Por Antônio
Neto
A vida de
Virgolino, vulgo Lampião, sempre foi misteriosa, desde a sua data de
nascimento, de seu sobrenome, da alcunha Lampião e de sua morte em 1938, na
localidade de Angico no município sergipano de Poço Redondo.
No Brasil,
antes do Regulamento nº 18.542, de 24.12.1928, não havia exigência legal de
complementos para a palavra que designava a pessoa, tampouco obrigatoriedade do
nome completo e por extenso, isto é, de nome e sobrenome. Bastava registrar em
um Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais o nome individual, tal como,
José, Pedro, Virgolino ou Antônio. Desse modo estava tudo certo, desde que
constasse no assento de nascimento o nome completo dos pais, dos avós maternos,
paternos e das testemunhas.
O escritor
Ranulfo Prata em sua obra “Lampião documentário”, publicada em 1934, registrou
na página 22 que Virgolino havia nascido em 12 de fevereiro de 1900. Optato
Gueiros em seu livro “Lampião Memórias de um Oficial Ex-comandante de Forças
Volantes”, 3ª edição, página 19, confirma essa data. Se bem que, no livro do
registro civil de Virgolino, consta que o mesmo foi registrado civilmente, em
12 de agosto de 1900, apenas com o nome individual, ou seja, sem o sobrenome,
tendo nascido em 7 de julho de 1897, exatamente como está escrito no assento civil
do nascimento de Virgolino grafado no livro nº 2, folhas 8 e 9, do registro de
nascimento do Cartório Civil de Tauapiranga, na época 3º distrito de Vila Bela,
hoje Serra Talhada no estado de Pernambuco.
O Padre
Frederico Bezerra Maciel ao escrever a biografia do Rei do Cangaço, intitulada
“Lampião Seu Tempo e Seu Reinado”, 3ª ed. Pág.79, registrou que o mesmo teria
nascido em 4 de junho de 1898, portanto condizente com o assento de batismo da
Paróquia Bom Jesus dos Aflitos na freguesia de Floresta no sertão pernambucano,
tal qual se encontra escrito no livro nº 13 – Batizados de 1895 a 1900, pág.
146, sequencial de registro nº 463, ficando evidente que a data em questão
corresponde ao dia, mês e ano da natividade de Virgolino, uma vez que, o
mencionado registro de batismo foi efetivado de modo cronológico e sequencial,
à medida que se processavam os batizados, não havendo, sequer, a mínima
possibilidade de erros ou enganos. Por tanto, o menino Virgolino foi de fato
batizado em 3 de setembro de 1898, simplesmente três meses após o seu
nascimento. O ato batismal ocorreu em presença de seus pais José Ferreira dos
Santos e Maria Sulena da Purificação; dos avós maternos Manoel Pedro Lopes e
Jacoza Vieira da Solidade; dos avós paternos Antônio Ferreira de Barros e Maria
Francisca da Chaga, tendo como padrinhos Manoel Pedro Lopes e Maria José da
Solidade. Consonante com o respectivo assento de batismo, podemos afirmar,
categoricamente, que 4 de junho de 1898 é a data certa em que veio ao mundo o
Rei do Cangaço.
Entre os
diferentes nomes de famílias acrescentados ao nome de batismo de “Virgolino”
inscritos em registros cartoriais de fé pública, arquivos da justiça de
Pernambuco e em livros de renomados escritores são encontrados para este os
sobrenomes: Ferreira, Ferreira da Silva, Ferreira de Lima, Ferreira de Souza,
Lopes de Souza e Lopes de Oliveira. Levando em conta que o nome José Ferreira
dos Santos figurado na certidão civil do nascimento de Virgolino como pai do
mesmo e sendo expedida pelo Cartório que o registrou civilmente, este, deveria
chamar-se legalmente de Virgolino Ferreira dos Santos e não Virgolino Fereira
da Silva, Virgolino Lopes de Oliveira ou outro nome completo qualquer.
Legalmente, Virgolino não possui sobrenome. É um fato, talvez inédito ou que
não se tenha noticia, na historiografia brasileira. Em razão disso, até hoje
continua uma incógnita a identidade verdadeira do bandoleiro mais famoso do
Brasil.
Até a origem
da alcunha “Lampião” é um enigma. Há mais de dez versões sobre esse título e
não se sabe dizer corretamente qual a verdadeira nem como surgiu esse epíteto.
Um outro fato enigmático na história do célebre cangaceiro foi a sua morte em
28 de julho de 1938, na gruta de Angico no município de Poço Redondo no estado
de Sergipe. A maioria dos estudiosos do cangaço acreditam, piamente, que
Lampião foi realmente assassinado na tão propalada gruta daquele municipio
sergipano e outros tantos discordam dessa proposição. Pela visão enigmatista
não há dúvida tratar-se de um grifo, isto é, coisa difícil de entender ou
compreender como Virgolino um grande estrategista que venceu várias batalhas
contra a Força Pública e, sendo ele, um magistral guerrilheiro das caatingas
tenha sido abatido, facilmente, sem disparar um só tiro? Por que não existe
atestado ou registro de óbito de Virgolino e nem processo do massacre de
Angico, no fatídico dia de 28 de julho de 1938? Essas questões devem ser
respondidas com provas documentais e não só com explicações verbalizadas. A meu
ver o atestado de óbito do Rei do Cangaço emitido naquela época, esclareceria
de uma vez por todas, esse mistério.
Fontes:
Cartório de
Registro Civil das Pessoas Naturais. 6ª distrito de Tauapiranga – Serra
Talhada-PE. Certidão de Nasciemnto de Virgolino.
Assento de registro civil de Virgolino no Cartório de Tauapiranga- Serra
Talhada-PE.
Assento de Batismo de Virgolino na Capela de São Francisca, registro no livro
nº 13 da Paróquia Bom Jesus dos Aflitos na cidade de Floresta-PE.
Lampião, Seu Tempo e Seu Reinado. Vol. 1. 2ª ed. Padre Frederico Bezerra
Maciel.
“Lampião”. Memórias de um oficial ex-comandante de forças volantes. 3ª ed.
Optato Gueiros.
Anexos:
Assento de
nascimento de Virgolino no Cartório Civil de Tauapiranga – Serra Talhada/PE.
Assento de batismo de Virgolino na Paróquia Bom Jesus dos Aflitos em
Floresta/PE.
Certidão de Nascimento de Virgolino expedida pelo Cartório Civil de
Tauapiranga- Serra Talhada/PE.
Antonio Neto é
pesquisador, biógrafo, dicionarista, escritor e poeta. Membro da Academia
Serra-Talhadense de Letras, da Academia Recifense de Letras e da UBE.
http://blogdomendesemendes.blgospot.com