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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) - Final


Clique no link abaixo para você ler a primeira parte


- 14 de novembro de 1924 – Lampião toca fogo na casa da fazenda Lagoa do Mato, de Pedro Thomaz Nogueira sendo perseguidos pelos nazarenos Manoel Jurubeba, Manoel Flor, Inocêncio Nogueira e Levino Cabloco ate chegar na fazenda Baixas de Antonio Feitosa, em Floresta - PE. Lá houve novo combate entre Lampiao com 15 a 20 bandidos contra os nazarenos Euclides Flor, Olimpio Jurubeba, Eloi Jurubeba, Pedro Lira, Abel Thomaz, Manoel Thomaz e Davi Jurubeba que saiu ferido no tornozelo. Foi morto o bandido Manoel de Margarida e dos nazarenos Olimpio Jurubeba e Inocencio Nogueira.

- 11 de fevereiro de 1925 - Lampião entra pacificamente na cidade de Custódia - PE.

- 4 de julho de 1925 - Lampião ataca a fazenda Melancia, em Flores - PE. O proprietário Zé Calú é violentado pelo grupo. Em seu socorro vieram os sargentos Imbrain e Zé Guedes com 30 soldados vão atrás do grupo que se aloja na fazenda Barra do Juá onde é morto dois cangaceiros. Dali os cangaceiros vão para o sitio Tenório, em Flores - PE onde o soldado Berlamino Morais em pleno combate viu um vulto de cangaceiro em cima de uma pedra gritando e atirando. Belarmino então atira e mata. Era o cangaceiro Levino Ferreira da Silva, irmão de Lampião. No outro dia ao saber disso o capitão Zé Caetano e o cabo Pedro Monteiro vão até a fazenda Tenório e encontram os 3 corpos sem a cabeça, pratica esta utilizada pelos cangaceiros para dificultar o reconhecimento pela policia.

- 14 de novembro de 1925 – Combate na fazenda Xique-Xique, em Serra Talhada - PE entre Lampiao e a forca volante composta de Euclides Flor, Manoel Flor, João Jurubeba, Aurelino Francisco, Hercilio Nogueira, Ildefonso Flor e o rastejador Batoque. Neste combate é morto o soldado Ildefonso Flor. Dois cangaceiros são capturados, Mão Foveira e Cancão.

- 4 de fevereiro de 1926 – Na fazenda Caraibas, em Floresta - PE houve combate entre Lampiao com 60 cangaceiros e a força volante do tenente Optato Gueiros com 35 soldados. O tenente Higino Belarmino, o cabo Manoel de Souza Neto e o rastejador Batoque sairam feridos. Foi morto os soldados Aristides Panta, Benedito Bezerra de Vasconcelos e Antonio Benedito Mendes e também 6 cangaceiros de Lampiao.

- 18 de fevereiro de 1926 – Lampiao aproveita e ataca Nazaré do Pico com 50 cabras. No povoado estavam apenas Lucio Nogueira, Abel Thomaz, Aureliano Nogueira, Manoel Jurubeba, Gomes Jurubeba e Joao Jurubeba. Depois chegou Odilon Flor com Euclides Flor, Vicente Grande, Manoel Lira, Antonio Capistrano e Quinca Chico. Lampiao recuou de com raiva tocou fogo nas fazendas de Euclides, Joao Flor, Afonso Nogueira e Praxedes Capistrano.

- 20 de fevereiro de 1926 – A Coluna Prestes passa próximo ao povoado de Nazaré com 600 homens sendo perseguida pela força legalista comandada pelo major Otacilio Fernandes que ao entrar no povoado houve troca de tiros por engano com os habitantes.

- 23 de fevereiro de 1926 - Lampião ataca a fazenda Serra Vermelha, em Serra Talhada - PE e Antônio Ferreira mata Zé Alves Nogueira, tio de seu inimigo Zé Saturnino. Zé Nogueira havia sido sequestrado pela Coluna Prestes na passagem da mesma pela região e tinha acabado de chegar em casa cansado da violencia sofrida pelos revoltosos e sua morte gerou grande odio na familia Nogueira.

- 12 de março de 1926 – Lampião recebe a patente de capitão do Exército Patriótico de Padre Cícero em Juazeiro do Norte - CE. Lampião tinha bastante respeito e devoção ao padre e sua chegada na cidade foi com festa sendo até entrevistado. Foi a ultima vez que reuniu toda a familia para tirar uma foto. Recebeu muita munição e ordens para combater a Coluna Prestes.

- 20 de abril de 1926 - Lampiao ataca o povoado de Algodões que se encontrava com os soldados doentes de malária.

- 3 de julho de 1926 – Lampião ataca as cidades de Cabrobó - PE, Ouricuri - PE e Parnamirim - PE.

- 7 de julho de 1926 - Lampião manda o cangaceiro Sabino Gomes atacar a cidade de Triunfo - PE saqueando o comercio local. Houve troca de tiros com a policia saindo mortos 2 soldados e o comandante da policia local.

- 1 de agosto de 1926 – Lampião com 80 cangaceiros ataca a fazenda Serra Vermelha, em Serra Talhada - PE. A familia Nogueira composta do major João Alves Nogueira, do seu filho Neneco e dos seus netos Luiz, Dãozinho, Raimundo e Gentil Nogueira combatem saindo morto o cabra Zé Paixão e Antônia, ambos moradores de João Nogueira, este tio-sogro de Zé Saturnino.

