Os artigos
abaixo, publicados que foram nos anos de 1926, 1931 e 1938, de jornais de Aracaju,
deixam claro que o banditismo em Sergipe, embora não muito organizado, mas que
do tipo cangaceiro, existiu antes e durante a presença de Lampião e seus
comparsas por estas terras, a partir de 1929; banditismo este sem nenhum
vínculo com o famoso e temível bandoleiro.
Portanto, nem todo crime praticado no sertão sergipano, por bandoleiros, nos dias do cangaço, deve ser imputado a Lampião e/ou seus sicários.
“GAZETA DO
POVO” – 01/08/1926
O INTERIOR DE
SERGIPE ESTÁ CHEIO DE SALTEADORES!
Com o título
acima, publicou a colega “A Luta”, de Anápolis, no seu último número, o
seguinte:
“Já não é só nas estradas de Pedra Mole e Campo do Brito que se aboletam salteadores, com o fim de saquearem os viajantes; também nas estradas de Olhos d’Água, Pinhão e Macambira. Neste último lugarejo os saques se estendem até às casas comerciais. É um verdadeiro pavor. No povoado de Mucambo o alarme é tão grande que os comerciantes, sem garantia de vida e prevendo iguais assaltos, estão se retirando para as cidades mais próximas.
O digníssimo delegado desta cidade tem tomado algumas providências, com o intuito de pôr termo ao banditismo neste município.
Certamente o
doutor Ascendino Garcez, enérgico chefe de polícia, já está a estas horas
tomando as necessárias providências que o caso exige.
Outra coisa não é de esperar do elevado critério da mais alta autoridade policial do Estado.
“SERGIPE JORNAL” – 30/01/1931
O BANDITISMO É
A AMEAÇA QUE PAIRA SOBRE SERGIPE
UM HOMEM
BARBARAMENTE MUTILADO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
Do interior é
que os Estados auferem suas principais rendas, asseguradoras de sua vitalidade
e autonomia.
Sergipe tem na cana-de-açúcar, no algodão, na criação de gado, a sua riqueza. Tudo, produto do interior, de suas cidades, vilas, povoados.
No entanto, ameaça-o o fantasma desolador do cangaceirismo, que, salvo um combate sem trégua onde pereçam ou sejam capturados os numerosos componentes dos bandos de abutres humanos, fatalmente dar-se-á o êxodo da gente campesina para as zonas mais habitadas, ficando abandonados, entregues ao matagal bravio e nocivo, campos ubérrimos e verdejantes repletos de plantações.
O cangaço precisa desaparecer de nosso Estado, pois está se tornando uma indústria.
Proliferam os pequenos grupos de desnaturados – os rebentos maus da humanidade que, desconhecedores do sentimento do bem, visando, tão somente, o lucro certo, vultoso, apelam para o que as suas conjecturas melhor lhes apresentam como profissão.
Faz tanto tempo que Lampião arrecada somas por estes Brasis afora. Bem que poderia ser, já, um milionário.
Em princípios do expirante o município de São Paulo foi abalado por inominável ato de selvageria.
Um ancião, vulgarmente conhecido ali por José Encourado, agricultor, teve de súbito sua casa invadida por dois malvados. Enquanto um o ameaçava para entregar-lhe o dinheiro que porventura tivesse, o outro avançava para sua filha moça em atitude franca de bestialidade.
Antevendo a desgraça iminente, o senhor José perdeu a cabeça e, munido de cacete, vibrou forte pancada no indivíduo que lhe estava próximo.
Este, para mais facilmente se defender e reagir, apelou para o companheiro, dando, os dois, tremenda surra no velho e, ao depois de lhe tomarem todo o dinheiro de suas economias, cerca de 400$000, saíram com ele, estrada afora, para que indicasse novas vítimas. Como prêmio (e porque achassem pouco o dinheiro arrecadado), munido de punhal, um deles seccionou-lhe a região envolvente dos testículos, abandonando-o em seguida, se esvaindo em sangue, mais para a morte que para a vida.
Dias decorridos, foi preso um indivíduo de nome Manoel Luiz, ex-cabo do Batalhão Policial, como autor de um roubo, sendo o seu reconhecimento feito por uma mulher.
Ultimamente, diversas pilhagens vinham sendo feitas na região sem que se soubesse o autor ou autores.
Identificado Manoel Luiz posteriormente foi denunciado como principal trucidador do pobre velho de quem linhas acima narramos a desventura, e também descobriu ser ele partícipe chefe dos tais roubos que tão frequentemente vinham sendo ali levados a efeito.
Constatou-se mais que Manoel organizava um pequeno grupo de quatro cangaceiros. Dois destes foram logo presos, sendo um seu irmão. Fugou o quarto do qual não se sabe o destino, acreditando-se, todavia, que está em Coité.
