cabeça, saiu a guela de dentro do corpo. Foi u'a mangação danada! Nenhuma cabeça era cor­tada de uma só vez. Davam mais de um golpe.

Vi uma coisa horrível, que nunca um cangaceiro fez e só bicho faz: os ma­cacos lamberem o sangue da folha do facão melado! A cabeça cortada era levantada pelo cabelo e mostrada, todos dando risa­da de gosto, mangando e dizendo nomes feios. Tinha cangaceiro meio vivo, mexendo os olhos e falando. Cortaram assim mesmo a cabeça deles com vida! A sangreira era medonha! Tudo mela­do: macaco, facão, pedra, chão, água, roupa, 'tudim'. Eu vi tudo, já era dia claro, de dia. Naquele meio, veio a ordem do coman­dante para acabar depressa. Ele estava sentado numa pedra, o pé amarrado, e muito zangado, acho que era de dor.

Maria Bonita

Eu tive dó quando um macaco levantou a cabeça de Maria Bonita, dependurada pelos cabelos compridos. O outro macaco, que tinha o facão na mão, perguntou meio espantado: - 'Inda tá viva, bandida? Cadê o dinheiro?' Ela respondeu bem fraquinho: - 'Não tenho, não'. - 'Então, lá vai...' E cortou o pescoço dela com duas 'facãozadas'. O corpo ficou batendo no chão como de galinha sangrada, e as pernas se descobrindo. Aí eles arregaçaram a saia dela para espiar o resto e começaram a bolir com as mãos, dizendo lérias.Tive tanta raiva que veio vontade de sair e avançar naqueles dois sujeitos safados, desculpe a má palavra.

Abaixo: Lampião. a direita, Luiz Pedro e a esquerda, Maria Binita

Chegou a vez do Capitão. Um macaco conheceu e disse: — 'É o peste do cego!' Danou uma coronhada de fuzil na cabeça e foi avisar o comandante. O outro ficou cortando o pescoço do Capitão em riba de uma pedra. Quando acabou, a cabeça escor­regou e rolou pela ladeira da pedra até o chão. Ele pegou ela e levou para mostrar ao comandante, que ficou cercado de ma­caco examinando e falando.

Tudo acabado, botaram as cabeças em três sacos, as bocas amarradas num pau. Sim, botaram, também, um corpo com ca­beça dentro de uma rede dependurada noutro pau. Tudo mode ser carregado, nos ombros de dois. Adespois os macacos foram se lavar nas poças mais de riba, de água limpa.Começaram a ir embora. O comandante numa cadeirinha feita dos braços de dois macacos. Levaram todo o saque. Foram su­bindo, um atrás do outro, feito formiga, pelo caminho do alto das Perdidas.

Fiquei ali deitado o dia todo. A cabeça zoava todinha, o corpo doía, quinem tinha apanhado uma pisa de cacete. Faltei cora­gem para sair dali. Eu via macaco pulando até pelos galhos mais altos dos pés-de-pau. Não tinha fome, não. Mas a sede era de matar, aperriando.

Senti uma agonia doida. Mas, esperei, esperei... O silêncio muito grande. Os passarinhos assustados não voltaram mais. Fechava os olhos e enterrava a cara no chão com medo de ver as almas daqueles defuntos aparecerem sem cabeça. Fiquei tão assombrado que sentia algumas vezes o gume do facão passar no meu pescoço. Rezei tanto a Nossa Senhora do Desterro que cheguei a suar de pingar.

Tardinha, fui saindo com medo de assombração e de tudo. Caminhava de quatro pés, não podia ficar de pé causo das per­nas feito molambo e tremendo. Eu queria ficar fora da vista daquele açougue de carne de cristão. Subindo o riacho cheguei no dependo do alto, os joelhos esfolados. Me aprumei, fui an­dando, assim cambaleando, areado, até poder sair correndo, ligeiro ou devagar, a noite inteirinha, até chegar na casa de meus pais. Tava mais morto do que vivo.

Passei aquele dia dei­tado tomando tudo o que era de meizinha que minha mãe pre­parava e me dava. Comida de panela comi bem pouquinho. De noite, já no outro dia, meu pai me levou para casa de um tio meu, viúvo, que morava sozinho, lugar mais seguro, um esqui­sito. Estou lá este tempo todim, fazendo planta, dando limpa, xaxando terra nos pés, colhendo legume e capucho de algodão. Também no cuido das criações. Sem sair pra nenhum lugar. Somente agora saí praqui causo minha mãe mandou pedir per­dão a Deus. Adespois desta conversa eu quero que seu vigário escute meus pecados na confissão e me comungue na missa".


O fim

Satisfazendo a curiosidade do leitor: Esse moço, que escapara da morte para contar a história, logo depois, feito embarcadiço de um vapor do rio São Fran­cisco, rumou para o Sul, sem documentos, de nome novamente trocado, para começar nova vida.

Nerton Macedo

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LUIZ GONZAGA E O RIO GRANDE DO NORTE


Autor: Kydelmir Dantas


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Dez excelentes histórias que talvez você ainda não as leu. 
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Alcino, quantas saudades!

Por: Ana Lúcia Granja Souza

" O ciclo da vida é uma mudança constante.
Quando um se vai, deixa uma obra que se 
renovará sempre!"

Professora Aninha e Alcino Alves

Alcino, meu amado amigo, eu sei o quanto você
tinha muita fé em Deus e a Ele sempre dava glória por tudo.
Pois é meu querido, jamais esquecerei sua gostosa presença
entre nós, vaqueiros da História como você sempre gostava de falar.
seu carinho, suas palavras de incentivo, seu grandioso conhecimento
que a todos nós cativava, como também jamais vou esquecer o seu jeito afetuoso e acolhedor. Estou com muitas saudades, mas sei que estás em um lugar lindo, dormindo o sono dos justos.  
  
Aninha.

 http://blogdomendesemendes.blogspot.com