- 26 de agosto de 1926 – O cangaceiro Horácio Novaes pede a Lampião para ataca a familia Gilo, na fazenda Tapera, em Floresta - PE por conta de uma mentira que Horacio soltou para Lampiao sobre o patriarca da familia. Lampiao então mata 12 pessoas da familia e na hora de mostrar uma carta ao patriarca o mesmo responde que nao sabe ler e escrever sendo morto na mesma hora por Horacio Novaes. Lampiao percebe a mentira de Horacio e ele sai do grupo indo embora para o sul do pais.

- 2 de setembro de 1926 - Lampiao ataca novamente a cidade de Cabrobó - PE.

- 6 de setembro de 1926 – Lampiao ataca Parnamirim - PE morrendo 2 soldados.

- 16 de setembro de 1926 – Combate na fazenda Tigre, em Itacuruba - PE entre Lampiao e o cabo Francisco Liberato. Lampiao foi ferido na homoplata e o cangaceiro Moreno no pé. Lampiao foi para a Serra da Cunha, em Tacaratu - PE trata do ferimento. Lá ficou escondido sobre a proteção do rico-fazendeiro Angêlo Gomes de Lima, o Anjo da Gia.

- 11 de novembro de 1926 – Combate na fazenda Favela, em Floresta - PE entre Lampiao e a força volante comandada pelo cabo Manoel de Souza Neto e o sargento Zé Saturnino. A força recuou morrendo 5 soldados sendo um deles João Gregorio Ferraz Neto, da familia nazarena. Do lado dos cangaceiros morreram cinco bandidos. Após o combate o capitão Muniz de Farias chegou na fazenda e mandou toca fogo em tudo por ter raiva do dono da fazenda.

- 25 de novembro de 1926 – Lampião sequestra o viajante Mineiro Dias e vai até a Serra Grande, em Serra Talhada - PE. Nessa serra acontece o maior combate entre cangaceiros e a policia. Participam do combate o major Theofanes Ferraz Torres, tenente Higino Belarmino, tenente Sólon Jardim, sargento Arlindo Rocha, cabo Manoel Neto, aspedacada Euclides Flor e mais 400 homens. Lampião do alto da serra ataca e mata onze da policia e deixa onze feridos entre eles Manoel Neto e Arlindo Rocha. De Lampiao apenas Antônio Ferreira foi baleado.

- 25 de dezembro de 1926 - Por conta do ferimento e da falta de munição gasta no combate da Serra Grande, o cangaceiro Antônio Ferreira junto de Luiz Pedro, Jurema e Biu vão até a fazenda Poço do Ferro, em Tacaratu - PE, pertecente ao coiteiro Angelo Gomes de Lima. O cangaceiro Luiz Pedro estava limpando uma arma e acabou dormindo. Antônio Ferreira em ato de bricadeira balança a rede para acorda-lo e a arma dispara acidentalmente atigindo Antônio Ferreira. Lampião é chamado até a fazenda. Chegando lá encontra Antônio ainda vivo e isenta Luiz Pedro de culpa. Logo depois morre o cangaceiro Antônio Ferreira, seu irmão.

- 3 de abril de 1927 - Lampião manda um subgrupo comandado pelo cangaceiro Jararaca atacar a cidade de Carnaíba - PE assaltando o comércio local.

- 15 de maio de 1927 - Lampião tenta entrar na cidade de Uiraúna - PB com 35 cabras sendo repelidos pela força policial comandada pelo tenente Nelson Furtado Leite e mais 14 homens. O combate durou cerca de uma hora saindo vencedora a força policial que perdeu apenas um soldado.

- 13 de junho de 1927 - Lampião ataca a cidade de Mossoró - RN. O bando de Lampião foi dividido em varios subgrupos comandados pelos cangaceiros Sabino Gomes, Massilon Leite, Jararaca e Luiz Pedro. A cidade estava totalmente organizada tendo a frente o prefeito Rodolfo Fernandes que distribuiu seu pessoal nas 4 torres da cidade, que aquela altura era a segunda maior do estado. Lampião sofreu sua maior derrota. O cangaceiro Jararaca foi preso e enterrado vivo. Mossoró saiu vencedora.[8]

- 15 de junho de 1927 - Lampião em fuga do combate de Mossoró sequestra a senhora Maria Rocha e o senhor Antônio Gurgel pedindo 80 contos de réis. Para isso ele vai até a cidade de Limoeiro do Norte - RN sendo recebido pacificamente pelo juiz Custódio Saraiva que passou telegrama sobre o resgate do sequestro que não chegou. Lampião dormiu na cidade e depois foi embora.

- 17 de junho de 1927 - Combate entre Lampião e a Força Volante na Serra da Mucamba, em Jaguaribara - RN. Lampião com 42 homens e a policia com 815 homens comandados pelo major Moisés Leite de Figueiredo, cunhado do major Isaias Arruda, este velho coiteiro de Lampiao. Apesar do combate ter sido morto dois soldados e um saiu ferido, o major Moisés com grande numero de policias foi acusado de covarde pelo tenente Joaquim Teixeira de Moura.

- 7 de julho de 1927 - Lampião em fuga de Mossoró passa um bom tempo na Serra do Coxá, em Milagres - CE. Despois de alguns dias saiu e foi para a casa de Zé Cardoso na fazenda Ipueiras, em Aurora - CE. Lá era coito de seu velho amigo Isaias Arruda o que fez Lampiao confiar. Chegando nessa fazenda Lampião almoçou e logo depois o dono ofereceu 8 cabras para participar do bando o que foi recusado por Lampião descofiado de traição. Realmente estava combinado entre o major Moisés e seu cunhado Isaias Arruda essa estrategia. Lampiao resolve ir embora sendo atacado pelo major Moisés com 15 soldados.