Chamamos a atenção do Exmº. Sr. Chefe de Polícia para os crimes e personagens maus que neste focalizamos, a fim de que S. Ex.ª os faça transportar para esta capital onde responderão pelas culpas que lhes ficarem provadas.
Tão vis criaturas, verdadeiros flagelos do nosso infeliz sertão, não podem deixar de sofrer os rigores da lei inflexível.
“CORREIO DE ARACAJU” – 28/04/1938
FORAM ABATIDOS
DENTRO DA MATA
OS BANDIDOS QUE ASSALTAVAM O INTERIOR DOS MUNICÍPIOS DE BOQUIM E RIACHÃO
Noticiamos
segunda-feira última, a morte de três bandidos que estavam intranquilizando o
interior dos municípios do sul do Estado.
Precisávamos, entretanto, de detalhes, que os telegramas vindos de Riachão não forneciam. Pusemo-nos em campo e hoje damos os pormenores do fato.
NO CIPOZINHO
O lugar
primeiramente atacado no município de Boquim foi a fazenda Cipozinho.
Seriam seis e meia da manhã, quando ali chegou o grupo composto dos bandidos “Volta Seca”, “Barata” e “Beija-Flor”, todos armados de mosquetão, cartucheiras e bornal de munição. Vestiam mescla azul, a mesma indumentária das forças volantes, diferenciando-se destas apenas por um lenço vermelho que traziam no pescoço.
Todos os agregados já se achavam nas roças e estava só em sua casa, com sua velha mãe, Sinhozinho Araújo, proprietário da fazenda. Bateram palmas e vindo ele atender, viu diante de si os três bandidos que logo o ameaçaram e prenderam, exigindo dinheiro. Queriam 1.000$000 e como lhe fosse respondido que não tinha dinheiro em casa, as ameaças de morte redobraram, até que a velha mãe trouxe lá de dentro 500$000, que não satisfizeram, e, depois, grande quantidade de pratas, que perfizeram mais de um conto de réis. Pretenderam levar preso Sinhozinho.
“O melhor lhe daremos ali adiante, no caminho”, diziam-lhe.
E só a custo de implorações de sua velha mãe e de outra velha agregada foi que o deixaram.
Exigiram, entretanto, que lhes fossem dados cavalos e um guia que os pusessem adiante.
Que jeito?! Foi-lhe dado um rapazinho que chegava da roça e três animais, saindo eles já montados.
NO MAXIXE
Dirigiram-se,
então, para o “Maxixe”, outra propriedade próxima, e aí, encontrando a casa sem
ninguém, remexeram e quebraram móveis, em busca de dinheiro.
Eis que chega, porém, o dono da casa.
- “Queremos dinheiro e ouro”, gritaram.
O proprietário franqueou-lhes a casa
para que procurassem, pois nada tinha. Ameaças de toda sorte, móveis remexidos
e revirados. Daí saíram e entraram pelo mato.
CHEGA A
VOLANTE
Em pedrinhas,
por ordem do capitão Chefe de Polícia, achava-se a volante comandada pelo
senhor José Luiz, contratado, ex-sargento da Força Pública, composta de doze homens.
Logo que os bandidos deixaram “Cipozinho”, e seu proprietário, Sinhozinho Araújo, mandara comunicar todo o ocorrido à volante em Pedrinhas. Esta imediatamente se deslocou para o lugar apontado, chegando ao Maxixe, onde soube que poucos minutos antes o grupo havia saído dali. Dois rastejadores da volante guiam os demais companheiros, seguindo as pegadas do grupo. Entraram, adiante, numa mata, já no município de Riachão, dormiram e, à tarde do dia seguinte avistaram em plena mata, numa grota, os três bandidos procurados. Fizeram fogo e começou.
O TIROTEIO
Aos tiros da
força volante, os cangaceiros respondiam com outros, dando saltos e
amparando-se nas árvores. Uma bala certeira prostrou o primeiro e depois outra
o segundo, fugindo, então, o terceiro.
Aproximaram-se e encontraram ainda com vida o de nome “Volta Seca”, chefe do bando. Pediu que não o acabassem de matar, mas um facão certeiro decepou lhe a cabeça. Cortaram também a cabeça do segundo e levaram-nas para Boquim, donde as trouxeram para a capital. Ficou, desta forma, o sul do Estado livre de dois cangaceiros.
O FORAGIDO
O bandido que
conseguiu fugir, cognominado “Beija-Flor”, é um ex-soldado da Força Pública, de
nome João Batista de Oliveira, que, segundo se pensa, está baleado.
Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa
Sobrinho
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