- 9 de julho de 1927 - Lampiao passa pelo Morro Dourado, em Milagres - CE em rumo a cidade de Santa Inês - PB.

- 27 de março de 1928 - Lampião vai até a fazenda Batoque, em Jati - CE do coiteiro Antonio da Piçarra. A Força de Nazaré entra no estado cearense. O cangaceiro Sabino Gomes conversava ao pé de um fogueira quando é atigindo na boca por Hercilio Nogueira, dos nazarenos. Lampião bate em retirada sendo perseguindo pela policia. Duas semanas depois, não aguetando vê tanto sofrimento com o ferimento de Sabino, o cangaceiro Mergulhão á pedido mata Sabino com um tiro de misericordia.

- 21 de agosto de 1928 - Lampiao atravessa de canoa o Rio São Francisco entrando no estado da Bahia com os cangaceiros Luiz Pedro, Ezequiel Ferreira, Moreno, Virgínio Mordeno e Mergulhão.

- 26 de agosto de 1928 - Lampiao entra na cidade de Bonfim - BA. Houve pequeno combate com a força do tenente Manoel Neto.

- 1 de março de 1929 - Lampião entra pacificamente na cidade de Carira - SE.

- 25 de novembro de 1929 - Lampião entra em Nossa Senhora das Dores - SE. 
De lá vai de carro até a cidade de Capela - SE. Lá visita o comércio local, assiti um filme no cinema e recolhe dinheiro com os comerciantes locais.

- 16 de dezembro de 1929 - Lampião entra na cidade de Pombal - BA.

- 22 de dezembro de 1929 - Lampiao entra em Queimadas - BA. Lá ele assaltou a casa de João Lantyer de Araújo Cajahyba e cortou os fios do telegrafo e sequestrou os telegrafistas Joaquim Cavalcante e Manoel Envagelista que receberam o regaste de 500 mil réis. Depois foi até a cadeia e prendeu o sargento Evaristo Costa e outros 7 soldados. Foi almoçar e depois voltou para a cadeia e soltou todos os presos. Mandou os todos os 7 soldados ajoelharem e matou um por um. Pela noite, saqueou o comércio onde conseguiu 20 contos de réis. Foi ao cinema da cidade e depois mandou fazer um baile.

- 23 de dezembro de 1929 - Lampiao invade a cidade de Quijingue - BA. Lá ele fez um baile e deu dinheiro para o povo.

- 25 de dezembro de 1929 - Lampiao ataca a cidade de Mirandela - BA. A força policial comandada pelo Francisco Guedes de Assis repele o ataque travando pequeno combate onde é morto os civis Manoel Amaral e Jeremias Dantas e mais um soldado. Nesse combate é ferido o cangaceiro Luiz Pedro. Lampiao entao entra na cidade e saqueia o cormécio local.

- 17 de outubro de 1930 - Lampião invade a cidade de Simão Dias - SE. Invadiu casas, saqueou o comércio local e humilhou alguns moradores, levando a morte à esposa do latifundiario Martinho Ferreira Matos que estava de resguardo quando foi violentada pelo próprio.

- dezembro de 1930 - Lampiao conhece Maria Bonita, casada com o sapateiro Zé de Neném. Ela já era apaixonada pelo cangaceiro e fugiu com ele deixando uma carta para o ex-marido. Foi a primeira mulher a participar do cangaço.

- 24 de maio de 1931 - Combate em Tanque do Touro entre o bando de Lampião e o tenente Arsênio. Nesse combate, a cangaceira Dadá, esposa de Corisco tem um filho que nasce em pleno tiroteio. A criança, de nome Josafá morre dois meses depois.

- 28 de julho de 1931 - O Governo da Bahia contrata a Força de Nazaré comandada pelo tenente Manoel de Souza Neto para combater Lampiao naquele estado. Faziam parte daquela força o sargento Davi Jurubeba, Euclides Flor, Manoel Flor, João Gomes de Lira, Pedro Gomes de Lira, Herculano Nogueira, João Cavalcanti, Vicente Grande, Henrique Gregório e Antônio Capistrano, tudo gente do povoado.

- 6 de setembro de 1931 - Combate na fazenda Aroeiras, em Glória - BA entre Lampiao e a força volante do tenente Manoel Neto com 15 soldados. Neste combate acontece episódio épico em um riacho onde Manoel Neto e o famoso cangaceiro Corisco ficam frente a frente tendo o cangaceiro fugido em disparada. Não houve baixas nesse combate.

- 5 de janeiro de 1932 - Lampiao invade a cidade de Canindé - SE. Nesta cidade violenta várias moças e saqueia o comércio local.

- 8 de janeiro de 1932 - Lampiao encontra-se com 32 cangaceiros na fazenda Maranduba, em Poço Redondo - SE. A força do tenente Manoel Neto com 100 soldados vai em perseguição travando grande combate. Na frente da força estava os soldados Joao Cavalcanti e Hercilio Nogueira que tombaram mortos. Adalgisio Nogueira, irmão de Hercilio tentou socorrer e também foi alvejado morrendo no local. Foi o maior combate de Lampiao na Bahia. A força recuou com 6 soldados mortos e 12 feridos. Os cangaceiros perderão 3 cabras e um outro que de tão ferido Lampiao matou.

- 20 de janeiro de 1932 - Lampião invade a cidade de Olindina - BA.

- 22 de abril de 1932 - Lampiao trava combate na fazenda Caldeirão contra força do tenente Abdon Menezes e Manoel Neto.

- 11 de agosto de 1932 - Combate entre o bando de Lampião e o tenente Ladislau na fazenda Cajazeira, em Cipó - BA.

- 13 de setembro de 1932 - Nasceu Expedita Ferreira Nunes, filha de Lampião e Maria Bonita em Porto da Folha - SE.
- 23 de outubro de 1937 - Um subgrupo de Lampião, comandado por Corisco e Gato atacam violentamente a cidade de Piranhas - AL. O intuito era resgatar a cangaceira Inacinha, companheira de Gato.

LIVROS CONSULTADOS:


De Virgulino a Lampião (Antônio Amaury e Vera Fereira);
Lampião, Memorias de um soldado de volante Vol. 1 e 2 (João Gomes de Lira);
Floresta, uma terra um povo (Leonardo Ferraz Gominho);
Assim morreu Lampiao (Antônio Amaury Correa Araújo);
Lampião, nem heroi nem bandido (Anildomá Williams Souza);
Ze Saturnino e Lampião (Jose Alves Sobrinho);
Lampião, seu tempo e seu reinado (Padre Frederico Bezerra Maciel);
O Canto do Acauã (Marilourdes Ferraz);
Gente de Lampião - Sila e Zé Sereno (Antônio Amaury Correa Araujo);
Floresta do Navio (Carlos Antônio de Souza Ferraz);
Gente de Lampião - Dadá e Corisco (Antônio Amaury Correa Araujo).


http://marcelodubai.blogspot.com.br/2012/05/virgulino-ferreira-da-silva-lampiao.html

João Bezerra

1º Ten PMAL - João Bezerra da Silva

Trajetória

Nasceu no dia 24 de junho de 1898, na Serra da Colônia, Município de Afogados da Ingazeira - Estado de Pernambuco. Seus pais: Henrique Bezerra da Silva e Marcolina Bezerra da Silva, eram pequenos fazendeiros e tiveram sete filhos: João, Cícero, Amaro, Manuel, José, Vitalina e Maria.

Com vontade de aprender a ler, trazia consigo sempre, uma "carta de ABC" (cartilha) e um "ponteiro" (lápis). Aos oito anos, já ajudava seu pai na agricultura e na criação de animais.

João Bezerra da Silva

Ironicamente, teria aprendido a atirar com Manoel Batista de Morais, popularmente conhecido como Antônio Silvino, "O Rifle de Ouro", também de Afogados da Ingazeira/PE, que era primo de João Bezerra em segundo grau, tornando-se em um exímio atirador. 

Antonio Silvino foi conhecido no sertão como um dos homens mais valentes do Nordeste antes de Lampião, tendo sido ainda testemunha do assassinato do jornalista João Dantas na penitenciária de Recife, que era o assassino do ilustre paraibano João Pessoa, contrariando a versão oficial da época de que dizia ter sido suicídio.

Bando de Antonio Silvino

Aos quatorze anos, Bezerra fugiu de casa após ter sido surrado pelo pai, por ter desobedecido à proibição de namorar uma moça, fugindo para o Recife/PE. Já demonstrava uma personalidade marcante, corajosa e propensa à aventura. Um menino sertanejo, desbravando a Capital. A partir daí, foi carregador de carvão de pedra no cais do porto; ajudante de soldado; assentador de dormentes em linha férrea; trabalhador de pedreira e de lavoura. Após um ano, voltou para casa e montou um comércio (uma pequena bodega), onde vendia de tudo. 

No tempo em que passou com a família na sua cidade natal, realizou o incrível feito de matar uma onça, que de tão grande assustava a todos do lugar e dizimava as criações das fazendas, o que o tornou já famoso nas imediações onde morava, fazendo-o receber muitos presentes dos proprietários de terra da região.

João Bezerra e Lucena Maranhão à esquerda. O primeiro sentado e o segundo de pé.

Tempos depois, foi forçado a sair do seio familiar; indo trabalhar com um dos maiores inimigos de Lampião, o famoso Coronel José Pereira, em Princesa/PB, de onde partiu para Maceió, no Estado das Alagoas para "sentar praça". Iniciou sua carreira em 1919, na Polícia Militar de Alagoas, como policial contratado para integrar as "volantes", sendo incorporado definitivamente, em 29 de Março de 1922, onde permaneceu por 35 anos e 07 meses. 

Prestou serviço no 2º Batalhão de Infantaria, deslocado para Santana do Ipanema/AL, para combater o banditismo que assolava a região sertaneja, de onde saiu para o combate de angicos, hoje 3º Batalhão de Polícia Militar, sediado em Arapiraca/AL.

Foi 2º Sargento em 29 de março de 1922, e 1º Tenente por merecimento em 30 de setembro de 1936. Teve vários encontros com os bandidos, tendo de uma feita, morto três dos comparsas de Lampião. Sendo considerado oficial valoroso da Polícia Alagoana e de imediata confiança do governo.

João Bezerra e a captura da cangaceira "Inacinha", mulher de "Gato", que foi morto ao invadir Piranhas para resgatá-la, em 27/10/1936, ajudado por Corisco.

Casou-se com Cyra Gomes de Britto, em Piranhas/AL, no ano de 1935, que em entrevista ao Jornal do Bandepe em 1985, confirma a natureza valente e perspicaz de seu marido, que chegava a passar meses no encalço dos canganceiros, vindo inclusive a ignorar o nascimento de sua primeira filha, por estar em missão na caatinga, tendo em vista ter empenhado sua palavra de capturar Lampião.

Foi Maçom, alcançando o 18° grau na instituição em que participava.

 
 Piranhas/AL -  Cidade sede das Volantes
Patrimônio Histórico Nacional

Feira do Livro do Seridó 2012




Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

As trincheiras de Rodolfo, em 1927:X-A Praça Vigário Antonio Joaquim

Imagem 01 - Catedral de Santa Luzia, Mossoró-RN. 1952

A imagem 01, mostra a Catedral de Santa Luzia, da cidade de Mossoró-RN, em 1952, com  sua arquitetura repleta de belos detalhes, que infelizmente não mais existem. O mau gosto de alguns privou as gerações posteriores de conhecerem os detalhes do patrimônio edificado da cidade. Esta igreja, também, fêz parte do conjunto das trincheiras menores de defesa ao ataque de Lampião, (1900-1938), à cidade de Mossoró, em 13/06/1927.

Raul Fernandes, na obra abaixo, assim descreve esta trincheira:

"No Campanário da Catedral de Santa Luzia, Antônio Brasil, cirurgião-dentista, educador e jornalista, prestava serviço digno de todos os encômios. De binóculo assestado, vigiava, ladeado por dois companheiros."

Como ele estava posicionado na torre da Matriz, viu os cangaceiros no patamar da Capela do Alto da Conceição e deu o alarma.

"Pressuroso, avisou os funcionários do Telégrafo, no sobrado do outro lado da rua, que vira os cangaceiros. Mirabeau Melo, chefe da entidade, lembrou o sinal combinado.

Naquele momento, o cura encaminhava-se ao Colégio Diocesano, na Praça da Matriz, quando foi alertado a rebate. A passos largos, abrigou-se no prédio do Telégrafo, com seu companheiro. De pronto, ordenou que tangesse os sinos grandes."

O cura mencionado no parágrafo acima era o Padre Luiz da Mota e o Cônego Amâncio Ramalho, pois, este padre, em nenhum momento abandonou a cidade, mesmo desarmado, permaneceu ao lado daqueles ficaram para defendê-la dos bandidos.

"Os homens da torre dão badaladas com vigor, insofreável. E, novamente, os bronzes ressoaram em dobre alucinante, desta vez, conclamando os bravos para a luta. De lá, fizeram uns disparos. Dentro em pouco travar-se-ia o combate.

Com a parada do toque dos sinos fêz-se estranho silêncio. Civis e militares, a postos, aguardavam a chegada dos bandidos. "

O bando de Lampião entrou na cidade, pelo lado sul, o Alto da Conceição, e seguiram diretamente para a residência do Prefeito Rodolfo Fernandes, onde localizava-se a trincheira principal o quartel-general da defesa.

Imagem 02 - Catedral Santa Luzia.

A imagem 02,  mostra a Catetral, após reformas, as quais eliminaram as belas fachadas com seus pórticos emoldurados por detalhes ogivais, e simplesmente, cobriram as paredes com cerâmica, literalmente transformando-as em paredes de banheiro. É deplorável o péssimo gosto do projeto da reforma. Eu a conceituo como um crime contra o patrimônio edificado.

Por descuido, talvez, esquecimento, e, para felicidade da natureza, a carnaubeira não foi derrubada, mas não sei se ainda continua lá ...


Citarmos as fontes é respeitar quem pesquisou e dar credibilidade ao que escrevemos. Télescope.Fontes: FERNANDES, Raul. ( 09/09/1908-14/08/1998). A Marcha de Lampião, Assalto a Mossoró. 7a. edição, Coleção Mossoroense, Volume 1550,  Fundação Vingt-un Rosado, outubro de 2009; Provável autor da fotografia 01: Fotos de Manuelito Pereira, (1910-1980).  Índice das Matérias Publicadas em Memória Fotográfica.

Escrito por Copyright@Télescope


Próxima Trincheira a ser postada: XI

O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: SEGUNDA TEORIA ACERCA DA INVASÃO; PRIMEIRA PARTE

Por: Honório de Medeiros
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Antes de começarmos a esboçar a segunda teoria acerca da invasão de Mossoró por Lampião, temos que apresentar um rápido perfil biográfico de Massilon.

Afinal, quem foi Massilon[1]?

Massilon

Ainda hoje, algum tempo depois, quilômetros rodados, ligações e entrevistas realizadas, livros, revistas e jornais pesquisados, não é o bastante.

Assim como ele surgiu, desapareceu. Seu tempo de vida bandida foi curto: quatro anos. Nasceu, provavelmente, em Timbaúba dos Mocós, Pernambuco. Seus pais migraram sucessivamente para Patos e Pombal, na Paraíba, e, depois, Luis Gomes, no Rio Grande do Norte, onde faleceram.

Totalmente sem fundamento é a informação dada por Fenelon Almeida[2] de que Massilon já tinha, na época do ataque a Apodi, “29 mortes no costado”.

Quais são suas fontes para afirmar isso? Em que ele se baseou para fazer tal afirmação? Se Massilon entrou no crime em 1924, e o ataque a Apodi ocorreu em 1927, parece muito pouco crível essa história.

Massilon não gostou do Sítio Japão, em Luis Gomes, para onde o pai emigrou em 1924, e voltou para a Paraíba[3]. Provavelmente um pouco antes dessa volta assassinou um oficial da Polícia em Belém do Brejo do Cruz e mergulhou, de vez, na clandestinidade.

A seguir, seus principais episódios conhecidos:

1) 1923: deixa de ser almocreve e se associa com Manoel Forte, de Brejo do Cruz, na compra e venda de gado (fonte[4]: José Gomes Filho, o Zé Leite, irmão de Massilon).

2) 1923/1924[5]: versão 1: assassina, em Belém do Brejo do Cruz, em dia de feira, um soldado que fora mandado pelo pretendente ricaço de uma moça que se enamorara por Massilon, para lhe tomar a arma e desmoralizá-lo (fonte: Dna. Aurora Leite de Araújo, irmã de Massilon); versão 2: mata um fiscal de feira em Belém do Brejo do Cruz, que lhe queria tomar a arma (fonte: Zé Leite, irmão, e Pedro Dantas Filho, natural de São José do Brejo do Cruz, falecido em 2002 aos 88 anos, em entrevista a Alexandro Gurgel para o jornal “A Gazeta do Oeste”, Mossoró, Rn); versão 3: mata um sargento ou cabo da Polícia de Belém de Brejo do Cruz, para a cidade enviado por seu líder político, no intuito de moralizá-la (fonte: Manoel Monteiro, filho de Chico Canuto, amigo de Massilon, em depoimento ao Autor).

3) 1923/1924: passa, após o crime, a protegido dos Saldanha (Quincas e Benedito[6]). Possivelmente residirá em Alto Santo, CE, onde Benedito Saldanha tinha uma propriedade, para fugir da perseguição policial (fonte: Dna. Tercia Leite de Oliveira, irmã de Massilon; Capitão Viana, em entrevista ao Autor, e a Denúncia oferecida pelo Promotor Público da Comarca de Souza, Paraíba, servindo “Ad-Hoc” em Brejo do Cruz, Paraíba, Dr. Emílio Pires Ferreira, em 10 de fevereiro de 1927, transcrita no Jornal “União”, da Paraíba, número 82, em 9 de abril de 1927, Sábado).

4) 4 DE FEVEREIRO DE 1926: ataca São Miguel de Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, sob a desculpa de combater a Coluna Prestes (fonte: Zenaide Almeida da Costa[7]):

Eram quatro horas da tarde do dia 2 de fevereiro, quando João Grosso chegou correndo, esbaforido. Vinha de cima da serra, na estrada da vila, de onde avistara o mar de gente que se aproximava.

Na vila os Revoltosos abriram algumas portas de casas comerciais, tirando delas apenas os mantimentos necessários à sua alimentação naquele dia. Saíram à tarde, deixando somente o medo e alguns cavalos estropiados, trocados por cavalos sadios que, apesar de escondidos nas matas dos sítios, com os focinhos amarrados e de cabaça para cima, foram encontrados e surrupiados. Baixaram as águas, mas como sói acontecer, a epidemia chegou no dia seguinte muito cedo e sem aviso! Um marginal, alcunhado de ‘Sargento Preto’, embriagado, desgarrado da Coluna e em companhia de indivíduos da mesma estirpe, arrombou casas comerciais, distribuindo mercadorias com pessoas que estavam regressando à vila, despejando gêneros, tecidos, miudezas e bebidas no meio da rua. Saiu de porta em porta chamando quem ainda não tinha se apresentado (por timidez ou honestidade) para receber seus ‘donativos’. Abriu o cartório e em frente ao prédio, fez uma pilha de todos os livros e documentos, despejou querosene por cima, ateou fogo. Desapareceu depois do saque. Dois dias após[8]chegou outro grupo vestido de mescla azul, com bonés do mesmo pano, dizendo-se ‘patriotas’. Novo saque em todas as casas comerciais e de residência. Tomaram armas, munições, animais, o que sobrou de víveres, provocaram brigas nas ruas.

Era o grupo de Massilon, semelhante ao de Lampião, que imperava naquelas quebradas de serra e nos sertões, armado, fardado, e segundo eles próprios afirmavam, autorizados pelo Padre Cícero Romão Batista, do Juazeiro, a combater a coluna prestes. Saíram deixando a desolação, o pânico, tudo depredado, arrasado!

5) 25 DE ABRIL DE 1926: ataca Brejo do Cruz, na Paraíba. Mata Manuel Paulino de Moraes, Dr. Augusto Resende (Juiz Municipal), fere Dr. Minervino de Almeida, o “Joca Dutra” Prefeito Municipal), e Severino Elias do Amaral (Telegrafista).

Autores intelectuais (supostamente): Deputado João Agripino de Vasconcelos Maia, residente no Sítio “Olho D’Água”, Catolé do Rocha, PB; Joaquim Saldanha (Quincas Saldanha), residente na fazenda “Amazonas”, Brejo do Cruz, PB; Odilon Benício Maia, residente na fazenda “Pedra Lisa”, Brejo do Cruz, PB; Plínio Dantas Saldanha, vulgo “Marinheiro Saldanha”, residente em Jardim de Piranhas, Caicó, Rio Grande do Norte, como mandantes[9].

Executores: Massilon Leite[10], José Pedro[11] (vulgo Coqueiro), Peitada, João Domingos, João Boquinha e João Cândido – vulgo Negro Cândido.

Fonte: Denúncia oferecida pelo Promotor Público da Comarca de Souza, Paraíba, servindo “Ad-Hoc” em Brejo do Cruz, Paraíba, Dr. Emílio Pires Ferreira, em 10 de fevereiro de 1927, transcrita no Jornal “União”, da Paraíba, número 82, em 9 de abril de 1927, sábado.

Assim foi o fato: como todos os finais-de-tarde em Brejo do Cruz, no Sertão paraibano, formou-se uma roda na frente da casa de Antônio Dutra de Almeida, no começo daquele fatídico ano de 1926. Dr. Joca Dutra (João Minervino de Almeida), Manoel Paulino Dutra de Morais, José Targino, Dr. Francisco Augusto de Resende (Juiz da Cidade) eram os presentes.

As cadeiras, dispostas dia-a-dia nos mesmos lugares, eram, pelo hábito, marcadas: recebiam sempre os mesmos ocupantes.

Em certo momento José Targino e Dr. Antônio Dutra de Almeida se levantam e vão tomar água no interior da casa.

Nas cadeiras nas quais eles estavam sentados, inexplicavelmente se sentam Manoel Paulino Dutra de Morais e Dr. Francisco Augusto de Resende.

Escurece.

Um atirador tomou posição a alguma distância e, de rifle, atirou nos ocupantes das duas cadeiras que lhe tinham sido previamente assinaladas.

Dr. Francisco Augusto de Resende tombou morto. Manoel Paulino Dutra de Morais, ferido, fez menção de se levantar. Os outros tinham fugido.

O atirador aproximou-se e desfechou várias peixeiradas em Manoel Paulino Dutra de Morais. Ao terminar observou atentamente o semblante do outro morto e gritou: “matei um inocente”.

Recolheu as armas, montou o cavalo, picou na espora e sumiu na escuridão da noite. Fora Massilon.

      
Ruinas do Casarão de Benício Maia, século XVII ou XVIII, Belém do Brejo do Cruz

O escritor Rodrigues de Carvalho conta-nos, acerca de Massilon, que:

No ano de 1927, Lampião deixou-se influenciar pelas insistentes e tentadoras sugestões de um dos seus sequazes, para uma aventura criminosa bem difícil. Um assalto a Mossoró. No grupo era ainda um novato[12], sem grande tirocínio e até bem pouco tempo inteiramente desconhecido e estranho às lides do cangaço. Contudo, a despeito do curto ‘estágio’ ou ‘noviciado’, esse bandido vinha portando-se como um experimentado veterano. É que antes dessa apresentação, ele já havia cometido vários assassinatos, alugando o braço homicida a outros facínoras encapuzados. Daí o seu desembaraço na prática do crime. Entre as suas primeiras vítimas como pistoleiro está o Dr. Augusto Rezende, Juiz de Direito de Brejo da Cruz, na Paraíba, morto de emboscada[13].

Cabra inteligente e temerariamente audacioso agia com desassombro e pleno de ambições rapinantes. Os seus planos de salteador eram ousados, com promessa de voar a grande altura. O que era também forte prenúncio de cedo encontrar quem lhe quebrasse as asas...

Em outro qualquer setor da atividade humana os seus predicados seriam, decerto, além de inaproveitados, reprovados com desprezo. Para o meio em que se integrava, todavia, tinha ele qualidades inapreciáveis; aquelas que o credenciavam para um refinado facínora. Orgulhava-se de ser potiguar[14], natural da Serra do Martins ou de Luiz Gomes. Chamava-se Massilon Leite, Antônio Leite ou Benevides Leite. Coisas de bandido.

Dizia-se profundo conhecedor de três ou quatro Estados do Nordeste, cujas estradas talara em todas as direções durante anos consecutivos. Gabava-se de conhecer palmo a palmo não apenas seu Estado natal, mas também a Paraíba, o Ceará e parte de Pernambuco, graças ao desempenho das suas funções de motorista de caminhão. Trabalhava no volante quando resolvera trocar de profissão. A profissão de cangaceiro lhe pareceu muito mais lucrativa, além de livre como o vento. Pensou também que fosse mais leve do que a de motorista de caminhão, porém mais tarde confessava haver se enganado redondamente. Mas era tarde[15].

Raimundo Nonato[16] lembra que Jararaca[17] dissera ter Massilon Leite informado serem suas as mortes de Brejo do Cruz, o que corrobora o relato feito acima.

Sérgio Dantas[18] nos disse que Massilon foi almocreve. É verdade.

Entretanto, quando da morte do policial em Belém do Brejo do Cruz já era comprador/vendedor de gado.

É o que nos relatam seus irmãos Tercia e Zé Leite, em entrevista que o escritor gentilmente nos cedeu, bem como o Capitão Viana.

Quando chegamos à residência do Capitão Viana – Francisco Viana – em Macaíba, RN, encontramos um velhinho seco de carne e temperamento, vestido com um pijama azul claro à antiga, daqueles cujas camisas são de manga comprida, sentado em uma cadeira de balanço e lendo a Bíblia. Recebeu-nos muito bem e logo mandou servir café.

O Capitão Viana tinha, na data da entrevista, noventa e três anos muito bem vividos. Longa prole, alguns poucos bens, saúde saltando à vista, memória fantástica.

Durante a entrevista em nenhum momento titubeou quanto às informações prestadas.

Ao tentarmos falar acerca de sua atuação como policial em alguns casos mais escabrosos fechou a cara e disse, abruptamente:

Isso é segredo de polícia, não posso dizer nada.

Foi delegado, entre outras cidades, de Apodi, Macau, Açu, Caraúbas, Nova Cruz, São Tomé, e Areia Branca.

Pois bem, o Capitão Viana, quando menino lá em Alto Santo, então distrito de Limoeiro do Norte, onde nasceu em 1913, conheceu Massilon – embora de longe, só de vista, como se diz no Sertão, mas fornece vários dados importantes acerca do cangaceiro:

Massilon, depois do ataque a Apodi, nunca mais voltou lá.

Em 1940, quando fui Delegado de Apodi, já não se falava mais nele.

A história de João Quincó é a seguinte: João Paulo Nogueira Maia, como se assinava João Balduíno Freire – o João Quincó, era Delegado em Alto Santo e prendeu um amigo de Massilon – marchante como ele – chamado Pedro Rogério, mas conhecido por Pedro Cascudo.

Maltratou muito Pedro Cascudo.

Massilon jurou vingança e foi lhe dar uma surra. Coqueiro terminou matando João Quincó e seu filho.

Massilon era jagunço de Décio Hollanda, lá de Pereiro, e foi jagunço de Benedito Saldanha.

Antes de Apodi Massilon morava com Décio Hollanda, no Pereiro, Fazenda Bálsamo.

Ele vivia de comerciar gado, era marchante, não tem cabimento essa história de sapateiro que o cangaceiro Bronzeado que você falou conta.

Eu sou testemunha de tudo isso por que morei em Alto Santo até os quinze anos, quando fui para São João do Jaguaribe.

Na época da invasão de Apodi eu estava em Taboleiro do Norte. De lá fui para São Paulo. Em 1934 voltei para o Rio Grande do Norte e sentei praça na polícia.

Continua...

Leiam, anteriores a este texto, em

www.honoriodemedeiros.blogspot.com, 1) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: UM MISTÉRIO QUASE CENTENÁRIO; 2) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: COMO ERA A CIDADE NA ÉPOCA DA INVASÃO; 3) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO (Primeira Parte); 4) O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSÓRÓ: PRIMEIRA TEORIA ACERCA DA INVASÃO (Segunda Parte).


[1] Para maiores informações ler, do autor, “MASSILON (NAS VEREDAS DO CANGAÇO E OUTROS TEMAS AFINS)”; Sarau das Letras; 1ª edição; 2012; Natal.

[2] “JARARACA: O CANGACEIRO QUE VIROU SANTO”; ALMEIDA, Fenelon; Editora Guararapes; 1981; Pernambuco; Recife.

[3] Depoimento de Valdecir Pereira Leite, filho de Dona Aurora, irmã de Massilon, ao Autor, em 17 de dezembro de 2005.

[4] Entrevista gravada com Zé Leite, o filho, gentilmente cedida pelo pesquisador Sérgio Dantas.

[5] Essa morte teria sido até 1924. Sua família foi para Luis Gomes em 1924, e Massilon os visitou ainda em Pombal depois de ter feito o crime, segundo depoimento de Dna. Aurora.

[6] Benedito Saldanha foi Prefeito de Apodi, Rn, em 1933, durante 6 meses e 14 dias. Consta que teria sido morto envenenado por uma mulher com quem vivia após se separar de sua esposa, Dna. Etelvina, que também era da família Saldanha.

[7] “A VIDA EM CLAVE DE DÓ”; 2ª. Edição; Editora Sebo Vermelho; Natal, Rn.

[8] Dia 4 de fevereiro de 1926. 

[9] Até onde se sabe, todos os autores intelectuais foram inocentados das acusações que lhes foram feitas.  Vale a pena mencionar que durante três anos tentei, de todas as formas, conseguir os autos do Processo-Crime de onde essas informações foram extraídas. Tentei em Brejo do Cruz e Catolé do Rocha. Nada consegui. Quase venceram a má-vontade dos servidores dos cartórios e, até mesmo, dos juízes. Cheguei até a entrar com um pedido formal para obter vistas dos autos. Foi em vão. Finalmente, em um golpe de sorte e graças à ajuda de um grande amigo, consegui a cópia do Jornal “União”, onde a Denúncia do Promotor fora transcrita. Consta que quando chegou a notícia da absolvição, o Coronel Quincas Saldanha comemorou em Caraúbas, RN, com uma grande festa. Ver “MASSILON (NAS VEREDAS DO CANGAÇO E OUTROS TEMAS AFINS)”, deste autor.

[10] Já vivendo no Ceará, em Alto Santo, sob a proteção de Benedito Saldanha, conforme Denúncia já citada e depoimento do Capitão Viana (detalhes da entrevista um pouco à frente), em entrevista ao Autor.

[11] Raul Fernandes diz que seu verdadeiro nome era José Cesário, conhecido em Caraúbas. Esteve no ataque a Mossoró. Em entrevista ao Autor, José Cosme da Silva, o “Zé de Chota”, nascido em 22 de fevereiro de 1923 na Fazenda “Floresta”, Brejo do Cruz, PB, de propriedade do Coronel Quincas Saldanha, e nela tendo vivido até os 18 anos de idade, lembrou que conheceu José Pedro e Peitada, ambos “cabras” do Coronel. Peitada, disse-me ele, morreu no Amazonas, anos depois. E José Pedro, homem de inteira confiança do Coronel, morreu em Quixadá, CE, para onde fugira sob a proteção de Quincas Saldanha, após matar um desafeto.
 
[12] Informação sem qualquer fundamento. Massilon somente conheceu Lampião especificamente para o ataque a Mossoró e através de Isaías Arruda.

[13] Rodrigues de Carvalho dá como fonte Severino Procópio em sua obra “MEU DEPOIMENTO”, à página 54. Quem danado foi Severino Procópio?

[14] Outra informação sem fundamento.

[15] “LAMPIÃO E A SOCIOLOGIA DO CANGAÇO”; Rio de Janeiro, RJ; Gráfica Editora do Livro Ltda.

[16] “LAMPIÃO EM MOSSORÓ”; 4a. edição; Coleção Mossoroense; Série C; Volume CDVIII; 1989.

[17] Depoimento de Jararaca ao jornal mossoroense “Correio do Povo”.

[18] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; Cartgraf Editora; Natal; 2005.
     
Extraído do blog do escritor e pesquisador do cangaço: Honório de Medeiros